24 Setembro 2015 | Discurso do Santo Padre, Visits

VISITA AO CONGRESSO DOS ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICADISCURSO DO SANTO PADRE

Washington, Capitólio

[…] Penso também na marcha que Martin Luther King guiou de Selma a
Montgomery, há cinquenta anos, como parte da campanha para conseguir o seu
«sonho» de plenos direitos civis e políticos para os afro-americanos. Aquele sonho
continua a inspirar-nos. Alegro-me por a América continuar a ser, para muitos, uma
terra de «sonhos»: sonhos que levam à acção, à participação, ao compromisso;
sonhos que despertam o que há de mais profundo e verdadeiro na vida das
pessoas. Nos últimos séculos, milhões de pessoas chegaram a esta terra
perseguindo o sonho de construírem um futuro em liberdade. Nós, pessoas deste
continente, não temos medo dos estrangeiros, porque outrora muitos de nós
éramos estrangeiros. Digo-vos isto como filho de imigrantes, sabendo que também
muitos de vós sois descendentes de imigrantes. Tragicamente, os direitos daqueles
que estavam aqui, muito antes de nós, nem sempre foram respeitados. Por aqueles
povos e as suas nações, desejo, a partir do coração da democracia americana,
reafirmar a minha mais alta estima e consideração. Aqueles primeiros contactos
foram muitas vezes tumultuosos e violentos, mas é difícil julgar o passado com os
critérios do presente. Todavia, quando o estrangeiro no nosso meio nos interpela,
não devemos repetir os pecados e os erros do passado. Devemos decidir viver
agora o mais nobre e justamente possível e, de igual modo, formar as novas
gerações para não virarem as costas ao seu «próximo» e a tudo aquilo que nos
rodeia. Construir uma nação pede-nos para reconhecer que devemos
constantemente relacionar-nos com os outros, rejeitando uma mentalidade de
hostilidade para se adoptar uma subsidiariedade recíproca, num esforço constante
de contribuir com o melhor de nós. Tenho confiança que o conseguiremos.
O nosso mundo está a enfrentar uma crise de refugiados de tais proporções que
não se via desde os tempos da II Guerra Mundial. Esta realidade coloca-nos diante
de grandes desafios e decisões difíceis. Também neste continente, milhares de
pessoas sentem-se impelidas a viajar para o Norte à procura de melhores
oportunidades. Porventura não é o que queríamos para os nossos filhos? Não
devemos deixar-nos assustar pelo seu número, mas antes olhá-los como pessoas,
fixando os seus rostos e ouvindo as suas histórias, procurando responder o melhor
que pudermos às suas situações. Uma resposta que seja sempre humana, justa e
fraterna. Devemos evitar uma tentação hoje comum: descartar quem quer que se
demonstre problemático. Lembremo-nos da regra de ouro: «O que quiserdes que
vos façam os homens, fazei-o também a eles» (Mt 7, 12).
Esta norma aponta-nos uma direcção clara. Tratemos os outros com a mesma
paixão e compaixão com que desejamos ser tratados. Procuremos para os outros as
mesmas possibilidades que buscamos para nós mesmos. Ajudemos os outros a

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crescer, como quereríamos ser ajudados nós mesmos. Em suma, se queremos
segurança, demos segurança; se queremos vida, demos vida; se queremos
oportunidades, providenciemos oportunidades. A medida que usarmos para os
outros será a medida que o tempo usará para connosco. A regra de ouro põe-nos
diante também da nossa responsabilidade de proteger e defender a vida humana
em todas as fases do seu desenvolvimento.
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