6 Abril 2017 | Carta

CARTA DO PAPA FRANCISCO AO BISPO DE ASSIS POR OCASIÃO DA INAUGURAÇÃO DO SANTUÁRIO DO DESPOJAMENTO

[…] Quando fui visitar a Sala do Despojamento pedi-te para me fazeres encontrar
sobretudo uma representação de pobres. Naquela Sala tão eloquente eles davam
testemunho da escandalosa realidade de um mundo ainda tão marcado pela
diferença entre o imenso número de indigentes, com frequência privados do
mínimo necessário, e a minúscula porção de proprietários que detêm a máxima
parte da riqueza e pretendem determinar o destino da humanidade. Infelizmente,
dois mil anos após o anúncio do evangelho e oito séculos depois do testemunho de
Francisco, estamos diante de um fenómeno de «iniquidade global» e de «economia
que mata» (cf Exort. ap. Evangelii gaudium, 52-60). Precisamente no dia anterior à
minha chegada a Assis, nas águas de Lampedusa, tinha acontecido um grande
massacre de migrantes. Falando, no lugar da «espoliação», também com a emoção
determinada por aquele triste evento, sentia toda a verdade do que tinha
testemunhado o jovem Francisco: só quando se aproximou dos mais pobres, na sua
época representados sobretudo pelos doentes de lepra, praticando para com eles a
misericórdia, experimentou «doçura de ânimo e de corpo» (Testamento, ff 110).