19 Novembro 2016 | Homília

CONSISTÓRIO ORDINÁRIO PÚBLICO PARA A CRIAÇÃO DE NOVOS CARDEAIS HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

Basílica Vaticana

[…] A nossa época carateriza-se por problemáticas e interrogativos fortes à escala
mundial. Tocou-nos atravessar um tempo em que ressurgem, à maneira duma
epidemia nas nossas sociedades, a polarização e a exclusão como única forma
possível de resolver os conflitos. Vemos, por exemplo, como rapidamente quem
vive ao nosso lado não só possui a condição de desconhecido, imigrante ou
refugiado, mas torna-se uma ameaça, adquire a condição de inimigo. Inimigo,
porque vem duma terra distante, ou porque tem outros costumes. Inimigo pela cor
da sua pele, pela sua língua ou a sua condição social; inimigo, porque pensa de
maneira diferente e mesmo porque tem outra fé. Inimigo, porque… E, sem nos
darmos conta, esta lógica instala-se no nosso modo de viver, agir e proceder.
Consequentemente, tudo e todos começam a ter sabor de inimizade. Pouco a pouco
as diferenças transformam-se em sintomas de hostilidade, ameaça e violência.
Quantas feridas se alargam devido a esta epidemia de inimizade e violência, que se
imprime na carne de muitos que não têm voz, porque o seu clamor foi
esmorecendo até ficar reduzido ao silêncio por causa desta patologia da
indiferença! Quantas situações de precariedade e sofrimento são disseminadas
através deste crescimento da inimizade entre os povos, entre nós! Sim, entre nós,
dentro das nossas comunidades, dos nossos presbitérios, das nossas reuniões. O
vírus da polarização e da inimizade permeia as nossas maneiras de pensar, sentir e
agir. Não sendo imunes a isto, devemos estar atentos para que tal conduta não
ocupe o nosso coração, pois iria contra a riqueza e a universalidade da Igreja que
podemos constatar palpavelmente neste Colégio Cardinalício. Vimos de terras
distantes, temos costumes, cor da pele, línguas e condições sociais distintas;
pensamos de forma diferente e também celebramos a fé com vários ritos. E nada
de tudo isto nos torna inimigos; pelo contrário, é uma das nossas maiores riquezas.
[…]