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EXORTAÇÃO APOSTÓLICA EVANGELII GAUDIUM DO SANTO PADRE FRANCISCO AO EPISCOPADO, AO CLERO ÀS PESSOAS CONSAGRADAS E AOS FIÉIS LEIGOS SOBRE O ANÚNCIO DO EVANGELHO NO MUNDO ACTUAL

75. Não podemos ignorar que, nas cidades, facilmente se desenvolve o tráfico de
drogas e de pessoas, o abuso e a exploração de menores, o abandono de idosos e
doentes, várias formas de corrupção e crime. Ao mesmo tempo, o que poderia ser
um precioso espaço de encontro e solidariedade, transforma-se muitas vezes num
lugar de retraimento e desconfiança mútua. As casas e os bairros constroem-se
mais para isolar e proteger do que para unir e integrar. A proclamação do
Evangelho será uma base para restabelecer a dignidade da vida humana nestes
contextos, porque Jesus quer derramar nas cidades vida em abundância (cf. Jo 10,
10). O sentido unitário e completo da vida humana proposto pelo Evangelho é o
melhor remédio para os males urbanos, embora devamos reparar que um
programa e um estilo uniformes e rígidos de evangelização não são adequados para
esta realidade. Mas viver a fundo a realidade humana e inserir-se no coração dos
desafios como fermento de testemunho, em qualquer cultura, em qualquer cidade,
melhora o cristão e fecunda a cidade. […]
210. Embora aparentemente não nos traga benefícios tangíveis e imediatos, é
indispensável prestar atenção e debruçar-nos sobre as novas formas de pobreza e
fragilidade, nas quais somos chamados a reconhecer Cristo sofredor: os sem
abrigo, os toxicodependentes, os refugiados, os povos indígenas, os idosos cada
vez mais sós e abandonados, etc. Os migrantes representam um desafio especial
para mim, por ser Pastor duma Igreja sem fronteiras que se sente mãe de todos.
Por isso, exorto os países a uma abertura generosa, que, em vez de temer a
destruição da identidade local, seja capaz de criar novas sínteses culturais. Como
são belas as cidades que superam a desconfiança doentia e integram os que são
diferentes, fazendo desta integração um novo factor de progresso! Como são
encantadoras as cidades que, já no seu projecto arquitectónico, estão cheias de
espaços que unem, relacionam, favorecem o reconhecimento do outro!
211. Sempre me angustiou a situação das pessoas que são objecto das diferentes
formas de tráfico. Quem dera que se ouvisse o grito de Deus, perguntando a todos
nós: «Onde está o teu irmão?» (Gn 4, 9). Onde está o teu irmão escravo? Onde
está o irmão que estás matando cada dia na pequena fábrica clandestina, na rede
da prostituição, nas crianças usadas para a mendicidade, naquele que tem de
trabalhar às escondidas porque não foi regularizado? Não nos façamos de

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distraídos! Há muita cumplicidade… A pergunta é para todos! Nas nossas cidades,
está instalado este crime mafioso e aberrante, e muitos têm as mãos cheias de
sangue devido a uma cómoda e muda cumplicidade. […]
253. Para sustentar o diálogo com o Islão é indispensável a adequada formação dos
interlocutores, não só para que estejam sólida e jubilosamente radicados na sua
identidade, mas também para que sejam capazes de reconhecer os valores dos
outros, compreender as preocupações que subjazem às suas reivindicações e fazer
aparecer as convicções comuns. Nós, cristãos, deveríamos acolher com afecto e
respeito os imigrantes do Islão que chegam aos nossos países, tal como esperamos
e pedimos para ser acolhidos e respeitados nos países de tradição islâmica. […]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NA PLENÁRIA DA CONGREGAÇÃO PARA AS IGREJAS ORIENTAIS

[…] Uma grande preocupação é causada pelas condições de vida dos cristãos, que
em muitas partes do Médio Oriente sofrem de maneira particularmente grave as
consequências das tensões e dos conflitos em acto. A Síria, o Iraque, o Egipto e
outras áreas da Terra Santa, às vezes derramam lágrimas. O Bispo de Roma não
estará em paz enquanto houver homens e mulheres, de qualquer religião, feridos
na sua dignidade, desprovidos do necessário para a sobrevivência, privados do
futuro, obrigados à condição de prófugos e refugiados. Hoje, juntamente com os
Pastores das Igrejas do Oriente, dirigimos um apelo a fim de que seja respeitado o
direito de todos a uma vida digna e a professar livremente a própria fé. Não nos
resignemos a pensar no Médio Oriente sem os cristãos, que há dois mil anos
confessam o nome de Jesus, inseridos plenamente como cidadãos na vida social,
cultural e religiosa das nações às quais pertencem.[…]

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VISITA OFICIAL DO SANTO PADRE AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA ITALIANA, SUA EXCELÊNCIA O SENHOR GIORGIO NAPOLITANO DISCURSO DO PAPA FRANCISCO

[…] A tarefa primária que compete à Igreja consiste em dar testemunho da
misericórdia de Deus e de encorajar respostas generosas de solidariedade para
abrir a um futuro de esperança; pois onde aumenta a esperança multiplicam-se
também as energias e o compromisso em prol da construção de uma ordem social
e civil mais humana e mais justa, e sobressaem novas potencialidades para um
desenvolvimento sustentável e sadio.
As primeiras visitas pastorais que pude realizar na Itália permanecem gravadas na
minha mente. Antes de tudo em Lampedusa, onde encontrei de perto o sofrimento
daqueles que, por causa das guerras ou da miséria, se encaminham para a
emigração em condições muitas vezes desesperadas; e onde vi o louvável
testemunho de solidariedade de muitas pessoas que se prodigalizam no serviço de
hospitalidade. […]

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SOLENIDADE DE TODOS OS SANTOS PAPA FRANCISCO ANGELUS

[…] Hoje à tarde irei ao cemitério do «Verano» para ali celebrar a Santa Missa.
Estarei espiritualmente unido a quantos nestes dias visitam os cemitérios, onde
dormem aqueles que nos precederam no sinal da fé e agora esperam o dia da
ressurreição. De modo particular, rezarei pelas vítimas da violência, especialmente
pelos cristãos que perderam a vida por causa das perseguições. Rezarei também de
forma particular por quantos, nossos irmãos e irmãs, homens, mulheres e crianças,
morreram por causa da sede, da fome e do cansaço ao longo do itinerário para
alcançar melhores condições de vida. Nestes dias vimos nos jornais a imagem cruel
do deserto: recitemos agora todos juntos, em silêncio, uma oração por aqueles
nossos irmãos e irmãs.[…]

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MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO AO CARDEAL KURT KOCH POR OCASIÃO DA 10a ASSEMBLEIA GERAL DO CONSELHO ECUMÉNICO DAS IGREJAS

[…] Por este motivo, estou convicto de que a presente Assembleia ajudará a
consolidar o compromisso de todos os seguidores de Cristo a favor de uma oração e
de uma colaboração mais intensas ao serviço do Evangelho e do bem integral da
nossa família humana. O mundo globalizado no qual vivemos exige de nós um
testemunho comum da dignidade conferida por Deus a cada ser humano e a
promoção eficaz das condições culturais, sociais e legais que permitem que cada
indivíduo e comunidade cresçam na liberdade e apoiem a missão da família como
pedra fundamental da sociedade, assegurem uma educação sólida e integral dos
jovens e garantam a todos o exercício incondicional da liberdade religiosa. Em
fidelidade ao Evangelho e em resposta às necessidades urgentes do presente,
somos chamados a ir ao encontro daqueles que se encontram nas periferias
existenciais das nossas sociedades e a manifestar uma solidariedade especial para
com os nossos irmãos e irmãs mais vulneráveis: os pobres, os portadores de
deficiência, os nascituros, os enfermos, os migrantes, os refugiados, os idosos e os
jovens desempregados. […]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES DA COMEMORAÇÃO DO 50o ANIVERSÁRIO DA ENCÍCLICA “PACEM IN TERRIS” DO PAPA JOÃO XXIII

[…] Falando de paz, falando da desumana crise económica mundial, que constitui
um sintoma grave da falta de respeito pelo homem, não posso deixar de recordar
com profunda dor as numerosas vítimas do último, trágico, naufrágio ocorrido hoje
ao largo de Lampedusa. Vem-me a palavra vergonha. É uma vergonha! Oremos
juntos a Deus, por quantos perderam a vida: homens, mulheres e crianças, pelos
seus familiares e por todos os refugiados. Unamos os nossos esforços a fim de que
nunca mais se repitam tragédias semelhantes! Só uma colaboração decidida da
parte de todos pode contribuir para as prevenir.[…]

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VISITA PASTORAL A CAGLIARI ENCONTRO COM OS TRABALHADORES DISCURSO DO SANTO PADRE FRANCISCO

[…] Esta é a segunda cidade que visito na Itália. É curioso: ambas — e primeira e
esta — são ilhas. Na primeira eu vi o sofrimento de muitas pessoas que, pondo em
perigo a própria vida, procuram dignidade, pão e saúde: o mundo dos refugiados. E
vi a resposta daquela cidade que — embora seja uma ilha — não quis isolar-se e
recebe aquele mundo, fá-lo seu; oferece-nos um exemplo de hospitalidade:
sofrimento e resposta positiva. Aqui, nesta segunda cidade-ilha que visito, também
aqui encontro sofrimento. Um sofrimento que, segundo o que disse um de vós, «te
debilita e acaba por roubar a tua esperança». Um sofrimento — a falta de trabalho
— que te leva — perdoai-me, se sou um pouco forte, mas digo a verdade — a
sentir-te sem dignidade! Onde não há trabalho, falta a dignidade! E este não é um
problema unicamente da Sardenha — mas aqui é grave — não é uma problemática
só da Itália ou de alguns países da Europa, mas é a consequência de uma escolha
mundial, de um sistema económico que leva a esta tragédia; de um sistema
económico que tem no centro um ídolo, que se chama dinheiro. […]

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VISITA AO “CENTRO ASTALLI” DE ROMA PARA A ASSISTÊNCIA AOS REFUGIADOS DISCURSO DO PAPA FRANCISCO

Queridos irmãos e irmãs, boa tarde!

Saúdo antes de tudo a vós refugiados e refugiadas. Ouvimos Adam e Carol:
obrigado pelos vossos testemunhos fortes, sofridos. Cada um de vós, queridos
amigos, tem uma história de vida que nos fala de dramas de guerras, de conflitos,
muitas vezes relacionados com as políticas internacionais. Mas cada um de vós tem
sobretudo uma riqueza humana e religiosa, uma riqueza que se deve acolher e não
temer. Muitos de vós são muçulmanos, de outras religiões; vindes de vários países,

de situações diversas. Não devemos ter medo das diferenças! A fraternidade faz-
nos descobrir que são uma riqueza, um dom para todos! Vivamos a fraternidade!

Roma! Depois de Lampedusa e dos outros lugares de chegada, para muitas pessoas
a nossa cidade é a segunda etapa. Com frequência — ouvimo-lo — a viagem
enfrentada foi difícil, extenuante e até violenta, penso sobretudo nas mulheres, nas
mães, que suportam isto para garantir um futuro aos seus filhos e uma esperança
de vida diversa para si mesmas e para a família. Roma deveria ser a cidade que
permite encontrar uma dimensão humana, recomeçar a sorrir. Mas ao contrário
quantas vezes, aqui, como noutras partes, muitas pessoas que têm a inscrição
«protecção internacional» na sua autorização de residência, são obrigadas a viver
em situações de necessidade, por vezes degradantes, sem a possibilidade de

começar uma vida digna, de pensar num futuro novo!

Então obrigado a quantos, como este Centro e outros serviços, eclesiais, públicos e
privados, se activam para receber estas pessoas com um projecto. Obrigado ao
Padre Giovanni e aos seus irmãos de hábito; a vós, agentes, voluntários,
benfeitores, que não ofereceis apenas algo ou tempo, mas que procurais entrar em
relação com quem pede asilo e com os refugiados, reconhecendo-os como pessoas,
comprometendo-vos a encontrar respostas concretas para as suas necessidades.
Manter sempre viva a esperança! Ajudar a recuperar a confiança! Mostrar que com
o acolhimento e a fraternidade se pode abrir uma janela para o futuro — mais que
uma janela, uma porta, e até mais — pode-se ter ainda um futuro! E é bom que
quem trabalha para os refugiados, juntamente com os Jesuítas, sejam homens e
mulheres cristãos e também não crentes ou até de outras religiões, unidos no nome
do bem comum, que para nós cristãos é sobretudo o amor do Pai em Jesus Cristo.
Santo Inácio de Loyola quis que houvesse um espaço para receber os pobres nos
locais onde tinha a sua residência em Roma, e o Padre Arrupe, em 1981, fundou o
Serviço jesuíta aos Refugiados, e quis que a sede romana fosse nesses locais, no
coração da Cidade. E penso na despedida espiritual do Padre Arrupe na Tailândia,

precisamente num centro para refugiados.

Servir, acompanhar, defender: três palavras que são o programa de trabalho para

os Jesuítas e para os seus colaboradores.

Servir. Que significa? Servir significa acolher a pessoa que chega, com atenção;
significa inclinar-se sobre quem é necessitado e estender-lhe a mão, sem cálculos,
sem receio, com ternura e compreensão, como Jesus se inclinou para lavar os pés
dos Apóstolos. Servir significa trabalhar ao lado dos mais necessitados, estabelecer
com eles antes de tudo relações humanas, de proximidade, vínculos de

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solidariedade. Solidariedade, esta palavra que assusta o mundo desenvolvido.
Procuram não dizê-la. Solidariedade para eles é quase um palavrão. Mas é a nossa
palavra! Servir significa reconhecer e acolher os pedidos de justiça, de esperança, e

procurar juntos caminhos, percursos concretos de libertação.

Os pobres são também mestres privilegiados do nosso conhecimento de Deus; a
sua fragilidade e simplicidade desmascaram os nossos egoísmos, as nossas falsas
seguranças, as nossas pretensões de auto-suficiência e guiam-nos rumo à
experiência da proximidade e da ternura de Deus, para receber na nossa vida o seu
amor, a sua misericórdia de Pai que, com discrição e confiança paciente, cuida de

nós, de todos nós.

Deste lugar de acolhimento, de encontro e de serviço gostaria então que se
dirigisse uma pergunta para todos, para todas as pessoas que vivem aqui, nesta
diocese de Roma: inclino-me sobre quem está em dificuldade ou tenho medo de
sujar as mãos? Estou fechado em mim mesmo, nas minhas coisas, ou apercebo-me
de quem precisa de ajuda? Sirvo só a mim mesmo ou sei servir os outros, como
Cristo que veio para servir até doar a sua vida? Fito os olhos de quantos pedem
justiça ou desvio o olhar para o outro lado para não encarar as pessoas?
Segunda palavra: acompanhar. Nestes anos, o Centro Astalli fez um percurso. No
início oferecia serviço de primeiro acolhimento: um refeitório, onde dormir, uma
ajuda legal. Depois, aprendeu a acompanhar as pessoas na busca do trabalho e na
inserção social. E em seguida, propôs também actividades culturais, a fim de
contribuir para fazer crescer uma cultura do acolhimento, uma cultura do encontro
e da solidariedade, a partir da tutela dos direitos humanos. Só o acolhimento não é
suficiente. Não é suficiente dar uma sandes se não estiver acompanhada da
possibilidade de aprender a caminhar com os próprios pés. A caridade que deixa o
pobre na mesma condição em que estava não é suficiente. A verdadeira
misericórdia, que Deus nos concede e ensina, exige a justiça, pede que o pobre
encontre o caminho para deixar de o ser. Pede — e pede-o a nós, Igreja, a nós
cidade de Roma, às instituições — pede que ninguém volte a precisar de um
refeitório, de um abrigo ocasional, de um serviço de assistência legal para ver
reconhecido o próprio direito a viver e a trabalhar, a ser plenamente pessoa. Adam
disse: «Nós refugiados temos o dever de fazer o melhor que podemos para sermos
integrados na Itália». E isto é um direito: a integração! E Carol disse: «Os Sírios na

Europa sentem a grande responsabilidade de não serem um peso, queremos sentir-
nos parte activa de uma nova sociedade». Também este é um direito! Eis que esta

responsabilidade é a base ética, é a força para construir juntos. Pergunto-me: nós

acompanhamos este caminho?

Terceira palavra: defender. Servir, acompanhar significa também defender, significa
pôr-se do lado de quem é mais débil. Quantas vezes elevamos a voz para defender
os nossos direitos, mas quantas vezes ficamos indiferentes em relação aos direitos
dos outros! Quantas vezes não sabemos ou não queremos dar voz à voz de quem
— como vós — sofreu e sofre, de quem viu espezinhar os próprios direitos, de
quem viveu tanta violência que sufocou até o desejo de obter justiça!
Para toda a Igreja é importante que o acolhimento do pobre e a promoção da
justiça não sejam confiados apenas a «peritos», mas sejam uma atenção de toda a
pastoral, da formação dos futuros sacerdotes e religiosos, do compromisso
ordinário de todas as paróquias, dos movimentos e das agregações eclesiais. Em
particular — isto é importante e digo-o de coração — gostaria de convidar também

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os Institutos religiosos a ler seriamente e com responsabilidade este sinal dos
tempos. O Senhor chama a viver com mais coragem e generosidade o acolhimento
nas comunidades, nas casas, nos conventos vazios. Caríssimos religiosos e
religiosas, os conventos vazios não servem à Igreja para serem transformados em
hotéis e ganhar dinheiro. Os conventos vazios não são vossos, são para a carne de
Cristo que são os refugiados. O Senhor chama a viver com mais coragem e
generosidade nas comunidades, nas casas, nos conventos vazios. Certamente não é
uma coisa simples, são necessários critério, responsabilidade e também coragem.
Fazemos tanto, talvez sejamos chamados a fazer mais, acolhendo e partilhando
com decisão o que a Providência nos doou para servir. Superar a tentação da
mundanidade espiritual para estar próximos das pessoas simples e sobretudo dos
últimos. Precisamos de comunidades solidárias que vivam o amor de modo

concreto!

Todos os dias, aqui e noutros centros, tantas pessoas, prevalecentemente jovens,
põem-se na fila para uma refeição quente. Estas pessoas recordam-nos sofrimentos
e dramas da humanidade. Mas aquela fila diz-nos também que fazer alguma coisa,
agora, todos, é possível. É suficiente bater à porta, e dizer: «Estou aqui. Como

posso ajudar?».

Antes de deixar o Centro Astalli, o Santo Padre disse ainda as seguintes palavras.
Agradeço-vos o acolhimento nesta Casa. Obrigado! Obrigado pelo testemunho,
obrigado pela ajuda, obrigado pelas vossas orações, obrigado pelo desejo, pela
vontade de ir em frente. Obrigado porque defendeis a vossa, a nossa dignidade

humana. Muito obrigado. Deus vos abençoe a todos!

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PAPA FRANCISCO ANGELUS

[…] Que não se poupe nenhum esforço para garantir a ajuda humanitária às vítimas
deste terrível conflito, particularmente os deslocados no país e os numerosos
refugiados nos países vizinhos. Que os agentes humanitários, dedicados a aliviar os
sofrimentos da população, tenham garantida a possibilidade de prestar a ajuda
necessária.[…]

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MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO PARA O DIA MUNDIAL DO MIGRANTE E DO REFUGIADO (2014) “Migrantes e refugiados: rumo a um mundo melhor”

Queridos irmãos e irmãs!
As nossas sociedades estão enfrentando, como nunca antes na história, processos
de interdependência mútua e interação em um nível global, que, mesmo incluindo
elementos problemáticos ou negativos, se destinam a melhorar as condições de
vida da família humana, não só nos aspectos econômicos, mas também nos
aspectos políticos e culturais. Cada pessoa, afinal, pertence à humanidade e
partilha a esperança de um futuro melhor com toda a família dos povos. A partir
dessa constatação, nasce o tema que escolhi para o Dia Mundial dos Migrantes e
Refugiados deste ano: “Os migrantes e refugiados: rumo a um mundo melhor”.
Entre os resultados das mudanças modernas, o fenômeno crescente da mobilidade
humana emerge como um “sinal dos tempos”, como o definiu o Papa Bento XVI (cf.
Mensagem para o Dia Mundial do migrante e do refugiado de 2006). Se por um
lado, as migrações muitas vezes denunciam fragilidades e lacunas nos Estados e na
Comunidade internacional, por outro, revelam a aspiração da humanidade de viver
a unidade, no respeito às diferenças; de viver o acolhimento e a hospitalidade, que
permitem a partilha equitativa dos bens da terra; de viver a proteção e a promoção
da dignidade humana e da centralidade de cada ser humano.
Do ponto de vista cristão, como em outras realidades humanas também nos
fenômenos migratórios se observa a tensão entre a beleza da criação, marcada pela
Graça e pela Redenção, e o mistério do pecado. A solidariedade e o acolhimento, os
gestos fraternos e de compreensão, veem-se contrapostos à rejeição,
discriminação, aos tráficos de exploração, de dor e de morte. Um motivo de
preocupação são, principalmente, as situações em que a migração não só é
forçada, mas também realizada através de várias modalidades de tráfico humano e
de escravidão. O “trabalho escravo” é hoje uma moeda corrente! No entanto,
apesar dos problemas, dos riscos e das dificuldades que devem ser enfrentados,
aquilo que anima muitos migrantes e refugiados é o binômio confiança e
esperança: eles trazem em seus corações o desejo de um futuro melhor não só
para si mesmos, mas também para as suas famílias e para os entes queridos.
O que significa a criação de um “mundo melhor”? Esta expressão não se refere
ingenuamente a conceitos abstratos ou a realidades inatingíveis, mas se dirige à
busca de um desenvolvimento autêntico e integral, para poder agir de tal modo que
haja condições de vida digna para todos, para que se encontrem respostas justas
às necessidades dos indivíduos e das famílias, para que seja respeitada, preservada
e cultivada a criação que Deus nos deu. O Venerável Papa Paulo VI descrevia com
estas palavras as aspirações dos homens de hoje: «ser liberado da pobreza, ter
garantido de um modo seguro o próprio sustento, a saúde, o emprego estável, ter
uma maior participação nas responsabilidades, fora de qualquer opressão e ao
protegido de condições que ofendem a dignidade humana; poder desfrutar de uma
educação melhor; em uma palavra, fazer conhecer e ter mais, para ser mais
“(Encíclica Populorum Progressio, 26 de março de 1967, n. 6).

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O nosso coração quer um “mais” que não seja simplesmente conhecer mais ou ter
mais, mas que seja essencialmente um ser mais. Não se pode reduzir o
desenvolvimento a um mero crescimento econômico, alcançado, muitas vezes, sem
tem em conta os mais fracos e indefesos. O mundo só pode melhorar se a atenção
é dirigida, em primeiro lugar, à pessoa; se a promoção da pessoa é integral, em
todas as suas dimensões, inclusive a espiritual; se não se deixa ninguém de lado,
incluindo os pobres, os doentes, os encarcerados, os necessitados, os estrangeiros
(cf. Mt 25, 31-46); caso se passe de uma cultura do descartável para uma cultura
do encontro e do acolhimento.
Os migrantes e refugiados não são peões no tabuleiro de xadrez da humanidade.
Trata-se de crianças, mulheres e homens que deixam ou são forçados a abandonar
suas casas por vários motivos, que compartilham o mesmo desejo legítimo de
conhecer, de ter, mas, acima de tudo, de ser mais. É impressionante o número de
pessoas que migram de um continente para outro, bem como aqueles que se
deslocam dentro de seus próprios países e áreas geográficas. Os fluxos migratórios
contemporâneos são o maior movimento de pessoas, se não de povos, de todos os
tempos. No caminho, ao lado dos migrantes e refugiados, a Igreja se esforça para
compreender as causas que estão na origem das migrações, mas também se
esforça no trabalho para superar os efeitos negativos e aumentar os impactos
positivos nas comunidades de origem, de trânsito e de destino dos fluxos
migratórios.
Infelizmente, enquanto incentivamos o desenvolvimento em vista de um mundo
melhor, não podemos silenciar o escândalo da pobreza nas suas várias dimensões.
Violência, exploração, discriminação, marginalização, abordagens restritivas às
liberdades fundamentais, tanto para o indivíduo quanto para grupos, são alguns dos
principais elementos da pobreza que devem ser superados. Muitas vezes, são
justamente esses aspectos que caracterizam os movimentos migratórios, ligando
migração e pobreza. Fugindo de situações de miséria ou de perseguição em vista de
melhores perspectivas ou para salvar a sua vida, milhões de pessoas embarcam no
caminho da migração e, enquanto esperam encontrar a satisfação das expectativas,
muitas vezes o que encontram é suspeita, fechamento e exclusão; quando não são
golpeados por outros infortúnios, muitas vezes, mais graves e que ferem a sua
dignidade humana.
A realidade das migrações, com as dimensões que assume na nossa época de
globalização, precisa ser tratada e gerida de uma maneira nova, justa e eficaz, o
que exige, acima de tudo, uma cooperação internacional e um espírito de profunda
solidariedade e compaixão. É importante a colaboração em vários níveis, com a
adoção unânime de instrumentos de regulamentação para proteger e promover a
pessoa humana. O Papa Bento XVI nos traçou as coordenadas, afirmando que «esta
política há de ser desenvolvida a partir de uma estreita colaboração entre os países
donde partem os emigrantes e os países de chegada; há de ser acompanhada por
adequadas normativas internacionais capazes de harmonizar os diversos sistemas
legislativos, na perspectiva de salvaguardar as exigências e os direitos das pessoas
e das famílias emigradas e, ao mesmo tempo, os das sociedades de chegada dos
próprios emigrantes» (Carta Encíclica Caritas in veritate, 19 de Junho de 2009, 62).
Trabalhar juntos por um mundo melhor requer a ajuda mútua entre os países, com
abertura e confiança, sem levantar barreiras intransponíveis. Uma boa sinergia
pode ser um incentivo para os governantes enfrentarem os desequilíbrios

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socioeconômicos e uma globalização sem regras, que se encontram entre as causas
das migrações em que as pessoas são mais vítimas do que protagonistas. Nenhum
país pode enfrentar sozinho as dificuldades associadas a esse fenômeno que, sendo
tão amplo, já afeta todos os Continentes com o seu duplo movimento de imigração
e emigração.
É também importante ressaltar como essa colaboração já começa com o esforço
que cada país deveria fazer para criar melhores condições econômicas e sociais no
seu próprio território, para que a emigração não seja a única opção para aqueles
que buscam a paz, a justiça, a segurança e o pleno respeito da dignidade humana.
Criar oportunidades de emprego nas economias locais impediria, para além do
mais, a separação das famílias e garantiria condições de estabilidade e de
serenidade para os indivíduos e comunidades.
Finalmente, olhando para a realidade dos migrantes e refugiados, há um terceiro
elemento que eu gostaria de destacar neste caminho de construção de um mundo
melhor: a superação de preconceitos e de pré-compreensões, ao considerar a
migração. De fato, não é raro que a chegada de migrantes, prófugos, requerentes
de asilo e refugiados desperte desconfiança e hostilidade nas populações locais.
Surge o medo que se produzam perturbações na segurança social, que se corra o
risco de perder a identidade e a cultura, que se alimente a concorrência no mercado
de trabalho ou, ainda, que se introduzam novos fatores de criminalidade. Os meios
de comunicação social, neste campo, têm um papel de grande responsabilidade:
cabe a eles, de fato, desmascarar estereótipos e fornecer informações corretas, o
que significará denunciar o erro de alguns, mas também descrever a honestidade, a
retidão e a magnanimidade da maioria. Para isso, é preciso que todos mudem a
atitude em relação aos migrantes e refugiados; é necessário passar de uma atitude
de defesa e de medo, de desinteresse ou de marginalização – que, no final,
corresponde precisamente à “cultura do descartável” – para uma atitude que tem
por base a “cultura do encontro”, a única capaz de construir um mundo mais justo
e fraterno, um mundo melhor. Os meios de comunicação também são chamados a
entrar nesta “conversão de atitudes” e a incentivar esta mudança de
comportamento em relação aos imigrantes e refugiados.
Penso como também a Sagrada Família de Nazaré teve que viver a experiência de
rejeição no início do seu caminho: Maria «deu à luz o seu filho primogênito,
envolveu-o em faixas e deitou-o numa manjedoura, porque não havia lugar na
hospedaria» (Lc 2,7). Além disso, Jesus, Maria e José experimentaram o que
significa deixar sua terra natal e ser migrantes: ameaçados pela sede de poder de
Herodes, foram forçados a fugir e buscar refúgio no Egito (cf. Mt 2,13-14). Mas o
coração materno de Maria e o coração zeloso de José, Protetor da Sagrada Família,
sempre mantiveram a confiança de que Deus nunca abandona. Pela intercessão
deles possa ser sempre firme no coração do migrante e do refugiado esta mesma
certeza.
A Igreja, respondendo ao mandato de Cristo: «Ide e fazei discípulos entre todos as
nações», é chamada a ser o Povo de Deus que abraça todos os povos, e leva a
todos os povos o anúncio do Evangelho, pois no rosto de cada pessoa está
estampado o rosto de Cristo! Eis a raiz mais profunda da dignidade do ser humano
que deve ser sempre respeitada e protegida. Não são os critérios de eficiência,
produtividade, de classe social, de pertença étnica ou religiosa que fundamentam a
dignidade da pessoa, mas sim o fato de ser criado à imagem e semelhança de Deus

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(cf. Gn 1,26-27), e, ainda mais, o fato de ser filhos de Deus; todo ser humano é um
filho de Deus! Nele está impressa a imagem de Cristo! Trata-se, então, de o
vermos, nós, em primeiro lugar, e de ajudar os outros a verem no migrante e no
refugiado não só um problema para lidar, mas um irmão e uma irmã a serem
acolhidos, respeitados e amados; trata-se de uma oportunidade que a Providência
nos oferece para contribuir na construção de uma sociedade mais justa, de uma
democracia mais completa, de um país mais inclusivo, de um mundo mais fraterno
e de uma comunidade cristã mais aberta, de acordo com o Evangelho. As
migrações podem criar possibilidades para a nova evangelização; abrir espaços
para o crescimento de uma nova humanidade, preanunciada no mistério pascal:
uma humanidade em que toda terra estrangeira é uma pátria, e em que toda pátria
é uma terra estrangeira.
Queridos migrantes e refugiados! Não percais a esperança de que também a vós
está reservado um futuro mais seguro; Que possais encontrar em vossos caminhos
uma mão estendida; que vos seja permitido experimentar a solidariedade fraterna
e o calor da amizade! Para todos vós e para aqueles que dedicam suas vidas e suas
energias ao vosso lado eu prometo a minha oração e concedo de coração a minha
Bênção Apostólica.