[…] Naquela altura, Jesus dirige-se ao doutor da lei e pergunta-lhe: «Qual destes
três — o sacerdote, o levita, o samaritano — parece ter sido o próximo daquele que
caiu nas mãos dos ladrões?». E ele, naturalmente — porque era inteligente —
responde: «Aquele que teve misericórdia dele» (vv. 36-37). Deste modo, Jesus
inverteu completamente a perspetiva inicial do doutor da lei, e também a nossa:
não devo catalogar os outros para decidir quem é o meu próximo e quem não é.
Depende de mim, ser ou não ser próximo — a decisão é minha — depende de mim,
ser ou não ser próximo da pessoa com a qual me encontro e que tem necessidade
de ajuda, mesmo que seja desconhecida, ou talvez até hostil. E Jesus conclui: «Vai,
e também tu faz o mesmo» (v. 37). Uma boa lição! E repete-o a cada um de nós:
«Vai, e também tu faz o mesmo», tornando-te próximo do irmão e da irmã que tu
vês em dificuldade. «Vai, e também tu faz o mesmo». Praticar boas obras, não
apenas pronunciar palavras que se perdem no vento. Vem-me ao pensamento uma
canção: «Palavras, palavras, palavras…». Não! É preciso fazer, agir. E mediante as
boas obras que praticamos com amor e alegria a favor do próximo, a nossa fé
germina e dá fruto. Questionemo-nos — cada qual responda no próprio coração —
interroguemo-nos: é fecunda a nossa fé? Produz boas obras a nossa fé? Ou então é
bastante estéril e portanto mais morta do que viva? Faço-me próximo, ou
simplesmente passo ao lado? Sou daqueles que seleciono as pessoas a bel-prazer?
É bom fazer estas perguntas, e fazê-las frequentemente, porque no fim seremos
julgados pelas obras de misericórdia. O Senhor poderá dizer-nos: e tu, recordas
aquela vez ao longo do caminho de Jerusalém para Jericó? Aquele homem meio
morto era eu. Recordas? Aquele menino faminto era eu. Recordas? Era eu aquele
migrante que muitos querem expulsar. Era eu aqueles avós sozinhos, abandonados
nas casas de repouso. Era eu aquele doente no hospital, que ninguém vai visitar.
[…]