26 Agosto 2020 | Audiência Geral

PAPA FRANCISCO AUDIÊNCIA GERAL

Biblioteca do Palácio Apostólico

[…] A desigualdade social e a degradação ambiental andam de mãos dadas e
têm a mesma raiz (cf. Enc. Laudato si’ , 101): a do pecado de querer possuir, de
querer dominar os irmãos e irmãs, de pretender possuir e dominar a natureza e
o próprio Deus. Mas este não é o desígnio da criação. […]
[…] Quando a obsessão de possuir e dominar exclui milhões de pessoas dos
bens primários; quando a desigualdade económica e tecnológica é tal que
dilacera o tecido social; e quando a dependência do progresso material ilimitado
ameaça a casa comum, então não podemos ficar a olhar de braços cruzados.
Não, isso é desolador. Não podemos ficar a olhar! Com os olhos fixos em Jesus
(cf. Hb 12, 2) e com a certeza de que o seu amor opera através da comunidade
dos seus discípulos, devemos agir em conjunto na esperança de gerar algo
diferente e melhor. A esperança cristã, enraizada em Deus, é a nossa âncora.
Sustenta a vontade de partilhar, fortalecendo a nossa missão como discípulos de
Cristo, que partilhou tudo connosco.
Isto foi compreendido pelas primeiras comunidades cristãs, que, como nós,
viveram tempos difíceis. Conscientes de formar um só coração e uma só alma,
punham todos os seus bens em comum, dando testemunho da abundante graça
de Cristo sobre eles (cf. At 4, 32-35). Nós estamos a viver uma crise. A
pandemia pôs-nos todos em crise. Mas recordai-vos: de uma crise não se pode
sair iguais, ou saímos melhores ou saímos piores. Eis a nossa opção. Depois da
crise, continuaremos com este sistema económico de injustiça social e de
desprezo pelo cuidado do meio ambiente, da criação, da casa comum? Pensemos
nisto. Que as comunidades cristãs do século XXI recuperem esta realidade – o
cuidado da criação e a justiça social: caminham juntas – dando assim
testemunho da Ressurreição do Senhor. Se cuidarmos dos bens que o Criador
nos concede, se partilharmos o que possuímos para que não falte nada a
ninguém, então de facto podemos inspirar esperança para regenerar um mundo
mais saudável e mais justo.
E para terminar, pensemos nas crianças. Lede as estatísticas: quantas crianças,
hoje, morrem de fome devido à má distribuição das riquezas, a um sistema
económico como disse acima; e quantas crianças, hoje, não têm direito à
escolarização, pelo mesmo motivo. Que esta imagem, das crianças necessitadas,
com fome e com falta de escolarização, nos ajude a compreender que desta
crise devemos sair melhores. Obrigado. […]