Moçambique. Apoiando os desalojados dos Ciclones IDAI e Kennedy: Sofrimento e Esperança

Moçambique. Apoiando os desalojados dos Ciclones IDAI e Kennedy: Sofrimento e Esperança

Os meses de Março e Abril de 2019 ficarão registados na memória de todos os moçambicanos; marcas de sofrimento, mas também de uma extensa rede de solidariedade traduzida em gestos de amor e ajuda. Estas acções, que ultrapassaram fronteiras, uniram povos estrangeiros e nacionais num único objetivo de apoio aos irmãos que sofreram as consequências de dois ciclones e cheias em diversas províncias. O ciclone IDAI atingiu a Região Centro (Sofala, Manica, Zambézia e Tete), enquanto o ciclone Kennedy o Norte (Cabo Delgado). Os ventos de até 200/h e as chuvas torrenciais assolaram cidades e distritos, arrasando por completo aldeias, culturas, provocando desabamento de casas e estruturas diversas, arrancando e derrubando árvores de centenas de anos, semeando muita dor, tristeza, luto em milhares de famílias que, além de perder suas propriedades, viram a fúria da água arrastar seus próprios familiares. Na tentativa de salvar suas vidas, crianças, idosos e todos os que tiveram mais sorte refugiaram-se em cima das casas ou das árvores, em prédios altos relativamente seguros, onde permaneceram horas e dias intermináveis à espera do resgate e uma nova oportunidade para continuar com a vida.

Com a ajuda do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades (INGC) e parceiros internacionais e nacionais, os desabrigados logo foram acomodados em escolas e centros de acolhimento onde ainda hoje muitos se encontram à espera de reassentamento para continuar a viver. A vida irá com certeza decorrer de uma maneira diferente, mas com muita resiliência, esperança e valentia características deste querido povo Moçambicano, que poderá superar-se contando com a ajuda de muitos. E sobretudo, confiante em Deus, que VÊ e PROVÊ, encontrará novos motivos para sorrir e fixar o olhar num futuro mais promissor.  

Entretanto, neste cenário de vulnerabilidade já se verifica muita pobreza, miséria, doenças, criminalidade, migração, mais deslocamentos, tráfico de seres humanos, mortes e outras tantas consequências ainda imprevisíveis, pois, ainda que a reedificação material esteja aos poucos acontecendo, a reconstrução emocional/psicológica levará anos.

Sensível e comprometida nesta causa comum, a Comissão Episcopal para Migrantes, Refugiados e Deslocados, CEMIRDE, através da Secretária-geral, logo marcou presença nas principais regiões atingidas. A nossa intervenção procurou coordenar atividades com organizações humanitárias que já se encontravam no terreno, mas sobretudo nos campos de acomodação, com diferentes ações, assim como elaborar projetos para solicitar fundos de apoio para a reconstrução. Descrever tudo o que vi, ouvi, senti e vivi neste tempo de convivência e partilha com as famílias será impossível, mas estou eternamente agradecida a Deus pela oportunidade de ajudar a aliviar a dor e o sofrimento de muitos. Aprendi muito com todas essas pessoas e me perguntava: onde encontram tanta fé, força e coragem para seguir com esperança? A resposta é sempre a mesma: em DEUS.

Como Igreja em saída, comprometida na promoção e dignidade humana, fica um renovado apelo em unir esforços para partilhar o que temos com aqueles que tudo perderam, encarnando também nesta realidade o Evangelho. “Sempre que fizestes isso a um desses meus irmãos mais pequeninos, a mim mesmo o fizeste”.

 

Ir. Marinês Biasibetti
Missionária Scalabriniana e Secretária-geral da Comissão Episcopal para Migrantes, Refugiados e Deslocados, CEMIRDE
Moçambique, Abril de 2019