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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NA CONFERÊNCIA “(RE)THINKING EUROPE” PROMOVIDA PELA COMISSÃO DAS CONFERÊNCIAS EPISCOPAIS DA COMUNIDADE EUROPEIA (COMECE)

Eminências,
Excelências Distintas Autoridades
Senhoras e Senhores
[…] O primeiro, e talvez o maior, contributo que os cristãos podem dar à Europa de
hoje é recordar-lhe que ela não é uma recolha de números ou de instituições, mas
é constituída por pessoas. Infelizmente, observa-se com frequência que qualquer
debate se reduz facilmente a uma discussão sobre números. Não existem os
cidadãos mas os votos. Não existem os migrantes mas as quotas. Não existem os
trabalhadores, mas os indicadores económicos. Não existem os pobres, mas os
limiares de pobreza. Desta forma, o aspeto concreto da pessoa humana é reduzido
a um princípio abstrato, mais cómodo e tranquilizador. Compreende-se a razão: as
pessoas têm rostos, obrigam-nos a uma responsabilidade real, concreta, “pessoal”;
os números ocupam-nos com raciocínios, até úteis e importantes, mas
permanecerão sempre sem alma. Oferecem-nos o álibi para uma desvinculação,
porque nunca nos tocam na carne.dd […]
Âmbito inclusivo
Responsabilidade comum dos líderes é favorecer uma Europa que seja uma
comunidade inclusiva, livre de um mal-entendido de fundo: inclusão não é sinónimo
de nivelamento indiferenciado. Ao contrário, somos autenticamente inclusivos
quando sabemos valorizar as diferenças, assumindo-as como património comum e
enriquecedor. Nesta ótica, os migrantes são um recurso não um peso. Os cristãos
são chamados a meditar seriamente sobre a afirmação de Jesus: «Eu era
estrangeiro e acolhestes-me» (Mt 25, 35). Sobretudo perante o drama dos
migrantes e refugiados, não podemos esquecer que estamos diante de pessoas,
que não podem ser escolhidas ou descartadas a nosso bel-prazer, segundo lógicas

políticas, económicas ou até religiosas.

Todavia, isto não contrasta com o dever que cada autoridade de governo tem de
gerir a questão migratória «com a virtude própria do governante, isto é, a
prudência»,[3] que deve ter em consideração tanto a necessidade de manter um
coração aberto, como da possibilidade de integrar plenamente nos planos social,
económico e político aqueles que chegam ao país. Não se pode pensar que o
fenómeno migratório é um processo indiscriminado e sem regras, mas também não
se podem erguer muros de indiferença ou de medo. Por sua vez, os próprios
migrantes não devem descuidar o grave deve de conhecer, respeitar e até assimilar

a cultura e as tradições da nação que os recebe. […]

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VISITA DO PAPA FRANCISCO À SEDE DA FAO EM ROMA POR OCASIÃO DO DIA MUNDIAL DA ALIMENTAÇÃO

Senhor Diretor-Geral
Distintas Autoridades
Senhoras e Senhores!
[…] 1. A celebração deste Dia Mundial da Alimentação vê-nos aqui reunidos para
recordar o dia 16 de outubro de 1945 quando os Governos, decididos a eliminar a
fome mediante o desenvolvimento do setor agrícola, instituíram a FAO. Tratava-se
de um período de grave insegurança alimentar e de grandes deslocamentos de
população, com milhões de pessoas em busca de lugares onde poder sobreviver às
misérias e às adversidades causadas pela guerra.[…]
Como se podem superar os conflitos? O direito internacional indica-nos os meios
para os prevenir ou resolver rapidamente, evitando que se prolonguem e causem
carestias e a destruição do tecido social. Pensemos nas populações martirizadas por
guerras que já perduram há décadas e que podiam ser evitadas ou pelo menos
cessadas e, ao contrário, propagam os seus efeitos desastrosos, entre os quais a
insegurança alimentar e o deslocamento forçado de pessoas. São necessários boa
vontade e diálogo para impedir os conflitos, e é preciso comprometer-se
profundamente em prol de um desarmamento gradual e sistemático, previsto pela
Carta das Nações Unidas, assim como para remediar o funesto flagelo do tráfico de
armas. De que adiantará denunciar que, por causa dos conflitos, milhões de
pessoas são vítimas da fome e da subalimentação, se não trabalharmos
eficazmente em prol da paz e do desarmamento? […]
Permiti que eu aqui me refira ao debate sobre a vulnerabilidade que divide a nível
internacional quando se fala dos migrantes. Vulnerável é aquele que está em
condição de inferioridade e não se pode defender, não tem meios, isto é, vive uma
exclusão. E isto porque é obrigado pela violência, por situações naturais ou pior
ainda pela indiferença, pela intolerância e até pelo ódio. Face a esta condição é
justo identificar as causas para agir com a competência necessária. Mas não é
aceitável, que para evitar o compromisso, nos escondamos por detrás de sofismas
linguísticos que não honram a diplomacia mas reduzem-na, de “arte do possível” a
um exercício estéril para justificar egoísmos e inatividade. […]
4, Ouçamos o grito de tantos nossos irmãos marginalizados e excluídos: “Tenho
fome, sou forasteiro, estou nu, doente, fechado num campo de refugiados”. É um
pedido de justiça, não uma súplica nem um apelo de emergência. É necessário um
diálogo amplo e sincero a todos os níveis para que se encontrem as soluções
melhores e amadureça uma nova relação entre os diversos atores do cenário
internacional, feita de responsabilidade recíproca, de solidariedade e de comunhão.

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O jugo da miséria gerado pelos deslocamentos muitas vezes trágicos dos
migrantes, pode ser removido através de uma prevenção feita de projetos de
desenvolvimento que criem trabalho e capacidade de resposta às crises climáticas e
ambientais. A prevenção custa muito menos que os efeitos provocados pela
degradação dos terrenos e pela poluição das águas, efeitos que atingem as zonas
nevrálgicas do planeta onde a pobreza é a única lei, as doenças aumentam e a

esperança de vida diminui.

São muitas e louváveis as iniciativas implementadas. Mas não são suficientes; é
necessário e urgente continuar a ativar esforços e financiar programas para
contrastar de maneira ainda mais eficaz e promissora a fome e a miséria estrutural.
Mas se o objetivo é favorecer uma agricultura que produza as exigências efetivas
de um país, então não é lícito privar a população das terras cultiváveis, deixando
que o land grabbing (açambarcamento de terras) continue a obter os seus lucros,
às vezes até com a cumplicidade de quem é chamado a defender o interesse do
povo. É preciso afastar as tentações de agir em vantagem de grupos restritos da
população, assim como de utilizar os contributos externos de modo inadequado,

favorecendo a corrupção, ou na ausência de legalidade. […]

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CARTA DO PAPA FRANCISCO AOS BISPOS DA ÍNDIA PARA PROVIDENCIAR A CURA PASTORAL DOS FIÉIS SÍRIO-MALABARES

[…] 5. Há cinco décadas, quando a Igreja sírio-malabar se difundiu em alguns
territórios da Índia central e setentrional, mediante as «eparquias missionárias»,
era convicção geral dos Bispos latinos dispor de uma única jurisdição, ou seja, um
bispo num determinado território. Hoje estas eparquias desmembradas das
dioceses latinas têm uma jurisdição exclusiva sobre aqueles territórios, tanto sobre
os fiéis latinos como sobre os sírio-malabares. Todavia, graças à experiência destas
últimas décadas, que se desenvolveu quer nos territórios tradicionais das Igrejas
orientais, quer no vasto mundo da chamada diáspora, onde estes fiéis se
estabeleceram há tempos, a experiência de uma colaboração fecunda e harmoniosa
entre os bispos católicos de diferentes Igrejas sui iuris num mesmo território
demonstra não apenas uma justificação eclesiológica, mas também a utilidade
pastoral desta solução. Num mundo em que um grande número de cristãos são

obrigados a imigrar, as jurisdições sobrepostas já se tornaram habituais, revelando-
se cada vez mais como instrumento eficaz para assegurar o cuidado pastoral aos

fiéis, no pleno respeito pelas suas tradições eclesiais. […]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO SOBRE A DIGNIDADE DOS MENORES NO MUNDO DIGITAL

Eminências
Senhor Presidente do Senado, Senhora Ministra
Magnífico Reitor, Senhores Embaixadores
Distintas Autoridades, Professores
Senhoras e Senhores!

[…] Temos que estar com os olhos abertos e não esconder a nós mesmos uma
verdade que é desagradável e que não gostaríamos de ver. Aliás, será que talvez
ao longo destes anos não compreendemos suficientemente que esconder a
realidade dos abusos sexuais é um erro gravíssimo e fonte de muitos males? Então,
olhemos para a realidade, como fizestes vós nestes dias. Na rede alastram-se
fenómenos gravíssimos: a difusão de imagens pornográficas cada vez mais
extremas porque com a dependência se eleva o limiar de estimulação; o fenómeno
crescente do sexting entre os jovens que usam os social media; o bullying que se
manifesta cada vez mais online e é uma verdadeira violência moral e física contra a
dignidade dos outros jovens; a sextortion; o aliciamento de menores para fins
sexuais através da rede já é um facto do qual as crónicas falam constantemente;
até chegar aos crimes mais graves e horrendos da organização online do tráfico de
pessoas, da prostituição, inclusive da encomenda e da transmissão em direto de
estupros e violências contra menores, cometidos noutras parte do mundo. Portanto,
a rede tem um seu aspeto sombrio e algumas regiões obscuras (a dark net) onde o
mal encontra modos sempre novos e cada vez mais eficazes, pervasivos e
abrangentes para agir e se expandir. A antiga difusão da pornografia por meio da
imprensa era um fenómeno de pequenas dimensões em comparação com o que
está a acontecer hoje de forma rapidamente crescente mediante a rede. Falastes
sobre todos estes aspetos com clareza, de forma documentada e aprofundada, e
estamos agradecidos por isto.
Perante tudo isto, permanecemos sem dúvida horrorizados e, infelizmente, também
desorientados. Como sabeis muito bem e nos ensinais, a caraterística da rede é
exatamente a sua natureza global, que abrange o planeta superando qualquer
fronteira, tornando-se cada vez mais generalizada, alcançando em toda a parte
qualquer tipo de utilizador, inclusive crianças, através de dispositivos móveis
sempre mais ágeis e manejáveis. Por conseguinte, hoje ninguém no mundo,
autoridade nacional alguma sozinha se sente capaz de abranger de maneira
adequada e de controlar as dimensões e o desenvolvimento destes fenómenos, que
se entrelaçam e se ligam com outros problemas dramáticos relacionados com a
rede, como os tráficos ilícitos, a criminalidade económica e financeira, o terrorismo
internacional. Também sob o ponto de vista educativo sentimo-nos desorientados,
porque a rapidez do desenvolvimento coloca “em posição de impedimento” as

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gerações mais velhas, tornando muito difícil ou quase impossível o diálogo entre as
gerações e a transmissão equilibrada das normas e da sabedoria de vida adquirida
com a experiência dos anos.[…]
Justamente exprimis o desejo a fim de que também os líderes religiosos e as
comunidades de crentes participem neste esforço comum, disponibilizando toda a
sua experiência, credibilidade, capacidade educativa e de formação moral e
espiritual. Com efeito, só a luz e a força que provêm de Deus nos podem permitir
que enfrentemos os novos desafios. No que diz respeito à Igreja católica, quero
garantir a sua disponibilidade e o seu compromisso. Como todos sabemos, a Igreja
católica nos últimos anos tornou-se cada vez mais ciente de não ter providenciado
suficientemente no seu seio a proteção dos menores: vieram à luz factos
gravíssimos dos quais tivemos que reconhecer a responsabilidade perante Deus, as
vítimas e a opinião pública. Precisamente por esta razão, devido às experiências
dramáticas feitas e às competências adquiridas no esforço de conversão e
purificação, hoje a Igreja sente um dever particularmente sério de se comprometer
de forma cada vez mais profunda e clarividente na proteção dos menores e da sua
dignidade, não só internamente, mas em toda a sociedade e no mundo inteiro; e
isto não sozinha — porque evidentemente é insuficiente — mas oferecendo a
própria colaboração ativa e cordial a todas as forças e aos componentes da
sociedade que se quiserem empenhar na mesma direção. Neste sentido, ela adere
ao objetivo de «pôr fim ao abuso, à exploração, ao tráfico e a qualquer forma de
violência e de tortura contra menores», enunciado pelas Nações Unidas na Agenda
para o desenvolvimento sustentável 2030 (Objetivo 16.2). […]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NO SÍNODO DA IGREJA CALDEIA

Beatitude! Queridos irmãos no episcopado!
É com alegria que vos recebo nestes dias em que estais reunidos no Sínodo, e vos
preparais para enfrentar questões de primordial importância para a Igreja Caldeia,
entre as quais as migrações forçadas dos cristãos, a reconstrução das aldeias, o
regresso das pessoas deslocadas, o direito particular da Igreja, a questão litúrgica e
a pastoral vocacional. Agradeço a Sua Beatitude, o Patriarca Louis Raphaël, a
saudação que me dirigiu também em vosso nome. Aproveito a ocasião para saudar,
através de vós, os fiéis da querida terra iraquiana, duramente provados,
compartilhando a esperança pelas notícias recentes que falam de uma retomada da
vida e da atividade em regiões e cidades até agora submetidas a dolorosa e
violenta opressão. Possa a misericórdia de Deus curar as feridas da guerra que
atormentam o coração das vossas comunidades, para que finalmente se
reergam.[…]

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VISITA PASTORAL DO PAPA FRANCISCO A CESENA NO TERCEIRO CENTENÁRIO DO NASCIMENTO DO PAPA PIO VI E A BOLONHA NA CONCLUSÃO DO CONGRESSO EUCARÍSTICO DIOCESANO VISITA AO CENTRO DE ACOLHIDA REGIONAL DA VIA ENRICO MATTEI: ENCONTRO COM OS MIGRANTES E OS FUNCIONÁRIOS PALAVRAS DO SANTO PADRE

Caros irmãos e irmãs!
Saúdo cordialmente todos vós e desejo assegurar-vos a minha proximidade. Eu
quis que se realizasse exatamente aqui o meu primeiro encontro com Bolonha. Este
é o “porto” de chegada daqueles que vêm de mais longe e com sacrifícios que às
vezes nem sequer vós mesmos conseguis descrever.
Muitos não vos conhecem e sentem medo. O receio leva-os a sentir-se no direito de
julgar, e de o poder fazer com aspereza e insensibilidade, enquanto julgam que
estão a ver bem. Mas não é assim. Só vemos bem com a proximidade, que nos
confere a misericórdia. Sem ela, o outro permanece uma pessoa alheia, até mesmo
um inimigo, e não pode tornar-se o meu próximo. De longe, podemos dizer e
pensar qualquer coisa, como facilmente acontece quando se escrevem frases
terríveis e insultos via internet. Se olharmos para o próximo sem misericórdia, não
nos daremos conta do seu sofrimento, dos seus problemas. E se considerarmos o
outro sem misericórdia, correremos o risco de que também Deus olhe para nós sem
misericórdia. Hoje vejo somente um grande desejo de amizade e de ajuda. Gostaria
de agradecer às instituições e a todos os voluntários a atenção e o esforço
dedicados para cuidar de quantos estão aqui hospedados. Em vós vejo, como em
cada forasteiro que bate à nossa porta, Jesus Cristo, que se identifica com o
estrangeiro de todas as épocas e condições, recebido ou rejeitado (cf. Mt 25,
35.43).
Este fenómeno exige visão e uma grande determinação na gestão, inteligência e
estruturas, além de mecanismos claros que não permitam mistificações nem
explorações, ainda mais inaceitáveis porque são feitas contra os pobres. Julgo
verdadeiramente necessário que um número maior de países adotem programas de
ajuda particular e comunitária ao acolhimento, abrindo corredores humanitários
destinados aos refugiados em situações mais difíceis, a fim de evitar esperas
insuportáveis e perda de tempo que podem iludir. A integração começa mediante o
conhecimento. O contato com o próximo leva a descobrir o “segredo” que cada um
traz consigo e também o dom que o outro representa, e a abrir-se a ele para
acolher os seus aspetos válidos, aprendendo deste modo a amá-lo, superando o
medo e ajudando-o a inserir-se na nova comunidade que o recebe. Cada um de vós
tem a sua própria história, disse-me a senhora que me acompanhava. E esta
história é algo sagrado, que devemos respeitar, aceitar, acolher e contribuir para
que progrida. Alguns de vós são menores de idade: estes jovens, estas jovens
precisam particularmente de ternura e têm direito à proteção, que preveja
programas de tutela temporária ou de acolhimento.

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Venho ao meio de vós porque no meu olhar quero trazer o vosso — fitei o vosso
olhar — no meu coração, o vosso. Quero levar comigo os vossos rostos que pedem
para ser recordados e ajudados, diria “adotados”, porque no fundo procurais
alguém que aposte em vós, que tenha confiança em vós, que vos ajude a encontrar
aquele futuro cuja esperança vos trouxe até aqui.
Vós sabeis o que sois? Sois «lutadores de esperança»! Alguns não chegaram,
porque foram tragados pelo deserto ou pelo mar. Os homens não se recordam
deles, mas Deus conhece o seu nome e recebe-os ao seu lado. Façamos todos um
instante de silêncio, para recordar e rezar por eles [silêncio]. A vós, lutadores de
esperança, faço votos a fim de que a esperança não se torne desilusão ou, pior
ainda, desespero, graças a tantas pessoas que vos ajudam a não a perder. No meu
coração quero levar o vosso medo, as dificuldades, os riscos, as incertezas… e
também tantos letreiros: «Ajuda-nos a obter os documentos»; as pessoas que vós
amais, que vos são queridas e pelas quais vos pusestes a caminho em busca de um
futuro. Levar-vos nos olhos e no coração ajudar-nos-á a trabalhar mais em prol de
uma cidade hospitaleira e capaz de gerar oportunidades para todos. Por isso,
exorto-vos a permanecer abertos à cultura desta cidade, prontos para percorrer o
caminho indicado pelas leis deste país.
A Igreja é uma mãe que não faz distinção e que ama cada homem como filho de
Deus, sua imagem. Bolonha é uma cidade desde sempre conhecida pela sua
hospitalidade. Ela renovou-se com numerosas experiências de solidariedade, de
acolhimento em paróquias e em estruturas religiosas, mas também em muitas
famílias e em várias agremiações sociais. Alguns encontraram um novo irmão para
ajudar ou um filho para criar. E outros encontraram novos pais que, juntamente
com eles, aspiram a um futuro melhor. Como eu gostaria que se multiplicassem
estas experiências, possíveis para todos! A cidade não tenha medo de oferecer os
cinco pães e os dois peixes: a Providência há de intervir e todos serão saciados.
Bolonha foi a primeira cidade na Europa, há 760 anos, que libertou os servos da
escravidão. Eram exatamente 5.855. Um grande número! E no entanto, Bolonha
não teve medo. Eles foram resgatados pelo Município, ou seja, pela cidade. Talvez
o tenham feito até por motivos económicos, porque a liberdade ajuda todos e
convém a todos. Não tiveram receio de acolher aquelas que nessa época eram
consideradas “não-pessoas”, reconhecendo-as como seres humanos. Escreveram
num livro o nome de cada um deles! Como eu gostaria que também os vossos
nomes fossem escritos e recordados, para encontrardes juntos, como aconteceu
outrora, um futuro comum!
Agradeço-vos e abençoo-vos de coração. E, por favor, rezai por mim.

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PRESIDENTES DAS CÂMARAS DA ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE MUNICÍPIOS ITALIANOS (ANCI)

[…]Porque a cidade é um organismo vivo, um grande corpo animado em que, se
uma parte tem dificuldade de respirar, é também porque não recebe suficiente
oxigénio das outras. Penso nas realidades onde faltam a disponibilidade e a
qualidade dos serviços, onde se formam novas bolsas de pobreza e de

marginalização. É ali que a cidade se move em dupla direção: por um lado, a auto-
estrada de quantos correm, contudo com o máximo de garantias; por outro, as vias

estreitas dos pobres e dos desempregados, das famílias numerosas, dos imigrantes
e de quantos não têm ninguém com quem contar. […]
Para nos movermos nesta perspetiva, temos necessidade de uma política e de uma
economia novamente centradas na ética: uma ética da responsabilidade, das
relações, da comunidade e do meio ambiente. De igual modo, precisamos de um
“nós” autêntico, de formas de cidadania sólidas e duradouras. Temos necessidade
de uma política do acolhimento e da integração, que não marginalize quantos
chegam ao nosso território, mas que se esforce por fazer frutificar os recursos dos
quais cada um é portador.
Compreendo a dificuldade de muitos dos vossos cidadãos diante da chegada maciça
de migrantes e refugiados. Ela encontra explicação no receio inato em relação ao
“estrangeiro”, um temor agravado pelas feridas devidas à crise económica, pela
inexperiência das comunidades locais, pela inadequação de muitas medidas
adotadas em clima de emergência. Esta dificuldade pode ser superara através da

oferta de espaços de encontro pessoal e de conhecimento mútuo. Então, são bem-
vindas todas aquelas iniciativas que promovem a cultura do encontro, a permuta

recíproca de riquezas artísticas e culturais, o conhecimento dos lugares e das
comunidades de origem dos recém-chegados. […]

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CARTA DO PAPA FRANCISCO ÀS MISSIONÁRIAS DO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS (CABRINIANAS) NO CENTENÁRIO DA MORTE DE S. FRANCISCA XAVIER CABRINI PADROEIRA DOS MIGRANTES

À Reverenda Madre
Irmã Barbara Louise Staley
Superiora-Geral das Missionárias do Sagrado Coração de Jesus
O centenário da morte de Santa Francisca Xavier Cabrini é um dos eventos
principais que este ano marcam o caminho da Igreja, quer pela grandiosidade da
figura que se comemora, quer pela atualidade do seu carisma e da sua mensagem,
não só para a comunidade eclesial mas para a sociedade inteira. Portanto, com esta
minha mensagem, que acompanho com a oração, desejo participar espiritualmente
na Assembleia Geral que como Instituto das Missionárias do Sagrado Coração de
Jesus, juntamente com os colaboradores leigos, realizareis de 17 a 23 de setembro
deste ano em Chicago, no Santuário Nacional dedicado à vossa amada Fundadora e
Padroeira dos migrantes.
Santa Francisca Xavier Cabrini recebeu de Deus uma vocação missionária que
naquele tempo podia ser considerada singular: formar e enviar para o mundo
inteiro mulheres consagradas, com um horizonte missionário sem limites, não
simplesmente como auxiliares de institutos religiosos ou missionários masculinos,
mas com um carisma de consagração feminina específico, mesmo se em plena e
total disponibilidade à colaboração quer com as Igrejas locais quer com as diversas
congregações que se dedicavam ao anúncio do Evangelho ad gentes. Em Madre
Cabrini esta consagração limpidamente missionária e feminina nasce da união total
e amorosa com o Coração de Cristo, cuja misericórdia supera qualquer fronteira.
Ela vive e infunde nas suas irmãs um impulso de reparação pelo mal no mundo e
pelo afastamento de Cristo, que apoia a missionária em empresas superiores às
forças humanas: a expressão paulina «Omnia possum in eo qui me confortat» (Fl 4,
13) era o seu lema. Mote confirmado pelo número surpreendente e pela
importância das obras empreendidas durante a sua vida, na Itália, França,
Espanha, Grã-Bretanha, Estados Unidos, América Central, Argentina e Brasil. Mas o
amor pelo Coração de Cristo, que se traduz no anseio evangelizador, resplandece
na atenção de Francisca Xavier Cabrini por aquelas que hoje poderíamos chamar
periferias da história: por exemplo, um ano após um linchamento cruel de italianos,
acusados de ter assassinado o chefe da polícia de New Orleans, na Louisiana, Madre
Cabrini abriu uma casa no bairro italiano mais mal-afamado.
O carisma de Santa Francisca Xavier Cabrini anima uma dedicação total e
inteligente em relação aos emigrantes, que da Itália iam para o Novo Mundo. Esta
escolha é fruto da sua obediência sincera e amorosa ao Santo Padre, Papa Leão
XIII, e não exclui a atenção aos outros âmbitos de ação missionária. As epocais
deslocações hodiernas de populações, com as tensões que inevitavelmente se
geram, fazem de Madre Cabrini uma figura de singular atualidade. Em particular, a
santa une a atenção pelas situações de maior pobreza e fragilidade, como os órfãos

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e os mineiros, a uma lúcida sensibilidade cultural que, em diálogo constante com as
hierarquias locais, se compromete para conservar e reavivar nos emigrantes a
tradição cristã recebida nos países de origem, uma religiosidade por vezes
superficial, mas frequentemente impregnada de uma autêntica mística popular,
oferecendo por outro lado os caminhos para se integrar plenamente na cultura dos
países de chegada, de modo que os migrantes italianos fossem acompanhados
pelas Madres Missionárias a ser plenamente italianos e plenamente americanos. A
vitalidade humana e cristã dos migrantes torna-se assim um dom para as Igrejas e
para os povos que acolhem. As grandes migrações hodiernas necessitam de um
acompanhamento cheio de amor e de inteligência como o que carateriza o carisma
cabriniano, em vista de um encontro de povos que enriqueça todos e gere união e
diálogo e não separação e hostilidade. Sem esquecer que Santa Francisca Xavier
Cabrini conserva uma sensibilidade missionária não setorial mas universal, que é
vocação de cada cristão e de qualquer comunidade de discípulos de Jesus.
A presente celebração do centenário convida a tomar novamente consciência de
tudo isto, com íntima e jubilosa gratidão a Deus. Isto constitui um grande dom
sobretudo para vós, filhas espirituais de Madre Cabrini. Possa o vosso Instituto
inteiro, cada comunidade, cada religiosa receber uma efusão abundante do Espírito
Santo, que reavive a fé e a sequela de Cristo segundo o carisma missionário da
Fundadora; e possa impelir também numerosos fiéis leigos a compartilhar e apoiar
a vossa ação evangélica no atual contexto social. Por minha parte, garanto-vos com
vivo afeto a minha recordação e oração, seja porque a figura de Madre Cabrini
sempre me foi familiar, seja pela solicitude especial que dedico à causa dos
migrantes. Enquanto vos peço que rezeis por mim e pelo meu ministério, concedo
de coração à vossa Assembleia, à Congregação e a toda a família cabriniana uma
especial Bênção Apostólica.

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PAPA FRANCISCO AUDIÊNCIA GERAL

[…] Um poeta francês — Charles Péguy — deixou-nos páginas maravilhosas sobre
a esperança (cf. O pórtico do mistério da segunda virtude). Ele diz poeticamente
que Deus não se admira tanto com a fé dos seres humanos, e nem sequer com a
sua caridade; mas o que realmente o enche de admiração e emoção é a esperança
das pessoas: «Que aqueles pobres filhos — escreve — vejam como vão as coisas e
que acreditem que será melhor amanhã de manhã». A imagem do poeta evoca o
rosto de muitas pessoas que passaram por este mundo — camponeses, pobres
operários, migrantes em busca de um futuro melhor — que lutaram tenazmente,
não obstante a amargura de um presente difícil, cheio de numerosas provações,
mas animada pela confiança de que os filhos teriam uma vida mais justa e mais
tranquila. Pelejavam pelos filhos, lutavam na esperança.
A esperança é o impulso no coração de quem parte, deixando a casa, a terra, às
vezes familiares e parentes — penso nos migrantes — em busca de uma vida
melhor, mais digna para si e para os próprios entes queridos. E é também o ímpeto
no coração de quem acolhe: o desejo de se encontrar, de se conhecer, de
dialogar… A esperança é o impulso a “compartilhar a viagem”, porque a viagem se
faz em dois: aqueles que vêm à nossa terra, e nós que vamos rumo ao seu
coração, para os entender, para compreender a sua cultura, a sua língua. É uma
viagem em dois, mas sem esperança aquela viagem não se pode realizar. A
esperança é o ímpeto a compartilhar a viagem da vida, como nos recorda a
Campanha da Cáritas que hoje inauguramos. Irmãos, não tenhamos receio de
compartilhar a viagem! Não tenhamos medo! Não temamos compartilhar a
esperança! […]
É-me grato receber os representantes da Cáritas, aqui reunidos para dar início
oficial à campanha «Compartilhemos a viagem» — bonito lema da vossa
campanha: compartilhar a viagem — que eu quis fazer coincidir com esta
audiência. Dou as boas-vindas aos migrantes, requerentes de asilo e refugiados
que, ao lado dos agentes da Cáritas italiana e de outras organizações católicas, são
sinal de uma Igreja que procura ser aberta, inclusiva e hospitaleira. Obrigado a
todos vós pelo serviço incansável. Já os aplaudistes, mas todos eles realmente
merecem um grande aplauso da parte de todos!
Com o vosso esforço diário recordais-nos que o próprio Cristo nos pede para
receber de braços bem abertos os nossos irmãos e irmãs migrantes e refugiados.
Acolher assim, de braços bem abertos! Quando os braços estão abertos, estão
prontos para um abraço sincero, um abraço carinhoso, um abraço aconchegante,
um pouco como esta colunata na Praça, que representa a Igreja mãe que abraça
todos na partilha da viagem comum.
Dou as boas-vindas também aos representantes de muitas organizações da
sociedade civil comprometidas na assistência a migrantes e refugiados que,
juntamente com a Cáritas, deram apoio à angariação de assinaturas para uma nova
lei migratória mais adequada ao contexto atual. Sede todos bem-vindos!

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS DIRETORES NACIONAIS DA PASTORAL DOS MIGRANTES PARTICIPANTES NO ENCONTRO PROMOVIDO PELO CONSELHO DAS CONFERÊNCIAS EPISCOPAIS DA EUROPA (CCEE)

Queridos irmãos e irmãs!
É com alegria que vos recebo por ocasião do vosso encontro e agradeço ao Cardeal
Presidente as palavras que me dirigiu em nome de todos. Desejo agradecer-vos de
coração o compromisso dedicado nestes últimos anos a favor de tantos irmãos e
irmãs migrantes que estão a bater às portas da Europa em busca de um lugar mais
seguro e de uma vida mais digna.
Diante dos fluxos migratórios maciços, complexos e variegados, que puseram em
crise as políticas migratórias até agora adotadas e os instrumentos de proteção
sancionados por convenções internacionais, a Igreja tenciona permanecer fiel à sua
missão: «amar Jesus Cristo, adorá-lo e amá-lo, particularmente nos mais pobres e
abandonados; e entre eles contam-se, sem dúvida, os migrantes e os refugiados»
(Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado de 2015: Insegnamenti
II, 2 [2014], 200).
O amor materno da Igreja para com estes nossos irmãos e irmãs pede para ser
manifestado concretamente em todas as fases da experiência migratória, desde a
partida até à viagem, desde a chegada até ao regresso, de modo que todas as
realidades eclesiais e locais situadas ao longo do percurso sejam protagonistas da
única missão, cada uma segundo as próprias possibilidades. Reconhecer e servir o
Senhor nestes membros do seu “povo a caminho” é uma responsabilidade que
todas as Igrejas particulares têm em comum, prodigalizando um compromisso
constante, coordenado e eficaz.
Amados irmãos e irmãs, não vos escondo a minha preocupação diante dos sinais de
intolerância, discriminação e xenofobia que se verificam em diversas regiões da
Europa. Elas são com frequência motivadas pela desconfiança e pelo receio em
relação ao outro, ao diverso, ao estrangeiro. Preocupa-me ainda mais a triste
constatação de que as nossas comunidades católicas na Europa não estão isentas
destas reações de defesa e rejeição, justificadas por um não bem especificado
“dever moral” de conservar a identidade cultural e religiosa originária. A Igreja
difundiu-se em todos os continentes graças à “migração” de missionários que
estavam convictos da universalidade da mensagem de salvação de Jesus Cristo,
destinada aos homens e às mulheres de todas as culturas. Na história da Igreja não
faltaram tentações de exclusivismo e fechamento cultural, mas o Espírito Santo
ajudou-nos sempre a superá-las, garantindo uma abertura constante ao próximo,
considerada uma possibilidade concreta de crescimento e de enriquecimento.
O Espírito, disto estou certo, ajuda-nos também hoje a conservar uma atitude de
abertura confiante, que permite superar qualquer barreira, ultrapassar todos os
muros.

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Na minha escuta constante das Igrejas particulares na Europa, apercebi-me de um

mal-estar profundo face à chegada maciça de migrantes e refugiados. Este mal-
estar deve ser reconhecido e compreendido à luz de um momento histórico

marcado pela crise económica, que deixou feridas profundas. Além disso, este mal-
estar foi agravado pelo alcance e composição dos fluxos migratórios, por uma

substancial falta de preparação da sociedade recetora e por políticas nacionais e
comunitárias muitas vezes inapropriadas. Mas o mal-estar é indicativo também dos
limites dos processos de unificação europeia, dos obstáculos com os quais se tem
que confrontar a aplicação concreta da universalidade dos direitos humanos, dos
muros contra os quais se despedaça o humanismo integral, que constitui um dos
frutos mais belos da civilização europeia. E para os cristãos tudo isto deve ser
interpretado, para além do imanentismo laicista, na lógica da centralidade da
pessoa humana, por Deus criada única e irrepetível.
A partir de uma perspetiva requintadamente eclesiológica, a chegada de tantos
irmãos e irmãs na fé oferece às Igrejas na Europa mais uma oportunidade para
realizar plenamente a própria catolicidade, elemento constitutivo da Igreja que
confessamos todos os domingos no Credo. De resto, nos últimos anos, muitas
Igrejas particulares na Europa se enriqueceram com a presença de migrantes
católicos, que trouxeram as suas devoções e o seu entusiasmo litúrgico e
apostólico.
De uma perspetiva missiológica, os fluxos migratórios contemporâneos constituem
uma nova “fronteira” missionária, uma ocasião privilegiada para anunciar Jesus
Cristo e o seu Evangelho sem se mover do próprio ambiente, para testemunhar
concretamente a fé cristã na caridade e no respeito profundo pelas outras
expressões religiosas. O encontro com migrantes e refugiados de outras confissões
e religiões é um terreno fecundo para o desenvolvimento de um diálogo ecuménico
e inter-religioso sincero e enriquecedor.
Na minha Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado do próximo
ano evidenciei que a resposta pastoral aos desafios migratórios contemporâneos se
deve desenvolver em volta de quatro verbos: acolher, proteger, promover,
integrar. O verbo acolhertraduz-se depois noutros verbos como ampliar as vias
legais e seguras de ingresso, oferecer um alojamento adequado e decoroso e
garantir a todos a segurança pessoal e o acesso aos serviços básicos. O verbo
proteger especifica-se em oferecer informações corretas e certificadas antes da
partida, defender os direitos fundamentais dos migrantes e dos refugiados
independentemente do seu status migratório e vigiar sobre os mais vulneráveis,
que são as crianças. Promover significa essencialmente garantir as condições para o
desenvolvimento humano integral de todos, migrantes e autóctones. O verbo
integrar traduz-se em abrir espaços de encontro intercultural, favorecer o
enriquecimento recíproco e promover percursos de cidadania ativa.
Na mesma Mensagem mencionei a importância dos Acordos Globais, que os
Estados se comprometeram a redigir e a aprovar até ao final de 2018. A secção
Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano
Integral preparou 20 pontos de ação que as Igrejas locais são convidadas a utilizar,
completar e aprofundar na sua pastoral: estes pontos estão fundados sobre as
“boas práticas” que caraterizam a resposta tangível da Igreja às necessidades dos
migrantes e dos refugiados. Os mesmos pontos são úteis para o diálogo que as
várias instituições eclesiais podem ter com os respetivos governos em vista dos

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Acordos Globais. Queridos diretores, convido-vos a conhecer estes pontos e a
promovê-los nas vossas Conferências episcopais.
Os mesmos pontos de ação conformam também um paradigma articulado dos
quatro verbos supracitados, paradigma que poderia servir como medida de estudo
ou de verificação das atuais práticas pastorais das Igrejas locais, em vista de uma
atualização sempre oportuna e enriquecedora. A comunhão na reflexão e na ação
seja a vossa força, porque, quando se está sozinho, os obstáculos parecem muito
maiores. A vossa voz seja sempre oportuna e profética e, sobretudo, precedida de
uma ação coerente e inspirada nos princípios da doutrina cristã.
Renovando-vos o meu obrigado pelo vosso grande compromisso no âmbito de uma
pastoral migratória tão complexa quão de urgente atualidade, garanto-vos a minha
oração. E também vós, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim.