Caros amigos ciganos!
Estimados irmãos e irmãs!seleção do Papa
Acolhi com alegria a proposta da World Rom Organization de jogar uma partida
de futebol aqui, em Roma, com uma “”, que não são os cardeais: isto é, com
uma formação do Vaticano.
De facto, a seleção com a qual — e não “contra” a qual — jogareis amanhã
representa um estilo de paixão desportiva vivida com solidariedade e gratuidade,
com espírito amador e inclusivo. Jogareis ao lado de alguns guardas suíços,
sacerdotes que trabalham em escritórios da Cúria romana, funcionários do
Vaticano e alguns dos seus filhos.
No campo — com uma t-shirt com a escrita “Fratelli tutti” — haverá um jovem
futebolista com síndrome de Down, pertencente às “Special Olympics”, e
também três emigrantes. Estes — após um percurso marcado por abusos e
violências, que os viu passar do campo grego de Lesbos para a Itália — foram
acolhidos pela Comunidade de Santo Egídio e estão a viver uma experiência de
integração. Obrigado a todos vós por aceitar fazer parte da “seleção do Papa”! É
uma seleção onde não existem barreiras e que faz da inclusão a simples
normalidade. Faz da inclusão a simples normalidade: isto é claro. Agradeço ao
Pontifício Conselho para a Cultura, ao cardeal Ravasi, por esta ação concreta de
testemunho no mundo do desporto, sobretudo através da “Athletica Vaticana”,
que vive diariamente esta missão de serviço entre mulheres e homens
desportistas.
Caros amigos ciganos, conheço bem a vossa história, a vossa realidade, os
vossos receios e as vossas esperanças. É por isso que encorajo com particular
afeto o projeto “Un calcio all’esclusione” [Um pontapé na exclusão], lançado pela
Diocese de Roma, a fim de que este jogo não permaneça apenas um momento
isolado. Saúdo D. Ambarus, Bispo auxiliar que se ocupa precisamente da
pastoral entre os ciganos, acompanhado pelos rapazes do oratório da paróquia
de São Gregório Magno na via Magliana. Graças também a vós, jovens, e os
melhores votos, porque sei que amanhã sereis os primeiros a entrar em campo
num jogo preparatório com os vossos coetâneos da Lazio. E obrigado ao clube
da Lazio, que gentil e generosamente acolhe e apoia esta iniciativa.
No passado dia 14 de setembro em Košice, Eslováquia, visitei a comunidade
cigana. Convidei-os a passar do preconceito ao diálogo, dos fechamentos à
integração. Depois de ouvir os testemunhos de alguns membros da comunidade
— histórias de dor, redenção e esperança — recordei a todos que «ser Igreja é
viver como convocado por Deus, sentir-se titular na vida, fazer parte da mesma
seleção». Utilizei precisamente estas expressões, tiradas da linguagem do
futebol, que também se conjugam muito bem com o significado do vosso jogo.
Demasiadas vezes, dizia ao povo cigano de Košice, «fostes objeto de
preconceitos e juízos cruéis, estereótipos discriminatórios, palavras e gestos
difamatórios. Com isso, todos ficamos mais pobres, pobres em humanidade».
Por este motivo, o evento desportivo ao qual dareis vida tem um grande
significado: indica que o caminho para a coexistência pacífica é a integração. E a
base é a educação das crianças. Estimados amigos ciganos, sei que na Croácia
dais vida a muitas iniciativas desportivas de inclusão, para ajudar o
conhecimento recíproco e a amizade. É um sinal de esperança! Porque os
grandes sonhos das crianças não se podem romper contra as nossas barreiras.
As crianças, todas as crianças, têm o direito de crescer juntas, sem obstáculos
nem discriminações. E o desporto é um lugar de encontro e igualdade, e pode
construir comunidades através de pontes de amizade.
Agradeço-vos por esta visita! Desejo-vos um bom jogo. Não importa quem
marca mais golos, pois o golo decisivo será marcado por todos, o golo que faz
ganhar a esperança e dá um pontapé na exclusão. Obrigado a todos!