1 Julho 2015 | Discurso do Santo Padre, Encontro

PARTICIPAÇÃO AO II ENCONTRO MUNDIAL DOS MOVIMENTOS POPULARESDISCURSO DO SANTO PADRE

Expo Feira de Santa Cruz de la Sierra (Bolívia)

Irmãos e irmãs, boa tarde!
[…] Vós, a partir dos movimentos populares, assumis as tarefas comuns motivados
pelo amor fraterno, que se rebela contra a injustiça social. Quando olhamos o rosto
dos que sofrem, o rosto do camponês ameaçado, do trabalhador excluído, do
indígena oprimido, da família sem tecto, do imigrante perseguido, do jovem
desempregado, da criança explorada, da mãe que perdeu o seu filho num tiroteio
porque o bairro foi tomado pelo narcotráfico, do pai que perdeu a sua filha porque
foi sujeita à escravidão; quando recordamos estes «rostos e estes nomes»
estremecem-nos as entranhas diante de tanto sofrimento e comovemo-nos, todos
nos comovemos…. Porque «vimos e ouvimos», não a fria estatística, mas as feridas
da humanidade dolorida, as nossas feridas, a nossa carne. Isto é muito diferente da
teorização abstracta ou da indignação elegante. Isto comove-nos, move-nos e
procuramos o outro para nos movermos juntos. Esta emoção feita acção
comunitária é incompreensível apenas com a razão: tem um plus de sentido que só
os povos entendem e que confere a sua mística particular aos verdadeiros
movimentos populares. […]
[…] Temos de reconhecer que nenhum dos graves problemas da humanidade pode
ser resolvido sem a interacção dos Estados e dos povos a nível internacional.
Qualquer acto de envergadura realizado numa parte do Planeta repercute-se no
todo em termos económicos, ecológicos, sociais e culturais. Até o crime e a
violência se globalizaram. Por isso, nenhum governo pode actuar à margem duma
responsabilidade comum. Se queremos realmente uma mudança positiva, temos de
assumir humildemente a nossa interdependência, ou seja, nossa sã
interdependência. Mas interacção não é sinónimo de imposição, não é subordinação
de uns em função dos interesses dos outros. O colonialismo, novo e velho, que
reduz os países pobres a meros fornecedores de matérias-primas e mão de obra
barata, gera violência, miséria, emigrações forçadas e todos os males que vêm
juntos… precisamente porque, ao pôr a periferia em função do centro, nega-lhes o
direito a um desenvolvimento integral. E isto, irmãos, é desigualdade, e a
desigualdade gera violência que nenhum recurso policial, militar ou dos serviços
secretos será capaz de deter.[…]