16 Outubro 2017 | Visita

VISITA DO PAPA FRANCISCO À SEDE DA FAO EM ROMA POR OCASIÃO DO DIA MUNDIAL DA ALIMENTAÇÃO

Senhor Diretor-Geral
Distintas Autoridades
Senhoras e Senhores!
[…] 1. A celebração deste Dia Mundial da Alimentação vê-nos aqui reunidos para
recordar o dia 16 de outubro de 1945 quando os Governos, decididos a eliminar a
fome mediante o desenvolvimento do setor agrícola, instituíram a FAO. Tratava-se
de um período de grave insegurança alimentar e de grandes deslocamentos de
população, com milhões de pessoas em busca de lugares onde poder sobreviver às
misérias e às adversidades causadas pela guerra.[…]
Como se podem superar os conflitos? O direito internacional indica-nos os meios
para os prevenir ou resolver rapidamente, evitando que se prolonguem e causem
carestias e a destruição do tecido social. Pensemos nas populações martirizadas por
guerras que já perduram há décadas e que podiam ser evitadas ou pelo menos
cessadas e, ao contrário, propagam os seus efeitos desastrosos, entre os quais a
insegurança alimentar e o deslocamento forçado de pessoas. São necessários boa
vontade e diálogo para impedir os conflitos, e é preciso comprometer-se
profundamente em prol de um desarmamento gradual e sistemático, previsto pela
Carta das Nações Unidas, assim como para remediar o funesto flagelo do tráfico de
armas. De que adiantará denunciar que, por causa dos conflitos, milhões de
pessoas são vítimas da fome e da subalimentação, se não trabalharmos
eficazmente em prol da paz e do desarmamento? […]
Permiti que eu aqui me refira ao debate sobre a vulnerabilidade que divide a nível
internacional quando se fala dos migrantes. Vulnerável é aquele que está em
condição de inferioridade e não se pode defender, não tem meios, isto é, vive uma
exclusão. E isto porque é obrigado pela violência, por situações naturais ou pior
ainda pela indiferença, pela intolerância e até pelo ódio. Face a esta condição é
justo identificar as causas para agir com a competência necessária. Mas não é
aceitável, que para evitar o compromisso, nos escondamos por detrás de sofismas
linguísticos que não honram a diplomacia mas reduzem-na, de “arte do possível” a
um exercício estéril para justificar egoísmos e inatividade. […]
4, Ouçamos o grito de tantos nossos irmãos marginalizados e excluídos: “Tenho
fome, sou forasteiro, estou nu, doente, fechado num campo de refugiados”. É um
pedido de justiça, não uma súplica nem um apelo de emergência. É necessário um
diálogo amplo e sincero a todos os níveis para que se encontrem as soluções
melhores e amadureça uma nova relação entre os diversos atores do cenário
internacional, feita de responsabilidade recíproca, de solidariedade e de comunhão.

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O jugo da miséria gerado pelos deslocamentos muitas vezes trágicos dos
migrantes, pode ser removido através de uma prevenção feita de projetos de
desenvolvimento que criem trabalho e capacidade de resposta às crises climáticas e
ambientais. A prevenção custa muito menos que os efeitos provocados pela
degradação dos terrenos e pela poluição das águas, efeitos que atingem as zonas
nevrálgicas do planeta onde a pobreza é a única lei, as doenças aumentam e a

esperança de vida diminui.

São muitas e louváveis as iniciativas implementadas. Mas não são suficientes; é
necessário e urgente continuar a ativar esforços e financiar programas para
contrastar de maneira ainda mais eficaz e promissora a fome e a miséria estrutural.
Mas se o objetivo é favorecer uma agricultura que produza as exigências efetivas
de um país, então não é lícito privar a população das terras cultiváveis, deixando
que o land grabbing (açambarcamento de terras) continue a obter os seus lucros,
às vezes até com a cumplicidade de quem é chamado a defender o interesse do
povo. É preciso afastar as tentações de agir em vantagem de grupos restritos da
população, assim como de utilizar os contributos externos de modo inadequado,

favorecendo a corrupção, ou na ausência de legalidade. […]