Papa Francisco: […] O segundo aspeto necessário para ouvir o grito é o desapego — o primeiro é a humildade: para ouvir, temos que nos abaixar. É expresso no trecho evangélico da parábola do pastor que vai à procura da ovelha tresmalhada. Este bom pastor não tem qualquer interesse pessoal para defender: a única preocupação é que ninguém se perca. Temos interesses pessoais, nós que estamos aqui esta tarde? Cada um pode pensar: qual é o meu interesse escondido, pessoal, que tenho na minha atividade eclesial? A vaidade? Não sei… cada qual tem o seu. Estamos preocupados com as nossas estruturas paroquiais, com o futuro do nosso instituto, com o consenso social, com o que dirão as pessoas se nos ocuparmos dos pobres, dos migrantes, dos ciganos? Ou estamos apegados àquele pouco de poder que ainda temos sobre as pessoas da nossa comunidade ou do nosso bairro? Todos nós vimos paróquias que fizeram escolhas sérias, sob a inspiração do Espírito, e tantos fiéis que iam lá afastaram-se porque “ah, este pároco é demasiado exigente, até um pouco comunista”, e as pessoas afastam-se. Hoje encontrei no Vaticano quinhentos ciganos e ouvi coisas dolorosas. Xenofobia. Estai atentos, pois o fenómeno cultural mundial, digamos, pelo menos europeu, dos populismos aumenta semeando medo. Mas na cidade há também muito bem, porque há lugares positivos, lugares fecundos: lá onde os cidadãos se encontram e dialogam de modo solidário e construtivo, eis que se cria «uma trama em que grupos de pessoas compartilham as mesmas formas de sonhar a vida e ilusões semelhantes, constituindo-se em novos sectores humanos, em territórios culturais, em cidades invisíveis» (ibid.). […]