18 Janeiro 2018 | Visita apostólica

VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO CHILE E PERU (15-22 DE JANEIRO DE 2018) MISSA DA VIRGEM DO CARMO E ORAÇÃO PELO CHILE

Iquique - Campus Lobito

HOMILIA DO SANTO PADRE […] Irmãos, Iquique é uma «terra de sonhos» (tal é o significado do nome, em língua aymara); uma terra que soube albergar pessoas de diferentes povos e culturas, pessoas que tiveram de deixar os seus queridos e partir. Uma marcha sempre baseada na esperança de obter uma vida melhor, mas sabemos que sempre se faz acompanhar por bagagens carregadas de medo e incerteza pelo que virá. Iquique é uma região de imigrantes que nos lembra a grandeza de homens e mulheres; de famílias inteiras que, perante a adversidade, não se dão por vencidas mas mexemse à procura de vida. Eles – sobretudo quantos têm que deixar a sua terra, porque não encontram o mínimo necessário para viver – são ícones da Sagrada Família, que teve de atravessar desertos para poder continuar a viver. Esta é terra de sonhos, mas procuremos que continue a ser também terra de hospitalidade. Hospitalidade festiva, porque sabemos bem que não há alegria cristã, quando se fecham as portas; não há alegria cristã, quando se faz sentir aos outros que estão a mais ou que não têm lugar no nosso meio (cf. Lc 16, 19-31). Como Maria em Caná, procuremos aprender a estar atentos nas nossas praças e aldeias e reconhecer aqueles que têm a vida «arruinada»; que perderam – ou lhes roubaram – as razões para fazer festa. E não tenhamos medo de levantar as nossas vozes para dizer: «Não têm vinho». O grito do povo de Deus, o grito do pobre, que tem forma de oração e alarga o coração, e nos ensina a estar atentos. Estejamos atentos a todas as situações de injustiça e às novas formas de exploração que fazem tantos irmãos perder a alegria da festa. Estejamos atentos à situação de precariedade do trabalho que destrói vidas e famílias. Estejamos atentos a quem se aproveita da irregularidade de muitos migrantes porque não conhecem a língua ou não têm os documentos em «regra». Estejamos atentos à falta de teto, terra e trabalho de tantas famílias. E, como Maria, digamos: Não têm vinho. Como os serventes da festa, tragamos o que temos, por pouco que pareça. Como eles, não tenhamos medo de «dar uma mão», e que a nossa solidariedade e o nosso compromisso em prol da justiça sejam parte da dança ou do cântico que hoje podemos entoar a nosso Senhor. Aproveitemos também para aprender e deixar-nos impregnar pelos valores, a sabedoria e a fé que os migrantes trazem consigo; sem nos fecharmos a essas «vasilhas» cheias de sabedoria e história que trazem quantos continuam a chegar a estas terras. Não nos privemos de todo o bem que eles têm para oferecer. […]