29 Setembro 2017 | Carta

CARTA DO PAPA FRANCISCO ÀS MISSIONÁRIAS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS (CABRINIANAS) NO CENTENÁRIO DA MORTE DE S. FRANCISCA XAVIER CABRINI PADROEIRA DOS MIGRANTES

À Reverenda Madre
Irmã Barbara Louise Staley
Superiora-Geral das Missionárias do Sagrado Coração de Jesus
O centenário da morte de Santa Francisca Xavier Cabrini é um dos eventos
principais que este ano marcam o caminho da Igreja, quer pela grandiosidade da
figura que se comemora, quer pela atualidade do seu carisma e da sua mensagem,
não só para a comunidade eclesial mas para a sociedade inteira. Portanto, com esta
minha mensagem, que acompanho com a oração, desejo participar espiritualmente
na Assembleia Geral que como Instituto das Missionárias do Sagrado Coração de
Jesus, juntamente com os colaboradores leigos, realizareis de 17 a 23 de setembro
deste ano em Chicago, no Santuário Nacional dedicado à vossa amada Fundadora e
Padroeira dos migrantes.
Santa Francisca Xavier Cabrini recebeu de Deus uma vocação missionária que
naquele tempo podia ser considerada singular: formar e enviar para o mundo
inteiro mulheres consagradas, com um horizonte missionário sem limites, não
simplesmente como auxiliares de institutos religiosos ou missionários masculinos,
mas com um carisma de consagração feminina específico, mesmo se em plena e
total disponibilidade à colaboração quer com as Igrejas locais quer com as diversas
congregações que se dedicavam ao anúncio do Evangelho ad gentes. Em Madre
Cabrini esta consagração limpidamente missionária e feminina nasce da união total
e amorosa com o Coração de Cristo, cuja misericórdia supera qualquer fronteira.
Ela vive e infunde nas suas irmãs um impulso de reparação pelo mal no mundo e
pelo afastamento de Cristo, que apoia a missionária em empresas superiores às
forças humanas: a expressão paulina «Omnia possum in eo qui me confortat» (Fl 4,
13) era o seu lema. Mote confirmado pelo número surpreendente e pela
importância das obras empreendidas durante a sua vida, na Itália, França,
Espanha, Grã-Bretanha, Estados Unidos, América Central, Argentina e Brasil. Mas o
amor pelo Coração de Cristo, que se traduz no anseio evangelizador, resplandece
na atenção de Francisca Xavier Cabrini por aquelas que hoje poderíamos chamar
periferias da história: por exemplo, um ano após um linchamento cruel de italianos,
acusados de ter assassinado o chefe da polícia de New Orleans, na Louisiana, Madre
Cabrini abriu uma casa no bairro italiano mais mal-afamado.
O carisma de Santa Francisca Xavier Cabrini anima uma dedicação total e
inteligente em relação aos emigrantes, que da Itália iam para o Novo Mundo. Esta
escolha é fruto da sua obediência sincera e amorosa ao Santo Padre, Papa Leão
XIII, e não exclui a atenção aos outros âmbitos de ação missionária. As epocais
deslocações hodiernas de populações, com as tensões que inevitavelmente se
geram, fazem de Madre Cabrini uma figura de singular atualidade. Em particular, a
santa une a atenção pelas situações de maior pobreza e fragilidade, como os órfãos

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e os mineiros, a uma lúcida sensibilidade cultural que, em diálogo constante com as
hierarquias locais, se compromete para conservar e reavivar nos emigrantes a
tradição cristã recebida nos países de origem, uma religiosidade por vezes
superficial, mas frequentemente impregnada de uma autêntica mística popular,
oferecendo por outro lado os caminhos para se integrar plenamente na cultura dos
países de chegada, de modo que os migrantes italianos fossem acompanhados
pelas Madres Missionárias a ser plenamente italianos e plenamente americanos. A
vitalidade humana e cristã dos migrantes torna-se assim um dom para as Igrejas e
para os povos que acolhem. As grandes migrações hodiernas necessitam de um
acompanhamento cheio de amor e de inteligência como o que carateriza o carisma
cabriniano, em vista de um encontro de povos que enriqueça todos e gere união e
diálogo e não separação e hostilidade. Sem esquecer que Santa Francisca Xavier
Cabrini conserva uma sensibilidade missionária não setorial mas universal, que é
vocação de cada cristão e de qualquer comunidade de discípulos de Jesus.
A presente celebração do centenário convida a tomar novamente consciência de
tudo isto, com íntima e jubilosa gratidão a Deus. Isto constitui um grande dom
sobretudo para vós, filhas espirituais de Madre Cabrini. Possa o vosso Instituto
inteiro, cada comunidade, cada religiosa receber uma efusão abundante do Espírito
Santo, que reavive a fé e a sequela de Cristo segundo o carisma missionário da
Fundadora; e possa impelir também numerosos fiéis leigos a compartilhar e apoiar
a vossa ação evangélica no atual contexto social. Por minha parte, garanto-vos com
vivo afeto a minha recordação e oração, seja porque a figura de Madre Cabrini
sempre me foi familiar, seja pela solicitude especial que dedico à causa dos
migrantes. Enquanto vos peço que rezeis por mim e pelo meu ministério, concedo
de coração à vossa Assembleia, à Congregação e a toda a família cabriniana uma
especial Bênção Apostólica.