24 Novembro 2013 | Exortações Apostólicas

EXORTAÇÃO APOSTÓLICA EVANGELII GAUDIUM DO SANTO PADRE FRANCISCO AO EPISCOPADO, AO CLERO ÀS PESSOAS CONSAGRADAS E AOS FIÉIS LEIGOS SOBRE O ANÚNCIO DO EVANGELHO NO MUNDO ACTUAL

75. Não podemos ignorar que, nas cidades, facilmente se desenvolve o tráfico de
drogas e de pessoas, o abuso e a exploração de menores, o abandono de idosos e
doentes, várias formas de corrupção e crime. Ao mesmo tempo, o que poderia ser
um precioso espaço de encontro e solidariedade, transforma-se muitas vezes num
lugar de retraimento e desconfiança mútua. As casas e os bairros constroem-se
mais para isolar e proteger do que para unir e integrar. A proclamação do
Evangelho será uma base para restabelecer a dignidade da vida humana nestes
contextos, porque Jesus quer derramar nas cidades vida em abundância (cf. Jo 10,
10). O sentido unitário e completo da vida humana proposto pelo Evangelho é o
melhor remédio para os males urbanos, embora devamos reparar que um
programa e um estilo uniformes e rígidos de evangelização não são adequados para
esta realidade. Mas viver a fundo a realidade humana e inserir-se no coração dos
desafios como fermento de testemunho, em qualquer cultura, em qualquer cidade,
melhora o cristão e fecunda a cidade. […]
210. Embora aparentemente não nos traga benefícios tangíveis e imediatos, é
indispensável prestar atenção e debruçar-nos sobre as novas formas de pobreza e
fragilidade, nas quais somos chamados a reconhecer Cristo sofredor: os sem
abrigo, os toxicodependentes, os refugiados, os povos indígenas, os idosos cada
vez mais sós e abandonados, etc. Os migrantes representam um desafio especial
para mim, por ser Pastor duma Igreja sem fronteiras que se sente mãe de todos.
Por isso, exorto os países a uma abertura generosa, que, em vez de temer a
destruição da identidade local, seja capaz de criar novas sínteses culturais. Como
são belas as cidades que superam a desconfiança doentia e integram os que são
diferentes, fazendo desta integração um novo factor de progresso! Como são
encantadoras as cidades que, já no seu projecto arquitectónico, estão cheias de
espaços que unem, relacionam, favorecem o reconhecimento do outro!
211. Sempre me angustiou a situação das pessoas que são objecto das diferentes
formas de tráfico. Quem dera que se ouvisse o grito de Deus, perguntando a todos
nós: «Onde está o teu irmão?» (Gn 4, 9). Onde está o teu irmão escravo? Onde
está o irmão que estás matando cada dia na pequena fábrica clandestina, na rede
da prostituição, nas crianças usadas para a mendicidade, naquele que tem de
trabalhar às escondidas porque não foi regularizado? Não nos façamos de

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distraídos! Há muita cumplicidade… A pergunta é para todos! Nas nossas cidades,
está instalado este crime mafioso e aberrante, e muitos têm as mãos cheias de
sangue devido a uma cómoda e muda cumplicidade. […]
253. Para sustentar o diálogo com o Islão é indispensável a adequada formação dos
interlocutores, não só para que estejam sólida e jubilosamente radicados na sua
identidade, mas também para que sejam capazes de reconhecer os valores dos
outros, compreender as preocupações que subjazem às suas reivindicações e fazer
aparecer as convicções comuns. Nós, cristãos, deveríamos acolher com afecto e
respeito os imigrantes do Islão que chegam aos nossos países, tal como esperamos
e pedimos para ser acolhidos e respeitados nos países de tradição islâmica. […]