Queridos irmãos e irmãs, boa tarde!
Saúdo antes de tudo a vós refugiados e refugiadas. Ouvimos Adam e Carol:
obrigado pelos vossos testemunhos fortes, sofridos. Cada um de vós, queridos
amigos, tem uma história de vida que nos fala de dramas de guerras, de conflitos,
muitas vezes relacionados com as políticas internacionais. Mas cada um de vós tem
sobretudo uma riqueza humana e religiosa, uma riqueza que se deve acolher e não
temer. Muitos de vós são muçulmanos, de outras religiões; vindes de vários países,
de situações diversas. Não devemos ter medo das diferenças! A fraternidade faz-
nos descobrir que são uma riqueza, um dom para todos! Vivamos a fraternidade!
Roma! Depois de Lampedusa e dos outros lugares de chegada, para muitas pessoas
a nossa cidade é a segunda etapa. Com frequência — ouvimo-lo — a viagem
enfrentada foi difícil, extenuante e até violenta, penso sobretudo nas mulheres, nas
mães, que suportam isto para garantir um futuro aos seus filhos e uma esperança
de vida diversa para si mesmas e para a família. Roma deveria ser a cidade que
permite encontrar uma dimensão humana, recomeçar a sorrir. Mas ao contrário
quantas vezes, aqui, como noutras partes, muitas pessoas que têm a inscrição
«protecção internacional» na sua autorização de residência, são obrigadas a viver
em situações de necessidade, por vezes degradantes, sem a possibilidade de
começar uma vida digna, de pensar num futuro novo!
Então obrigado a quantos, como este Centro e outros serviços, eclesiais, públicos e
privados, se activam para receber estas pessoas com um projecto. Obrigado ao
Padre Giovanni e aos seus irmãos de hábito; a vós, agentes, voluntários,
benfeitores, que não ofereceis apenas algo ou tempo, mas que procurais entrar em
relação com quem pede asilo e com os refugiados, reconhecendo-os como pessoas,
comprometendo-vos a encontrar respostas concretas para as suas necessidades.
Manter sempre viva a esperança! Ajudar a recuperar a confiança! Mostrar que com
o acolhimento e a fraternidade se pode abrir uma janela para o futuro — mais que
uma janela, uma porta, e até mais — pode-se ter ainda um futuro! E é bom que
quem trabalha para os refugiados, juntamente com os Jesuítas, sejam homens e
mulheres cristãos e também não crentes ou até de outras religiões, unidos no nome
do bem comum, que para nós cristãos é sobretudo o amor do Pai em Jesus Cristo.
Santo Inácio de Loyola quis que houvesse um espaço para receber os pobres nos
locais onde tinha a sua residência em Roma, e o Padre Arrupe, em 1981, fundou o
Serviço jesuíta aos Refugiados, e quis que a sede romana fosse nesses locais, no
coração da Cidade. E penso na despedida espiritual do Padre Arrupe na Tailândia,
precisamente num centro para refugiados.
Servir, acompanhar, defender: três palavras que são o programa de trabalho para
os Jesuítas e para os seus colaboradores.
Servir. Que significa? Servir significa acolher a pessoa que chega, com atenção;
significa inclinar-se sobre quem é necessitado e estender-lhe a mão, sem cálculos,
sem receio, com ternura e compreensão, como Jesus se inclinou para lavar os pés
dos Apóstolos. Servir significa trabalhar ao lado dos mais necessitados, estabelecer
com eles antes de tudo relações humanas, de proximidade, vínculos de
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solidariedade. Solidariedade, esta palavra que assusta o mundo desenvolvido.
Procuram não dizê-la. Solidariedade para eles é quase um palavrão. Mas é a nossa
palavra! Servir significa reconhecer e acolher os pedidos de justiça, de esperança, e
procurar juntos caminhos, percursos concretos de libertação.
Os pobres são também mestres privilegiados do nosso conhecimento de Deus; a
sua fragilidade e simplicidade desmascaram os nossos egoísmos, as nossas falsas
seguranças, as nossas pretensões de auto-suficiência e guiam-nos rumo à
experiência da proximidade e da ternura de Deus, para receber na nossa vida o seu
amor, a sua misericórdia de Pai que, com discrição e confiança paciente, cuida de
nós, de todos nós.
Deste lugar de acolhimento, de encontro e de serviço gostaria então que se
dirigisse uma pergunta para todos, para todas as pessoas que vivem aqui, nesta
diocese de Roma: inclino-me sobre quem está em dificuldade ou tenho medo de
sujar as mãos? Estou fechado em mim mesmo, nas minhas coisas, ou apercebo-me
de quem precisa de ajuda? Sirvo só a mim mesmo ou sei servir os outros, como
Cristo que veio para servir até doar a sua vida? Fito os olhos de quantos pedem
justiça ou desvio o olhar para o outro lado para não encarar as pessoas?
Segunda palavra: acompanhar. Nestes anos, o Centro Astalli fez um percurso. No
início oferecia serviço de primeiro acolhimento: um refeitório, onde dormir, uma
ajuda legal. Depois, aprendeu a acompanhar as pessoas na busca do trabalho e na
inserção social. E em seguida, propôs também actividades culturais, a fim de
contribuir para fazer crescer uma cultura do acolhimento, uma cultura do encontro
e da solidariedade, a partir da tutela dos direitos humanos. Só o acolhimento não é
suficiente. Não é suficiente dar uma sandes se não estiver acompanhada da
possibilidade de aprender a caminhar com os próprios pés. A caridade que deixa o
pobre na mesma condição em que estava não é suficiente. A verdadeira
misericórdia, que Deus nos concede e ensina, exige a justiça, pede que o pobre
encontre o caminho para deixar de o ser. Pede — e pede-o a nós, Igreja, a nós
cidade de Roma, às instituições — pede que ninguém volte a precisar de um
refeitório, de um abrigo ocasional, de um serviço de assistência legal para ver
reconhecido o próprio direito a viver e a trabalhar, a ser plenamente pessoa. Adam
disse: «Nós refugiados temos o dever de fazer o melhor que podemos para sermos
integrados na Itália». E isto é um direito: a integração! E Carol disse: «Os Sírios na
Europa sentem a grande responsabilidade de não serem um peso, queremos sentir-
nos parte activa de uma nova sociedade». Também este é um direito! Eis que esta
responsabilidade é a base ética, é a força para construir juntos. Pergunto-me: nós
acompanhamos este caminho?
Terceira palavra: defender. Servir, acompanhar significa também defender, significa
pôr-se do lado de quem é mais débil. Quantas vezes elevamos a voz para defender
os nossos direitos, mas quantas vezes ficamos indiferentes em relação aos direitos
dos outros! Quantas vezes não sabemos ou não queremos dar voz à voz de quem
— como vós — sofreu e sofre, de quem viu espezinhar os próprios direitos, de
quem viveu tanta violência que sufocou até o desejo de obter justiça!
Para toda a Igreja é importante que o acolhimento do pobre e a promoção da
justiça não sejam confiados apenas a «peritos», mas sejam uma atenção de toda a
pastoral, da formação dos futuros sacerdotes e religiosos, do compromisso
ordinário de todas as paróquias, dos movimentos e das agregações eclesiais. Em
particular — isto é importante e digo-o de coração — gostaria de convidar também
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os Institutos religiosos a ler seriamente e com responsabilidade este sinal dos
tempos. O Senhor chama a viver com mais coragem e generosidade o acolhimento
nas comunidades, nas casas, nos conventos vazios. Caríssimos religiosos e
religiosas, os conventos vazios não servem à Igreja para serem transformados em
hotéis e ganhar dinheiro. Os conventos vazios não são vossos, são para a carne de
Cristo que são os refugiados. O Senhor chama a viver com mais coragem e
generosidade nas comunidades, nas casas, nos conventos vazios. Certamente não é
uma coisa simples, são necessários critério, responsabilidade e também coragem.
Fazemos tanto, talvez sejamos chamados a fazer mais, acolhendo e partilhando
com decisão o que a Providência nos doou para servir. Superar a tentação da
mundanidade espiritual para estar próximos das pessoas simples e sobretudo dos
últimos. Precisamos de comunidades solidárias que vivam o amor de modo
concreto!
Todos os dias, aqui e noutros centros, tantas pessoas, prevalecentemente jovens,
põem-se na fila para uma refeição quente. Estas pessoas recordam-nos sofrimentos
e dramas da humanidade. Mas aquela fila diz-nos também que fazer alguma coisa,
agora, todos, é possível. É suficiente bater à porta, e dizer: «Estou aqui. Como
posso ajudar?».
Antes de deixar o Centro Astalli, o Santo Padre disse ainda as seguintes palavras.
Agradeço-vos o acolhimento nesta Casa. Obrigado! Obrigado pelo testemunho,
obrigado pela ajuda, obrigado pelas vossas orações, obrigado pelo desejo, pela
vontade de ir em frente. Obrigado porque defendeis a vossa, a nossa dignidade
humana. Muito obrigado. Deus vos abençoe a todos!