[…]Porque a cidade é um organismo vivo, um grande corpo animado em que, se
uma parte tem dificuldade de respirar, é também porque não recebe suficiente
oxigénio das outras. Penso nas realidades onde faltam a disponibilidade e a
qualidade dos serviços, onde se formam novas bolsas de pobreza e de
marginalização. É ali que a cidade se move em dupla direção: por um lado, a auto-
estrada de quantos correm, contudo com o máximo de garantias; por outro, as vias
estreitas dos pobres e dos desempregados, das famílias numerosas, dos imigrantes
e de quantos não têm ninguém com quem contar. […]
Para nos movermos nesta perspetiva, temos necessidade de uma política e de uma
economia novamente centradas na ética: uma ética da responsabilidade, das
relações, da comunidade e do meio ambiente. De igual modo, precisamos de um
“nós” autêntico, de formas de cidadania sólidas e duradouras. Temos necessidade
de uma política do acolhimento e da integração, que não marginalize quantos
chegam ao nosso território, mas que se esforce por fazer frutificar os recursos dos
quais cada um é portador.
Compreendo a dificuldade de muitos dos vossos cidadãos diante da chegada maciça
de migrantes e refugiados. Ela encontra explicação no receio inato em relação ao
“estrangeiro”, um temor agravado pelas feridas devidas à crise económica, pela
inexperiência das comunidades locais, pela inadequação de muitas medidas
adotadas em clima de emergência. Esta dificuldade pode ser superara através da
oferta de espaços de encontro pessoal e de conhecimento mútuo. Então, são bem-
vindas todas aquelas iniciativas que promovem a cultura do encontro, a permuta
recíproca de riquezas artísticas e culturais, o conhecimento dos lugares e das
comunidades de origem dos recém-chegados. […]