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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO PARA PESSOAS DEFICIENTES PROMOVIDO PELA CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA

[…] Também neste campo é decisivo o envolvimento das famílias, as quais pedem
não só para serem acolhidas, mas estimuladas e encorajadas. As nossas
comunidades cristãs sejam «casas» nas quais qualquer sofrimento encontre
compaixão, onde cada família com a sua carga de dor e canseira se possa sentir
compreendida e respeitada na sua dignidade. Como observei na Exortação
apostólica Amoris laetitia, «a atenção prestada tanto aos migrantes como às
pessoas com deficiência é um sinal do Espírito. Pois ambas as situações são
paradigmáticas: põem especialmente em questão o modo como se vive, hoje, a
lógica do acolhimento misericordioso e da integração das pessoas frágeis» (n. 47).
[…]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NO 3o ENCONTRO MUNDIAL DOS MOVIMENTOS POPULARES

Boa tarde, irmãos e irmãs!
[…] Sei que dedicastes um dia ao drama dos migrantes, dos refugiados e dos
deslocados. Como agir diante desta tragédia? No Dicastério do qual é responsável o
Cardeal Turkson há uma secção que se ocupa destas situações. Decidi que, pelo
menos durante um certo tempo, tal setor dependa diretamente do Pontífice, porque
se trata de uma situação infamante, que só posso descrever com uma palavra que
me brotou espontaneamente em Lampedusa: vergonha!
Ali, assim como em Lesbos, pude sentir de perto o sofrimento de numerosas
famílias expulsas da sua terra por motivos ligados à economia ou por violências de
todos os tipos, multidões exiladas — eu disse-o diante das autoridades do mundo
inteiro — por causa de um sistema socioeconómico injusto e das guerras que não
foram procuradas nem criadas por aqueles que hoje padecem a dolorosa
erradicação da sua pátria, mas ao contrário por muitos daqueles que se recusam a
recebê-los.
Faço minhas as palavras do meu irmão, o Arcebispo Hieronymos da Grécia: «Quem
fita os olhos das crianças que encontramos nos campos de refugiados é capaz de
reconhecer imediatamente, na sua totalidade, a “falência” da humanidade»
(Discurso no campo de refugiados de Moria, Lesbos, 16 de abril de 2016). O que
acontece com o mundo de hoje que, quando se verifica a falência de um banco,
imediatamente aparecem quantias escandalosas para o salvar, mas quando ocorre
esta falência da humanidade praticamente não aparece nem uma milésima parte
para salvar aqueles irmãos que sofrem tanto? E assim o Mediterrâneo tornou-se um
cemitério, e não apenas o Mediterrâneo… muitos cemitérios perto dos muros,
muros manchados de sangue inocente. Nos dias deste encontro — sois vós que o
dizeis no vídeo — quantos são os mortos no Mediterrâneo?
O medo endurece o coração e transforma-se em crueldade cega, que se recusa a
ver o sangue, a dor, a face do próximo. Quem o disse foi o meu irmão, o Patriarca
Bartolomeu: «Quem tem medo de vós não vos fitou nos olhos. Quem tem receio de
vós não viu os vossos rostos. Quem tem medo não vê os vossos filhos, esquece-se

que a dignidade e a liberdade transcendem o medo e superam a divisão. Esquece-
se que a migração não é um problema do Médio Oriente e da África setentrional, da

Europa e da Grécia. Trata-se de um problema do mundo» (Discurso no campo de
refugiados de Moria, Lesbos, 16 de abril de 2016).
É verdadeiramente um problema do mundo. Ninguém deveria ver-se obrigado a
fugir da sua pátria. Mas o mal é duplo quando, diante destas circunstâncias
terríveis, os migrantes se veem lançados nas garras dos traficantes de pessoas,
para atravessar as fronteiras; e é triplo se, chegando à terra na qual julgavam

encontrar um porvir melhor, são desprezados, explorados e até escravizados! Pode-
se ver isto em qualquer recanto de centenas de cidades. Ou simplesmente não os

deixam entrar.
Peço-vos que façais tudo o que for possível; e que nunca vos esqueçais que
inclusive Jesus, Maria e José experimentaram a condição dramática dos refugiados.

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Peço-vos que exerçais aquela solidariedade tão singular que existe entre quantos
sofreram. Vós sabeis recuperar fábricas das falências, reciclar aquilo que outros
abandonam, criar postos de trabalho, cultivar a terra, construir habitações, integrar
bairros segregados e reclamar de modo incessante, como a viúva do Evangelho que
pede justiça insistentemente (cf. Lc 18, 1-8). Talvez com o vosso exemplo e a
vossa insistência, alguns Estados e Organizações internacionais abram os olhos e
adotem medidas adequadas para acolher e integrar plenamente todos aqueles que,
por um motivo ou por outro, procuram refúgio longe de casa. E também para
enfrentar as profundas causas pelas quais milhares de homens, mulheres e crianças
são expulsos cada dia da sua terra natal. […]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO POR OCASIÃO DE UM ENCONTRO INTER-RELIGIOSO

[…]O tema da misericórdia é familiar e muitas tradições religiosas e culturais, onde
a compaixão e a não-violência são essenciais e indicam o caminho da vida: «O
rígido e o duro pertencem à morte; o tenro e o terno pertencem à vida», afirma um
antigo ditado sapiencial (Tao-Te-Ching, 76). Inclinar-se com ternura compassiva
sobre a humanidade débil e necessitada faz parte de um ânimo deveras religioso,
que rejeita a tentação de prevaricar com a força, que rejeita comerciar a vida
humana e vê os outros como irmãos e nunca como números. Fazer-se próximo de
quantos vivem situações que exigem maior cura, como a doença, a deficiência, a
pobreza, a injustiça, as consequências dos conflitos e das migrações, é uma
chamada que vem do coração de cada tradição autenticamente religiosa. É o eco da
voz divina, que fala à consciência de cada um, convidando a superar o fechamento
em si mesmo e a abrir-se: abrir-se ao Outro acima de nós, que bate à porta do
coração; abrir-se ao outro ao nosso lado, que bate à porta de casa, pedindo
atenção e ajuda. […]

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ENCONTRO ECUMÉNICO NA MALMOE ARENA DISCURSO DO SANTO PADRE

[…] E depois de ter ouvido estes testemunhos desafiadores, que nos fazem pensar
na nossa vida e no modo como respondemos às situações de necessidade que
existem ao nosso lado, quero agradecer a todos os governos que prestam
assistência aos refugiados, a todos os governos que prestam assistência aos
deslocados e àqueles que pedem asilo, porque cada ação em favor destas pessoas
que precisam de proteção constitui um grande gesto de solidariedade e
reconhecimento da sua dignidade. Para nós, cristãos, é uma prioridade sair ao
encontro dos descartados – porque são descartados pela sua pátria – e
marginalizados do nosso mundo, tornando palpável a ternura e o amor

misericordioso de Deus, que não descarta ninguém, mas acolhe a todos. Hoje pede-
se-nos, a nós cristãos, que sejamos protagonistas da revolução da ternura.[…]

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PAPA FRANCISCO AUDIÊNCIA GERAL

[…] Hoje meditemos sobre esta palavra de Jesus: «Era estrangeiro e acolhestes-
me; estava nu e vestistes-me» (Mt 25, 35-36). No nosso tempo é atual como

nunca a obra relativa aos estrangeiros. A crise económica, os conflitos armados e
as mudanças climáticas impelem muitas pessoas a emigrar. Contudo, as migrações
não são um fenómeno novo, mas pertencem à história da humanidade. Consiste
em falta de memória histórica pensar que elas sejam próprias apenas da nossa
época.. […]
A propósito, durante os séculos assistimos a grandes expressões de solidariedade,
embora não tenham faltado também tensões sociais. Hoje, o contexto de crise
económica infelizmente favorece o emergir de comportamentos de fechamento e
não acolhimento. Nalgumas partes do mundo erguem-se muros e barreiras. Às
vezes parece que a obra silenciosa de muitos homens e mulheres que, de várias
maneiras, se prodigalizam para ajudar e assistir os refugiados e os migrantes seja
obscurecida pelo rumor de outros que dão voz a um egoísmo instintivo. Contudo o
fechamento não é uma solução, pelo contrário, acaba por favorecer os tráficos
criminosos. A única solução é a solidariedade. Solidariedade com o migrante,
solidariedade com o estrangeiro… […]
Também hoje precisamos destes testemunhos a fim de que a misericórdia possa
alcançar muitos necessitados. É um compromisso que envolve todos, sem exclusão.
As dioceses, as paróquias, os institutos de vida consagrada, as associações e os
movimentos, assim como cada cristão, todos são chamados a acolher os irmãos e
as irmãs que fogem da guerra, da fome, da violência e das condições de vida
desumanas. Todos juntos somos uma grande força de apoio para quantos perderam
pátria, família, trabalho e dignidade. […]

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PAPA FRANCISCO ANGELUS

[…] Naquela altura, Jesus dirige-se ao doutor da lei e pergunta-lhe: «Qual destes
três — o sacerdote, o levita, o samaritano — parece ter sido o próximo daquele que
caiu nas mãos dos ladrões?». E ele, naturalmente — porque era inteligente —
responde: «Aquele que teve misericórdia dele» (vv. 36-37). Deste modo, Jesus
inverteu completamente a perspetiva inicial do doutor da lei, e também a nossa:
não devo catalogar os outros para decidir quem é o meu próximo e quem não é.
Depende de mim, ser ou não ser próximo — a decisão é minha — depende de mim,
ser ou não ser próximo da pessoa com a qual me encontro e que tem necessidade
de ajuda, mesmo que seja desconhecida, ou talvez até hostil. E Jesus conclui: «Vai,
e também tu faz o mesmo» (v. 37). Uma boa lição! E repete-o a cada um de nós:
«Vai, e também tu faz o mesmo», tornando-te próximo do irmão e da irmã que tu
vês em dificuldade. «Vai, e também tu faz o mesmo». Praticar boas obras, não
apenas pronunciar palavras que se perdem no vento. Vem-me ao pensamento uma
canção: «Palavras, palavras, palavras…». Não! É preciso fazer, agir. E mediante as
boas obras que praticamos com amor e alegria a favor do próximo, a nossa fé
germina e dá fruto. Questionemo-nos — cada qual responda no próprio coração —
interroguemo-nos: é fecunda a nossa fé? Produz boas obras a nossa fé? Ou então é
bastante estéril e portanto mais morta do que viva? Faço-me próximo, ou
simplesmente passo ao lado? Sou daqueles que seleciono as pessoas a bel-prazer?
É bom fazer estas perguntas, e fazê-las frequentemente, porque no fim seremos
julgados pelas obras de misericórdia. O Senhor poderá dizer-nos: e tu, recordas
aquela vez ao longo do caminho de Jerusalém para Jericó? Aquele homem meio
morto era eu. Recordas? Aquele menino faminto era eu. Recordas? Era eu aquele
migrante que muitos querem expulsar. Era eu aqueles avós sozinhos, abandonados
nas casas de repouso. Era eu aquele doente no hospital, que ninguém vai visitar.
[…]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS DIRIGENTES DA “FUNDAÇÃO VODAFONE”

Dou as boas-vindas a todos vós e agradeço ao Administrador Delegado do Grupo
Vodafone a sua apresentação desta interessante iniciativa denominada «Instant
Schools for Africa». Como ouvimos, ela tem como objetivo permitir a numerosos
jovens africanos — alguns dos quais estão hospedados em campos de refugiados —
aceder online a importantes recursos educacionais.[…]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS MEMBROS DOS ORGANISMOS CARITATIVOS CATÓLICOS QUE ATUAM NO CONTEXTO DA CRISE HUMANITÁRIA NA SÍRIA, IRAQUE E PAÍSES CONFINANTES

Estimados irmãos e irmãs!

[…] Um ano depois do nosso último encontro, devemos constatar com grande
tristeza que, não obstante os numerosos esforços envidados em vários âmbitos, a
lógica das armas e da opressão, os interesses obscuros e a violência continuam a
devastar esses países e que, até agora, não se conseguiu pôr fim aos sofrimentos
desgastantes e às contínuas violações dos direitos humanos. As consequências
dramáticas da crise já são visíveis muito além das fronteiras da região. Uma
expressão disto é o grave problema da migração. […]
[…] Olhando para os numerosos rostos sofredores na Síria, no Iraque e nos países
vizinhos e distantes, onde milhões de refugiados são obrigados a procurar amparo e
proteção, a Igreja vislumbra a Face do seu Senhor durante a Paixão.
O trabalho de quantos, como vós que representais numerosos agentes ativos, estão
comprometidos a ajudar estas pessoas e a salvaguardar a sua dignidade, constitui
sem dúvida um reflexo da misericórdia de Deus e, enquanto tal, um sinal de que o
mal tem um limite e não tem a última palavra. Trata-se de um sinal de grande
esperança, pelo qual quero agradecer, juntamente convosco, a tantas pessoas
anónimas — mas não para Deus! — que especialmente neste Ano jubilar rezam e
intercedem em silêncio pelas vítimas dos conflitos, sobretudo pelas crianças e pelos
mais frágeis, contribuindo deste modo também para a vossa labuta. Em Alepo as
crianças devem beber água poluída! […]

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PALAVRAS DO SANTO PADRE

[…] Não podemos ficar indiferentes. Hoje o mundo tem uma sede ardente de paz.
Em muitos países, sofre-se por guerras, tantas vezes esquecidas, mas sempre
causa de sofrimento e pobreza. Em Lesbos, com o querido Patriarca Ecuménico
Bartolomeu, vimos nos olhos dos refugiados o sofrimento da guerra, a angústia de
povos sedentos de paz. Penso em famílias, cuja vida foi transtornada; nas crianças,
que na vida só conheceram violência; nos idosos, forçados a deixar as suas terras:
todos eles têm uma grande sede de paz. Não queremos que estas tragédias caiam
no esquecimento. Desejamos dar voz em conjunto a quantos sofrem, a quantos se
encontram sem voz e sem escuta. Eles sabem bem – muitas vezes melhor do que
os poderosos – que não há qualquer amanhã na guerra e que a violência das armas
destrói a alegria da vida.[…]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NA CONFERÊNCIA PROMOVIDA PELA CONFEDERAÇÃO EUROPEIA E A UNIÃO MUNDIAL DOS EX-ALUNOS E ALUNAS DOS JESUÍTAS

Amados irmãos e irmãs!
Queridos membros da Confederação Europeia e da União Mundial dos Ex-Alunos e
Alunas dos Jesuítas!
Sinto-me feliz por vos receber durante a vossa conferência sobre as migrações e a
crise dos refugiados. É a maior crise humanitária, depois da segunda guerra
mundial. Formados nas escolas dos Jesuítas, viestes a Roma como «homens e
mulheres para os outros», em particular — desta vez — para estudar as raízes da
migração forçada, para considerar a vossa responsabilidade em relação à situação
atual e para serdes enviados como promotores de mudança às vossas comunidades
de origem.
Tragicamente, no mundo de hoje mais de 65 milhões de pessoas foram obrigadas a
abandonar os seus lugares de residência. Este número sem precedentes supera
qualquer imaginação. O número total de refugiados agora superou o de toda a
população da Itália! Contudo, se formos além da mera estatística, descobriremos
que os refugiados são mulheres e homens, jovens e moças que não são diversos
dos membros das nossas famílias e dos nossos amigos. Cada um deles tem um
nome, um rosto e uma história, assim como o direito inalienável de viver em paz e
de aspirar por um futuro melhor para os próprios filhos.
Dedicastes a vossa Associação mundial à memória do Padre Pedro Arrupe, que foi
também o fundador do Jesuit Refugee Service, a organização que vos acompanhou
durante esta semana em Roma. Há mais de trinta e cinco anos, o Padre Arrupe
sentiu-se impelido a agir em resposta à situação dos «boat people» do sul do
Vietname, que estavam expostos aos ataques dos piratas e às tempestades no Mar
Chinês do Sul, enquanto procuravam desesperadamente fugir das violências na sua
pátria. Infelizmente, hoje o mundo ainda está envolvido em numerosos conflitos. A
terrível guerra na Síria, assim como as guerras civis no Sudão do Sul e noutras
partes do mundo podem parecer sem solução. Precisamente esta é a razã0 pela
qual é tão importante o vosso encontro «para contemplar e agir» relativamente à
questão dos refugiados.
Hoje mais que nunca, quando a guerra continua em diversas partes do mundo,
quando um número nunca antes alcançado de refugiados morre tentando
atravessar o Mar Mediterrâneo — que se tornou um cemitério — ou passa anos sem
fim nos campos, a Igreja precisa que bebais da coragem e do exemplo do Padre
Arrupe. Mediante a vossa educação jesuíta fostes convidados a tornar-vos
«companheiros de Jesus» e, com santo Inácio de Loyola como vosso guia, fostes
enviados ao mundo para serdes mulheres e homens para e com os outros. Nesta
conjuntura da história, há grande necessidade de pessoas que escutem o grito dos
pobres e respondam com compaixão e generosidade.
Na conclusão da Jornada Mundial da Juventude em Cracóvia, há poucas semanas,
eu disse à juventude lá reunida para ser corajosa. Como formados em escolas

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regidas pelos padres jesuítas, sabei ser também corajosos ao responder às
necessidades dos refugiados no tempo presente. Como alunos dos Padres jesuítas,
far-vos-á bem, no momento em que tratais os problemas vividos pelos refugiados,
recordar as vossas raízes inacianas. Enquanto vos aplicais nos vossos países a
compreender as causas da emigração forçada e a servir os refugiados, é necessário
que ofereçais ao Senhor «toda a vossa liberdade, a vossa memória, a vossa
inteligência e toda a vossa vontade».
Ao longo deste Ano da Misericórdia a Porta Santa da Basílica de São Pedro
permaneceu aberta, para recordar que a misericórdia de Deus é oferecida a todos
os que dela têm necessidade, agora e sempre. Milhões de fiéis realizaram a
peregrinação à Porta Santa, aqui e nas igrejas de todo o mundo, fazendo memória
do facto que a misericórdia de Deus dura para sempre e se destina a todos.
Também com a vossa ajuda a Igreja será capaz de responder mais plenamente à
tragédia humana dos refugiados mediante ações de misericórdia que promovam a
sua integração no contexto europeu e para além dele. Por isso, encorajo-vos a dar
as boas-vindas aos refugiados nas vossas casas e comunidades, de modo que a sua
primeira experiência da Europa não seja a traumática de dormir ao frio nas
estradas, mas a de um acolhimento caloroso e humano. Recordai-vos que a
hospitalidade autêntica é um profundo valor evangélico, que alimenta o amor e é a
nossa maior segurança contra as odiosas ações de terrorismo.
Exorto-vos a beber das alegrias e sucessos que a vossa educação jesuíta vos
forneceu no cuidado da educação dos refugiados no mundo. É um dado de facto
preocupante que menos de 50% das crianças refugiadas tenham acesso à escola
básica. Infelizmente, este número reduz-se a 22% para os adolescentes refugiados
inscritos em escolas secundárias e a menos de 1% dos que podem aceder a uma
instrução universitária.
Juntamente com o Jesuit Refugee Service, ponde em movimento a vossa
misericórdia e ajudai a transformar esta situação no campo educativo. Ao fazerdes
isto, construí uma Europa mais forte e um futuro mais luminoso para os refugiados.
Por vezes podemos sentir-nos sozinhos no momento em que se procura traduzir a
misericórdia em ações. Contudo, sabei que unis o vosso trabalho ao de tantas
organizações eclesiais comprometidas no campo humanitário, que se dedicam aos
excluídos e aos marginalizados. Mais importante ainda, recordai-vos de que o amor
de Deus vos acompanha neste trabalho. Vós sois olhos, lábios, mãos e coração de
Deus neste mundo.
Agradeço-vos por vos terdes dedicado às difíceis questões que o acolhimento aos
refugiados apresenta. Muitas portas vos foram abertas graças à educação recebida
dos Jesuítas, enquanto os refugiados encontram muitas portas fechadas.
Aprendestes muito dos refugiados que encontrastes. Ao partir de Roma para voltar
às vossas casas, exorto-vos a ajudar a transformar as vossas comunidades em
lugares de boas-vindas onde todos os filhos de Deus têm a oportunidade, não
simplesmente de sobreviver, mas de crescer, florescer e dar fruto.
E enquanto perseverais neste trabalho constante para garantir acolhimento e
instrução aos refugiados, pensai na Sagrada Família — Maria, José e o Menino Jesus
— na sua longa viagem como refugiados para o Egito, quando fugiam da violência e
encontraram abrigo entre os estrangeiros. De igual modo recordai-vos das palavras
de Jesus: «Tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era
estrangeiro e acolhestes-me» (Mt 25, 35). Levai estas palavras e estes gestos

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convosco hoje. Que elas vos sirvam de encorajamento e conforto. Por meu lado, ao
garantir-vos a minha oração, peço-vos por favor que não vos esqueçais de rezar
por mim. Obrigado!