[…] Hoje é pedido o mesmo também a nós, pastores: ser homens capazes de ouvir
sem ser surdos à voz do Pai e, deste modo, poder ser mais sensíveis à realidade
que nos rodeia. Hoje, tendo por modelo São José, somos convidados a não deixar
que nos roubem a alegria; somos convidados a defendê-la dos Herodes dos nossos
dias. E precisamos de coragem, como São José, para aceitar esta realidade,
levantar-nos e meter-lhe mãos (cf. Mt 2, 20). A coragem para a proteger dos novos
Herodes dos nossos dias, que malbaratam a inocência das nossas crianças. Uma
inocência dilacerada sob o peso do trabalho ilegal e escravo, sob o peso da
prostituição e da exploração. Inocência destruída pelas guerras e pela emigração
forçada com a perda de tudo o que isso implica. Milhares de crianças nossas caíram
nas mãos de bandidos, de máfias, de mercadores de morte cuja única coisa que
fazem é malbaratar e explorar as suas necessidades.
Hoje, apenas como exemplo, 75 milhões de crianças – por causa das emergências e
das crises prolongadas – tiveram de interromper a sua instrução. Em 2015, 68% da
totalidade das pessoas objeto de tráfico sexual no mundo eram crianças. Por outro
lado, um terço das crianças que tiveram de viver fora do seu país, fê-lo por
deslocamento forçado. Vivemos num mundo onde quase metade das crianças que
morrem com menos de 5 anos é por desnutrição. Calcula-se que, no ano de 2016,
150 milhões de crianças realizaram um trabalho infantil, muitas delas vivendo em
condições de escravidão. Segundo o último relatório elaborado pela UNICEF, se a
situação mundial não mudar, em 2030 serão 167 milhões as crianças que viverão
em pobreza extrema, 69 milhões de crianças com menos de 5 anos morrerão entre
2016 e 2030, e 60 milhões de crianças não frequentarão a escolaridade básica.
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