Archive

DISCURSO DO PAPA FRANCISCO NA INAUGURAÇÃO DO PRESÉPIO E DA ÁRVORE DE NATAL DA PRAÇA SÃO PEDRO

[…] O presépio colocado na praça de São Pedro, obra do artista de Gozo Manwel
Grech, reproduz a paisagem maltesa e é completado pela tradicional cruz de Malta
e pelo «luzzu», típica embarcação maltesa, que evoca também a triste e trágica
realidade dos migrantes nos barcos que partem rumo à Itália. Na dolorosa
experiência destes irmãos e irmãs, revemos a do Menino Jesus, que na hora do
nascimento não encontrou alojamento e veio ao mundo na gruta de Belém; e
depois foi levado para o Egito para fugir da ameaça de Herodes. Quantos visitarem
este presépio serão convidados a descobrir de novo o seu valor simbólico, que é
uma mensagem de irmandade, de partilha, de hospitalidade e de solidariedade.
Inclusive os presépios colocados nas igrejas, nas casas e em muitos lugares
públicos constituem um convite a dar lugar na nossa vida e na sociedade a Deus,
escondido no semblante de numerosas pessoas que vivem em condições de
dificuldade, de pobreza e de tribulação.[…]

Archive

DIÁLOGO DO PAPA FRANCISCO COM AS PARTICIPANTES NA PLENÁRIA DA UNIÃO INTERNACIONAL DAS SUPERIORAS-GERAIS (UISG)

Papa Francesco
[…] É verdade que as mulheres são excluídas dos processos decisórios na Igreja:
não excluídas, mas é muito frágil a inserção das mulheres ali, nos processos
decisórios. Devemos ir em frente. Por exemplo — deveras eu não vejo dificuldades
— penso que no Pontifício Conselho Justiça e Paz a responsável pela secretaria é
uma mulher, uma religiosa. Foi proposta outra e eu nomeei-a, mas ela não aceitou,
porque tinha que ir para outro lado a fim de desempenhar trabalhos da sua
Congregação. Deve-se ir além, porque em tantos aspetos dos processos decisórios
não é necessária a ordenação. Não é necessária. Na reforma da Constituição
apostólica Pastor bonus, a propósito dos Dicastérios, quando não há a jurisdição
que vem da ordenação — ou seja, a jurisdição pastoral — não se vê escrito que
pode ser uma mulher, não sei se chefe de dicastério, não me recordo, mas… Por
exemplo para os migrantes: no dicastério para os migrantes poderia ser uma
mulher. E quando há necessidade — agora que os migrantes entram num dicastério
— da jurisdição, é o Prefeito quem dá esta autorização. Mas no respeitante à
normal administração pode ser, na execução do processo decisório. Para mim é
muito importante a elaboração das decisões: não só a execução, mas também a
elaboração, ou seja, que as mulheres, tanto consagradas como leigas, entrem na
reflexão do processo e no debate. Porque a mulher encara a vida com um olhar
próprio e nós homens não podemos vê-la assim. É o modo de ver um problema, de
considerar qualquer outra coisa, que a mulher vê de maneira diferente do homem.
Devem ser complementares, e nas consultas é importante que haja mulheres. […]
[Agora o Papa responde a uma parte da pergunta que não foi lida mas que
estava escrita]
Os pedidos de dinheiro nas nossas Igrejas locais. O problema do dinheiro é muito
importante, quer na vida consagrada, quer na Igreja diocesana. Nunca devemos
esquecer que o diabo entra «pelos bolsos»: tanto pelos bolsos do bispo, como pelos
da Congregação. Isto concerne o problema da pobreza, disto falarei a seguir. Mas a
avidez do dinheiro é o primeiro degrau para a corrupção de uma paróquia, de uma
diocese, de uma Congregação de vida consagrada, é o primeiro degrau. Penso que
vem a propósito: o pagamento dos sacramentos. Reparai, se alguém vos pedir isto,
denunciai o facto. A salvação é gratuita. Deus convidou-nos gratuitamente; a
salvação é como um «desperdício de gratuitidade». Não há salvação a pagamento,
não há sacramentos a pagamento. Está claro? Eu conheço, na minha vida vi
corrupção neste aspeto. Recordo um caso, logo a seguir à minha nomeação
episcopal, ocupava-me da zona mais pobre de Buenos Aires: está dividida em
quatro vicariatos. Ali havia tantos migrantes dos países americanos, e acontecia
que quando se vinham casar os párocos diziam: «Esta gente não tem a certidão de
batismo». E quando a requeriam no próprio país diziam-lhe: «Sim, mas primeiro
envia 100 dólares — recordo um caso — e depois envio-ta». Falei com o cardeal, o

233
cardeal falou com o bispo do lugar… Mas entretanto o povo podia casar-se sem a
certidão de batismo, com o juramento dos pais ou dos padrinhos. E este é o
pagamento, não só do sacramento mas das certidões. Recordo que certa vez em
Buenos Aires veio um jovem à paróquia, que se queria casar, para pedir o nulla
osta para celebrar o sacramento noutra paróquia: é uma forma simples. Na
secretaria responderam-lhe: «Sim, passe amanhã, venha amanhã e estará pronto»,
indicando-lhe a quantia a pagar. Uma boa quantia, mas trata-se de um serviço, é
só verificar os dados e preencher. E ele — que era um excelente advogado, jovem,
muito fervoroso, bom católico — veio ter comigo: «Agora que faço?» — «Vai
amanhã e diz-lhe que enviaste o cheque ao arcebispo, e que o arcebispo lhe
entregará o cheque». O comércio do dinheiro. […]
Sim. Todas as consagradas devem viver misticamente, porque o vosso é um
casamento; a vossa é uma vocação de maternidade, é uma vocação de estar no
lugar da Mãe Igreja e da Mãe Maria. Mas quantos vos dizem isto, pensam que ser
místico significa ser uma múmia, sempre assim, a rezar… Não, não. Deve-se rezar
e trabalhar segundo o próprio carisma; e quando o carisma te leva adiante com os
refugiados, com os pobres, tu deves fazê-lo, e chamar-te-ão «comunista»: não é o

pior que te vão dizer. Mas deves fazê-lo. Porque o carisma te leva a isto. Recordo-
me de uma religiosa na Argentina: foi provincial da sua congregação. Uma boa

mulher, e ainda trabalha… sim, tem quase a minha idade. E trabalha contra os
traficantes de jovens, de pessoas. Recordo-me que, durante o governo militar na
Argentina, a queriam encarcerar, faziam pressão sobre o arcebispo, faziam pressão
sobre a superiora provincial, antes que ela mesma se tornasse provincial, «porque
esta mulher é comunista». Mas esta mulher salvou tantas jovens, tantas moças!
Sim, é a cruz. Que disseram de Jesus? Que era Belzebu, que tinha o poder de
Belzebu. A calúnia, estai preparadas. Se praticardes o bem, com a oração, diante
de Deus, assumindo todas as consequências do vosso carisma e fordes em frente,
preparai-vos para a difamação e para a calúnia, porque o Senhor escolheu para si
esta vereda!

Archive

DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS EMPRESÁRIOS PARTICIPANTES NO FORTUNE-TIME GLOBAL FORUM

Queridos amigos!
[…] Gostaria de vos dirigir um agradecimento especial por quanto estais a fazer
para promover a centralidade e a dignidade da pessoa humana no seio das
instituições e dos modelos económicos, e a fim de chamar a atenção para a chaga
dos pobres e dos refugiados, que são tão frequentemente esquecidos pela
sociedade. Quando ignoramos o grito de muitos dos nossos irmãos e irmãs em
todas as parte do mundo, não só negamos os seus direitos e os valores que
receberam de Deus, mas também rejeitamos a sua sabedoria e impedimos-lhes de
oferecer ao mundo os seus talentos, as suas tradições e as suas culturas. Estes
comportamentos agravam o sofrimento dos pobres e dos marginalizados, e nós
mesmos tornamo-nos mais pobres, não só material, mas também moral e
espiritualmente.
O nosso mundo de hoje está marcado por uma grande inquietação. A desigualdade
entre os povos continua a crescer e muitas comunidades são diretamente atingidas
pela guerra e pela pobreza ou pela viagem forçada de migrantes e refugiados. As
pessoas querem fazer ouvir a própria voz e manifestar as suas preocupações e
medos. Quer dar a legítima contribuição às comunidades locais e à mais vasta
sociedade, e beneficiar dos recursos e do desenvolvimento demasiadas vezes
reservados a poucos. Isto, enquanto pode criar conflitos e patentear os numerosos
sofrimentos do nosso mundo, permite-nos também compreender que estamos a
viver um momento de esperança. Porque quando reconhecemos finalmente o mal
no meio de nós, podemos procurar saná-lo aplicando a justa cura. Precisamente a
vossa presença aqui hoje é um sinal desta esperança, porque demonstra que
reconheceis os problemas que estão à nossa frente e a necessidade de agir com
firmeza. Esta estratégia de renovação e esperança exige uma conversão
institucional e pessoal; uma mudança do coração que confere a primazia às mais
profundas expressões da nossa humanidade comum, das nossas culturas, das
nossa convicções religiosas e das nossa tradições.[…]

Archive

SAUDAÇÃO DO PAPA FRANCISCO À PEREGRINAÇÃO DE UM GRUPO DE PARLAMENTARES DE RHÔNE- ALPES

[…] Neste sentido, a busca do bem comum que vos anima vos leve a ouvir com
atenção especial as pessoas em condição de precariedade, sem esquecer os
migrantes que fugiram dos seus países por causa da guerra, da miséria, da
violência. Assim, no exercício das vossas responsabilidades, podeis contribuir para
a edificação de uma sociedade mais justa e mais humana, de uma sociedade
hospitaleira e fraterna. […]

Archive

DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS JOVENS DO SERVIÇO CIVIL ITALIANO

[…] Entre as várias áreas de intervenção dos projetos do Serviço Civil, merece um
realce especial a tutela do meio ambiente, tendo presente o critério de uma
ecologia humana, que nos permita reconhecer o vínculo estreito entre o cuidado do
meio ambiente e do homem e compreenda as graves consequências da degradação
ambiental sobre a vida das pessoas, em particular dos mais pobres. Outro âmbito
de ação pelo qual nos devemos preocupar de maneira especial diz respeito à ajuda
aos refugiados e aos migrantes, os quais pedem para ser socorridos e integrados no
tecido social. A Itália está louvavelmente comprometida nesta obra — é um
exemplo! — ao expressar apreço por tudo isto, exorto a prosseguir com coragem
quer a nível do acolhimento concreto quer da sensibilização e de uma verdadeira
integração. Obrigado pelo que a Itália faz. […]

Archive

CARTA APOSTÓLICA Misericordia et misera

18. Ainda hoje populações inteiras padecem a fome e a sede, sendo grande a
preocupação suscitada pelas imagens de crianças que não têm nada para se
alimentar. Multidões de pessoas continuam a emigrar dum país para outro à
procura de alimento, trabalho, casa e paz. A doença, nas suas várias formas, é um
motivo permanente de aflição que requer ajuda, consolação e apoio. Os
estabelecimentos prisionais são lugares onde muitas vezes, à pena restritiva da
liberdade, se juntam transtornos por vezes graves devido às condições desumanas
de vida. O analfabetismo ainda é muito difuso, impedindo aos meninos e meninas
de se formarem, expondo-os a novas formas de escravidão. A cultura do
individualismo exacerbado, sobretudo no Ocidente, leva a perder o sentido de
solidariedade e responsabilidade para com os outros. O próprio Deus continua a ser
hoje um desconhecido para muitos; isto constitui a maior pobreza e o maior
obstáculo para o reconhecimento da dignidade inviolável da vida humana. […]

Archive

CONSISTÓRIO ORDINÁRIO PÚBLICO PARA A CRIAÇÃO DE NOVOS CARDEAIS HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

[…] A nossa época carateriza-se por problemáticas e interrogativos fortes à escala
mundial. Tocou-nos atravessar um tempo em que ressurgem, à maneira duma
epidemia nas nossas sociedades, a polarização e a exclusão como única forma
possível de resolver os conflitos. Vemos, por exemplo, como rapidamente quem
vive ao nosso lado não só possui a condição de desconhecido, imigrante ou
refugiado, mas torna-se uma ameaça, adquire a condição de inimigo. Inimigo,
porque vem duma terra distante, ou porque tem outros costumes. Inimigo pela cor
da sua pele, pela sua língua ou a sua condição social; inimigo, porque pensa de
maneira diferente e mesmo porque tem outra fé. Inimigo, porque… E, sem nos
darmos conta, esta lógica instala-se no nosso modo de viver, agir e proceder.
Consequentemente, tudo e todos começam a ter sabor de inimizade. Pouco a pouco
as diferenças transformam-se em sintomas de hostilidade, ameaça e violência.
Quantas feridas se alargam devido a esta epidemia de inimizade e violência, que se
imprime na carne de muitos que não têm voz, porque o seu clamor foi
esmorecendo até ficar reduzido ao silêncio por causa desta patologia da
indiferença! Quantas situações de precariedade e sofrimento são disseminadas
através deste crescimento da inimizade entre os povos, entre nós! Sim, entre nós,
dentro das nossas comunidades, dos nossos presbitérios, das nossas reuniões. O
vírus da polarização e da inimizade permeia as nossas maneiras de pensar, sentir e
agir. Não sendo imunes a isto, devemos estar atentos para que tal conduta não
ocupe o nosso coração, pois iria contra a riqueza e a universalidade da Igreja que
podemos constatar palpavelmente neste Colégio Cardinalício. Vimos de terras
distantes, temos costumes, cor da pele, línguas e condições sociais distintas;
pensamos de forma diferente e também celebramos a fé com vários ritos. E nada
de tudo isto nos torna inimigos; pelo contrário, é uma das nossas maiores riquezas.
[…]

Archive

DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NA CONFERÊNCIA INTERNACIONAL DAS ASSOCIAÇÕES DE EMPRESÁRIOS CATÓLICOS (UNIAPAC)

Senhor cardeal
Senhor Presidente da UNIAPAC
Queridos amigos!

[…] Há um segundo risco que deve ser assumido pelos empresários. O risco da
honestidade. A corrupção é a pior chaga social. É a mentira de procurar o lucro
pessoal ou do próprio grupo sob as aparências de um serviço à sociedade. É a
destruição do tecido social, sob as aparências do cumprimento da lei. É a lei da
selva, mascarada de aparente racionalidade social. É o engano e a exploração dos
mais débeis ou menos informados. É o egoísmo mais grosseiro, escondido por
detrás de uma generosidade aparente. A corrupção é gerada pela adoração do
dinheiro e volta para o corrupto, escravo daquela mesma adoração. A corrupção é
uma fraude da democracia e abre as portas a outros males terríveis como a droga,
a prostituição e o tráfico de pessoas, a escravidão, o comércio de órgãos, o tráfico
de armas, e assim por diante. A corrupção é tornar-se seguidor do diabo, pai da
mentira. […]
Em relação à fraternidade, não posso deixar de compartilhar convosco o tema das
emigrações e dos refugiados, que oprime os nossos corações. Hoje as emigrações e
os deslocamentos de uma multidão de pessoas em busca de proteção tornaram-se
um dramático problema humano. A Santa Sé e as Igrejas locais estão a realizar
esforços extraordinários para fazer face de maneira eficaz às causas desta situação,
procurando a pacificação das regiões e dos países em guerra e promovendo o
espírito de acolhimento; mas nem sempre se obtém tudo o que se deseja. Peço
ajuda também a vós. Por um lado, procurai convencer os governos a renunciar a
todo o tipo de atividade bélica. Como se diz nos ambientes empresariais, um “mau”
acordo é sempre melhor do que um “bom” litígio. Por outro lado, colaborar para
criar fontes de trabalho digno, estáveis e abundantes, quer nos lugares de origem
quer nos de chegada e, nestes últimos, tanto para a população local como para os
imigrantes. É preciso fazer com que a imigração continue a ser um importante fator
de desenvolvimento. […]

Archive

DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS MEMBROS DO CONSELHO DE REPRESENTAÇÃO DA “CARITAS INTERNATIONALIS”

Caros irmãos e irmãs!,
[…] Convido-vos a ter sempre a coragem profética, a rejeitar tudo aquilo que
humilha o homem, e todas as formas de exploração que o degradam. Continuai a
transmitir aqueles pequenos e grandes sinais de hospitalidade e de solidariedade,
que têm a capacidade de iluminar a vida das crianças e dos idosos, dos migrantes e
dos refugiados que se põem em busca da paz. Estou muito feliz por tomar
conhecimento de que a Caritas internationalis promoverá uma Campanha,
exatamente sobre a temática das migrações. Faço votos a fim de que esta bonita
iniciativa abra os corações de muitas pessoas ao acolhimento dos refugiados e dos
migrantes, para que nas nossas comunidades eles possam sentir-se
verdadeiramente «em casa». Prestai atenção a fim de apoiar, com um compromisso
renovado, os processos de desenvolvimento e os caminhos de paz nos países dos
quais estes nossos irmãos e irmãs fogem, ou partem em busca de um futuro
melhor. […]

Archive

DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NO ENCONTRO SOBRE O TRÁFICO DE SERES HUMANOS PROMOVIDO PELO RELIGIOUS IN EUROPE NETWORKING AGAINST TRAFFICKING AND EXPLOITATION (“RENATE”)

Queridas irmãs e irmãos! Dou as cordiais boas-vindas a vós que participais nesta
Segunda Assembleia da Rede Religiosa Europeia contra o Tráfico e a Exploração.
Agradeço à Ir. Imelda Poole as suas gentis palavras de saudação em nome de todas
e ofereço-vos os meus votos mais sinceros a fim de que estes dias de oração,
reflexão e confronto sejam frutuosos. Oportunamente esta vossa Assembleia tem
lugar em Roma durante o Jubileu Extraordinário da Misericórdia. Neste tempo de
graça, todos nós somos convidados a entrar mais profundamente no mistério da
misericórdia de Deus e, como o Bom Samaritano, levar o bálsamo de tal
misericórdia às muitas feridas presentes no nosso mundo. Uma destas feridas
abertas mais dolorosas é o tráfico de seres humanos, uma forma moderna de
escravidão, que viola a dignidade, dom de Deus, em tantos dos nossos irmãos e
irmãs e constitui um verdadeiro crime contra a humanidade. Enquanto muito foi
feito para conhecer a gravidade e a extensão do fenómeno, muito mais está à
espera de ser feito para elevar o nível de consciência na opinião pública e para
estabelecer uma melhor coordenação de esforços por parte dos governos, das
autoridades judiciárias e legislativas e dos agentes sociais. Como bem sabeis, um
dos desafios a este trabalho de sensibilização, educação e coordenação é uma
determinada indiferença e até cumplicidade, uma tendência por parte de muitos a
olhar para o outro lado (cf. Exort. ap. Evangelii gaudium, 211) enquanto poderosos
interesses económicos e redes criminosas estão em ação. Por esta razão exprimo o
meu apreço pelo vosso compromisso a fim de aumentar a consciência social acerca
da dimensão desta chaga, que atinge especialmente as mulheres e as crianças. Mas
de modo totalmente especial agradeço-vos o vosso fiel testemunho do Evangelho
da misericórdia, como é demonstrado pelo vosso esforço na recuperação e
reabilitação das vítimas. A vossa atividade neste âmbito recorda-nos os «enormes e
muitas vezes silenciosos esforços que foram envidados durante muitos anos por
congregações religiosas, especialmente femininas» no cuidado de quantos foram
feridos na sua dignidade e marcados pelas suas experiências (cf. Mensagem para o
Dia Mundial da Paz de 2015, n. 5). Penso de modo particular no contributo
específico oferecido por mulheres no acompanhamento de outras mulheres e
crianças num profundo e pessoal itinerário de cura e de reintegração. Queridas
amigas e amigos, acredito que a vossa partilha de experiências, conhecimentos e
competências contribuirá nestes dias para um testemunho mais eficaz do
Evangelho numa das grandes «periferias» da nossa sociedade contemporânea.
Confiando-vos a vós e a todos os que servis amorosamente à intercessão de Maria,
Mãe de Misericórdia, concedo-vos de coração a minha bênção como penhor de
alegria e de paz no Senhor. Enquanto garanto a todos a minha recordação na
oração, peço-vos, por favor, que rezeis por mim. Obrigado!