5 Junho 2016 | Discurso do Santo Padre

ENTREGA DO PRÉMIO CARLOS MAGNO DISCURSO DO PAPA FRANCISCO

Ilustres Senhoras e Senhores!
[…]Capacidade de diálogo
Se há uma palavra que devemos repetir, sem nunca nos cansarmos, é esta:
diálogo. Somos convidados a promover uma cultura do diálogo, procurando por
todos os meios abrir instâncias para o tornar possível e permitir-nos reconstruir o
tecido social. A cultura do diálogo implica uma autêntica aprendizagem, uma ascese
que nos ajude a reconhecer o outro como um interlocutor válido, que nos permita
ver o forasteiro, o migrante, a pessoa que pertence a outra cultura como sujeito a
ser ouvido, considerado e apreciado. Hoje é urgente envolvermos todos os atores
sociais na promoção duma «cultura que privilegie o diálogo como forma de
encontro», fomentando «a busca de consenso e de acordos mas sem a separar da
preocupação por uma sociedade justa, capaz de memória e sem exclusões» (Exort.
ap. Evangelii gaudium, 239). A paz será duradoura na medida em que armarmos os
nossos filhos com as armas do diálogo, lhes ensinarmos a boa batalha do encontro
e da negociação. Desta forma, poderemos deixar-lhes em herança uma cultura que
saiba delinear estratégias não de morte mas de vida, não de exclusão mas de
integração.[…]
[…]Com a mente e o coração, com esperança e sem vãs nostalgias, como um filho
que reencontra na mãe Europa as suas raízes de vida e de fé, sonho um novo
humanismo europeu, «um caminho constante de humanização», ao qual servem
«memória, coragem e utopia sadia e humana».[11]Sonho uma Europa jovem,
capaz de ainda ser mãe: uma mãe que tenha vida, porque respeita a vida e dá
esperanças de vida. Sonho uma Europa que cuida da criança, que socorre como um
irmão o pobre e quem chega à procura de acolhimento porque já não tem nada e
pede abrigo. Sonho uma Europa que escuta e valoriza as pessoas doentes e idosas,
para que não sejam reduzidas a objetos de descarte porque improdutivas. Sonho
uma Europa, onde ser migrante não seja delito, mas apelo a um maior
compromisso com a dignidade de todos os seres humanos. Sonho uma Europa onde
os jovens respirem o ar puro da honestidade, amem a beleza da cultura e duma
vida simples, não poluída pelas solicitações sem fim do consumismo; onde casar e
ter filhos sejam uma responsabilidade e uma alegria grande, não um problema
criado pela falta de trabalho suficientemente estável. Sonho uma Europa das
famílias, com políticas realmente eficazes, centradas mais nos rostos do que nos
números, mais no nascimento dos filhos do que no aumento dos bens. Sonho uma
Europa que promova e tutele os direitos de cada um, sem esquecer os deveres para
com todos. Sonho uma Europa da qual não se possa dizer que o seu compromisso
em prol dos direitos humanos constituiu a sua última utopia. Obrigado.