5 Dezembro 2016 | Discurso do Santo Padre

DIÁLOGO DO PAPA FRANCISCO COM AS PARTICIPANTES NA PLENÁRIA DA UNIÃO INTERNACIONAL DAS SUPERIORAS-GERAIS (UISG)

Papa Francesco
[…] É verdade que as mulheres são excluídas dos processos decisórios na Igreja:
não excluídas, mas é muito frágil a inserção das mulheres ali, nos processos
decisórios. Devemos ir em frente. Por exemplo — deveras eu não vejo dificuldades
— penso que no Pontifício Conselho Justiça e Paz a responsável pela secretaria é
uma mulher, uma religiosa. Foi proposta outra e eu nomeei-a, mas ela não aceitou,
porque tinha que ir para outro lado a fim de desempenhar trabalhos da sua
Congregação. Deve-se ir além, porque em tantos aspetos dos processos decisórios
não é necessária a ordenação. Não é necessária. Na reforma da Constituição
apostólica Pastor bonus, a propósito dos Dicastérios, quando não há a jurisdição
que vem da ordenação — ou seja, a jurisdição pastoral — não se vê escrito que
pode ser uma mulher, não sei se chefe de dicastério, não me recordo, mas… Por
exemplo para os migrantes: no dicastério para os migrantes poderia ser uma
mulher. E quando há necessidade — agora que os migrantes entram num dicastério
— da jurisdição, é o Prefeito quem dá esta autorização. Mas no respeitante à
normal administração pode ser, na execução do processo decisório. Para mim é
muito importante a elaboração das decisões: não só a execução, mas também a
elaboração, ou seja, que as mulheres, tanto consagradas como leigas, entrem na
reflexão do processo e no debate. Porque a mulher encara a vida com um olhar
próprio e nós homens não podemos vê-la assim. É o modo de ver um problema, de
considerar qualquer outra coisa, que a mulher vê de maneira diferente do homem.
Devem ser complementares, e nas consultas é importante que haja mulheres. […]
[Agora o Papa responde a uma parte da pergunta que não foi lida mas que
estava escrita]
Os pedidos de dinheiro nas nossas Igrejas locais. O problema do dinheiro é muito
importante, quer na vida consagrada, quer na Igreja diocesana. Nunca devemos
esquecer que o diabo entra «pelos bolsos»: tanto pelos bolsos do bispo, como pelos
da Congregação. Isto concerne o problema da pobreza, disto falarei a seguir. Mas a
avidez do dinheiro é o primeiro degrau para a corrupção de uma paróquia, de uma
diocese, de uma Congregação de vida consagrada, é o primeiro degrau. Penso que
vem a propósito: o pagamento dos sacramentos. Reparai, se alguém vos pedir isto,
denunciai o facto. A salvação é gratuita. Deus convidou-nos gratuitamente; a
salvação é como um «desperdício de gratuitidade». Não há salvação a pagamento,
não há sacramentos a pagamento. Está claro? Eu conheço, na minha vida vi
corrupção neste aspeto. Recordo um caso, logo a seguir à minha nomeação
episcopal, ocupava-me da zona mais pobre de Buenos Aires: está dividida em
quatro vicariatos. Ali havia tantos migrantes dos países americanos, e acontecia
que quando se vinham casar os párocos diziam: «Esta gente não tem a certidão de
batismo». E quando a requeriam no próprio país diziam-lhe: «Sim, mas primeiro
envia 100 dólares — recordo um caso — e depois envio-ta». Falei com o cardeal, o

233
cardeal falou com o bispo do lugar… Mas entretanto o povo podia casar-se sem a
certidão de batismo, com o juramento dos pais ou dos padrinhos. E este é o
pagamento, não só do sacramento mas das certidões. Recordo que certa vez em
Buenos Aires veio um jovem à paróquia, que se queria casar, para pedir o nulla
osta para celebrar o sacramento noutra paróquia: é uma forma simples. Na
secretaria responderam-lhe: «Sim, passe amanhã, venha amanhã e estará pronto»,
indicando-lhe a quantia a pagar. Uma boa quantia, mas trata-se de um serviço, é
só verificar os dados e preencher. E ele — que era um excelente advogado, jovem,
muito fervoroso, bom católico — veio ter comigo: «Agora que faço?» — «Vai
amanhã e diz-lhe que enviaste o cheque ao arcebispo, e que o arcebispo lhe
entregará o cheque». O comércio do dinheiro. […]
Sim. Todas as consagradas devem viver misticamente, porque o vosso é um
casamento; a vossa é uma vocação de maternidade, é uma vocação de estar no
lugar da Mãe Igreja e da Mãe Maria. Mas quantos vos dizem isto, pensam que ser
místico significa ser uma múmia, sempre assim, a rezar… Não, não. Deve-se rezar
e trabalhar segundo o próprio carisma; e quando o carisma te leva adiante com os
refugiados, com os pobres, tu deves fazê-lo, e chamar-te-ão «comunista»: não é o

pior que te vão dizer. Mas deves fazê-lo. Porque o carisma te leva a isto. Recordo-
me de uma religiosa na Argentina: foi provincial da sua congregação. Uma boa

mulher, e ainda trabalha… sim, tem quase a minha idade. E trabalha contra os
traficantes de jovens, de pessoas. Recordo-me que, durante o governo militar na
Argentina, a queriam encarcerar, faziam pressão sobre o arcebispo, faziam pressão
sobre a superiora provincial, antes que ela mesma se tornasse provincial, «porque
esta mulher é comunista». Mas esta mulher salvou tantas jovens, tantas moças!
Sim, é a cruz. Que disseram de Jesus? Que era Belzebu, que tinha o poder de
Belzebu. A calúnia, estai preparadas. Se praticardes o bem, com a oração, diante
de Deus, assumindo todas as consequências do vosso carisma e fordes em frente,
preparai-vos para a difamação e para a calúnia, porque o Senhor escolheu para si
esta vereda!