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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO À DELEGAÇÃO DA “GLOBAL FOUNDATION”

[…] Antes de tudo, gostaria de reiterar que é inaceitável, porque desumano, um
sistema económico mundial que descarta homens, mulheres e crianças, porque
parece que eles deixaram de ser úteis segundo os critérios de rentabilidade das
empresas ou de outras organizações. Precisamente este descarte das pessoas
constitui o regresso e a desumanização de qualquer sistema político e económico:
aqueles que causam ou permitem o descarte do próximo — refugiados, crianças
abusadas ou escravizadas, pobres que morrem na rua quando faz frio — tornam-se
eles mesmos como que máquinas sem alma, aceitando implicitamente o princípio
de que também eles, mais cedo ou mais tarde, serão descartados — isto é um
bumerangue! Mas é verdade: mais cedo ou mais tarde, serão descartados —
quando já não forem úteis para uma sociedade que colocou no centro o deus
dinheiro.[…]

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DISCURSO DO SANTO PADRE FRANCISCO POR OCASIÃO DO ENCONTRO COM O CORPO DIPLOMÁTICO ACREDITADO JUNTO DA SANTA SÉ

Excelências, queridos Embaixadores, Senhoras e Senhores!
[…]Milhões de pessoas vivem ainda no meio de conflitos insensatos. Mesmo em
lugares outrora considerados seguros, nota-se uma sensação geral de medo. Com
frequência somos surpreendidos por imagens de morte, pela dor de inocentes que
imploram ajuda e consolação, pelo luto de quem chora uma pessoa querida por
causa do ódio e da violência, surpreendidos pelo drama dos deslocados que fogem
da guerra ou dos migrantes que morrem tragicamente. […]
Estou convencido que o Jubileu extraordinário da Misericórdia constituiu, para
muitos, uma ocasião particularmente favorável para descobrirem também «a
grande e positiva incidência da misericórdia como valor social».[13] Deste modo,
cada um pode contribuir para dar vida a «uma cultura de misericórdia, com base na
redescoberta do encontro com os outros: uma cultura na qual ninguém olhe para o
outro com indiferença, nem vire a cara quando vê o sofrimento dos irmãos».[14]
Só assim será possível construir sociedades abertas e acolhedoras para com os
estrangeiros e, ao mesmo tempo, seguras e em paz no seu interior. Isto é ainda
mais necessário nos dias de hoje em que continuam, ininterruptos, enormes fluxos
migratórios em diferentes partes do mundo. Penso de modo particular nos
numerosos deslocados e refugiados nalgumas áreas da África, no sudeste asiático e
em todos aqueles que fogem das zonas de conflito no Médio Oriente.
No ano passado, a comunidade internacional enfrentou o problema em dois
encontros importantes, convocados pelas Nações Unidas: a primeira Cimeira
Mundial da Ajuda Humanitária e a Cimeira sobre os Amplos Movimentos de
Refugiados e Migrantes. É preciso um empenho comum em favor de migrantes,
deslocados e refugiados, que permita proporcionar-lhes um acolhimento digno. Isto
implica saber conjugar o direito de cada ser humano a «transferir-se para outras
comunidades políticas e nelas domiciliar-se»[15] e, ao mesmo tempo, garantir a
possibilidade duma integração dos migrantes nos tecidos sociais onde se inserem,
sem que estes sintam ameaçada a sua segurança, a própria identidade cultural e os
seus próprios equilíbrios político-sociais. Por outro lado, os próprios migrantes não
devem esquecer que têm o dever de respeitar as leis, a cultura e as tradições dos
países onde são acolhidos.
Uma abordagem prudente por parte das autoridades públicas não envolve a
implementação de políticas de fechamento aos migrantes, mas implica avaliar, com
sabedoria e clarividência, até que ponto o seu país é capaz, sem lesar o bem
comum dos cidadãos, de oferecer uma vida decente aos migrantes, especialmente
àqueles que têm real necessidade de proteção. Sobretudo não se pode reduzir a

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dramática crise atual a uma simples contagem numérica. Os migrantes são pessoas
com nomes, histórias, famílias, e não poderá jamais haver verdadeira paz enquanto
existir um único ser humano que é violado na sua identidade pessoal e reduzido a
mero número estatístico ou a um objeto de interesse económico.
O problema migratório é uma questão que não pode deixar indiferentes alguns
países, enquanto outros suportam o peso humanitário, muitas vezes com esforços
consideráveis e sérias dificuldades, para enfrentar uma emergência que parece não
ter fim. Todos deveriam sentir-se construtores concorrendo para o bem comum
internacional, inclusive através de gestos concretos de humanidade que constituem
fatores essenciais daquela paz e daquele progresso que nações inteiras e milhões
de pessoas estão ainda à espera. Por isso, agradeço a tantos países que acolhem
generosamente aqueles que precisam, a começar por vários Estados europeus,
especialmente Itália, Alemanha, Grécia e Suécia.
Permanecerá gravada para sempre na minha memória a viagem que fiz à Ilha de
Lesbos, juntamente com os meus irmãos Patriarca Bartolomeu e Arcebispo
Ieronymos, onde vi e constatei a situação dramática dos campos de refugiados,
mas também a humanidade e o espírito de serviço de muitas pessoas empenhadas
na sua assistência. E não devemos esquecer também a hospitalidade oferecida por
outros países europeus e do Médio Oriente, como Líbano, Jordânia, Turquia, e ainda
o empenho de diferentes países da África e da Ásia. Também durante a minha
viagem ao México, onde pude experimentar a alegria do povo mexicano, senti-me
solidário com os milhares de migrantes da América Central, que suportam terríveis
injustiças e perigos na tentativa de poder ter um futuro melhor, vítimas de extorsão
e objeto daquele comércio perverso – horrível forma de escravatura moderna – que
é o tráfico das pessoas. […]

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SOLENIDADE DA EPIFANIA DO SENHOR PAPA FRANCISCO ANGELUS

Depois do Angelus
[…] Os Magos oferecem os seus dons a Jesus, mas na realidade é o próprio Jesus o
verdadeiro presente de Deus: com efeito, Ele é o Deus que se entrega a nós, n’Ele
vemos o rosto misericordioso do Pai que nos espera, acolhe e perdoa sempre; o
semblante de Deus que nunca nos trata segundo as nossas obras, nem segundo os
nossos pecados, mas unicamente em conformidade com a imensidão da sua
misericórdia inesgotável. E falando de dons, também eu pensei em oferecer-vos um
pequeno presente… faltam os camelos, mas dar-vos-ei uma prenda. O livrete
«Ícones de misericórdia». O dom de Deus é Jesus, Misericórdia do Pai; e por isso,
para recordar este dom de Deus, dar-vos-ei este presente que vos será distribuído
pelos pobres, desabrigados e refugiados, juntamente com muitos voluntários e
religiosos, aos quais saúdo cordialmente e agradeço do íntimo do coração. […]

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MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO PARA A CELEBRAÇÃO DO 50o DIA MUNDIAL DA PAZ A não-violência: estilo de uma política para a paz

[…] Um mundo dilacerado […]
Seja como for, esta violência que se exerce «aos pedaços», de maneiras diferentes
e a variados níveis, provoca enormes sofrimentos de que estamos bem cientes:
guerras em diferentes países e continentes; terrorismo, criminalidade e ataques
armados imprevisíveis; os abusos sofridos pelos migrantes e as vítimas de tráfico
humano; a devastação ambiental. E para quê? Porventura a violência permite
alcançar objetivos de valor duradouro? Tudo aquilo que obtém não é, antes,
desencadear represálias e espirais de conflitos letais que beneficiam apenas a
poucos «senhores da guerra»?
[…] O meu convite […]
Asseguro que a Igreja Católica acompanhará toda a tentativa de construir a paz
inclusive através da não-violência ativa e criativa. No dia 1 de janeiro de 2017,
nasce o novo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, que
ajudará a Igreja a promover, de modo cada vez mais eficaz, «os bens
incomensuráveis da justiça, da paz e da salvaguarda da criação» e da solicitude
pelos migrantes, «os necessitados, os doentes e os excluídos, os marginalizados e
as vítimas dos conflitos armados e das catástrofes naturais, os reclusos, os
desempregados e as vítimas de toda e qualquer forma de escravidão e de
tortura».[23] Toda a ação nesta linha, ainda que modesta, contribui para construir
um mundo livre da violência, o primeiro passo para a justiça e a paz. […]

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50o DIA MUNDIAL DA PAZ HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

[…] As mães são o antídoto mais forte contra as nossas tendências individualistas e
egoístas, contra os nossos isolamentos e apatias. Uma sociedade sem mães seria
não apenas uma sociedade fria, mas também uma sociedade que perdeu o coração,
que perdeu o «sabor de família». Uma sociedade sem mães seria uma sociedade
sem piedade, com lugar apenas para o cálculo e a especulação. Com efeito as
mães, mesmo nos momentos piores, sabem testemunhar a ternura, a dedicação
incondicional, a força da esperança. Aprendi muito com as mães que, tendo os
filhos na prisão ou estendidos numa cama de hospital ou subjugados pela
escravidão da droga, esteja frio ou calor, faça chuva ou sol, não desistem e
continuam a lutar para lhes dar o melhor; ou com as mães que, nos campos de
refugiados ou até no meio da guerra, conseguem abraçar e sustentar, sem
hesitação, o sofrimento dos seus filhos. Mães que dão, literalmente, a vida para que
nenhum dos filhos se perca. Onde estiver a mãe, há unidade, há sentido de
pertença: pertença de filhos.[…]

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PRIMEIRAS VÉSPERAS NA SOLENIDADE DE MARIA SANTÍSSIMA MÃE DE DEUS E TE DEUM DE ACÇÃO DE GRAÇAS PELO ANO QUE PASSOU HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

[…] Criamos uma cultura que por um lado idolatra a juventude procurando torná-la
eterna, mas por outro, paradoxalmente, condenamos os nossos jovens a não
possuir um espaço de real inserção, porque lentamente os fomos marginalizando da
vida pública, obrigando-os a emigrar ou a mendigar ocupação que não existe ou
que não lhes permite projetar o amanhã. Privilegiamos a especulação em vez de
trabalhos dignos e genuínos que lhes permitam ser protagonistas ativos na vida da
nossa sociedade. Esperamos deles e exigimos que sejam fermento de futuro, mas
discriminamo-los e «condenamo-los» a bater a portas que, na maioria delas,
permanecem fechadas. […]

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CARTA DO SANTO PADRE FRANCISCO AOS BISPOS

[…] Hoje é pedido o mesmo também a nós, pastores: ser homens capazes de ouvir
sem ser surdos à voz do Pai e, deste modo, poder ser mais sensíveis à realidade
que nos rodeia. Hoje, tendo por modelo São José, somos convidados a não deixar
que nos roubem a alegria; somos convidados a defendê-la dos Herodes dos nossos
dias. E precisamos de coragem, como São José, para aceitar esta realidade,
levantar-nos e meter-lhe mãos (cf. Mt 2, 20). A coragem para a proteger dos novos
Herodes dos nossos dias, que malbaratam a inocência das nossas crianças. Uma
inocência dilacerada sob o peso do trabalho ilegal e escravo, sob o peso da
prostituição e da exploração. Inocência destruída pelas guerras e pela emigração
forçada com a perda de tudo o que isso implica. Milhares de crianças nossas caíram
nas mãos de bandidos, de máfias, de mercadores de morte cuja única coisa que
fazem é malbaratar e explorar as suas necessidades.
Hoje, apenas como exemplo, 75 milhões de crianças – por causa das emergências e
das crises prolongadas – tiveram de interromper a sua instrução. Em 2015, 68% da
totalidade das pessoas objeto de tráfico sexual no mundo eram crianças. Por outro
lado, um terço das crianças que tiveram de viver fora do seu país, fê-lo por
deslocamento forçado. Vivemos num mundo onde quase metade das crianças que
morrem com menos de 5 anos é por desnutrição. Calcula-se que, no ano de 2016,
150 milhões de crianças realizaram um trabalho infantil, muitas delas vivendo em
condições de escravidão. Segundo o último relatório elaborado pela UNICEF, se a
situação mundial não mudar, em 2030 serão 167 milhões as crianças que viverão
em pobreza extrema, 69 milhões de crianças com menos de 5 anos morrerão entre
2016 e 2030, e 60 milhões de crianças não frequentarão a escolaridade básica.
[…]

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MENSAGEM URBI ET ORBI DO PAPA FRANCISCO NATAL DE 2016

Queridos irmãos e irmãs, feliz Natal!
[…] Paz para quem foi ferido ou perdeu uma pessoa querida por causa de brutais
atos de terrorismo, que semearam pavor e morte no coração de muitos países e
cidades. Paz – não em palavras, mas real e concreta – aos nossos irmãos e irmãs
abandonados e excluídos, àqueles que padecem a fome e a quantos são vítimas de
violência. Paz aos deslocados, aos migrantes e aos refugiados, a todos aqueles hoje
são objeto do tráfico de pessoas. Paz aos povos que sofrem por causa das ambições
económicos de poucos e da avidez insaciável do deus-dinheiro que leva à
escravidão. Paz a quem suporta dificuldades sociais e económicas e a quem padece
as consequências dos terremotos ou doutras catástrofes naturais. […]

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NATAL DO SENHOR HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

[…] Deixemo-nos interpelar pelo Menino na manjedoura, mas deixemo-nos
interpelar também pelas crianças que, hoje, não são reclinadas num berço nem
acariciadas pelo carinho duma mãe e dum pai, mas jazem nas miseráveis
«manjedouras de dignidade»: no abrigo subterrâneo para escapar aos
bombardeamentos, na calçada duma grande cidade, no fundo dum barco
sobrecarregado de migrantes. Deixemo-nos interpelar pelas crianças que não se
deixam nascer, as que choram porque ninguém lhes sacia a fome, aquelas que na
mão não têm brinquedos, mas armas. […]

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ENCONTRO COM A CÚRIA ROMANA NA APRESENTAÇÃO DE VOTOS NATALÍCIOS DISCURSO DO SANTO PADRE FRANCISCO

Amados irmãos e irmãs!
[…] – Com o Motu Proprio de 17 de agosto de 2016 (Humanam
progressionem), foi constituído o Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento
Humano Integral, a fim de que o desenvolvimento se implemente «mediante o
cuidado pelos bens incomensuráveis da justiça, da paz e da salvaguarda da
criação». Neste Dicastério confluirão, a partir de 1 janeiro de 2017, quatro
Conselhos Pontifícios: Justiça e Paz, Cor Unum, Pastoral dos Migrantes e Agentes
Sanitários. Ocupar-me-ei diretamente «ad tempus» da Secção para a pastoral dos
migrantes deste novo Dicastério.[42] […]