[…] Por outro lado, qual é o motivo desta iniciativa, que me pareceu uma ideia —
da Pontifícia Academia das Ciências Sociais, de D. Sánchez Sorondo — muito
fecunda, de convidar os Presidentes das câmaras municipais de médias e grandes
cidades, para vir aqui e falar sobre isto? Porque um dos aspectos que mais se
notam, quando não se cuida do meio ambiente, da criação, é o crescimento
incomensurável das cidades. Trata-se de um fenómeno mundial. É como se as
cabeças, as grandes cidades, se desenvolvessem, mas sempre com bolsas de
pobreza e de miséria cada vez maiores, onde as pessoas padecem os efeitos da
degradação ambiental. E neste sentido, envolve o fenómeno migratório. Por que
razão as pessoas chegam às grandes cidades, engrossando as bolsas de pobreza
das grandes cidades — as «villas miseria», as barracas, as favelas? Por que fazem
isto? Simplesmente porque o mundo rural não lhes oferece oportunidades. E um
ponto que se encontra inserido na Encíclica — com muito respeito, mas é
necessário denunciá-lo — é a idolatria da tecnocracia. A tecnocracia leva a destruir
o trabalho e cria desemprego. Os fenómenos de desemprego são muito grandes, e
por isso as pessoas são obrigadas a emigrar, procurando novos horizontes. O
número crescente de desempregados é alarmante! Não disponho de estatísticas,
mas em determinados países da Europa, sobretudo entre os jovens, o desemprego
juvenil — de 25 para baixo — supera 40 por cento e nalguns casos chega a 50 por
cento. De 40 a 47 — refiro-me a outros países — e 50. Penso noutras estatísticas
sérias apresentadas pessoalmente por Chefes de Governo, por Chefes de Estado. E
isto, projectado no futuro, leva-nos a ver um fantasma, ou seja, uma juventude
desempregada que, hoje, qual horizonte e porvir pode oferecer? O que sobra para
esta juventude: as dependências, o aborrecimento, a incerteza sobre o que fazer da
própria existência — uma vida sem sentido, muito dura, ou o suicídio juvenil — as
estatísticas de suicídio dos jovens não são publicadas na sua totalidade — ou
procurar um ideal de vida noutros horizontes, inclusive em programas de guerrilha.
[…]
[…] O que acontece quando todos estes fenómenos de tecnicização excessiva, sem
preocupação pelo meio ambiente, além dos fenómenos naturais, incidem sobre a
migração? O desemprego e depois o tráfico de pessoas. É cada vez mais frequente
o trabalho ilegal, o trabalho sem contrato, o trabalho «arranjado debaixo da mesa».
Como aumentou! O trabalho ilegal é muito difundido, e isto significa que as pessoas
não ganham o suficiente para viver. Isto pode provocar atitudes criminosas e tudo
o que acontece nas grandes cidades em função das migrações causadas pela
tecnicização excessiva. Refiro-me principalmente ao ambiente agrícola, mas
também ao tráfico de pessoas no trabalho mineiro. A escravidão mineira é vasta e
muito forte. E àquilo que significa o uso de determinados elementos no tratamento
dos minerais — arsénico, cianeto… — que levam a população a adoecer. Nisto
existe uma enorme responsabilidade. Ou seja, tudo se repercute, tudo volta para
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trás, tudo… Trata-se do efeito de repercussão contra a própria pessoa. Pode ser o
tráfico de seres humanos para o trabalho escravo e a prostituição, que constituem
fontes de trabalho, para poder sobreviver hoje em dia.
Por isso, estou feliz por saber que meditastes a respeito de tais problemáticas —
mencionei apenas algumas delas — que atingem as grandes cidades. Em última
análise, diria que disto se devem interessar as Nações Unidas. Tenho muita
esperança no encontro de Paris, que se realizará no próximo mês de Novembro:
esperemos que se alcance um acordo fundamental, básico. Tenho muita esperança!
No entanto, as Nações Unidas devem interessar-se profundamente desta questão,
principalmente do tráfico de pessoas provocado por este fenómeno ambiental, da
exploração das pessoas.[…]