Acolhimento aos deslocados de Cabo Delgado pela Diocese de Nacala, em Moçambique

Acolhimento aos deslocados de Cabo Delgado pela Diocese de Nacala, em Moçambique

As primeiras chegadas de deslocados de Cabo Delgado à Diocese de Nacala datam do mês de Maio de 2020. Os párocos de Namapa e Nacaroa começaram então a entrar em contacto com as pessoas em fuga daquela terra sofrida. Segundo a estatística do INGD de 7/02, os 10 distritos que compõem a diocese contam com a presença de 21.582 deslocados, dos quais o número maior é de sexo feminino e adere à religião muçulmana. Visto o rápido incremento do fluxo, é realisticamente provável que o número tenha subido para 25.000 pessoas. A maior parte das famílias foram acolhidas por parentes ou conhecidos oriundos de Cabo Delgado – a sublinhar também a diferença de língua e etnia entre os macuas de Nampula e os deslocados de etnia predominantemente Maconde e Kimuane.

Nos primeiros momentos, os Párocos tentaram organizar o apoio através de recolha de bens com os fiéis e alertando ao mesmo tempo a Cáritas diocesana de Nacala, que foi por mim individuada como o organismo diocesano responsável pela coordenação da assistência humanitária, na pessoa da Secretária Diocesana, Elena Gaboardi (Leiga missionária fidei donum) e do Assistente Eclesiástico, P. Raimundo Mário Ramane (sacerdote diocesano).

A partir do começo de Junho, a Cáritas organizou as primeiras ajudas alimentares através de pequenos fundos de emergência e, enquanto o fenómeno crescia rapidamente, elaborou-se um projecto de primeira emergência com a duração de seis meses (Julho-Dezembro 2020), que foi cofinanciado entre a Cafod, Manos Unidas e fundos próprios que se iam recebendo tanto por parte de congregações religiosas/paróquias diocesanas, quanto de benfeitores particulares estrangeiros. O mesmo projecto garantiu a distribuição mensal de alimentos, material de higiene, kits de cozinha, material de prevenção de covid-19, chegando a apoiar de forma continuada 700 famílias, em coordenação com as instituições governamentais e humanitárias, sobretudo o Programa Mundial de Alimentação (PMA), que ia assumindo gradualmente as distribuições de géneros alimentares. Reconhecendo a necessidade de apoio não só material, mas também psicológico após um evento traumático como o desterro e a perda de familiares, estruturou-se a actividade de apoio psicossocial com as crianças deslocadas através dos “Espaços amigos das crianças” e de 8 educadores capacitados em quatro distritos. A iniciativa, que envolveu 450 crianças, teve que ser readaptada respeitando as medidas de prevenção da Covid-19, pelo que se tornou domiciliar com pequenos grupos.

Nestas iniciativas todas, a rede pastoral de Padres, Irmãs e leigos comprometidos em todas as Paróquias foi envolvida em vários âmbitos (acompanhamento dos educadores, distribuições, visitas às famílias, relacionamento com as autoridades), assumindo o ministério de escuta e consolação para com estes irmãos sofridos, bem como de sinalização e acompanhamento de casos de maior vulnerabilidade (crianças não acompanhadas, órfãos, pessoas idosas sozinhas, portadores de deficiências ou doenças crónicas, etc.).

A partir do mês de Janeiro de 2021, o PMA assumiu a distribuição de alimentos em todos os distritos da Província, o que levou a nossa Diocese a orientar o apoio aos deslocados para o ano de 2021 em três vertentes, com a ajuda da CAFOD:

  •         insumos e sementes agrícolas de milho, feijão, estacas de mandioca, enxadas e catanas. O objectivo principal é fortalecer a resiliência destas famílias apostando na produção da própria comida, incluindo também as famílias acolhedoras. Infelizmente, o tempo é de fome geral devido à escassez da produção na campanha agrícola de 2020 e com a falta de chuva nesta campanha de 2021, o que colocou numa situação de extrema vulnerabilidade toda a população camponesa (85% do total) e aumentando ainda mais a pressão social. Está previsto o acompanhamento técnico através de três técnicos agropecuários.
  •         kits para a construção de casas, que serão entregues no tempo seco (de Maio para a frente). Será feito um estudo prévio para melhor orientar as ajudas, estimulando as administrações distritais à atribuição de terrenos para casa e cultivo.
  •         continuidade da iniciativa dos “Espaços amigos das crianças” para todo o ano de 2021.


Dentro deste sofrimento todo, não faltam muitos sinais do amor de Deus que nos faz levantar do chão, deixando a vida e a esperança renascerem em cada dia.

É possível encontrar algum artigo e material fotográfico das várias iniciativas no website da Diocese.  

+ Alberto Vera, O.M.
Bispo da Diocese de Nacala