[…]O tema da misericórdia é familiar e muitas tradições religiosas e culturais, onde
a compaixão e a não-violência são essenciais e indicam o caminho da vida: «O
rígido e o duro pertencem à morte; o tenro e o terno pertencem à vida», afirma um
antigo ditado sapiencial (Tao-Te-Ching, 76). Inclinar-se com ternura compassiva
sobre a humanidade débil e necessitada faz parte de um ânimo deveras religioso,
que rejeita a tentação de prevaricar com a força, que rejeita comerciar a vida
humana e vê os outros como irmãos e nunca como números. Fazer-se próximo de
quantos vivem situações que exigem maior cura, como a doença, a deficiência, a
pobreza, a injustiça, as consequências dos conflitos e das migrações, é uma
chamada que vem do coração de cada tradição autenticamente religiosa. É o eco da
voz divina, que fala à consciência de cada um, convidando a superar o fechamento
em si mesmo e a abrir-se: abrir-se ao Outro acima de nós, que bate à porta do
coração; abrir-se ao outro ao nosso lado, que bate à porta de casa, pedindo
atenção e ajuda. […]