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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS MEMBROS DA COMISSÃO PARLAMENTAR ANTIMÁFIA

[…] O segundo nível de compromisso é económico, através da correção ou
eliminação dos mecanismos que geram desigualdade e pobreza em toda parte. Hoje
não podemos falar de luta contra as máfias sem mencionar o enorme problema do
setor financeiro, já soberano sobre as regras democráticas, graças ao qual as
realidades criminosas investem e multiplicam os enormes lucros obtidos com os
seus tráficos: droga, armas, pessoas, eliminação de resíduos tóxicos,
condicionamentos das adjudicações para as grandes obras, jogos de azar, extorsão.
Este nível duplo, político e económico, pressupõe outro, também essencial, que é a
construção de uma nova consciência civil, a única que pode levar a uma libertação
verdadeira das máfias. É útil deveras educar e educar-se na vigilância constante
sobre si mesmo e sobre o contexto no qual se vive, aumentando uma percepção
imediata dos fenómenos de corrupção e trabalhando por um modo novo de ser
cidadão, que abranja o cuidado e a responsabilidade pelos outros e pelo bem
comum.
[…]

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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO À COLÔMBIA (6-11 DE SETEMBRO DE 2017) PAPA FRANCISCO ANGELUS

Queridos irmãos e irmãs!
[…]Maria de Chiquinquirá e Pedro Claver convidam-nos a trabalhar pela dignidade
de todos os nossos irmãos, especialmente os pobres e descartados da sociedade,
aqueles que estão abandonados, os emigrantes, as vítimas da violência e do tráfico
humano. Todos eles têm a sua dignidade, e são imagem viva de Deus. Todos fomos
criados à imagem e semelhança de Deus, e a todos nos sustenta a Virgem nos seus
braços como filhos amados. […]

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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO À COLÔMBIA (6-11 DE SETEMBRO DE 2017) SANTA MISSA HOMILIA DO SANTO PADRE

[…] No Evangelho, Jesus prevê também a possibilidade de o outro se fechar, se
negar a mudar, persistir no seu mal. Não podemos negar que há pessoas que
persistem em pecados que ferem a convivência e a comunidade: «Penso no drama
dilacerante da droga com a qual se lucra desafiando leis morais e civis» (Francisco,
Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2014, 8). Este mal ameaça diretamente a
dignidade da pessoa humana e, gradualmente, rompe a imagem que o Criador
moldou em nós. Condeno firmemente esta praga que apagou tantas vidas e que é
mantida e sustentada por pessoas sem escrúpulos. Não se pode jogar com a vida
do nosso irmão, nem manipular a sua dignidade. Lanço um apelo para que se
procurem as formas de pôr fim ao narcotráfico, que para nada mais serve senão
para semear morte por todo o lado, destroçando tantas esperanças e destruindo
tantas famílias. Penso também noutro drama: «na devastação dos recursos
naturais e na poluição em curso, na tragédia da exploração do trabalho; penso nos
tráficos ilícitos de dinheiro como também na especulação financeira que, muitas
vezes, assume carateres predadores e nocivos para inteiros sistemas económicos e
sociais, lançando na pobreza milhões de homens e mulheres; penso na prostituição

que diariamente ceifa vítimas inocentes, sobretudo entre os mais jovens, roubando-
lhes o futuro; penso no abomínio do tráfico de seres humanos, nos crimes e abusos

contra menores, na escravidão que ainda espalha o seu horror em muitas partes do
mundo, na tragédia frequentemente ignorada dos emigrantes sobre quem se
especula indignamente na ilegalidade» (Ibidem, 8); e especula-se até com uma
«assética legalidade» pacifista que não tem em conta a carne do irmão, que é a
carne de Cristo. Também para isto devemos estar preparados e solidamente
fundados em princípios de justiça que, em nada, diminuem a caridade. Não é
possível conviver em paz, sem fazer nada contra aquilo que corrompe a vida e
atenta contra ela. A propósito, lembramos todos aqueles que, ousada e
incansavelmente, trabalharam e até perderam a vida em defesa e proteção dos
direitos da pessoa humna e da sua dignidade. Como a eles, a história pede-nos
para assumirmos um compromisso definitivo na defesa dos direitos humanos, aqui
em Cartagena das Índias, lugar que escolhestes como sede nacional da defesa
deles.[…]

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PAPA FRANCISCO AUDIÊNCIA GERAL

[…] Procurai meditar sobre este trecho da Sagrada Escritura, não de maneira
abstrata, mas depois de ter lido uma crónica dos nossos dias, depois de ter visto o
telejornal ou a primeira página dos jornais, onde há muitas tragédias, onde se
anunciam notícias tristes às quais todos nós corremos o risco de nos habituarmos.
Saudei algumas pessoas de Barcelona: quantas notícias tristes vêm dali! Saudei
algumas pessoas do Congo, e quantas notícias tristes chegam de lá! E muitas
outras! Para mencionar apenas dois países, de vós que estais aqui… Procurai
pensar no rosto das crianças apavoradas pela guerra, no pranto das mães, nos
sonhos interrompidos de tantos jovens, nos refugiados que enfrentam viagens
terríveis e muitas vezes são explorados… Infelizmente, a vida é também isto. Por
vezes diríamos que é sobretudo isto.
alvez. Mas há um Pai que chora connosco; existe um Pai que verte lágrimas de
piedade infinita pelos seus filhos. Temos um Pai que sabe chorar, que chora
connosco. Um Pai que nos espera para nos consolar, porque conhece os nossos
sofrimentos e preparou para nós um futuro diverso. Esta é a grandiosa visão da
esperança cristã, que se dilata ao longo de todos os dias da nossa existência e
deseja consolar-nos. […]

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MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA O DIA MUNDIAL DO MIGRANTE E DO REFUGIADO 2018 [14 de janeiro de 2018] “Acolher, proteger, promover e integrar os migrantes e os refugiados”

Queridos irmãos e irmãs!
«O estrangeiro que reside convosco será tratado como um dos vossos compatriotas
e amá-lo-ás como a ti mesmo, porque foste estrangeiro na terra do Egito. Eu sou o
Senhor, vosso Deus» (Lv 19, 34).
Repetidas vezes, durante estes meus primeiros anos de pontificado, expressei
especial preocupação pela triste situação de tantos migrantes e refugiados que

fogem das guerras, das perseguições, dos desastres naturais e da pobreza. Trata-
se, sem dúvida, dum «sinal dos tempos» que, desde a minha visita a Lampedusa

em 8 de julho de 2013, tenho procurado ler sob a luz do Espírito Santo. Quando
instituí o novo Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, quis
que houvesse nele uma Secção especial (colocada temporariamente sob a minha
guia direta) que expressasse a solicitude da Igreja para com os migrantes, os
desalojados, os refugiados e as vítimas de tráfico humano.
Cada forasteiro que bate à nossa porta é ocasião de encontro com Jesus Cristo, que
Se identifica com o forasteiro acolhido ou rejeitado de cada época (cf. Mt 25,
35.43). O Senhor confia ao amor materno da Igreja cada ser humano forçado a

deixar a sua pátria à procura dum futuro melhor.[1] Esta solicitude deve expressar-
se, de maneira concreta, nas várias etapas da experiência migratória: desde a

partida e a travessia até à chegada e ao regresso. Trata-se de uma grande
responsabilidade que a Igreja deseja partilhar com todos os crentes e os homens e
mulheres de boa vontade, que são chamados a dar resposta aos numerosos
desafios colocados pelas migrações contemporâneas com generosidade, prontidão,
sabedoria e clarividência, cada qual segundo as suas possibilidades.
A este respeito, desejo reafirmar que «a nossa resposta comum poderia articular-se
à volta de quatro verbos fundados sobre os princípios da doutrina da Igreja:
acolher, proteger, promover e integrar».[2]
Considerando o cenário atual, acolher significa, antes de tudo, oferecer a migrantes
e refugiados possibilidades mais amplas de entrada segura e legal nos países de
destino. Neste sentido, é desejável um empenho concreto para se incrementar e
simplificar a concessão de vistos humanitários e para a reunificação familiar. Ao
mesmo tempo, espero que um número maior de países adote programas de
patrocínio privado e comunitário e abra corredores humanitários para os refugiados
mais vulneráveis. Além disso seria conveniente prever vistos temporários especiais
para as pessoas que, escapando dos conflitos, se refugiam nos países vizinhos. As
expulsões coletivas e arbitrárias de migrantes e refugiados não constituem uma
solução idónea, sobretudo quando são feitas para países que não podem garantir o
respeito da dignidade e dos direitos fundamentais.[3] Volto a sublinhar a
importância de oferecer a migrantes e refugiados um primeiro alojamento
adequado e decente. «Os programas de acolhimento difundido, já iniciados em

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várias partes, parecem facilitar o encontro pessoal, permitir uma melhor qualidade
dos serviços e oferecer maiores garantias de bom êxito».[4] O princípio da
centralidade da pessoa humana, sustentado com firmeza pelo meu amado
predecessor Bento XVI,[5]obriga-nos a antepor sempre a segurança pessoal à
nacional. Em consequência, é necessário formar adequadamente o pessoal
responsável pelos controlos de fronteira. A condição de migrantes, requerentes de
asilo e refugiados exige que lhes sejam garantidos a segurança pessoal e o acesso
aos serviços básicos. Em nome da dignidade fundamental de cada pessoa,
esforcemo-nos por preferir outras alternativas à detenção para quantos entrem no
território nacional sem estar autorizados.[6]
O segundo verbo, proteger, conjuga-se numa ampla série de ações em defesa dos
direitos e da dignidade dos migrantes e refugiados, independentemente da sua
situação migratória.[7] Esta proteção começa na própria pátria, consistindo na
oferta de informações certas e verificadas antes da partida e na sua salvaguarda
das práticas de recrutamento ilegal.[8] Tal proteção deveria continuar, na medida
do possível, na terra de imigração, assegurando aos migrantes uma assistência
consular adequada, o direito de manter sempre consigo os documentos de
identidade pessoal, um acesso equitativo à justiça, a possibilidade de abrir contas
bancárias pessoais e a garantia duma subsistência vital mínima. Se as capacidades
e competências dos migrantes, requerentes de asilo e refugiados forem

devidamente reconhecidas e valorizadas, constituem verdadeiramente uma mais-
valia para as comunidades que os recebem.[9] Por isso, espero que, no respeito da

sua dignidade, lhes seja concedida a liberdade de movimento no país de
acolhimento, a possibilidade de trabalhar e o acesso aos meios de telecomunicação.
Para as pessoas que decidam regressar ao seu país, sublinho a conveniência de
desenvolver programas de reintegração laboral e social. A Convenção Internacional
sobre os Direitos da Criança oferece uma base jurídica universal para a proteção
dos menores migrantes. É necessário evitar-lhes qualquer forma de detenção por
motivo da sua situação migratória, ao mesmo tempo que lhes deve ser assegurado
o acesso regular à instrução primária e secundária. Da mesma forma, é preciso
garantir-lhes a permanência regular ao chegarem à maioridade e a possibilidade de
continuarem os seus estudos. Para os menores não acompanhados ou separados da
sua família, é importante prever programas de custódia temporária ou
acolhimento.[10] No respeito pelo direito universal a uma nacionalidade, esta deve
ser reconhecida e devidamente certificada a todos os meninos e meninas no
momento do seu nascimento. A situação de apátrida, em que às vezes acabam por
se encontrar migrantes e refugiados, pode ser facilmente evitada através duma
«legislação sobre a cidadania que esteja em conformidade com os princípios
fundamentais do direito internacional».[11] A situação migratória não deveria
limitar o acesso aos sistemas de assistência sanitária nacional e de previdência
social, nem à transferência das respetivas contribuições em caso de repatriamento.
Promover significa, essencialmente, empenhar-se por que todos os migrantes e
refugiados, bem como as comunidades que os acolhem, tenham condições para se
realizar como pessoas em todas as dimensões que compõem a humanidade querida
pelo Criador.[12] Dentre tais dimensões, seja reconhecido o justo valor à dimensão
religiosa, garantindo a todos os estrangeiros presentes no território a liberdade de
profissão e prática da religião. Muitos migrantes e refugiados possuem
competências que devem ser devidamente certificadas e avaliadas. Visto «o

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trabalho humano, pela sua natureza, estar destinado a unir os povos»,[13]encorajo
a que se faça tudo o possível para se promover a integração socio-laboral dos
migrantes e refugiados, garantindo a todos – incluindo os requerentes de asilo – a
possibilidade de trabalhar, percursos de formação linguística e de cidadania ativa e
uma informação adequada nas suas línguas originais. No caso de menores
migrantes, o seu envolvimento em atividades laborais precisa de ser regulamentado
de modo a que se evitem abusos e ameaças ao seu crescimento normal. Em 2006,
Bento XVI sublinhava como a família, no contexto migratório, é «lugar e recurso da
cultura da vida e fator de integração de valores».[14] A sua integridade deve ser
sempre promovida, favorecendo a reunificação familiar – incluindo avós, irmãos e
netos – sem nunca o fazer depender de requisitos económicos. No caso de
migrantes, requerentes de asilo e refugiados portadores de deficiência, deve ser
assegurada maior atenção e apoio. Embora considerando dignos de louvor os
esforços feitos até agora por muitos países em termos de cooperação internacional
e assistência humanitária, espero que, na distribuição das respetivas ajudas, se
considerem as necessidades (como, por exemplo, de assistência médica e social e
de educação) dos países em vias de desenvolvimento que acolhem fluxos enormes
de refugiados e migrantes e de igual modo se incluam, entre os beneficiários, as
comunidades locais em situação de privação material e vulnerabilidade.[15]
O último verbo, integrar, situa-se no plano das oportunidades de enriquecimento
intercultural geradas pela presença de migrantes e refugiados. A integração não é
«uma assimilação, que leva a suprimir ou a esquecer a própria identidade cultural.
O contacto com o outro leva sobretudo a descobrir o seu “segredo”, a abrir-se para
ele, a fim de acolher os seus aspetos válidos e contribuir assim para um maior
conhecimento de cada um. Trata-se de um processo prolongado que tem em vista
formar sociedades e culturas, tornando-as cada vez mais um reflexo das dádivas
multiformes de Deus aos homens».[16] Este processo pode ser acelerado pela
oferta de cidadania, independentemente de requisitos económicos e linguísticos, e
por percursos de regularização extraordinária para migrantes que possuam uma
longa permanência no país. Insisto mais uma vez na necessidade de favorecer em
todos os sentidos a cultura do encontro, multiplicando as oportunidades de
intercâmbio cultural, documentando e difundindo as «boas práticas» de integração
e desenvolvendo programas tendentes a preparar as comunidades locais para os
processos de integração. Tenho a peito sublinhar o caso especial dos estrangeiros
forçados a deixar o país de imigração por causa de crises humanitárias. Estas
pessoas necessitam que lhes seja assegurada uma assistência adequada para o
repatriamento e programas de reintegração laboral na sua pátria.
De acordo com a sua tradição pastoral, a Igreja está disponível para se
comprometer, em primeira pessoa, na realização de todas as iniciativas propostas
acima, mas, para se obter os resultados esperados, é indispensável a contribuição
da comunidade política e da sociedade civil, cada qual segundo as próprias
responsabilidades.
Durante a Cimeira das Nações Unidas, realizada em Nova Iorque em 19 de
setembro de 2016, os líderes mundiais expressaram claramente a vontade de se
empenhar a favor dos migrantes e refugiados para salvar as suas vidas e proteger
os seus direitos, compartilhando tal responsabilidade a nível global. Com este
objetivo, os Estados comprometeram-se a redigir e aprovar até ao final de 2018

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dois acordos globais (Global Compacts), um dedicado aos refugiados e outro
referente aos migrantes.
Queridos irmãos e irmãs, à luz destes processos já iniciados, os próximos meses
constituem uma oportunidade privilegiada para apresentar e apoiar as ações
concretas nas quais quis conjugar os quatro verbos. Por isso, convido-vos a
aproveitar as várias ocasiões possíveis para partilhar esta mensagem com todos os
atores políticos e sociais envolvidos – ou interessados em participar – no processo
que levará à aprovação dos dois acordos globais.
Neste dia 15 de agosto, celebramos a solenidade da Assunção de Maria Santíssima
ao Céu. A Mãe de Deus experimentou pessoalmente a dureza do exílio (cf. Mt 2,
13-15), acompanhou amorosamente o caminho do Filho até ao Calvário e agora
partilha eternamente da sua glória. À sua materna intercessão confiamos as
esperanças de todos os migrantes e refugiados do mundo e as aspirações das
comunidades que os acolhem, para que todos, no cumprimento do supremo
mandamento divino, aprendamos a amar o outro, o estrangeiro, como a nós
mesmos.

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PAPA FRANCISCO ANGELUS

Depois do Angelus
Queridos irmãos e irmãs!
Celebra-se hoje o Dia mundial contra o tráfico de pessoas, promovida pelas Nações
Unidas. Todos os anos milhares de homens, mulheres e crianças são vítimas
inocentes da exploração laboral e sexual e do tráfico de órgãos, e parece que nos
habituámos de tal maneira que a consideramos normal. Isto é mau, é cruel, é
criminoso! Desejo chamar todos a comprometer-se para que esta chaga aberrante,
esta forma de escravidão moderna, seja adequadamente contrastada. Rezemos
juntos à Virgem Maria para que ampare as vítimas do tráfico e converta os corações
dos traficantes. Oremos juntos a Nossa Senhora: Ave Maria…
Saúdo agora todos os peregrinos provenientes da Itália e de diversos países, em
particular as Irmãs Murialdinas de São José, as Noviças das Irmãs de Maria
Auxiliadora, os Ministrantes de diversas paróquias italianas e o clube italiano de
Hóquei Feminino de Buenos Aires.
A todos desejo bom domingo e, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim.
Bom almoço e até à vista![…]

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MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NA 40a CONFERÊNCIA GERAL DA ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA A ALIMENTAÇÃO E A AGRICULTURA (FAO)

[…] 2. Um olhar sobre a situação do mundo não oferece imagens confortadoras. No
entanto, não podemos simplesmente preocupar-nos e, talvez, resignar-nos. Este
momento de evidente dificuldade deve tornar-nos ainda mais conscientes de que a
fome e a subalimentação não são apenas fenómenos naturais ou estruturais de
determinadas áreas geográficas, mas constituem sobretudo o resultado de uma
condição complexa de subdesenvolvimento, causada pela inércia de muitos e pelo
egoísmo de poucos. As guerras, o terrorismo, os deslocamentos forçados de
pessoas que impedem cada vez mais, ou pelo menos condicionam fortemente as
próprias atividades de cooperação, não são fatalidades mas, ao contrário, o
resultado de escolhas específicas.
Trata-se de um mecanismo complicado que atinge acima de tudo as categorias
mais vulneráveis, não só excluídas dos processos de produção, mas muitas vezes
obrigadas a deixar as suas terras em busca de proteção e de expetativa de vida.
Assim como são determinados por decisões tomadas em plena liberdade e
consciência, os dados relativos às ajudas aos países pobres, que parecem cada vez
mais reduzidos, não obstante os apelos que se sucedem diante de situações de
crise sempre mais destruidoras, que se manifestam em várias regiões do planeta
[…]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS MEMBROS DA ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL ÍTALO-LATINO AMERICANA (ILLA)

[…] Se o primeiro ponto era identificar as potencialidades, o segundo é coordenar
os esforços para dar respostas concretas e enfrentar as exigências e as
necessidades dos filhos e das filhas dos nossos países. Coordenar não significa
deixar fazer aos outros e por fim aprovar; ao contrário, requer muito tempo e
muito esforço; é um trabalho escondido e pouco apreciado, mas necessário. Diante
de um mundo globalizado e sempre mais complexo, a América Latina deve unir os
esforços para fazer face ao fenómeno da emigração; e a maioria das suas causas
poderia ter sido enfrentada já há muito tempo, mas nunca é demasiado tarde (cf.
Discurso ao Corpo Diplomático junto da Santa Sé, 11 de janeiro de 2016). A
emigração sempre existiu, contudo nos últimos anos aumentou de uma maneira
sem precedentes. O nosso povo, impelido pela necessidade, vai em busca de
«novos oásis», onde poder encontrar maior estabilidade e um trabalho que garanta
mais dignidade à vida. Mas nesta busca, muitas pessoas sofrem a violação dos
próprios direitos; muitas crianças e jovens são vítimas do tráfico e são explorados,
ou caem na rede da criminalidade e da violência organizada. A emigração é um

drama de divisão: dividem-se as famílias, os filhos separam-se dos pais, afastam-
se da terra de origem, e os próprios governos e países dividem-se diante desta

realidade. É necessária uma política conjunta de cooperação para enfrentar este
fenómeno. Não se trata de procurar culpados e de se eximir das próprias
responsabilidades, mas todos são chamados a trabalhar de maneira coordenada e
conjunta. […]

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CARTA DO PAPA FRANCISCO À CHANCELER DA REPÚBLICA FEDERAL DA ALEMANHA ANGELA MERKEL POR OCASIÃO DO ENCONTRO DO G20 EM HAMBURGO

[…] Em primeiro lugar, gostaria de lhe manifestar, bem como aos líderes que se
encontrarão em Hamburgo, o meu apreço pelos esforços envidados para assegurar
a governabilidade e a estabilidade da economia mundial, com especial atenção aos
mercados financeiros, ao comércio, aos problemas fiscais e, de modo mais geral, a
um crescimento da economia mundial que seja inclusivo e sustentável (cf.
Comunicado do G20 de Hangzhou, 5 de setembro de 2016). Tais esforços, como
justamente prevê o programa de trabalho do Encontro, são inseparáveis da atenção
prestada aos conflitos atuais e ao problema mundial das migrações. […]
O tempo é superior ao espaço. A gravidade, a complexidade e a interconexão das
problemáticas mundiais são tais que não existem soluções imediatas e totalmente
satisfatórias. É de lamentar que o drama das migrações, inseparável da pobreza e
exacerbado pelas guerras, disto constituía uma prova. Ao contrário, é possível pôr
em ação processos que sejam capazes de oferecer soluções progressivas e não
traumáticas e, em tempos relativamente breves, orientar para uma livre circulação
e para a estabilidade das pessoas, que sejam vantajosas para todos. No entanto,
esta tensão entre espaço e tempo, entre limite e plenitude, exige um movimento
exatamente oposto na consciência dos governantes e dos poderosos. Uma solução
eficaz, necessariamente prolongada no tempo, só será possível se o objetivo final
do processo estiver claramente presente no seu projeto. Nos corações e nas
mentes dos governantes e em cada uma das fases de atuação das medidas
políticas, é necessário dar prioridade absoluta aos pobres, aos refugiados, aos
sofredores, aos deslocados e aos excluídos, sem distinção de nação, raça, religião
ou cultura, e rejeitar os conflitos armados. […]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS DELEGADOS DA CONFEDERAÇÃO ITALIANA SINDICAL DOS TRABALHADORES (CISL)

[…] O capitalismo do nosso tempo não abrange o valor do sindicato porque se
esqueceu da natureza social da economia, da empresa. Este é um dos maiores
pecados. Economia de mercado: não. Digamos economia social de mercado, como

nos ensinou São João Paulo II: economia social de mercado. A economia esqueceu-
se da natureza social que tem como vocação a natureza social da empresa, da vida,

dos vínculos e dos pactos. Mas talvez a nossa sociedade não compreenda o
sindicato até porque não o vê lutar o suficiente nos lugares dos “direitos do ainda
não”: nas periferias existenciais, no meio dos descartados do trabalho. Pensemos
nos 40% dos jovens com menos de 25 anos, que não têm trabalho. Aqui na Itália.
Deveis lutar contra isto! São periferias existenciais. Não o vê lutar no meio dos
imigrados, dos pobres, que estão sob os muros da cidade; ou então não o
compreende simplesmente porque às vezes — mas acontece em todas as famílias
— a corrupção entra no coração de alguns sindicalistas. Não vos deixeis bloquear
por isto. Sei que já há algum tempo vos esforçais nas direções certas,
especialmente com os migrantes, os jovens e as mulheres. E isto que digo poderia
parecer superado, mas no mundo do trabalho a mulher ainda é considerada de
segunda classe. Poderíeis dizer: “Não, mas há uma empresária, aquela outra…”.
Sim, mas a mulher ganha menos, é mais facilmente explorada… Fazei alguma
coisa. Encorajo-vos a continuar e, se possível, a fazer mais. Habitar as periferias
pode tornar-se uma estratégia de ação, uma prioridade do sindicato de hoje e de
amanhã. Não existe uma boa sociedade sem um bom sindicato, e não existe um
sindicato bom que não renasça todos os dias nas periferias, que não transforme as
pedras descartadas da economia em pedras angulares. Sindicato é uma linda
palavra que provém do grego “dike”, que significa justiça, e “syn”, juntos: syn-dike,
“justiça juntos”. Não há justiça juntos se não for junto com os excluídos de hoje.
[…]