[…] Em muitas partes do mundo, parece não conhecer tréguas a grave lesão dos
direitos humanos fundamentais, sobretudo dos direitos à vida e à liberdade de
religião. Exemplo preocupante disso mesmo é o dramático fenómeno do tráfico de
seres humanos, sobre cuja vida e desespero especulam pessoas sem escrúpulos. Às
guerras feitas de confrontos armados juntam-se guerras menos visíveis, mas não
menos cruéis, que se combatem nos campos económico e financeiro com meios
igualmente demolidores de vidas, de famílias, de empresas.[…]
[…] Há muitos conflitos que se consumam na indiferença geral. A todos aqueles
que vivem em terras onde as armas impõem terror e destruição, asseguro a minha
solidariedade pessoal e a de toda a Igreja. Esta última tem por missão levar o amor
de Cristo também às vítimas indefesas das guerras esquecidas, através da oração
pela paz, do serviço aos feridos, aos famintos, aos refugiados, aos deslocados e a
quantos vivem no terror. De igual modo a Igreja levanta a sua voz para fazer
chegar aos responsáveis o grito de dor desta humanidade atribulada e fazer cessar,
juntamente com as hostilidades, todo o abuso e violação dos direitos fundamentais
do homem.[15][…]
[…] Penso no drama dilacerante da droga com a qual se lucra desafiando leis
morais e civis, na devastação dos recursos naturais e na poluição em curso, na
tragédia da exploração do trabalho; penso nos tráficos ilícitos de dinheiro como
também na especulação financeira que, muitas vezes, assume caracteres
predadores e nocivos para inteiros sistemas económicos e sociais, lançando na
pobreza milhões de homens e mulheres; penso na prostituição que diariamente
ceifa vítimas inocentes, sobretudo entre os mais jovens, roubando-lhes o futuro;
penso no abomínio do tráfico de seres humanos, nos crimes e abusos contra
menores, na escravidão que ainda espalha o seu horror em muitas partes do
mundo, na tragédia frequentemente ignorada dos emigrantes sobre quem se
especula indignamente na ilegalidade. A este respeito escreveu João XXIII: «Uma
convivência baseada unicamente em relações de força nada tem de humano: nela
vêem as pessoas coarctada a própria liberdade, quando, pelo contrário, deveriam
ser postas em condição tal que se sentissem estimuladas a procurar o próprio
desenvolvimento e aperfeiçoamento».[17] Mas o homem pode converter-se, e não
se deve jamais desesperar da possibilidade de mudar de vida. Gostaria que isto
fosse uma mensagem de confiança para todos, mesmo para aqueles que
cometeram crimes hediondos, porque Deus não quer a morte do pecador, mas que
se converta e viva (cf. Ez 18, 23).[…]