[…] Outro problema grave, relacionado com o precedente, que o nosso mundo deve
enfrentar, refere-se à migração de massa: já o notável número de homens e de
mulheres que são obrigados a procurar um trabalho distante da própria Pátria é
motivo de preocupação. Não obstante a sua esperança num porvir melhor,
frequentemente eles encontram incompreensão e exclusão, sem mencionar as
ocasiões em que fazem a experiência de tragédias e de desastres. Depois de
enfrentarem tais sacrifícios, estes homens e estas mulheres muitas vezes não
conseguem encontrar um trabalho digno e, assim, tornam-se vítimas de uma certa
«globalização da indiferença». A sua situação expõe-nos a outros perigos, como o
horror do tráfico de seres humanos, o trabalho forçado e a redução à escravidão. É
inaceitável que no nosso mundo o trabalho levado a cabo por escravos se tenha
tornado moeda corrente (cf. Mensagem para o Dia Mundial dos Migrantes e dos
Refugiados, 5 de Agosto de 2013). Isto não pode continuar assim! O tráfico de
seres humanos é um flagelo, um crime contra a humanidade inteira. Chegou o
momento de unir as forças e de trabalhar juntos para libertar as vítimas de tais
tráficos e para erradicar este crime, que atinge todos nós, desde as famílias
individualmente até à comunidade mundial no seu conjunto (cf. Discurso a novos
Embaixadores acreditados junto da Santa Sé, 12 de Dezembro de 2013).
Chegou também o momento de fortalecer as formas existentes de cooperação e de
traçar caminhos novos para aumentar a solidariedade. Isto exige: um compromisso
renovado em benefício da dignidade de cada pessoa; uma realização mais
determinada dos padrões internacionais a propósito do trabalho; a planificação para
um desenvolvimento focalizado na pessoa humana como protagonista central e
principal beneficiário; uma nova avaliação das responsabilidades das sociedades
multinacionais nos países onde elas se encontram, incluindo os sectores da gestão
do lucro e do investimento; e um esforço coordenado para encorajar os governos a
facilitar as transferências dos migrantes, para o benefício de todos, eliminando
deste modo o tráfico de seres humanos e as perigosas condições de viagem. Uma
cooperação eficaz nestes campos será favorecida de maneira notável pela definição
de futuras finalidades sustentáveis de desenvolvimento. Como recentemente
expressei ao Secretário-Geral e aos Chefes Executivos da Organização das Nações
Unidas: «Os futuros objectivos do desenvolvimento sustentável deveriam ser
formulados com generosidade e coragem, para que consigam incidir efectivamente
sobre as causas estruturais da pobreza e da fome, obtenham ulteriores resultados
substanciais a favor da preservação do meio ambiente, garantam um trabalho
decente para todos e protejam adequadamente a família, elemento essencial de
qualquer desenvolvimento económico e social sustentável».
[…]