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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS DELEGADOS DA CONFEDERAÇÃO ITALIANA SINDICAL DOS TRABALHADORES (CISL)

[…] O capitalismo do nosso tempo não abrange o valor do sindicato porque se
esqueceu da natureza social da economia, da empresa. Este é um dos maiores
pecados. Economia de mercado: não. Digamos economia social de mercado, como

nos ensinou São João Paulo II: economia social de mercado. A economia esqueceu-
se da natureza social que tem como vocação a natureza social da empresa, da vida,

dos vínculos e dos pactos. Mas talvez a nossa sociedade não compreenda o
sindicato até porque não o vê lutar o suficiente nos lugares dos “direitos do ainda
não”: nas periferias existenciais, no meio dos descartados do trabalho. Pensemos
nos 40% dos jovens com menos de 25 anos, que não têm trabalho. Aqui na Itália.
Deveis lutar contra isto! São periferias existenciais. Não o vê lutar no meio dos
imigrados, dos pobres, que estão sob os muros da cidade; ou então não o
compreende simplesmente porque às vezes — mas acontece em todas as famílias
— a corrupção entra no coração de alguns sindicalistas. Não vos deixeis bloquear
por isto. Sei que já há algum tempo vos esforçais nas direções certas,
especialmente com os migrantes, os jovens e as mulheres. E isto que digo poderia
parecer superado, mas no mundo do trabalho a mulher ainda é considerada de
segunda classe. Poderíeis dizer: “Não, mas há uma empresária, aquela outra…”.
Sim, mas a mulher ganha menos, é mais facilmente explorada… Fazei alguma
coisa. Encorajo-vos a continuar e, se possível, a fazer mais. Habitar as periferias
pode tornar-se uma estratégia de ação, uma prioridade do sindicato de hoje e de
amanhã. Não existe uma boa sociedade sem um bom sindicato, e não existe um
sindicato bom que não renasça todos os dias nas periferias, que não transforme as
pedras descartadas da economia em pedras angulares. Sindicato é uma linda
palavra que provém do grego “dike”, que significa justiça, e “syn”, juntos: syn-dike,
“justiça juntos”. Não há justiça juntos se não for junto com os excluídos de hoje.
[…]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NA 90a ASSEMBLEIA PLENÁRIA DA REUNIÃO DAS OBRAS DE AJUDA ÀS IGREJAS ORIENTAIS (ROACO)

[…] las Igrejas Orientais foram frequentemente investidas por terríveis ondas de
perseguição e de aflição, tanto no Leste europeu como no Médio Oriente. Fortes
emigrações debilitaram a sua presença nos territórios onde há séculos tinham
florescido. Agora, graças a Deus, algumas delas reconquistaram a liberdade depois
do doloroso período dos regimes totalitários, mas outras, especialmente na Síria,
no Iraque e no Egito, veem os seus filhos sofrer por causa da persistência da
guerra e das violências insensatas, perpetradas pelo terrorismo fundamentalista.
[…]
E não podemos esquecer que no Oriente, até aos dias de hoje, os cristãos —
independentemente se são católicos, ortodoxos ou protestantes — continuam a
derramar o seu sangue como selo do seu testemunho. Quando são obrigados a
emigrar, que os fiéis orientais possam ser recebidos nos lugares onde chegam, e
possam continuar a viver segundo a tradição eclesial que lhes é própria. […]

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PAPA FRANCISCO ANGELUS

Depois do Angelus
Queridos irmãos e irmãs!
Celebra-se depois de amanhã o Dia Mundial do Refugiado proclamado pelas Nações
Unidas. O tema deste ano é «Com os refugiados. Hoje como nunca devemos estar
do lado dos refugiados». É este o tema. A atenção concreta deve ser para as
mulheres, homens, crianças em fuga de conflitos, violências e perseguições.
Recordamos também na oração quantos deles perderam a vida no mar ou em
extenuantes viagens por terra. As suas histórias de dor e de esperança podem
tornar-se oportunidades de encontro fraterno e de verdadeiro conhecimento
recíproco. Com efeito, o encontro pessoal com os refugiados dissipa medos e
ideologias deturpadas, e torna-se fator de crescimento em humanidade, capaz de
dar espaço a sentimentos de abertura e à construção de pontes.
Expresso a minha proximidade ao amado povo português devido ao incêndio
devastador que atingiu os bosques em volta de Pedrógão Grande causando
numerosas vítimas e feridos. Rezemos em silêncio.[…]

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MENSAGEM DO SANTO PADRE FRANCISCO PARA O I DIA MUNDIAL DOS POBRES XXXIII DOMINGO DO TEMPO COMUM (19 DE NOVEMBRO DE 2017) «Não amemos com palavras, mas com obras»

[…] 5. Conhecemos a grande dificuldade que há, no mundo contemporâneo, de
poder identificar claramente a pobreza. E todavia esta interpela-nos todos os dias
com os seus inúmeros rostos marcados pelo sofrimento, pela marginalização, pela
opressão, pela violência, pelas torturas e a prisão, pela guerra, pela privação da
liberdade e da dignidade, pela ignorância e pelo analfabetismo, pela emergência
sanitária e pela falta de trabalho, pelo tráfico de pessoas e pela escravidão, pelo
exílio e a miséria, pela migração forçada. A pobreza tem o rosto de mulheres,
homens e crianças explorados para vis interesses, espezinhados pelas lógicas
perversas do poder e do dinheiro. Como é impiedoso e nunca completo o elenco
que se é constrangido a elaborar à vista da pobreza, fruto da injustiça social, da
miséria moral, da avidez de poucos e da indiferença generalizada! […]

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VISITA OFICIAL AO PRESIDENTE DA REPÚBLICA ITALIANA SUA EXCELÊNCIA O SENHOR SERGIO MATTARELLA DISCURSO DO PAPA FRANCISCO

[…] Todavia, vivemos um tempo em que a Itália e o conjunto da Europa são
chamados a confrontar-se com problemas e riscos de vários tipos, como o
terrorismo internacional, que encontra alimento no fundamentalismo; o fenómeno
migratório, exacerbado pelas guerras e pelos graves e persistentes desequilíbrios
sociais e económicos de muitas regiões do mundo; e a dificuldade que as jovens
gerações têm de aceder a um trabalho estável e digno, o que contribui para
aumentar a desconfiança no futuro e não favorece o nascimento de novas famílias e
de filhos.[…]
O modo como o Estado e o povo italiano enfrentam a crise migratória, juntamente
com o esforço envidado para assistir devidamente as populações atingidas pelo
sismo, são expressão de sentimentos e de atitudes que encontram a sua fonte
genuína na fé cristã, que plasmou o caráter dos italianos e que nos momentos
dramáticos resplandece com maior intensidade.
No que se refere ao vasto e complexo fenómeno migratório, é claro que poucas
Nações não podem assumir inteiramente esta responsabilidade, garantindo uma
integração ordenada dos recém-chegados no próprio tecido social. Por este motivo,
é indispensável e urgente que se desenvolva uma ampla e incisiva cooperação
internacional. […]

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MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO À PRESIDENTE DO PARLAMENTO LATINO-AMERICANO E CARIBENHO (PARLATINO) POR OCASIÃO DA XXXIII ASSEMBLEIA PLENÁRIA SOBRE MIGRAÇÕES

[…] Por detrás de cada migrante há um ser humano com a sua história, com uma
cultura e ideais. Uma análise asséptica produz medidas esterilizadas; ao contrário,
a relação com a pessoa em carne e osso ajuda-nos a apercebermo-nos das
profundas cicatrizes que traz consigo, causadas contudo e apesar de tudo pela sua
migração. Este encontro ajudará a dar respostas concretas a favor dos emigrantes
e dos países de acolhimento, e ao mesmo tempo contribuirá para fazer com que os
acordos e as medidos de segurança sejam examinadas a partir da experiência
direta, observando se coincidem ou não com a realidade. Como membros de uma
grande família, devemos trabalhar para pôr no centro «a pessoa» (cf. Discurso ao
Corpo Diplomático acreditado junto da Santa Sé, 9 de janeiro de 2017); ela não é
um mero número nem sequer uma entidade abstrata, mas um irmão ou uma irmã
que precisa de sentir a nossa ajuda e de uma mão amiga.
Neste trabalho é indispensável o diálogo. Não se pode trabalhar de maneira isolada;
todos precisamos uns dos outros. Devemos ser «capazes de passar de uma cultura
do descarte para uma cultura do encontro e do acolhimento» (Mensagem para o
Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, 2014). É necessária a colaboração
conjunta para elaborar estratégias eficientes e equitativas no acolhimento dos
refugiados. Obter um consenso entre as partes é um trabalho «artesanal»,
minucioso, quase impercetível, mas essencial para dar gradualmente forma aos
acordos e às normas. Devem-se oferecer todos os elementos aos governos locais,
assim como à Comunidade internacional, a fim de elaborar os melhores acordos
para o bem de muitos, sobretudo de quantos sofrem nas zonas mais vulneráveis do
nosso planeta, assim como nalgumas áreas da América Latina e do Caribe. O
diálogo é fundamental para promover a solidariedade com quantos foram privados
dos direitos fundamentais, bem como para incrementar a disponibilidade para
acolher quantos fogem de situações dramáticas ou desumanas. […]
O trabalho é grande e são necessários homens e mulheres de boa vontade que,
com o seu compromisso concreto, respondam a este «grito», que se eleva do
coração do migrante. Não podemos fechar os nossos ouvidos ao seu apelo. Exorto
os Governos nacionais a assumir as próprias responsabilidades em relação a
quantos residem no seu território; e renovo o compromisso da Igreja católica,
através da presença das Igrejas locais e regionais, a responder a esta ferida que
tantos irmãos e irmãs nossos trazem consigo. […]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NO ENCONTRO PROMOVIDO PELA FEDERAÇÃO EUROPEIA DAS ASSOCIAÇÕES FAMILIARES CATÓLICAS (FAFCE)

[…] Neste momento a Europa atravessa principalmente quatro crises: da
demografia — “o inverno demográfico” — da migração, do trabalho e da educação.
Estas crises poderiam achar horizontes positivos exatamente na cultura do
encontro, onde diferentes agentes sociais, económicos e políticos se unem para
definir políticas a favor da família. Neste quatro campos já vos esforçais em vista de
propor respostas à medida da família, vendo nela um recurso e uma aliada para a
pessoa e para o seu ambiente. Neste sentido, a vossa tarefa consistirá muitas
vezes em suscitar um diálogo construtivo com os vários protagonistas do cenário

social, sem esconder a vossa identidade cristã; ao contrário, esta identidade levar-
vos-á a ver sempre além da aparência e do instante. Como justamente

evidenciastes, a cultura do instante exige uma educação para o amanhã. […]
Amadas famílias, recebestes muito dos vossos antepassados. Eles constituem a
memória permanente que nos deve impelir a recorrer à sabedoria do coração e não
apenas à técnica na criação de iniciativas sobre a família e em prol da família. Eles
são a memória, e as jovens gerações são a responsabilidade que está diante de
vós. Com esta sabedoria, por exemplo, o vosso serviço à sacralidade da vida
concretiza-se na aliança entre as gerações; realiza-se no serviço a todos, de
maneira especial aos mais necessitados, às pessoas portadoras de deficiência e aos
órfãos; realiza-se na solidariedade para com os migrantes; concretiza-se na arte
paciente de educar, que considera cada jovem um sujeito digno de todo o amor
familiar; realiza-se no direito à vida do nascituro que ainda não tem voz; e
concretiza-se em condições de vida dignas para os idosos. […]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS MEMBROS DA AÇÃO CATÓLICA ITALIANA

[…] A vossa pertença à diocese e à paróquia permaneça encarnada nas ruas das
cidades, dos bairros e dos povoados. Como aconteceu ao longo destes cento e
cinquenta anos, experimentai com força em vós a responsabilidade de lançar a boa
semente do Evangelho na vida do mundo, através do serviço da caridade, do
compromisso político — empenhai-vos na política, mas por favor na grande política,
na Política com p maiúsculo! — inclusive através da paixão pela educação e pela
participação no intercâmbio cultural. Ampliai o vosso coração para alargar o
coração das vossas paróquias. Sede caminheiros da fé, para encontrar todos,
receber todos, ouvir todos, abraçar todos. Cada existência é uma vida amada pelo
Senhor; cada rosto nos mostra a Face de Cristo, especialmente o do pobre, de
quem se sente ferido pela vida e do abandonado, de quantos escapam da morte e
procuram abrigo nas nossas casas, nas nossas cidades. «Ninguém pode sentir-se
exonerado da preocupação pelos pobres e pela justiça social» (ibid., 201).
Permanecei abertos à realidade que vos circunda. Procurai sem temor o diálogo
com quantos vivem ao vosso lado, inclusive com aqueles que pensam de outra
forma mas, como vós, também aspiram à paz, à justiça e à fraternidade. É no
diálogo que se pode projetar um futuro compartilhado. É através do diálogo que
construímos a paz, cuidando de cada um e dialogando com todos.
[…]

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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO EGITO (28-29 DE ABRIL DE 2017) ENCONTRO COM AS AUTORIDADES DISCURSO DO SANTO PADRE

[…] Esta hospitalidade, generosamente oferecida há mais de dois mil anos,
permanece na memória coletiva da humanidade, sendo fonte de bênçãos
abundantes que continuam a derramar-se. Assim o Egito é uma terra que, de certo
modo, todos nós sentimos como nossa! E, como dizeis, «misr um al dugna (o Egisto
é a mãe do universo)». Também hoje encontram aqui hospitalidade milhões de
refugiados provenientes de vários países, entre os quais se conta o Sudão, a
Eritreia, a Síria e o Iraque; refugiados esses, aos quais se procura, com um
louvável esforço, integrar na sociedade egípcia. […]

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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO EGITO (28-29 DE ABRIL DE 2017) DISCURSO DO SANTO PADRE AOS PARTICIPANTES NA CONFERÊNCIA INTERNACIONAL EM PROL DA PAZ

[…] Educar para a abertura respeitosa e o diálogo sincero com o outro,
reconhecendo os seus direitos e liberdades fundamentais, especialmente a
religiosa, constitui o melhor caminho para construir juntos o futuro, para ser
construtores de civilização. Porque a única alternativa à civilização do encontro é a
incivilidade do conflito; não há outra. E, para contrastar verdadeiramente a
barbárie de quem sopra sobre o ódio e incita à violência, é preciso acompanhar e
fazer amadurecer gerações que, à lógica incendiária do mal, respondam com o
crescimento paciente do bem: jovens que, como árvores bem plantadas, estejam
enraizadas no terreno da história e, crescendo para o Alto e junto dos outros,
transformem dia-a-dia o ar poluído do ódio no oxigénio da fraternidade. […]