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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AO CORPO DIPLOMÁTICO ACREDITADO JUNTO DA SANTA SÉ

[…] É igualmente importante que possam regressar à pátria os numerosos refugiados que encontraram acolhimento e refúgio nas nações vizinhas, especialmente na Jordânia, Líbano e Turquia. O empenho e o esforço, realizados por tais países nesta circunstância difícil, merecem o apreço e o apoio de toda a comunidade internacional, que ao mesmo tempo é chamada a trabalhar em ordem a criar as condições para o repatriamento dos refugiados originários da Síria. É um compromisso que aquela deve assumir concretamente a começar pelo Líbano, para que este amado país continue a ser uma «mensagem» de respeito e convivência e um modelo a imitar por toda a região e pelo mundo inteiro. […] […] Ao mesmo tempo, não se pode esquecer a situação de famílias dilaceradas por causa da pobreza, das guerras e das migrações. Aos nossos olhos, depara-se demasiadas vezes o drama de crianças cruzando sozinhas os confins que separam o sul do norte do mundo, frequentemente vítimas do tráfico de seres humanos. Hoje fala-se muito de migrantes e migrações, por vezes só para suscitar temores ancestrais. Não devemos esquecer que sempre existiram as migrações. Na tradição judaico-cristã, a história da salvação é, essencialmente, uma história de migrações. Nem devemos esquecer que a liberdade de movimento, como a de deixar o país próprio e a ele regressar, pertence aos direitos humanos fundamentais.[17] Por isso é necessário sair duma generalizada retórica sobre o assunto e partir da consideração essencial de que se encontram diante de nós, antes de mais nada, pessoas. Isto mesmo pretendi reiterar, com a Mensagem «Migrantes e refugiados: homens e mulheres em busca de paz», escrita para o Dia Mundial da Paz que se celebrou no passado dia 1 de janeiro. Embora reconhecendo que nem todos estão sempre animados pelas melhores intenções, não se pode esquecer que a maior parte dos migrantes preferiria permanecer na sua própria terra, mas é forçada a deixá-la «por causa de discriminações, perseguições, pobreza e degradação ambiental. (…) Acolher o outro requer um compromisso concreto, uma corrente de apoios e beneficência, uma atenção vigilante e abrangente, a gestão responsável de novas situações complexas que às vezes se vêm juntar a outros problemas já existentes em grande número, bem como recursos que são sempre limitados. Praticando a virtude da prudência, os governantes saberão acolher, promover, proteger e integrar, estabelecendo medidas práticas, “nos limites consentidos pelo bem da própria comunidade retamente entendido, [para] lhes favorecer a integração” (Pacem in terris, 57). Os governantes têm uma responsabilidade precisa para com as próprias comunidades, devendo assegurar os seus justos direitos e desenvolvimento harmónico, para não serem como o construtor insensato que fez mal os cálculos e não conseguiu completar a torre que começara a construir (cf. Lc 14, 28-30)».[18] Desejo agradecer de novo às Autoridades dos Estados que se prodigalizaram, durante estes anos, para prestar assistência aos numerosos migrantes que chegaram às suas fronteiras. Penso, antes de mais nada, no empenho de não poucos países na Ásia, na África e nas Américas, que acolhem e assistem inúmeras pessoas. Conservo ainda vivo no coração o encontro que tive em Daca com alguns membros do povo rohingya e quero renovar os sentimentos de gratidão às Autoridades do Bangladesh pela assistência que lhes prestam no seu território. Desejo ainda expressar particular gratidão à Itália, que, nestes anos, mostrou um coração aberto e generoso e soube oferecer também exemplos positivos de integração. A minha esperança é que as dificuldades, que o país atravessou nestes anos e cujas consequências permanecem, não levem a fechamentos e preclusões, mas antes a uma redescoberta daquelas raízes e tradições que nutriram a rica história da nação e constituem um tesouro inestimável para oferecer ao mundo inteiro. De igual modo, exprimo apreço pelos esforços desenvolvidos por outros Estados europeus, particularmente a Grécia e a Alemanha. Não devemos esquecer que numerosos refugiados e migrantes procuram alcançar a Europa, porque sabem que nela podem encontrar paz e segurança, fruto aliás dum longo caminho que nasceu dos ideais dos Pais fundadores do projeto europeu depois da II Guerra Mundial. A Europa deve sentir-se orgulhosa deste seu património, baseado sobre determinados princípios e numa visão do homem cujas bases assentam na sua história milenária, inspirada pela conceção cristã da pessoa humana. A chegada dos migrantes deve incitá-la a redescobrir o seu património cultural e religioso, de modo que, recuperando a consciência dos valores sobre os quais está edificada, possa ao mesmo tempo manter viva a sua tradição e continuar a ser um lugar hospitaleiro, promissor de paz e desenvolvimento. No ano passado, os governos, as organizações internacionais e a sociedade civil interrogaram-se mutuamente sobre os princípios basilares, as prioridades e as modalidades mais apropriadas para dar resposta aos movimentos migratórios e às situações prolongadas que afetam os refugiados. As Nações Unidas, na sequência da Declaração de Nova Iorque sobre Refugiados e Migrantes de 2016, aviaram importantes processos de preparação tendo em vista a adoção de dois Pactos Mundiais (Global Compacts), respetivamente sobre os refugiados e para uma migração segura, ordenada e regular. A Santa Sé espera que tais esforços, com as negociações que brevemente se abrirão, deem resultados dignos duma comunidade mundial sempre mais interdependente, fundada nos princípios de solidariedade e mútua ajuda. No atual contexto internacional, não faltam as possibilidades e os meios para garantir, a todo o homem e mulher que vive sobre a terra, condições de vida dignas da pessoa humana. Na Mensagem para o Dia Mundial da Paz deste ano, sugeri quatro «pedras miliárias» para a ação: acolher, proteger, promover e integrar.[19] Gostaria de me deter de modo particular nesta última, a propósito da qual se confrontam diferentes posições, cada uma delas derivada das respetivas avaliações, experiências, preocupações e convicções. A integração é «um processo bidirecional», com direitos e deveres recíprocos. De facto, quem acolhe é chamado a promover o desenvolvimento humano integral, enquanto se pede, a quem é acolhido, a indispensável conformação às normas do país que o hospeda, bem como o respeito pelos princípios identificadores do mesmo. Todo o processo de integração deve manter sempre, no centro das normas respeitantes aos vários aspetos da vida política e social, a tutela e a promoção das pessoas, especialmente daquelas que se encontram em situações de vulnerabilidade. A Santa Sé não pretende interferir nas decisões que competem aos Estados: a eles cabe – à luz das respetivas situações políticas, sociais e económicas, bem como das próprias capacidades e possibilidades de receção e integração – a responsabilidade primeira do acolhimento. Mas ela considera que deve desempenhar um papel de «recordação» dos princípios de humanidade e fraternidade, que fundamentam toda a sociedade coesa e harmoniosa. Nesta perspetiva, é importante não esquecer a interação com as comunidades religiosas, tanto institucionais como associativas, que podem desempenhar um papel valioso de reforço na assistência e proteção, de mediação social e cultural, de pacificação e de integração. […]

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SOLENIDADE DE MARIA SANTÍSSIMA MÃE DE DEUS 51º DIA MUNDIAL DA PAZ PAPA FRANCISCO ANGELUS

[…] Como mãe, Maria desempenha uma função muito especial: põe-se entre o seu Filho Jesus e os homens na realidade das suas privações, na realidade das suas indigências e dos seus sofrimentos. Maria intercede, como em Caná, ciente de que como mãe pode, aliás, deve dar a conhecer ao Filho as necessidades dos homens, especialmente dos mais débeis e indigentes. E precisamente a estas pessoas é dedicado o tema do Dia Mundial da Paz que hoje celebramos: “Migrantes e refugiados: homens e mulheres em busca de paz”, eis o lema deste Dia. Desejo, mais uma vez, fazer-me eco da voz destes nossos irmãos e irmãs que invocam para o seu futuro um horizonte de paz. Para esta paz, que é um direito de todos, muitos deles estão prontos a arriscar a vida numa viagem que se revela, em grande parte dos casos, longa e perigosa, a sujeitar-se a fadigas e sofrimentos (cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2018, 1). Por favor, não apaguemos a esperança no coração deles; não sufoquemos as suas expetativas de paz! É importante que da parte de todos, instituições civis, realidades educativas, assistenciais e eclesiais, haja o compromisso para garantir aos refugiados, aos migrantes, a todos um porvir de paz. Que o Senhor nos conceda agir neste novo ano com generosidade, com generosidade, para realizar um mundo mais solidário e acolhedor. Convido-vos a rezar por isto, enquanto juntamente convosco confio a Maria, Mãe de Deus e nossa Mãe, o ano de 2018 que acabou de iniciar. Os velhos monges russos, místicos, diziam que em tempos de turbulências espirituais era necessário reunir-se sob o manto da Santa Mãe de Deus. Pensando nas numerosas turbulências de hoje, e sobretudo nos migrantes e nos refugiados, rezemos como eles nos ensinaram: «Sob a tua proteção procuramos refúgio, Santa Mãe de Deus: não desprezeis as nossas súplicas, que estamos na prova, mas livrainos de todo o perigo, ó Virgem gloriosa e bendita». […]

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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO A MYANMAR E BANGLADESH (26 DE NOVEMBRO – 2 DE DEZEMBRO DE 2017) ENCONTRO COM OS SACERDOTES, CONSAGRADOS, SEMINARISTAS E NOVIÇOS

Discurso (improvisado) aos sacerdotes, consagrados, seminaristas e
noviços
Amados irmãos e irmãs!
[…] A compaixão de Cristo. O Rosário introduz-nos na meditação da paixão e morte
de Jesus. Penetrando mais profundamente nestes mistérios dolorosos, chegamos a
conhecer a sua força salvífica e sentimo-nos confirmados na vocação de tomar
parte neles com as nossas vidas, com a compaixão e o dom de nós mesmos. O
sacerdócio e a vida religiosa não são carreiras. Não são veículos para avançar. São
um serviço, uma participação no amor de Cristo que Se sacrifica pelo seu rebanho.
Configurando-nos diariamente Àquele que amamos, chegamos a apreciar o facto de
que as nossas vidas não nos pertencem. Já não somos nós que vivemos, mas é
Cristo que vive em nós (cf. Gal 2, 20).
Encarnamos esta compaixão quando acompanhamos as pessoas, especialmente nos
seus momentos de sofrimento e provação, ajudando-as a encontrar Jesus.
Obrigado, Padre Franco, por teres colocado este aspeto em primeiro plano: cada
um de nós é chamado a ser um missionário, levando o amor misericordioso de
Cristo a todos, especialmente a quantos estão nas periferias das nossas sociedades.
Sinto-me particularmente agradecido, porque muitos de vós estão comprometidos,
de tantos modos, nos campos do serviço social, da saúde e da educação,
atendendo às necessidades das vossas comunidades locais e dos numerosos
migrantes e refugiados que chegam ao país. O vosso serviço à comunidade humana
mais alargada, especialmente àqueles que estão mais necessitados, é precioso para
construir uma cultura do encontro e da solidariedade.[…]

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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO A MYANMAR E BANGLADESH (26 DE NOVEMBRO – 2 DE DEZEMBRO DE 2017) ENCONTRO INTER-RELIGIOSO E ECUMÉNICO EM PROL DA PAZ EM BANGLADESH DISCURSO DO SANTO PADRE

DISCURSO DO SANTO PADRE

Ilustres Convidados,
Queridos Amigos!

[…] Um espírito de abertura, aceitação e cooperação entre os crentes não é
simplesmente mais um contributo para uma cultura de harmonia e de paz; é o seu
coração pulsante. Quanto necessita o nosso mundo que este coração bata com
força, para contrastar o vírus da corrupção política, as ideologias religiosas
destrutivas, a tentação de fechar os olhos às necessidades dos pobres, dos
refugiados, das minorias perseguidas e dos mais vulneráveis! Quanta abertura é
necessária para acolher as pessoas ao nosso redor, especialmente os jovens que às
vezes se sentem sozinhos e confusos na busca do sentido da vida!
Queridos amigos, agradeço os vossos esforços por promover a cultura do encontro
e rezo para que, com a demonstração do compromisso comum dos seguidores das
religiões por discernir o bem e pô-lo em prática, possamos ajudar todos os crentes
a crescerem na sabedoria e na santidade e a cooperarem para construir um mundo
sempre mais humano, unido e pacífico. […]
PALAVRAS DO SANTO PADRE
A UM GRUPO DE REFUGIADOS ROHINGYAS
Amados irmãos e irmãs, todos nós estamos próximos de vós. É pouco aquilo que
podemos fazer, porque a vossa tragédia é muito grande. Mas criamos espaço no
nosso coração. Em nome de todos, daqueles que vos perseguem, de quantos
praticaram o mal, sobretudo pela indiferença do mundo, peço-vos perdão. Perdão!
Muitos de vós falastes sobre o coração generoso do Bangladesh que vos acolheu.
Agora faço apelo ao vosso grande coração, para que seja capaz de nos conceder o
perdão que pedimos.
Estimados irmãos e irmãs, a narração judaico-cristã da Criação afirma que o
Senhor, que é Deus, criou o homem à sua imagem e semelhança. Todos nós somos
esta imagem. Inclusive estes irmãos e irmãs. Também eles são imagem do Deus
vivo. Uma tradição das vossas religiões reza que, no princípio, Deus pegou num
pouco de sal e o lançou na água, que era a alma de todos os homens; e cada um
de nós traz dentro de si um pouco do sal divino. Estes irmãos e irmãs trazem
dentro de si o sal de Deus.

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Prezados irmãos e irmãs, somente mostremos ao mundo o que o egoísmo do
mundo faz com a imagem de Deus. Continuemos a fazer-lhes o bem, a ajudá-los;
continuemos a mover-nos para que sejam reconhecidos os seus direitos. Não
fechemos os corações, não olhemos para o outro lado. Hoje, a presença de Deus
chama-se também “Rohingya”. Cada um de nós dê a sua resposta!

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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO A MYANMAR E BANGLADESH (26 DE NOVEMBRO – 2 DE DEZEMBRO DE 2017) ENCONTRO COM OS BISPOS DE BANGLADESH

[…] Um objetivo significativo indicado no Plano Pastoral – intuição que se
demonstrou verdadeiramente profética – é a opção pelos pobres. A Comunidade
católica no Bangladesh pode orgulhar-se da sua história de serviço aos pobres,
especialmente nas áreas mais remotas e nas comunidades tribais; continua
diariamente este serviço através das suas obras de apostolado educacional, dos
seus hospitais, clínicas e centros de saúde, e das obras socio-caritativas em toda a
sua variedade. Contudo não cessam de aumentar, especialmente à luz da atual
crise dos refugiados, as necessidades a colmar. A inspiração para as vossas obras
de assistência aos necessitados deve ser sempre a caridade pastoral, que se mostra
solícita no reconhecimento das feridas humanas procurando responder com
generosidade a cada pessoa individualmente. Trabalhando por criar uma «cultura
de misericórdia» (Carta ap.Misericordia et misera, 20), as vossas Igrejas locais
demonstram – com este trabalho – a sua opção pelos pobres, reforçam a sua
proclamação da misericórdia infinita do Pai e contribuem consideravelmente para o
desenvolvimento integral da sua pátria.[…]

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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO A MYANMAR E BANGLADESH (26 DE NOVEMBRO – 2 DE DEZEMBRO DE 2017) ENCONTRO COM AS AUTORIDADES, COM A SOCIEDADE CIVIL E COM O CORPO DIPLOMÁTICO DISCURSO DO SANTO PADRE

Senhor Presidente,
Ilustres Autoridades de Estado e Civis,
Vossa Eminência, amados Irmãos no Episcopado,
Distintos membros do Corpo Diplomático,
Senhoras e Senhores!
[…] No mundo de hoje, nenhuma comunidade, nação ou Estado pode sobreviver e
progredir no isolamento. Como membros da única família humana, precisamos uns
dos outros e estamos dependentes uns dos outros. O Presidente Sheikh Mujibur
Rahma compreendeu e procurou incorporar este princípio na Constituição Nacional.
Imaginou uma sociedade moderna, pluralista e inclusiva, onde cada pessoa e cada
comunidade pudesse viver em liberdade, paz e segurança, respeitando a inata
dignidade e igualdade de direitos de todos. O futuro desta jovem democracia e a
saúde da sua vida política dependem essencialmente da fidelidade a esta visão
fundadora. Com efeito, só através dum diálogo sincero e do respeito pelas legítimas
diversidades é que um povo pode reconciliar as divisões, superar perspetivas
unilaterais e reconhecer a validade de pontos de vista divergentes. Uma vez que o
diálogo autêntico aposta no futuro, ele constrói unidade ao serviço do bem comum
e está atento às necessidades de todos os cidadãos, especialmente dos pobres, dos
desfavorecidos e daqueles que não têm voz.
Nos meses passados, pôde-se observar de maneira bem tangível o espírito de
generosidade e solidariedade – sinais caraterísticos da sociedade do Bangladesh –
no seu ímpeto humanitário a favor dos refugiados chegados em massa do Estado
de Rakhine, proporcionando-lhes abrigo temporário e provisões para as
necessidades primárias da vida. Isto foi conseguido à custa de não pouco sacrifício;
e foi realizado também sob o olhar do mundo inteiro. Nenhum de nós pode deixar
de estar consciente da gravidade da situação, do custo imenso exigido de
sofrimentos humanos e das precárias condições de vida de tantos dos nossos
irmãos e irmãs, a maioria dos quais são mulheres e crianças amontoados nos
campos de refugiados. É necessário que a comunidade internacional implemente
medidas resolutivas face a esta grave crise, não só trabalhando por resolver as
questões políticas que levaram à massiva deslocação de pessoas, mas também
prestando imediata assistência material ao Bangladesh no seu esforço por
responder eficazmente às urgentes carências humanas. […]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS MEMBROS DA COMISSÃO MISTA PARA O DIÁLOGO TEOLÓGICO ENTRE A IGREJA CATÓLICA E A IGREJA ASSÍRIA DO ORIENTE

[…] Deste modo, sobretudo nos períodos de maiores sofrimentos e privações, um
grande número de fiéis teve que deixar as próprias terras, emigrando para outros
países e aumentando a comunidade da diáspora, que tem muitos desafios a
enfrentar. Por exemplo, entrando nalgumas sociedades, encontram-se as
dificuldades causadas por uma nem sempre fácil integração e por uma marcada
secularização, que podem obstaculizar a preservação das riquezas espirituais das
próprias tradições e até o testemunho de fé. […]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS MEMBROS DA FAMÍLIA FRANCISCANA DA PRIMEIRA ORDEM E DA TERCEIRA ORDEM REGULAR

[…] As palavras de Francisco levantam questões como fraternidade: onde estamos?
Com quem estamos? Com quem estamos em relação? Quem são os nossos
preferidos? E, dado que a menoridade interpela não só a fraternidade, mas cada
um dos seus componentes, é oportuno que todos façam o exame de consciência
sobre o próprio estilo de vida; sobre as despesas, sobre o vestir, sobre o que
consideram necessário; sobre a própria dedicação aos outros, sobre o escapar do
espírito de cuidar demasiado de si mesmos, até da própria fraternidade.
E, por favor, quando desempenhardes qualquer atividade em prol dos “mais
pequeninos”, dos excluídos e dos últimos, nunca o façais de um pedestal de
superioridade. Ao contrário, pensai que tudo o que fazeis por eles é um modo de
devolver o que recebestes gratuitamente. Como admoesta Francisco na Carta a
toda a Ordem: «Nada de vós mesmos retenhais para vós».[14]Criai um espaço
acolhedor e disponível para que entrem na vossa vida todos os menores do vosso
tempo: os marginalizados, homens e mulheres que vivem nas nossas ruas, nos
nossos parques ou nas estações; os milhares de desempregados, jovens e adultos;
muitos doentes que não têm acesso aos cuidados adequados, muitos idos
abandonados; as mulheres maltratadas; os migrantes que buscam uma vida digna;
todos os que vivem nas periferias existenciais, privados de dignidade e também da
luz do Evangelho.
Abri os vossos corações e abraçai os leprosos do nosso tempo e, depois de ter
tomado consciência da misericórdia que o Senhor teve convosco,[15] sede
misericordiosos com eles, como o vosso pai São Francisco;[16] e, come ele,
aprendei a ser «enfermos com os enfermos, aflitos com os aflitos».[17] Tudo isto,
longe de ser um sentimento vago, indica uma relação tão profunda entre pessoas
que, transformando o vosso coração, vos levará a compartilhar o destino deles. […]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NA CONFERÊNCIA INTERNACIONAL SOBRE «REFUGIADOS E MIGRANTES NUM MUNDO GLOBALIZADO», ORGANIZADA PELA FEDERAÇÃO INTERNACIONAL DAS UNIVERSIDADES CATÓLICAS

Queridos irmãos e irmãs!
Recebo-vos no final da Conferência Internacional intitulada “Refugiados e Migrantes
num mundo globalizado: responsabilidade e respostas das universidades”,
organizada pela Federação Internacional das Universidades Católicas. Agradeço ao
Presidente as palavras com as quais introduziu o nosso encontro. […]
No que diz respeito ao primeiro âmbito, as universidades católicas sempre
procuraram harmonizar a investigação científica com a teológica, fazendo dialogar
razão e fé. Considero oportuno empreender ulteriores estudos sobre as causas
remotas das migrações forçadas, com o propósito de identificar soluções
praticáveis, mesmo se a longo prazo, porque é necessário em primeiro lugar
garantir às pessoas o direito a não ser obrigadas a emigrar. É igualmente
importante refletir sobre as reações negativas de princípio, por vezes inclusive
discriminatórias e xenófobas, que o acolhimento dos migrantes está a suscitar nos
países de antiga tradição cristã, a fim de propor itinerários de formação das
consciências. Além disso, são certamente dignas de uma maior valorização as
múltiplas contribuições dos migrantes e dos refugiados às sociedades que os
acolhem, assim como aquelas de que beneficiam as suas comunidades de origem. A

fim de dizer a “razão” do cuidado pastoral aos migrantes e aos refugiados, convido-
vos a aprofundar a reflexão teológica sobre as migrações como sinal dos tempos.

«A Igreja sempre contemplou nos migrantes a imagem de Cristo, que disse: “Era
estrangeiro e acolhestes-me” (Mt 25, 35). As suas itinerâncias são uma provocação
à fé e ao amor dos cristãos, chamados a sanar os males derivados das migrações e
a descobrir o desígnio que Deus realiza neles, mesmo quando são causadas por
evidentes injustiças». (Pontifício Conselho para a Pastoral dos Migrantes e
Itinerantes, Istr. Erga migrantes caritas Christi, 12).
No que concerne ao âmbito do ensino, espero que as universidades católicas
adoptem programas que visem favorecer a instrução dos refugiados, a vários
níveis, quer através da oferta de cursos inclusive à distância para quantos vivem
nos campos e nos centros de recolha, quer mediante a concessão de bolsas de
estudo que permitam a sua recolocação. Servindo-se da densa rede académica
internacional, as universidades podem também facilitar o reconhecimento dos
títulos e do profissionalismo dos migrantes e dos refugiados, em benefício deles e
da sociedade que os acolhe. Para responder de forma adequada aos novos desafios
migratórios, é necessário formar de modo específico e profissional os agentes
pastorais que se dedicam à assistência de migrantes e refugiados: esta é outra

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tarefa urgente para as universidades católicas. A nível mais geral, gostaria de
convidar os ateneus católicos a educar os próprios estudantes, alguns dos quais
serão líderes políticos, empresários e artífices de cultura, para uma leitura atenta
do fenómeno migratório, numa perspectiva de justiça, de corresponsabilidade
global e de comunhão na diversidade cultural.
O âmbito da promoção social considera a universidade como uma instituição que se
encarrega da sociedade na qual se encontra a trabalhar, exercendo em primeiro
lugar um papel de consciência crítica em relação às diversas formas de poder
político, económico e cultural. No respeitante ao complexo mundo das migrações, a
Secção Migrantes e Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento
Humano Integral sugeriu “20 Pontos de Ação” como contributo ao processo que
levará à adoção, por parte da comunidade internacional, de dois Acordos Globais,
um sobre os migrantes e outro sobre os refugiados, na segunda metade de 2018.
Nesta e noutras dimensões, as universidades podem desempenhar o seu papel de
atores privilegiados também no âmbito social, como por exemplo o incentivo ao
voluntariado dos estudantes nos programas de assistência aos refugiados, aos
requerentes de asilo e aos migrantes acabados de chegar. […]
O Senhor abençoe o vosso compromisso ao serviço do mundo universitário e dos
irmãos e irmãs migrantes e refugiados. Garanto-vos uma recordação nas minhas
orações, e vós, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim.

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PAPA FRANCESCO ANGELUS

Queridos irmãos e irmãs, bom dia!
[…] Confirma-o um outro texto do Livro do Êxodo, chamado “código da aliança”,
onde se afirma que não se pode estar na Aliança com o Senhor e maltratar quantos
gozam da sua proteção. E quem são aqueles que gozam da sua proteção? A Bíblia
diz: a viúva, o órfão, o estrangeiro, o migrante, ou seja, as pessoas mais sozinhas
e indefesas (cf. Êx 22, 20-21). Respondendo a estes fariseus que o tinham
questionado, Jesus tenta também ajudá-los a pôr ordem na sua religiosidade, a
estabelecer de novo o que conta realmente e o que é menos importante. Jesus diz:
«Nesses dois mandamentos se resumem toda a lei e os profetas» (Mt 22, 40). São
os mais importantes, e os outros dependem destes dois. E Jesus viveu
precisamente assim a sua vida: pregando e fazendo o que conta realmente e é
essencial, ou seja, o amor. O amor dá impulso e fecundidade à vida e ao caminho
de fé: sem amor, quer a vida quer a fé permanecem estéreis. […]