13 Junho 2016 | Discurso do Santo Padre

Discurso do Santo Padre na Sessão Anual do Conselho Executivo do

Programa Alimentar Mundial (PAM)

[…] Esta tendência – ou tentação – exige de nós um passo mais e, por sua vez,
revela o papel fundamental que instituições como a vossa têm no cenário global.
Hoje não podemos dar-nos por satisfeitos apenas com o facto de conhecer a
situação de muitos dos nossos irmãos. As estatísticas não nos saciam. Não é
suficiente elaborar longas reflexões ou submergir-nos em discussões infindáveis
sobre as mesmas, repetindo continuamente argumentos já conhecidos por todos. É
necessário «desnaturalizar» a miséria, deixando de considerá-la como um dado
entre muitos outros da realidade. Porquê? Porque a miséria tem um rosto. Tem o
rosto duma criança, tem o rosto duma família, tem o rosto de jovens e idosos. Tem
o rosto da falta de oportunidades e de emprego de muitas pessoas, tem o rosto das
migrações forçadas, das casas abandonadas ou destruídas. Não podemos
«naturalizar» a fome de tantas pessoas; não nos é lícito afirmar que a sua situação
é fruto dum destino cego contra o qual nada podemos fazer. Quando a miséria
deixa de ter um rosto, podemos cair na tentação de começar a falar e discutir sobre
«a fome», «a alimentação», «a violência», deixando de lado o sujeito concreto,
real, que continua ainda hoje a bater às nossas portas. Quando faltam os rostos e
as histórias, as vidas começam a transformar-se em números e assim, pouco a
pouco, corremos o risco de burocratizar o sofrimento alheio. As burocracias
ocupam-se de procedimentos; a compaixão – não a pena, mas a compaixão, o
padecer com –, pelo contrário, põe-nos em campo em prol das pessoas. […]