Eminências
Senhor Presidente do Senado, Senhora Ministra
Magnífico Reitor, Senhores Embaixadores
Distintas Autoridades, Professores
Senhoras e Senhores!
[…] Temos que estar com os olhos abertos e não esconder a nós mesmos uma
verdade que é desagradável e que não gostaríamos de ver. Aliás, será que talvez
ao longo destes anos não compreendemos suficientemente que esconder a
realidade dos abusos sexuais é um erro gravíssimo e fonte de muitos males? Então,
olhemos para a realidade, como fizestes vós nestes dias. Na rede alastram-se
fenómenos gravíssimos: a difusão de imagens pornográficas cada vez mais
extremas porque com a dependência se eleva o limiar de estimulação; o fenómeno
crescente do sexting entre os jovens que usam os social media; o bullying que se
manifesta cada vez mais online e é uma verdadeira violência moral e física contra a
dignidade dos outros jovens; a sextortion; o aliciamento de menores para fins
sexuais através da rede já é um facto do qual as crónicas falam constantemente;
até chegar aos crimes mais graves e horrendos da organização online do tráfico de
pessoas, da prostituição, inclusive da encomenda e da transmissão em direto de
estupros e violências contra menores, cometidos noutras parte do mundo. Portanto,
a rede tem um seu aspeto sombrio e algumas regiões obscuras (a dark net) onde o
mal encontra modos sempre novos e cada vez mais eficazes, pervasivos e
abrangentes para agir e se expandir. A antiga difusão da pornografia por meio da
imprensa era um fenómeno de pequenas dimensões em comparação com o que
está a acontecer hoje de forma rapidamente crescente mediante a rede. Falastes
sobre todos estes aspetos com clareza, de forma documentada e aprofundada, e
estamos agradecidos por isto.
Perante tudo isto, permanecemos sem dúvida horrorizados e, infelizmente, também
desorientados. Como sabeis muito bem e nos ensinais, a caraterística da rede é
exatamente a sua natureza global, que abrange o planeta superando qualquer
fronteira, tornando-se cada vez mais generalizada, alcançando em toda a parte
qualquer tipo de utilizador, inclusive crianças, através de dispositivos móveis
sempre mais ágeis e manejáveis. Por conseguinte, hoje ninguém no mundo,
autoridade nacional alguma sozinha se sente capaz de abranger de maneira
adequada e de controlar as dimensões e o desenvolvimento destes fenómenos, que
se entrelaçam e se ligam com outros problemas dramáticos relacionados com a
rede, como os tráficos ilícitos, a criminalidade económica e financeira, o terrorismo
internacional. Também sob o ponto de vista educativo sentimo-nos desorientados,
porque a rapidez do desenvolvimento coloca “em posição de impedimento” as
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gerações mais velhas, tornando muito difícil ou quase impossível o diálogo entre as
gerações e a transmissão equilibrada das normas e da sabedoria de vida adquirida
com a experiência dos anos.[…]
Justamente exprimis o desejo a fim de que também os líderes religiosos e as
comunidades de crentes participem neste esforço comum, disponibilizando toda a
sua experiência, credibilidade, capacidade educativa e de formação moral e
espiritual. Com efeito, só a luz e a força que provêm de Deus nos podem permitir
que enfrentemos os novos desafios. No que diz respeito à Igreja católica, quero
garantir a sua disponibilidade e o seu compromisso. Como todos sabemos, a Igreja
católica nos últimos anos tornou-se cada vez mais ciente de não ter providenciado
suficientemente no seu seio a proteção dos menores: vieram à luz factos
gravíssimos dos quais tivemos que reconhecer a responsabilidade perante Deus, as
vítimas e a opinião pública. Precisamente por esta razão, devido às experiências
dramáticas feitas e às competências adquiridas no esforço de conversão e
purificação, hoje a Igreja sente um dever particularmente sério de se comprometer
de forma cada vez mais profunda e clarividente na proteção dos menores e da sua
dignidade, não só internamente, mas em toda a sociedade e no mundo inteiro; e
isto não sozinha — porque evidentemente é insuficiente — mas oferecendo a
própria colaboração ativa e cordial a todas as forças e aos componentes da
sociedade que se quiserem empenhar na mesma direção. Neste sentido, ela adere
ao objetivo de «pôr fim ao abuso, à exploração, ao tráfico e a qualquer forma de
violência e de tortura contra menores», enunciado pelas Nações Unidas na Agenda
para o desenvolvimento sustentável 2030 (Objetivo 16.2). […]