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CELEBRAÇÃO DAS VÉSPERAS NA SOLENIDADE DA CONVERSÃO DE SÃO PAULO APÓSTOLO HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

[…] Depois da libertação, o povo eleito empreendeu uma viagem longa e difícil através do deserto, vacilando muitas vezes, mas encontrando a força na recordação da obra salvífica de Deus e na sua presença sempre próxima. Inclusive os cristãos de hoje encontram muitas dificuldades no caminho, circundados por tantos desertos espirituais que tornam áridas a esperança e a alegria. Ao longo do caminho existem também riscos graves, que põem em perigo a vida: quantos irmãos, hoje, padecem perseguições por causa do nome de Jesus! Quando o seu sangue é derramado, não obstante pertençam a diferentes confissões, juntos tornam-se testemunhas da fé, mártires, unidos no vínculo da graça batismal. Juntamente com os amigos de outras tradições religiosas, ainda hoje os cristãos enfrentam desafios que deturpam a dignidade humana: fogem de situações de conflito e de miséria; são vítimas do tráfico de seres humanos e de outras escravidões modernas; sofrem por causa das dificuldades e da fome, num mundo cada vez mais rico de meios e pobre de amor, onde continuam a aumentar as desigualdades. Contudo, como os israelitas do Êxodo, os cristãos são chamados a conservar juntos a recordação daquilo que Deus realizou neles. Reavivando esta memória, podemos sustentar-nos uns aos outros e, armados unicamente de Jesus e da força dócil do seu Evangelho, enfrentar cada desafio com coragem e esperança. […]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO A UMA REPRESENTAÇÃO DA COMUNIDADE YAZIDIS QUE VIVE NA ALEMANHA

[…] Além disso, penso nos membros da vossa comunidade que ainda estão nas mãos dos terroristas: espero vivamente que se faça todo o possível para os salvar; assim como para localizar os dispersos e para dar identidade e sepultura digna a quantos foram assassinados. A Comunidade internacional não pode permanecer espectadora muda e inerte diante do vosso drama. Por conseguinte, encorajo as instituições e as pessoas de boa vontade pertencentes a outras comunidades a contribuir para a reconstrução das vossas casas e dos vossos lugares de culto. Sejam feitos todos os esforços concretos a fim de criar as condições idóneas para o regresso dos refugiados às suas casas e para preservar a identidade da comunidade Yazidis. Deus nos ajude a construir juntos um mundo no qual se possa viver em paz e fraternidade. […]

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MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO AO PRESIDENTE EXECUTIVO DO FÓRUM ECONÓMICO MUNDIAL DE DAVOS (SUÍÇA)

[…] As frequentes instabilidades financeiras causaram novos problemas e graves desafios com os quais os governos devem confrontar-se, como o aumento do desemprego, de diversas formas de pobreza e do fosso socioeconomico e das novas formas de escravidão, muitas vezes radicadas em situações de conflito, migração e diversos problemas sociais. «A isto vêm juntar-se alguns estilos de vida um pouco egoístas, caracterizados por uma opulência actualmente insustentável e muitas vezes indiferente ao mundo circundante, sobretudo dos mais pobres. No centro do debate político, constata-se lamentavelmente a preponderância das questões técnicas e económicas em detrimento de uma autêntica orientação antropológica. O ser humano corre o risco de ser reduzido a mera engrenagem dum mecanismo que o trata como se fosse um bem de consumo a ser utilizado, de modo que a vida — como vemos, infelizmente, com muita frequência — quando deixa de ser funcional para esse mecanismo, é descartada sem muitas delongas» (Discurso ao Parlamento Europeu, Estrasburgo, 25 de novembro de 2014). […]

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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO CHILE E PERU (15-22 DE JANEIRO DE 2018) HORA MÉDIA COM AS RELIGIOSAS CONTEMPLATIVAS HOMILIA DO SANTO PADRE

[…] Ser o amor! É saber assistir o sofrimento de tantos irmãos, dizendo com o Salmista: «Na minha angústia, clamei ao Senhor. O Senhor escutou-me e pôs-me a salvo» (Sal 118/117, 5). Assim, a vossa vida na clausura consegue ter um alcance missionário e universal e «um papel fundamental na vida da Igreja. Rezai e intercedei por tantos irmãos e irmãs presos, migrantes, refugiados e perseguidos, por tantas famílias feridas, pelas pessoas sem trabalho, pelos pobres, os doentes, as vítimas das várias dependências… limitando-me a citar algumas situações que se tornam, de dia para dia, mais urgentes. Sois como aqueles amigos que trouxeram o paralítico à presença do Senhor, para que o curasse (cf. Mc 2, 1-12). [Não tinham vergonha; eram “desavergonhados”, mas no bom sentido. Não tiveram vergonha de abrir um buraco no teto e fazer descer o paralítico. Sede “desavergonhadas”, não vos envergonheis de fazer, através da oração, com que a miséria dos homens se aproxime do poder de Deus. Esta é a vossa oração]. Através da oração, dia e noite, aproximais do Senhor a vida de tantos irmãos e irmãs que, por variadas situações, não O podem alcançar para experimentar a sua misericórdia sanadora, enquanto Ele os espera para lhes conceder a graça. Com a vossa oração, podeis curar as chagas de tantos irmãos».[2] […]

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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO CHILE E PERU (15-22 DE JANEIRO DE 2018) ENCONTRO COM AS AUTORIDADES, A SOCIEDADE CIVIL E O CORPO DIPLOMÁTICO DISCURSO DO SANTO PADRE

[…] Por exemplo, as extrações minerárias irregulares tornaram-se um perigo que destrói a vida das pessoas; as florestas e os rios são devastados com toda a sua riqueza. Este processo de degradação envolve e favorece a organizações fora das estruturas legais, que degradam tantos dos nossos irmãos e irmãs, submetendo-os ao tráfico de seres humanos – nova forma de escravatura –, ao trabalho irregular, à delinquência… e outros males que afetam gravemente a sua dignidade e, ao mesmo tempo, a dignidade da nação. […]

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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO CHILE E PERU (15-22 DE JANEIRO DE 2018) ENCONTRO COM OS POVOS DA AMAZÔNIA DISCURSO DO SANTO PADRE

[…] Provavelmente, nunca os povos originários amazónicos estiveram tão ameaçados nos seus territórios como o estão agora. A Amazónia é uma terra disputada em várias frentes: por um lado, a nova ideologia extrativa e a forte pressão de grandes interesses económicos cuja avidez se centra no petróleo, gás, madeira, ouro e monoculturas agroindustriais; por outro, a ameaça contra os vossos territórios vem da perversão de certas políticas que promovem a «conservação» da natureza sem ter em conta o ser humano, nomeadamente vós irmãos amazónicos que a habitais. Temos conhecimento de movimentos que, em nome da conservação da floresta, se apropriam de grandes extensões da mesma e negoceiam com elas gerando situações de opressão sobre os povos nativos, para quem, assim, o território e os recursos naturais que há nele se tornam inacessíveis. Este problema sufoca os vossos povos, e causa a migração das novas gerações devido à falta de alternativas locais. Devemos romper com o paradigma histórico que considera a Amazónia como uma despensa inesgotável dos Estados, sem ter em conta os seus habitantes. Considero imprescindível fazer esforços para gerar espaços institucionais de respeito, reconhecimento e diálogo com os povos nativos, assumindo e resgatando a cultura, a linguagem, as tradições, os direitos e a espiritualidade que lhes são próprios. Um diálogo intercultural, no qual sejais «os principais interlocutores, especialmente quando se avança com grandes projetos que afetam os [vossos] espaços».[1] O reconhecimento e o diálogo serão o melhor caminho para transformar as velhas relações marcadas pela exclusão e a discriminação. Em contrapartida, é justo reconhecer a existência de esperançosas iniciativas que surgem das vossas próprias realidades locais e das vossas organizações, procurando fazer com que os próprios povos originários e as comunidades sejam os guardiões das florestas e que os recursos produzidos pela sua conservação revertam em benefício das vossas famílias, na melhoria das vossas condições de vida, da saúde e da instrução das vossas comunidades. Este «bom agir» está em sintonia com as práticas do «bom viver», que descobrimos na sabedoria dos nossos povos. Seja-me permitido dizer que se, para alguns, sois considerados um obstáculo ou um «estorvo», a verdade é que vós, com a vossa vida, sois um grito lançado à consciência dum estilo de vida que não consegue medir os custos do mesmo. Vós sois memória viva da missão que Deus nos confiou a todos: cuidar da Casa Comum. A defesa da terra não tem outra finalidade senão a defesa da vida. Conhecemos o sofrimento que suportam alguns de vós por causa de derrames de hidrocarbonetos que ameaçam seriamente a vida das vossas famílias e poluem o vosso ambiente natural. Paralelamente, há outra devastação da vida que está associada com esta poluição ambiental causada pela extração ilegal. Refiro-me ao tráfico de pessoas: o trabalho escravo e o abuso sexual. A violência contra os adolescentes e contra as mulheres é um grito que chega ao céu. «Sempre me angustiou a situação das pessoas que são objeto das diferentes formas de tráfico. Quem dera que se ouvisse o grito de Deus, perguntando a todos nós: “Onde está o teu irmão?” (Gn 4, 9). Onde está o teu irmão escravo? (…) Não nos façamos de distraídos [olhando para o ouro lado]! Há muita cumplicidade… A pergunta é para todos!»[2] […]

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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO CHILE E PERU (15-22 DE JANEIRO DE 2018) ENCONTRO COM A POPULAÇÃO DISCURSO DO SANTO PADRE

[…] A propósito, permiti que me detenha num assunto doloroso. Habituamo-nos a usar a expressão «tráfico de pessoas». Quando cheguei a Puerto Maldonado, vi no aeroporto um cartaz que me impressionou positivamente: «Atenção ao tráfico de pessoas». É sinal de que se está a tomar consciência. Mas, na realidade, deveríamos falar de escravatura: escravatura laboral, escravatura sexual, escravatura para fim de lucro. É triste constatar como, nesta terra que está sob a proteção da Mãe de Deus, muitas mulheres sejam tão desvalorizadas, desprezadas e sujeitas a violências sem fim. Não podemos «olhar como normal» a violência, tomá-la como uma coisa natural. Não, não se «considere normal» a violência contra as mulheres, mantendo uma cultura machista que não aceita o papel de protagonista da mulher nas nossas comunidades. Não nos é lícito virar cara para o outro lado, irmãos, e deixar que tantas mulheres, especialmente adolescentes, sejam «espezinhadas» na sua dignidade. Várias pessoas emigraram para a Amazónia à procura de teto, terra e trabalho. Vieram à procura dum futuro melhor para elas mesmas e sua família. Abandonaram a sua vida humilde, pobre, mas digna. Muitas delas, com a promessa de que certos trabalhos poriam termo a situações precárias, basearam-se no brilho promissor da extração do ouro. Mas não esqueçamos que o ouro se pode tornar num falso deus, que pretende sacrifícios humanos. […]

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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO CHILE E PERU (15-22 DE JANEIRO DE 2018) MISSA DA VIRGEM DO CARMO E ORAÇÃO PELO CHILE

HOMILIA DO SANTO PADRE […] Irmãos, Iquique é uma «terra de sonhos» (tal é o significado do nome, em língua aymara); uma terra que soube albergar pessoas de diferentes povos e culturas, pessoas que tiveram de deixar os seus queridos e partir. Uma marcha sempre baseada na esperança de obter uma vida melhor, mas sabemos que sempre se faz acompanhar por bagagens carregadas de medo e incerteza pelo que virá. Iquique é uma região de imigrantes que nos lembra a grandeza de homens e mulheres; de famílias inteiras que, perante a adversidade, não se dão por vencidas mas mexemse à procura de vida. Eles – sobretudo quantos têm que deixar a sua terra, porque não encontram o mínimo necessário para viver – são ícones da Sagrada Família, que teve de atravessar desertos para poder continuar a viver. Esta é terra de sonhos, mas procuremos que continue a ser também terra de hospitalidade. Hospitalidade festiva, porque sabemos bem que não há alegria cristã, quando se fecham as portas; não há alegria cristã, quando se faz sentir aos outros que estão a mais ou que não têm lugar no nosso meio (cf. Lc 16, 19-31). Como Maria em Caná, procuremos aprender a estar atentos nas nossas praças e aldeias e reconhecer aqueles que têm a vida «arruinada»; que perderam – ou lhes roubaram – as razões para fazer festa. E não tenhamos medo de levantar as nossas vozes para dizer: «Não têm vinho». O grito do povo de Deus, o grito do pobre, que tem forma de oração e alarga o coração, e nos ensina a estar atentos. Estejamos atentos a todas as situações de injustiça e às novas formas de exploração que fazem tantos irmãos perder a alegria da festa. Estejamos atentos à situação de precariedade do trabalho que destrói vidas e famílias. Estejamos atentos a quem se aproveita da irregularidade de muitos migrantes porque não conhecem a língua ou não têm os documentos em «regra». Estejamos atentos à falta de teto, terra e trabalho de tantas famílias. E, como Maria, digamos: Não têm vinho. Como os serventes da festa, tragamos o que temos, por pouco que pareça. Como eles, não tenhamos medo de «dar uma mão», e que a nossa solidariedade e o nosso compromisso em prol da justiça sejam parte da dança ou do cântico que hoje podemos entoar a nosso Senhor. Aproveitemos também para aprender e deixar-nos impregnar pelos valores, a sabedoria e a fé que os migrantes trazem consigo; sem nos fecharmos a essas «vasilhas» cheias de sabedoria e história que trazem quantos continuam a chegar a estas terras. Não nos privemos de todo o bem que eles têm para oferecer. […]

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VIAGEM APOSTÓLICA DO PAPA FRANCISCO AO CHILE E PERU (15-22 DE JANEIRO DE 2018) ENCONTRO COM AS AUTORIDADES, A SOCIEDADE CIVIL E O CORPO DIPLOMÁTICO DISCURSO DO SANTO PADRE

[…] Esta capacidade de escuta adquire um grande valor nesta nação, onde a pluralidade étnica, cultural e histórica exige ser protegida de qualquer tentativa feita de parcialidade ou supremacia e que coloca em jogo a capacidade de deixar cair dogmatismos exclusivistas numa sã abertura ao bem comum (que, se não apresentar um caráter comunitário, nunca será um bem). É indispensável escutar: ouvir os desempregados, que não podem sustentar o presente e menos ainda o futuro das suas famílias; ouvir os povos nativos, muitas vezes esquecidos e cujos direitos necessitam de ser atendidos e a sua cultura protegida, para que não se perca uma parte da identidade e riqueza desta nação. Ouvir os migrantes, que batem às portas deste país à procura duma vida melhor e, por sua vez, com a força e a esperança de querer construir um futuro melhor para todos. Ouvir os jovens, na sua ânsia de ter maiores oportunidades, especialmente no plano educativo, e assim sentir-se protagonistas do Chile que sonham, protegendo-os ativamente do flagelo da droga que lhes rouba o melhor das suas vidas. Ouvir os idosos, com a sua sabedoria tão necessária e a carga da sua fragilidade. Não podemos abandoná-los. Ouvir as crianças, que assomam ao mundo com os seus olhos cheios de deslumbramento e inocência e esperam de nós respostas reais para um futuro de dignidade. E aqui não posso deixar de exprimir o pesar e a vergonha, vergonha que sinto perante o dano irreparável causado às crianças por ministros da Igreja. Desejo unir-me aos meus irmãos no episcopado, porque é justo pedir perdão e apoiar, com todas as forças, as vítimas, ao mesmo tempo que nos devemos empenhar para que isso não volte a repetir-se. […]

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PAPA FRANCISCO ANGELUS

Depois do Angelus Prezados irmãos e irmãs! Hoje comemora-se o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado. Esta manhã celebrei a Missa com um bom grupo de migrantes e refugiados residentes na diocese de Roma. Na minha mensagem para este Dia, sublinhei que hoje as migrações são um sinal dos tempos. «Cada forasteiro que bate à nossa porta é uma ocasião de encontro com Jesus Cristo, que se identifica com o estrangeiro acolhido ou rejeitado de cada época (cf. Mt 25, 35.43). […] A este respeito, desejo reafirmar que «a nossa resposta comum poderia articular-se à volta de quatro verbos fundados sobre os princípios da doutrina da Igreja: acolher, proteger, promover e integrar». Doravante, por motivos pastorais, o Dia mundial do migrante e do refugiado será celebrado no segundo domingo de setembro. O próximo, ou seja, o centésimo quinto, será no domingo, 8 de setembro de 2019. […]