[…] Um poeta francês — Charles Péguy — deixou-nos páginas maravilhosas sobre
a esperança (cf. O pórtico do mistério da segunda virtude). Ele diz poeticamente
que Deus não se admira tanto com a fé dos seres humanos, e nem sequer com a
sua caridade; mas o que realmente o enche de admiração e emoção é a esperança
das pessoas: «Que aqueles pobres filhos — escreve — vejam como vão as coisas e
que acreditem que será melhor amanhã de manhã». A imagem do poeta evoca o
rosto de muitas pessoas que passaram por este mundo — camponeses, pobres
operários, migrantes em busca de um futuro melhor — que lutaram tenazmente,
não obstante a amargura de um presente difícil, cheio de numerosas provações,
mas animada pela confiança de que os filhos teriam uma vida mais justa e mais
tranquila. Pelejavam pelos filhos, lutavam na esperança.
A esperança é o impulso no coração de quem parte, deixando a casa, a terra, às
vezes familiares e parentes — penso nos migrantes — em busca de uma vida
melhor, mais digna para si e para os próprios entes queridos. E é também o ímpeto
no coração de quem acolhe: o desejo de se encontrar, de se conhecer, de
dialogar… A esperança é o impulso a “compartilhar a viagem”, porque a viagem se
faz em dois: aqueles que vêm à nossa terra, e nós que vamos rumo ao seu
coração, para os entender, para compreender a sua cultura, a sua língua. É uma
viagem em dois, mas sem esperança aquela viagem não se pode realizar. A
esperança é o ímpeto a compartilhar a viagem da vida, como nos recorda a
Campanha da Cáritas que hoje inauguramos. Irmãos, não tenhamos receio de
compartilhar a viagem! Não tenhamos medo! Não temamos compartilhar a
esperança! […]
É-me grato receber os representantes da Cáritas, aqui reunidos para dar início
oficial à campanha «Compartilhemos a viagem» — bonito lema da vossa
campanha: compartilhar a viagem — que eu quis fazer coincidir com esta
audiência. Dou as boas-vindas aos migrantes, requerentes de asilo e refugiados
que, ao lado dos agentes da Cáritas italiana e de outras organizações católicas, são
sinal de uma Igreja que procura ser aberta, inclusiva e hospitaleira. Obrigado a
todos vós pelo serviço incansável. Já os aplaudistes, mas todos eles realmente
merecem um grande aplauso da parte de todos!
Com o vosso esforço diário recordais-nos que o próprio Cristo nos pede para
receber de braços bem abertos os nossos irmãos e irmãs migrantes e refugiados.
Acolher assim, de braços bem abertos! Quando os braços estão abertos, estão
prontos para um abraço sincero, um abraço carinhoso, um abraço aconchegante,
um pouco como esta colunata na Praça, que representa a Igreja mãe que abraça
todos na partilha da viagem comum.
Dou as boas-vindas também aos representantes de muitas organizações da
sociedade civil comprometidas na assistência a migrantes e refugiados que,
juntamente com a Cáritas, deram apoio à angariação de assinaturas para uma nova
lei migratória mais adequada ao contexto atual. Sede todos bem-vindos!