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CARTA DO PAPA FRANCISCOAO PRIMEIRO-MINISTRO DA AUSTRÁLIAPOR OCASIÃO DA CÚPULA DO G20

[…] Estes conflitos deixam cicatrizes profundas e em várias regiões do mundo
provocam situações humanitárias insuportáveis. Aproveito esta oportunidade para
pedir aos Estados Membros do G20 que sejam exemplos de generosidade e de
solidariedade, indo ao encontro das numerosas necessidades das vítimas destes
conflitos, e de modo especial no que se refere aos refugiados.[…].

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCOAOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO MUNDIALDOS CONTABILISTAS E TESOUREIROS

Bom dia a todos!
[…] O actual contexto socioeconómico levanta urgentemente a questão do trabalho.
A questão do trabalho: trata-se de um ponto-chave! A partir da vossa perspectiva
profissional, compreendeis bem a realidade dramática de tantas pessoas que têm
um emprego precário, ou que o perderam; de tantas famílias que pagam as
consequências disto; de tantos jovens em busca de um emprego e de um trabalho
digno. São numerosos aqueles aos quais, de modo especial imigrantes obrigados a
trabalhar «clandestinamente», faltam as garantias jurídicas e económicas mais
elementares.[…]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCOAOS PARTICIPANTES NO ENCONTRO MUNDIALDOS MOVIMENTOS POPULARES

De novo, bom dia!
Sinto-me feliz por estar convosco, e faço-vos uma confidência: é a primeira vez que
desço aqui, nunca tinha vindo cá. Como dizia, sinto grande alegria e dou-vos as
calorosas boas-vindas.
Agradeço-vos por terdes aceite este convite para debater os problemas sociais
muito graves que afligem o mundo de hoje, vós que viveis na vossa pele a
desigualdade e a exclusão. Um obrigado ao cardeal Turkson pelo seu acolhimento,
obrigado, Eminência, pelo seu trabalho e palavras.
Este encontro dos Movimentos populares é um sinal, um grande sinal: viestes
apresentar diante de Deus, da Igreja e dos povos uma realidade que muitas vezes
passa em silêncio. Os pobres não só suportam a injustiça mas também lutam
contra ela!
Não se contentam com promessas ilusórias, desculpas ou álibis. Nem sequer estão
à espera de braços cruzados da ajuda de Ongs, planos assistenciais ou soluções
que nunca chegam, ou que, se chegam, fazem-no de maneira a ir na direcção de
anestesiar ou domesticar, o que é bastante perigoso. Vós sentis que os pobres não
esperam mais e querem ser protagonistas; organizam-se, estudam, trabalham,
exigem e sobretudo praticam aquela solidariedade tão especial que existe entre
quantos sofrem, entre os pobres, e que a nossa civilização parece ter esquecido, ou
pelo menos tem grande vontade de esquecer.
Solidariedade é uma palavra que nem sempre agrada; diria que algumas vezes a
transformámos num palavrão, não se pode dizer; mas uma palavra é muito mais do
que alguns gestos de generosidade esporádicos. É pensar e agir em termos de
comunidade, de prioridades da vida de todos sobre a apropriação dos bens por
parte de alguns. É também lutar contra as causas estruturais da pobreza, a
desigualdade, a falta de trabalho, a terra e a casa, a negação dos direitos sociais e
laborais. É fazer face aos efeitos destruidores do império do dinheiro: as
deslocações forçadas, as emigrações dolorosas, o tráfico de pessoas, a droga, a
guerra, a violência e todas aquelas realidades que muitos de vós suportam e que
todos estamos chamados a transformar. A solidariedade, entendida no seu sentido
mais profundo, é uma forma de fazer história e é isto que os movimentos populares
fazem.
Este nosso encontro não corresponde a uma ideologia. Vós não trabalhais com
ideias, mas com realidades como as que mencionei e muitas outras que me
descrevestes. Tendes os pés na lama e as mãos na carne. O vosso cheiro é de
bairro, de povo, de luta! Queremos que a vossa voz seja ouvida, a qual,
normalmente, é pouco escutada. Talvez porque incomoda, talvez porque o vosso
grito incomoda, talvez porque se tem medo da mudança que vós pretendeis, mas
sem a vossa presença, sem ir realmente às periferias, as boas propostas e os
projectos que muitas vezes ouvimos nas conferências internacionais permanecem
no reino da ideia, é um projecto meu.

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Não se pode enfrentar o escândalo da pobreza promovendo estratégias de
contenção que só tranquilizam e transformam os pobres em seres domesticados e
inofensivos. Como é triste ver que, por detrás de presumíveis obras altruístas, o
outro é reduzido à passividade, é negado ou, ainda pior, escondem-se negócios e
ambições pessoais: Jesus defini-los-ia hipócritas. Mas como é agradável quando se
vêem em movimento povos e sobretudo os seus membros mais pobres e os jovens.
Então sim, sente-se o vento de promessa que reacende a esperança num mundo
melhor. Que este vento se transforme em furacão de esperança. Eis o meu desejo.
Este nosso encontro responde a um anseio muito concreto, a algo que qualquer pai,
qualquer mãe, quer para os próprios filhos; um anseio que deveria estar ao alcance
de todos, mas que hoje vemos com tristeza cada vez mais distante da maioria das
pessoas:terra, casa e trabalho. É estranho, mas se falo disto para alguns o Papa é
comunista. Não se compreende que o amor pelos pobres está no centro do
Evangelho. Terra, casa e trabalho, aquilo pelo que lutais, são direitos sagrados.
Exigi-lo não é estranho, é a doutrina social da Igreja. Medito sobre cada um deles,
porque os escolhestes como palavra de ordem para este encontro.
Terra. No início da criação, Deus criou o homem para ser guardião da sua obra,
confiando-lhe o encargo de a cultivar e proteger. Vejo que estão aqui dezenas de
camponeses e camponesas e quero felicitar-me com eles porque guardam a terra,
cultivam-na e fazem-no em comunidade. Preocupa-me o desenraizamento de
tantos irmãos camponeses que sofrem por este motivo e não por guerras ou
desastres naturais. A monopolização de terras, a desflorestação, a apropriação da
água, os pesticidas inadequados, são alguns dos males que arrancam o homem da
sua terra natal. Esta dolorosa separação não é só física mas também existencial e
espiritual, porque existe uma relação com a terra que está a pôr a comunidade
rural e o seu peculiar estilo de vida em decadência evidente e até em risco de
extinção.
A outra dimensão do processo já global é a fome. Quando a especulação financeira
condiciona o preço dos alimentos tratando-os como uma mercadoria qualquer,
milhões de pessoas sofrem e morrem de fome. Por outro lado, descartam-se
toneladas de alimentos. Isto constitui um verdadeiro escândalo. A fome é
criminosa, a alimentação é um direito inalienável. Sei que alguns de vós pedem
uma reforma agrária para resolver alguns destes problemas e, deixai que eu diga
que em certos países, e aqui cito o Compêndio da doutrina social da Igreja, «a
reforma agrária torna-se por conseguinte, além de uma necessidade política, uma
obrigação moral» (CDSI, n. 300).
Não o digo só eu, mas está escrito no Compêndio da doutrina social da Igreja. Por
favor, continuai a lutar pela dignidade da família rural, pela água, pela vida e para
que todos possam beneficiar dos frutos da terra.
Segundo, Casa. Já o disse e repito-o: uma casa para cada família. Nunca se deve
esquecer que Jesus nasceu num estábulo porque não havia lugar nas estalagens,
que a sua família teve que abandonar a própria casa e fugir para o Egipto,
perseguida por Herodes. Hoje há tantas famílias sem casa, porque nunca a tiveram
ou porque a perderam por diversos motivos. Família e casa caminham juntas! Mas
um tecto, para que seja um lar, deve ter também uma dimensão comunitária: o
bairro, e é precisamente no bairro que se começa a construir esta grande família da
humanidade, a partir daquilo que é mais imediato, da convivência com a
vizinhança. Hoje vivemos em cidades imensas que se mostram modernas,

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orgulhosas e até vaidosas. Cidades que oferecem numerosos prazeres e bem-estar
para uma minoria feliz mas nega-se uma casa a milhares de vizinhos e irmãos
nossos, até crianças, e chamamo-lhes, elegantemente, «pessoas sem abrigo». É
curioso como abundam os eufemismos no mundo das injustiças. Não se usam as
palavras exactas, e procura-se a realidade no eufemismo. Uma pessoa, uma pessoa
segregada, é uma pessoas excluída, que está a sofrer devido à miséria, à fome, é
uma pessoa desabrigada; expressão elegante, não é? Procurai sempre; poderia
estar errado nalguns casos, mas em geral por detrás de um eufemismo esconde-se
um delito.
Vivemos em cidades que constroem torres, centros comerciais, fazem negócios
imobiliários mas abandonam uma parte de si às margens, nas periferias. Como faz
mal ouvir que as povoações pobres são marginalizadas ou, pior ainda, que as
querem deslocar! São cruéis as imagens dos despejos, das gruas que abatem
barracas, imagens tão parecidas com as da guerra. E hoje vê-se isto.
Sabeis que nos bairros populares onde muitos de vós viveis subsistem valores já
esquecidos nos centros enriquecidos. Estas povoações são abençoadas por uma rica
cultura popular, ali o espaço público não é apenas um lugar de trânsito mas uma
extensão da própria casa, um lugar no qual gerar vínculos com a vizinhança. Como
são bonitas as cidades que superam a desconfiança doentia, integram os diversos e
fazem desta integração um novo factor de progresso! Como são bonitas as cidades
que, também no seu projecto arquitectónico, estão cheias de espaços que unem,
relacionam, favorecem o reconhecimento do outro! Por isso, nem desenraizamento
nem marginalização: é preciso seguir a linha da integração urbana! Esta expressão
deve substituir completamente a palavra desenraizamento, agora, mas também
aqueles projectos que pretendem envernizar de novo os bairros pobres, embelezar
as periferias e «disfarçar» as feridas sociais em vez de as curar, promovendo uma
integração autêntica e respeitadora. É uma espécie de arquitectura de aparência,
não é? E vai nesta direcção. Continuemos a trabalhar para que todas as famílias
tenham uma casa e todos os bairros tenham uma infra-estrutura adequada
(esgotos, luz, gás, estradas asfaltadas, e continuo: escolas, hospitais, centros de
urgências, círculos desportivos e todas as coisas que criam vínculos e unem, acesso
à saúde — já o disse — à educação e à segurança da propriedade.
Terceiro, Trabalho. Não existe pior pobreza material — faço questão de o frisar —
da que não permite que se ganhe o pão e priva da dignidade do trabalho. O
desemprego juvenil, a informalidade e a falta de direitos laborais não são
inevitáveis, são o resultado de uma prévia opção social, de um sistema económico
que põe os benefícios acima do homem, se o benefício é económico, acima da
humanidade ou do homem, são efeitos de uma cultura do descarte que considera o
ser humano como um bem de consumo, que se pode usar e depois deitar fora.
Hoje, ao fenómeno da exploração e da opressão soma-se uma nova dimensão, um
aspecto gráfico e duro da injustiça social; os que não se podem integrar, os
excluídos são descartados, «a demasia». Esta é a cultura do descarte, e sobre este
ponto gostaria de acrescentar algo que não tenho aqui escrito, mas que me veio
agora à mente. Isto acontece quando no centro de um sistema económico está o
deus dinheiro e não o homem, a pessoa humana. Sim, no centro de cada sistema
social ou económico deve estar a pessoa, imagem de Deus, criada para que seja o
denominador do universo. Quando a pessoa é deslocada e chega o deus dinheiro
dá-se esta inversão de valores.

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E para o ilustrar recordo aqui um ensinamento do ano 1200. Um rabino judeu
explicava aos seus fiéis a história da torre de Babel e contava como, para construir
aquela torre, era preciso fazer um grande esforço, era necessário fabricar tijolos, e
para fabricar tijolos era preciso fazer lama, procurar a palha, e misturar a lama com
a palha, depois parti-la em quadrados e pô-la a secar, depois cosê-la, e quando os
tijolos estavam prontos e frios, carregá-los para construir a torre. Se um tijolo caía
— tinha custado tanto com todo aquele trabalho — era quase uma tragédia
nacional. Quem o deixasse cair era punido ou despedido, e não sei o que mais lhe
faziam, mas se caía um operário nada acontecia. Acontece isto quando a pessoa
está ao serviço do deus dinheiro; e já o narrava um rabino no ano 1200, explicando
estas coisas horríveis.
No respeitante ao descarte devemos estar também um pouco atentos a quanto
acontece na nossa sociedade. Estou a repetir coisas que disse e que se encontram
na Evangelii gaudium. Hoje descartam-se crianças porque a taxa de natalidade em
muitos países da terra diminuiu ou descartam-se as crianças por falta de alimentos
ou porque são mortos antes de nascer: descarte de crianças.
Descartam-se os idosos porque não servem, não produzem; nem crianças nem
idosos produzem, então são abandonados lentamente com sistemas mais ou menos
sofisticados, e agora, dado que nesta crise é preciso recuperar um certo equilíbrio,
assiste-se a um terceiro descarte muito doloroso: o descarte dos jovens. Milhões de
jovens — não digo o número porque não o conheço exactamente e o que li me
parece um pouco exagerado — milhões de jovens são descartados do trabalho,
desempregados.
Nos países europeus, e estas sim, são estatísticas muito claras, aqui na Itália, os
jovens desempregados são um pouco mais de quarenta por cento; sabeis o que
significa quarenta por cento de jovens, uma geração inteira, anular toda uma
geração para manter o equilíbrio. Outro país europeu está a superar cinquenta por
cento, e nesse mesmo país de cinquenta por cento, no sul é sessenta por cento.
São números claros, ou seja do descarte. Descarte de crianças, descarte de idosos,
que não produzem, e temos que sacrificar uma geração de jovens, descarte de
jovens, para poder manter e reequilibrar um sistema no qual no centro está o deus
dinheiro e não a pessoa humana.
Não obstante esta cultura do descarte, esta cultura da demasia, muitos de vós,
trabalhadores excluídos, em excesso para este sistema, inventastes o vosso
trabalho com tudo o que parecia não poder ser mais usado mas vós, com a vossa
habilidade artesanal, que Deus vos deu, com a vossa busca, com a vossa
solidariedade, com o vosso trabalho comunitário, com a vossa economia popular,
conseguistes e estais a conseguir… E, deixai que vos diga, isto, além de ser
trabalho, é poesia! Obrigado.
Já agora, cada trabalhador, quer faça parte quer não do sistema formal do trabalho
assalariado, tem direito a uma remuneração digna, à segurança social e a uma
cobertura para a aposentadoria. Aqui estão cartoneros, recicladores, vendedores
ambulantes, costureiros, artesãos, pescadores, camponeses, pedreiros, mineiros,
operários de empresas recuperadas, membros de cooperativas de todos os tipos e
pessoas com as profissões mais comuns, que são excluídas dos direitos dos
trabalhadores, aos quais é negada a possibilidade de ter um sindicato, que não têm
uma remuneração adequada e estável. Hoje desejo unir a minha voz à deles e
acompanhá-los na luta.

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Falastes neste encontro também de Paz e Ecologia. É lógico: não pode haver terra,
não pode haver casa, não pode haver trabalho se não tivermos paz e se
destruirmos o planeta. São temas tão importantes que os povos e as suas
organizações de base não podem deixar de enfrentar. Não podem permanecer só
nas mãos dos dirigentes políticos. Todos os povos da terra, todos os homens e
mulheres de boa vontade, todos devemos levantar a voz em defesa destes dois
dons preciosos: a paz e a natureza. A irmã e mãe terra, como lhe chamava são
Francisco de Assis.
Há pouco disse, e repito-o, que estamos a viver a terceira guerra mundial, mas por
etapas. Há sistemas económicos que para sobreviver devem fazer a guerra. Então
fabricam-se e vendem-se armas e assim os balanços das economias que sacrificam
o homem aos pés do ídolo do dinheiro obviamente estão salvos. E não se pensa nas
crianças famintas nos campos de refugiados, não se pensa nos deslocamentos
forçados, não se pensa nas casas destruídas, não se pensa nem sequer nas tantas
vidas destroçadas. Quantos sofrimentos, quanta destruição, quantas dores! Hoje,
queridos irmãos e irmãs, eleva-se de todas as partes da terra, de cada povo, de
cada coração e dos movimentos populares, o brado da paz: nunca mais a guerra!
Um sistema económico centrado no deus dinheiro tem também necessidade de
saquear a natureza, saquear a natureza para manter o ritmo frenético de consumo
que lhe é próprio. A mudança climática, a perda da biodiversidade, a desflorestação
já estão a mostrar os seus efeitos devastadores nas grandes catástrofes às quais
assistimos, e quem sofre mais sois vós, os humildes, vós que viveis nas zonas
litorais em habitações precárias ou que sois tão vulneráveis economicamente que
perdeis tudo face a um desastre natural. Irmãos e irmãs: a criação não é uma
propriedade da qual podemos dispor a nosso bel-prazer; e muito menos é uma
propriedade só de alguns, de poucos. A criação é um dom, uma dádiva, uma
doação maravilhosa que Deus nos deu para que dela nos ocupemos e a utilizemos
em benefício de todos, sempre com respeito e gratidão. Talvez saibais que estou a
preparar uma encíclica sobre a Ecologia: estai certos de que as vossas
preocupações estarão presentes nela. Agradeço, aproveito para agradecer a carta,
relativa a esta temática, que me enviaram os membros da Vía Campesina, a
Federação dos Cartoneros e muitos outros irmãos.
Falamos de terra, de trabalho, de casa. Falamos de trabalhar pela paz e de cuidar
da natureza. Mas então por que nos habituamos a ver como se destrói o trabalho
digno, se despejam tantas famílias, se afastam os camponeses, se faz guerra e se
abusa da natureza? Porque neste sistema o homem, a pessoa humana foi
deslocada do centro e substituída por outra coisa. Porque se presta um culto
idolátrico ao dinheiro. Porque se globalizou a indiferença! A indiferença foi
globalizada: que me importa do que acontece aos outros para defender o que é
meu? Porque o mundo se esqueceu de Deus, que é Pai; tornou-se órfão porque pôs
Deus de lado.
Alguns de vós disseram: este sistema já não funciona. Devemos mudá-lo, devemos
voltar a pôr a dignidade humana no centro e sobre aquele pilar devem ser
construídas as estruturas sociais alternativas das quais precisamos. Com paixão,
mas sem violência. E todos juntos, enfrentando os conflitos sem cair na sua cilada,
procurando resolver sempre as tensões para alcançar um nível superior de unidade,
de paz e de justiça. Nós cristãos temos algo muito bonito, uma linha de acção, um
programa, poderíamos dizer, revolucionário. Recomendo-vos vivamente que o

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leiais, que leiais as bem-aventuranças no capítulo 5 de são Mateus e 6 de são Lucas
(cf. Mt 5, 3 e Lc 6, 20), e também o trecho de Mateus 25. Disse isto aos jovens no
Rio de Janeiro, nestas duas narrações tem o programa de acção.
Sei que entre vós há pessoas de diversas religiões, profissões, ideais, culturas,
países e continentes. Hoje estais a praticar aqui a cultura do encontro, tão diversa
da xenofobia, da discriminação e da intolerância que vemos com muita frequência.
Produz-se entre os excluídos este encontro de culturas no qual o todo não anula a
particularidade, o todo não anula o particular. Por isso me agrada a imagem do
poliedro, uma figura geométrica com muitos lados diversos. O poliedro reflecte a
confluência de todas as parcialidades que nele conservam a originalidade. Nada se
dissolve, nada se destrói, nada se domina, tudo se integra, tudo se integra. Hoje
estais a procurar a síntese entre o local e o global. Sei que estais comprometidos
todos os dias em coisas próximas, concretas, no vosso território, no vosso bairro,
no vosso lugar de trabalho: convido-vos também a continuar a procurar esta
perspectiva mais ampla; que os vossos sonhos voem alto e abracem o todo!
Por isso me parece importante a proposta, da qual alguns de vós falaram, de que
estes movimentos, estas experiências de solidariedade que crescem de baixo, do
subsolo do planeta, confluam, sejam mais coordenados, se encontrem, como
fizestes vós nestes dias. Atenção, nunca é um bem conter o movimento em
estruturas rígidas, por isso disse encontrar-se, e procurar absorvê-lo, dirigi-lo ou
dominá-lo ainda menos; os movimentos livres têm uma sua dinâmica, mas sim,
devemos procurar caminhar juntos. Estamos nesta sala, que é a sala velha do
Sínodo, agora há uma nova, e sínodo significa precisamente «caminhar juntos»:
que este seja um símbolo do processo que iniciastes e que estais a levar por diante!
Os movimentos populares expressam a necessidade urgente de revitalizar as
nossas democracias, tantas vezes desviadas por inúmeros factores. É impossível
imaginar um futuro para a sociedade sem a participação como protagonistas das
grandes maiorias e este protagonismo transcende os procedimentos lógicos da
democracia formal. A perspectiva de um mundo de paz e de justiça duradouras
pede que superemos o assistencialismo paternalista, exige que criemos novas
formas de participação que incluam os movimentos populares e animem as
estruturas de governo locais, nacionais e internacionais com aquela torrente de
energia moral que nasce da integração dos excluídos na construção do destino
comum. E assim com ânimo construtivo, sem ressentimento, com amor.
Acompanho-vos de coração neste caminho. Digamos juntos de coração: nenhuma
família sem casa, nenhum camponês sem terra, nenhum trabalhador sem direitos,
nenhuma pessoa sem a dignidade que provém do trabalho.
Queridos irmãos e irmãs: continuai a vossa luta, fazei o bem para todos nós. É
como uma bênção de humanidade. Deixo-vos como recordação, como prenda e
com a minha bênção, alguns rosários que foram fabricados por artesãos, cartoneros
e trabalhadores da economia popular da América Latina.
E ao acompanhar-vos rezo por vós, rezo convosco e desejo pedir a Deus Pai que
vos acompanhe e abençoe, vos cumule com o seu amor e vos acompanhe no
caminho, dando-vos abundantemente aquela força que nos mantém em pé: esta
força é a esperança, a esperança que não desilude. Obrigado.

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ANGELUS

Depois do Angelus
Estimados irmãos e irmãs!
Ontem em São Paulo, no Brasil, foi proclamada Beata Madre Assunta Marchetti,
nascida na Itália, co-Fundadora das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeu —
Scalabrinianas. Ela foi uma religiosa exemplar no serviço aos órfãos dos emigrantes
italianos; e via Jesus presente nos pobres, nos órfãos, nos enfermos e nos
migrantes. Demos graças a Deus por esta mulher, modelo de missionariedade
incansável e de dedicação intrépida no serviço de caridade. Esta é uma exortação e
acima de tudo uma confirmação daquilo que já dissemos antes, em relação à busca
do rosto de Deus no irmão e na irmã necessitados.
Agradeço e saúdo todos carinhosamente!
Por favor, não vos esqueçais de rezar por mim! Desejo-vos feliz domingo e bom
almoço. Até à vista![…]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCOÀ DELEGAÇÃO DA ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE DIREITO PENAL

Ilustres Senhores e Senhoras!

[…] a) Sobre o delito do tráfico de pessoas
A escravidão, incluído o tráfico de pessoas, é reconhecido como delito contra a
humanidade e como crime de guerra, quer pelo direito internacional quer por
muitas legislações nacionais. É um delito de humanidade lesada. E, a partir do
momento que não é possível cometer um delito tão complexo como o tráfico de
pessoas sem a cumplicidade, com a acção ou a omissão, dos Estados, é evidente
que, quando os esforços para prevenir ou combater este fenómeno não são
suficientes, estamos de novo diante de um crime contra a humanidade. Mais ainda,
se acontece que quem tem a função de proteger as pessoas e garantir a sua
liberdade, se torna cúmplice dos que praticam o comércio de seres humanos,
então, nestes casos, os Estados são responsáveis diante dos seus cidadãos e da
comunidade internacional.
Pode-se falar de um bilião de pessoas que vivem na pobreza absoluta. Um bilião e
meio não tem acesso aos serviços higiénicos, à água potável, à electricidade, à
educação básica ou ao sistema de saúde e devem suportar privações económicas
incompatíveis com uma vida digna (2014 Human development Report, UNDP).
Mesmo se o número total de pessoas nesta situação diminuiu nestes últimos anos,
incrementou-se a sua vulnerabilidade, por causa do aumento das dificuldades que
devem enfrentar para sair dessa situação. Isto deve-se à quantidade sempre
crescente de pessoas que vivem em países em conflito. Só no ano de 2013
quarenta e cinco milhões de pessoas foram obrigadas a fugir por causa de situações
de violência ou perseguições; delas, quinze milhões são refugiados, o número mais

elevado em dezoito anos. Destas pessoas, 70% são mulheres. Além disso, calcula-
se que no mundo, de cada dez que morrem de fome, sete são mulheres e meninas

(Fundo das Nações Unidas para as Mulheres, UNIFEM).[…]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCOAOS PARTICIPANTES NA PLENÁRIADO PONTIFÍCIO CONSELHO JUSTIÇA E PAZ

Senhores Cardeais
Amados irmãos Bispos e Sacerdotes
Irmãos e irmãs
[…] O princípio da Caritas in veritate é de extrema actualidade. Com efeito, um
amor repleto de verdade constitui a base sobre a qual construir a paz que hoje é
particularmente desejada e necessária para o bem de todos. Permite superar
fanatismos perigosos, conflitos pela posse de recursos, migrações de dimensões
bíblicas, os persistentes flagelos da fome e da pobreza, o tráfico de pessoas,
injustiças e desigualdades sociais e económicas, desequilíbrios no acesso ao bem
comum.[…]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCOAOS BISPOS DA CONFERÊNCIA EPISCOPALDA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DO CONGOEM VISITA”AD LIMINA APOSTOLORUM”

Queridos Irmãos no Episcopado!
[…] Seria desejável que, em espírito de solidariedade e partilha, fosse desenvolvida
uma colaboração mais estreita com todos os agentes pastorais que trabalham nos
diversos âmbitos do apostolado e da pastoral social, em particular da educação, da
saúde e da assistência caritativa. Muitos esperam de vós vigilância e solicitude na
defesa dos valores espirituais e sociais: estais chamados a propor orientações e
soluções para a promoção de uma sociedade fundada no respeito pela dignidade da
pessoa humana. A este propósito, a atenção aos pobres e aos necessitados assim
como às pessoas idosas, doentes ou deficientes, deveria constituir o objectivo de
uma pastoral adequada, revista constantemente. Com efeito, a Igreja está
chamada a preocupar-se com o bem destas pessoas e a chamar a atenção da
sociedade e das autoridades públicas para a sua situação. Congratulo-me e
encorajo a obra de todos os missionários, sacerdotes, religiosos, religiosas e outros
agentes pastorais que se dedicam ao serviço dos feridos da vida, das vítimas da
violência, sobretudo nas regiões mais isoladas e distantes do país. Ao recordar este
tema, dirijo um pensamento especial aos refugiados internos e aos que, e são
tantos, provêm de países vizinhos. […]

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MENSAGEM DO PAPA FRANCISCOPARA O DIA MUNDIAL DO MIGRANTEE DO REFUGIADO

Queridos irmãos e irmãs!
Jesus é «o evangelizador por excelência e o Evangelho em pessoa» (Exort. ap.
Evangelii gaudium, 209). A sua solicitude, especialmente pelos mais vulneráveis e
marginalizados, a todos convida a cuidar das pessoas mais frágeis e reconhecer o
seu rosto de sofrimento sobretudo nas vítimas das novas formas de pobreza e
escravidão. Diz o Senhor: «Tive fome e destes-Me de comer, tive sede e destes-Me
de beber, era peregrino e recolhestes-Me, estava nu e destes-Me que vestir, adoeci
e visitastes-Me, estive na prisão e fostes ter comigo» (Mt 25, 35-36). Por isso, a
Igreja, peregrina sobre a terra e mãe de todos, tem por missão amar Jesus Cristo,
adorá-Lo e amá-Lo, particularmente nos mais pobres e abandonados; e entre eles
contam-se, sem dúvida, os migrantes e os refugiados, que procuram deixar para
trás duras condições de vida e perigos de toda a espécie. Assim, neste ano, o Dia
Mundial do Migrante e do Refugiado tem por tema: Igreja sem fronteiras, mãe de
todos.
Com efeito, a Igreja estende os seus braços para acolher todos os povos, sem
distinção nem fronteiras, e para anunciar a todos que «Deus é amor» (1 Jo 4,
8.16). Depois da sua morte e ressurreição, Jesus confiou aos discípulos a missão de
ser suas testemunhas e proclamar o Evangelho da alegria e da misericórdia. Eles,
no dia de Pentecostes, saíram do Cenáculo cheios de coragem e entusiasmo; sobre
dúvidas e incertezas, prevaleceu a força do Espírito Santo, fazendo com que cada
um compreendesse o anúncio dos Apóstolos na própria língua; assim, desde o
início, a Igreja é mãe de coração aberto ao mundo inteiro, sem fronteiras. Aquele
mandato abrange já dois milénios de história, mas, desde os primeiros séculos, o
anúncio missionário pôs em evidência a maternidade universal da Igreja,
posteriormente desenvolvida nos escritos dos Padres e retomada pelo Concílio
Vaticano II. Os Padres conciliares falaram de Ecclesia mater para explicar a sua
natureza; na verdade, a Igreja gera filhos e filhas, sendo «incorporados» nela que
«os abraça com amor e solicitude» (Const. dogm. sobre a Igreja Lumen gentium,
14).
A Igreja sem fronteiras, mãe de todos, propaga no mundo a cultura do acolhimento
e da solidariedade, segundo a qual ninguém deve ser considerado inútil, intruso ou
descartável. A comunidade cristã, se viver efectivamente a sua maternidade, nutre,
guia e aponta o caminho, acompanha com paciência, solidariza-se com a oração e
as obras de misericórdia.
Nos nossos dias, tudo isto assume um significado particular. Com efeito, numa
época de tão vastas migrações, um grande número de pessoas deixa os locais de
origem para empreender a arriscada viagem da esperança com uma bagagem cheia
de desejos e medos, à procura de condições de vida mais humanas. Não raro,
porém, estes movimentos migratórios suscitam desconfiança e hostilidade, inclusive
nas comunidades eclesiais, mesmo antes de se conhecer as histórias de vida, de
perseguição ou de miséria das pessoas envolvidas. Neste caso, as suspeitas e

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preconceitos estão em contraste com o mandamento bíblico de acolher, com
respeito e solidariedade, o estrangeiro necessitado.
Por um lado, no sacrário da consciência, adverte-se o apelo a tocar a miséria
humana e pôr em prática o mandamento do amor que Jesus nos deixou, quando Se
identificou com o estrangeiro, com quem sofre, com todas as vítimas inocentes da
violência e exploração. Mas, por outro, devido à fraqueza da nossa natureza,
«sentimos a tentação de ser cristãos, mantendo uma prudente distância das chagas
do Senhor» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 270).
A coragem da fé, da esperança e da caridade permite reduzir as distâncias que nos
separam dos dramas humanos. Jesus Cristo está sempre à espera de ser
reconhecido nos migrantes e refugiados, nos deslocados e exilados e, assim
mesmo, chama-nos a partilhar os recursos e por vezes a renunciar a qualquer coisa
do nosso bem-estar adquirido. Assim no-lo recordava o Papa Paulo VI, ao dizer que
«os mais favorecidos devem renunciar a alguns dos seus direitos, para poderem
colocar, com mais liberalidade, os seus bens ao serviço dos outros» [Carta ap.
Octogesima adveniens (14 de Maio de 1971), 23].
Aliás, o carácter multicultural das sociedades de hoje encoraja a Igreja a assumir
novos compromissos de solidariedade, comunhão e evangelização. Na realidade, os
movimentos migratórios solicitam que se aprofundem e reforcem os valores
necessários para assegurar a convivência harmoniosa entre pessoas e culturas.
Para isso, não é suficiente a mera tolerância, que abre caminho ao respeito das
diversidades e inicia percursos de partilha entre pessoas de diferentes origens e
culturas. Aqui se insere a vocação da Igreja a superar as fronteiras e favorecer «a
passagem de uma atitude de defesa e de medo, de desinteresse ou de
marginalização (…) para uma atitude que tem por base a “cultura de encontro”, a
única capaz de construir um mundo mais justo e fraterno» (Mensagem para o Dia
Mundial do Migrante e do Refugiado – 2014).
Mas os movimentos migratórios assumiram tais proporções que só uma
colaboração sistemática e concreta, envolvendo os Estados e as Organizações
Internacionais, poderá ser capaz de os regular e gerir de forma eficaz. Na verdade,
as migrações interpelam a todos, não só por causa da magnitude do fenómeno,
mas também «pelas problemáticas sociais, económicas, políticas, culturais e
religiosas que levantam, pelos desafios dramáticos que colocam à comunidade
nacional e internacional» [Bento XVI, Carta enc. Caritas in veritate (29 de Junho de
2009), 62].
Na agenda internacional, constam frequentes debates sobre a oportunidade, os
métodos e os regulamentos para lidar com o fenómeno das migrações. Existem
organismos e instituições a nível internacional, nacional e local, que põem o seu
trabalho e as suas energias ao serviço de quantos procuram, com a emigração,
uma vida melhor. Apesar dos seus esforços generosos e louváveis, é necessária
uma acção mais incisiva e eficaz, que lance mão de uma rede universal de
colaboração, baseada na tutela da dignidade e centralidade de toda a pessoa
humana. Assim será mais incisiva a luta contra o tráfico vergonhoso e criminal de
seres humanos, contra a violação dos direitos fundamentais, contra todas as formas
de violência, opressão e redução à escravidão. Entretanto trabalhar em conjunto
exige reciprocidade e sinergia, com disponibilidade e confiança, sabendo que
«nenhum país pode enfrentar sozinho as dificuldades associadas a este fenómeno,
que, sendo tão amplo, já afecta todos os continentes com o seu duplo movimento

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de imigração e emigração» (Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do
Refugiado – 2014).
À globalização do fenómeno migratório é preciso responder com a globalização da
caridade e da cooperação, a fim de se humanizar as condições dos migrantes. Ao
mesmo tempo, é preciso intensificar os esforços para criar as condições aptas a
garantirem uma progressiva diminuição das razões que impelem populações
inteiras a deixar a sua terra natal devido a guerras e carestias, sucedendo muitas
vezes que uma é causa da outra.
À solidariedade para com os migrantes e os refugiados há que unir a coragem e a

criatividade necessárias para desenvolver, a nível mundial, uma ordem económico-
financeira mais justa e equitativa, juntamente com um maior empenho a favor da

paz, condição indispensável de todo o verdadeiro progresso.
Queridos migrantes e refugiados! Vós ocupais um lugar especial no coração da
Igreja e sois uma ajuda para alargar as dimensões do seu coração a fim de
manifestar a sua maternidade para com a família humana inteira. Não percais a
vossa confiança e a vossa esperança! Pensemos na Sagrada Família exilada no
Egipto: como no coração materno da Virgem Maria e no coração solícito de São
José se manteve a confiança de que Deus nunca nos abandona, também em vós
não falte a mesma confiança no Senhor. Confio-vos à sua protecção e de coração
concedo a todos a Bênção Apostólica.

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ENCONTRO COM OS BISPOS DA COREIADISCURSO DO SANTO PADRE

[…] Ser guardiões da esperança implica também garantir que o testemunho
profético da Igreja na Coreia continue a expressar-se na sua solicitude pelos pobres
e nos seus programas de solidariedade especialmente a favor dos refugiados e
migrantes e daqueles que vivem à margem da sociedade. Esta solicitude deveria
manifestar-se não somente através de iniciativas concretas de caridade – que são
necessárias –, mas também no trabalho constante de promoção a nível social,
ocupacional e educativo. Podemos correr o risco de reduzir o nosso empenhamento
com os necessitados simplesmente a uma dimensão assistencial, ignorando a
necessidade que tem cada um de crescer como pessoa – o direito que tem de
crescer como pessoa – e poder expressar com dignidade a sua própria
personalidade, criatividade e cultura. A solidariedade com os pobres está no centro
do Evangelho; deve ser considerada como um elemento essencial da vida cristã;
através da pregação e da catequese, fundadas sobre o rico património da doutrina
social da Igreja, essa solidariedade deve permear os corações e as mentes dos fiéis
e reflectir-se em todos os aspectos da vida eclesial. O ideal apostólico de uma
Igreja dos pobres e para os pobres, uma Igreja pobre para os pobres, encontrou
uma expressão eloquente nas primeiras comunidades cristãs da vossa nação.
Espero que este ideal continue a moldar o caminho da Igreja coreana na sua
peregrinação para o futuro. Estou convencido de que, se sobressair na Igreja o
rosto do amor, cada vez mais jovens se sentirão atraídos para o coração de Jesus,
sempre inflamado de amor divino na comunhão do seu místico Corpo.[…]

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SANTA MISSAHOMILIA DO PAPA FRANCISCO

[…] O que é o reino dos céus? Jesus não se preocupa em explicá-lo. Enuncia-o
desde o início do seu Evangelho: «O reino dos céus está próximo» — também hoje
está próximo, entre nós — todavia, nunca o faz ver directamente, mas sempre de
reflexo, narrando o agir de um patrão, de um rei, de dez virgens… Prefere deixar
que se intua, com parábolas e similitudes, manifestando sobretudo os seus efeitos:
o reino dos céus é capaz de mudar o mundo, como um fermento escondido na
massa; é pequeno e humilde como um grão de mostarda, que contudo se tornará
grande como uma árvore. As duas parábolas sobre as quais queremos reflectir
fazem-nos compreender que o reino de Deus se faz presente na própria pessoa de
Jesus. É Ele o tesouro escondido, é Ele a pérola de grande valor. Compreende-se a
alegria do agricultor e do comerciante: acharam! É a alegria de cada um de nós
quando descobrimos a proximidade e a presença de Jesus na nossa vida. Uma
presença que transforma a existência, abrindo-nos às exigências dos irmãos; uma
presença que convida a acolher qualquer outra presença, também a do estrangeiro
e do imigrante. É uma presença acolhedora, é uma presença jubilosa, uma
presença fecunda: assim é o reino de Deus dentro de nós.[…]