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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA DA PONTIFÍCIA ACADEMIA PARA A VIDA

[…] Por conseguinte, é preciso proceder um cuidadoso discernimento das complexas diferenças fundamentais da vida humana: do homem e da mulher, da paternidade e da maternidade, da filiação e da fraternidade, da socialidade e também de todas as diversas idades da vida. Assim como de todas as condições difíceis e das passagens delicadas ou perigosas que exigem especial sabedoria ética e resistência moral corajosa: a sexualidade e a geração, a doença e a velhice, a insuficiência e a deficiência, a privação e a exclusão, a violência e a guerra. «A defesa do inocente nascituro, por exemplo, deve ser clara, firme e apaixonada, porque neste caso está em jogo a dignidade da vida humana, sempre sagrada, e exige-o o amor por toda a pessoa, independentemente do seu desenvolvimento. Mas igualmente sagrada é a vida dos pobres que já nasceram e se debatem na miséria, no abandono, na exclusão, no tráfico de pessoas, na eutanásia encoberta de doentes e idosos privados de cuidados, nas novas formas de escravatura, e em todas as formas de descarte» (Exort. ap. Gaudete et exsultate, 101). […]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NA ASSEMBLEIA DAS OBRAS PARA A AJUDA ÀS IGREJAS ORIENTAIS (ROACO)

DISCURSO DO SANTO PADRE A ROACO é algo muito importante. Hoje o Médio Oriente é uma encruzilhada de situações difíceis, dolorosas. E até no Médio Oriente há o risco — não quero dizer a vontade de alguém — o perigo de cancelar os cristãos. Um Médio Oriente sem cristãos não seria Médio Oriente. Por ocasião do cinquentenário da ROACO eu queria ler-vos este discurso [mostra o texto escrito]. Todos vós o tendes nas mãos em inglês, e não é bom fazer um duplicado. Mas dado que a preocupação pelo Médio Oriente é grande, permiti-me dizer algo espontaneamente, e entrego o discurso escrito ao Cardeal Sandri. Vós já o tendes em inglês. E assim não vos aborreço, repetindo os mesmos conceitos. Hoje o Médio Oriente sofre, chora, e algumas potências mundiais olham para o Médio Oriente talvez não tanto com preocupação pela cultura, pela fé, pela vida daqueles povos; ao contrário, observam-no para conquistar uma sua parte e ter mais domínio. “Os cristãos — todos dizem — são os primeiros no Médio Oriente, devemos respeitálos”. Mas a realidade não é assim. O número de cristãos diminui. Recentemente falei sobre isto com o Cardeal Zenari [Núncio Apostólico na Síria]. Diminui! E muitos não querem voltar, porque o sofrimento é grande. Amam a terra, amam a fé, mas o sofrimento foi grande, muito intenso. O Médio Oriente é o berço do Cristianismo: a terra de Jesus. O vosso trabalho de ajuda ao Médio Oriente, de preocupação pelo Médio Oriente, é muito grande, deveras importante. E estou-vos muito grato por isso. No Médio Oriente existem grandes Igrejas, as Igrejas antigas, com a sua teologia, as suas liturgias. E estas belezas…, os seus Santos Padres, os seus mestres espirituais… A grande tradição do Médio Oriente. Devemos preservar tudo isto. Temos que lutar por isto. Vós já o fazeis, e agradeço-vos, porque esta é também a linfa — digamos assim — que deriva das raízes, para dar vida à nossa alma. Quantos de nós utilizam, para a nossa vida espiritual, a doutrina dos Padres do Oriente, dos antigos monges que nos ensinam o caminho da contemplação, da santidade! Neste momento de dor, o Médio Oriente é terra de migrações. E este é um dos problemas mais graves. Pensemos no Líbano, onde um terço da população é constituída por refugiados, na maioria sírios, porque foram acolhidos numerosos sírios. Pensemos na Jordânia, que também tem um elevado número de sírios, os quais sofrem… E também na Turquia. Depois, na Europa. Quando estive em Lesbos, havia muitíssimos sírios, muitos, estava cheia… Cristãos, muçulmanos que fugiam. E na Itália a mesma situação. É terra de imigrações. E inclusive entre os próprios países do Médio Oriente. […] DISCURSO OFICIAL DO SANTO PADRE Queridos amigos! Apraz-me encontrar-me convosco no final dos trabalhos da vossa Assembleia Plenária, que este ano coincide com o cinquentenário de fundação da ROACO. Saúdo cordialmente o Cardeal Sandri e agradeço-lhe as suas palavras de introdução. Estendo a minha saudação reconhecida aos Representantes Pontifícios dos países do Médio Oriente, que todos os dias acompanham a esperança das populações cristãs ou de outras tradições religiosas nas terras marcadas, infelizmente, por conflitos e sofrimentos. Saúdo com gratidão os representantes das Agências católicas juntamente com os benfeitores da Congregação para as Igrejas Orientais, e também quantos foram colaboradores nos anos passados e estão presentes por ocasião do importante aniversário. Depois do centenário do Dicastério, que acabou de se concluir, a ROACO vive o seu ano jubilar. Segundo as Escrituras, no cinquentenário ressoava o shofar, a trombeta que anunciava o ano de libertação dos escravos, do perdão das dívidas, do regresso à posse das terras, tudo fundado sobre a consciência do dom gratuito da aliança e da terra, que disto era sinal, por parte de Deus ao seu povo. Convido-vos a recordar com gratidão o tempo transcorrido, e em primeiro lugar os rostos — alguns já concluíram a sua peregrinação terrena — que na Congregação assim como em cada uma das vossas Agências contribuíram para o esforço de ajuda e de caridade. Com efeito, o estudo dos projetos e o seu apoio material, graças à generosidade de muitíssimos fiéis no mundo inteiro, permitiu que diversas expressões das Igrejas Orientais católicas, quer na terra de origem quer na diáspora, se desenvolvessem e levassem em frente o testemunho evangélico. Um testemunho duramente demonstrado, muitas vezes através de sofrimentos e perseguições, inicialmente por parte dos regimes totalitários da Europa Oriental, depois, mais recentemente, por formas de fundamentalismo e fanatismo com pretextos religiosos e por conflitos que parecem não querer cessar sobretudo no Médio Oriente. A solidariedade concreta que expressastes veio ao encontro das emergências das guerras e das migrações, mas em primeiro lugar soube garantir a própria vida das Igrejas, as atividades pastorais e de evangelização, as obras sociais e assistenciais. Tudo isto manifesta o rosto da Igreja de Cristo que anuncia o Evangelho com as obras e as palavras, tornando presente a própria caridade de Deus em relação a cada homem. Com efeito, o ano de graça do Senhor tem sempre uma dimensão de libertação interior, do coração do homem oprimido pelo pecado, e exterior, na vida nova dos remidos que antecipa os céus novos e a terra nova nos quais habitará a justiça. São Pedro, no seu discurso depois do Pentecostes, recorda a profecia — para mim muito querida — de Joel: «Acontecerá nos últimos dias que derramarei do meu Espírito sobre todo ser vivo: profetizarão os vossos filhos e as vossas filhas. Os vossos jovens terão visões, e os vossos anciãos sonharão» (At 2, 17). As Igrejas Orientais católicas, que são testemunhas vivas das origens apostólicas, são chamadas de maneira especial a preservar e difundir a centelha do fogo pentecostal: são chamadas todos os dias a redescobrir a própria presença profética em todos os lugares onde são peregrinas. Começando por Jerusalém — Cidade Santa cuja identidade e vocação peculiar deve ser preservada independentemente das várias tensões e disputas políticas — a presença dos cristão, embora pequeno rebanho, haure do Espírito a força para a missão de testemunho, hoje mais urgente do que nunca. Dos lugares santos, onde o sonho de Deus cumpriu-se no mistério da Encarnação e da Morte e Ressurreição de Jesus Cristo, chegue um renovado espírito de fortaleza que anime os cristãos da Terra Santa e do Médio Oriente em compreender a sua vocação específica e em dar razão da fé e da esperança. Os filhos e as filhas das Igrejas Orientais católicas possam preservar a sua carga profética, de anúncio do Evangelho de Jesus, inclusive nos contextos muitas vezes secularizados do nosso Ocidente, onde chegam como emigrados ou refugiados. Possam encontrar acolhimento quer a nível prático quer no âmbito da vida eclesial, conservando e desenvolvendo o património das próprias tradições. Eles, também graças à vossa ajuda, são capazes de testemunhar aos nossos corações, por vezes entorpecidos, que vale ainda a pena viver e sofrer pelo Evangelho, mesmo sendo eles minoria ou até perseguidos, porque o Evangelho é a alegria e a vida dos homens e das mulheres de todos os tempos […]

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MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO POR OCASIÃO DO ALMOÇO ORGANIZADO PELA CÁRITAS INTERNACIONAL PARA OS REFUGIADOS POR OCASIÃO DA CAMPANHA “SHARE THE JOURNEY” (COMPARTILHAR O CAMINHO)

Estimados irmãos e irmãs! Com esta mensagem, desejo encorajar-vos a prosseguir o vosso caminho com os migrantes e os refugiados, e a partilhar com eles uma refeição, como aquela organizada aqui pela Cáritas. Como Cáritas, aceitastes o convite a lançar uma iniciativa de sensibilização a nível mundial, a favor dos migrantes e dos refugiados: trata-se da campanha “Compartilhar o caminho”, que inauguramos juntos no passado dia 27 de setembro. Hoje, gostaria de convidar todos — migrantes, refugiados, agentes da Cáritas e instituições — a identificar os traços deste percurso que mais vos marcaram: qual esperança anima o vosso caminho? Procurai compartilhar este pensamento e “festejar” por aquilo que nos une. Por fim, desejo encorajar-vos, a vós da Cáritas, a comunidade dos fiéis com os seus pastores e todas as pessoas de boa vontade, a criar sempre novos espaços de partilha, a fim de que dos nossos encontros possa germinar uma renovada fraternidade para com os migrantes e os refugiados. Abençoo de coração o vosso refeitório e desejo-vos bom almoço.

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PAPA FRANCISCO ANGELUS

[…] A próxima quarta-feira será o Dia Mundial do Refugiado, promovido pelas Nações Unidas a fim de chamar a atenção para aquilo que vivem, muitas vezes com grandes ansiedades e sofrimentos, os nossos irmãos obrigados a fugir da sua terra por causa de conflitos e perseguições. Um Dia que, este ano, coincide com as consultas entre os Governos para a adoção de um Pacto Mundial sobre os Refugiados, que se pretende adotar até ao fim deste ano, como aquele para uma migração segura, ordenada e regular. Faço votos de que os Estados concernidos nestes processos alcancem um entendimento a fim de garantir, com responsabilidade e humanidade, assistência e proteção a quem é forçado a deixar o seu país. Mas também cada um de nós é chamado a estar próximo dos refugiados, a procurar momentos de encontro com eles, a valorizar a sua contribuição, para que se possam inserir melhor na comunidade que os recebe. Neste encontro e neste recíproco respeito e apoio está a solução de tantos problemas. […]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS MEMBROS DA FEDERAÇÃO DOS TRABALHADORES CONDECORADOS PELO GOVERNO ITALIANO

[…] Sejam nossas guias, neste caminho árduo mas entusiasmante, as Bem-Aventuranças de Jesus no Evangelho (cf. Mt 5, 3-11); Exort. ap. Gaudete et exsultate, 67-94): nos levem a olhar sempre com amor para o próprio Jesus, o qual as encarnou na sua Pessoa; nos mostrem que a santidade não diz respeito só ao espírito, mas também aos pés, para ir ao encontro dos irmãos, e às mãos, a fim de partilhar com eles. Nos ensinem a nós e ao nosso mundo a não desconfiar nem a deixar à mercê das ondas quem abandona a sua terra, faminto de pão e de justiça; nos levem a não viver do supérfluo, a comprometermo-nos pela promoção de todos, a inclinarmo-nos com compaixão sobre os mais débeis. Sem a ilusão cómoda de que, da mesa rica de poucos, possa “chover” automaticamente o bem-estar para todos. Isto não é verdade. […]

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MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO POR OCASIÃO DO DIÁLOGO SANTA SÉ – MÉXICO SOBRE A MIGRAÇÃO INTERNACIONAL

Desejo transmitir a minha saudação a todos os participantes neste segundo Colóquio Santa Sé — México sobre a migração internacional, manifestando um agradecimento especial aos organizadores e relatores. Este encontro ocorre por ocasião do 25° aniversário do restabelecimento das relações diplomáticas entre os Estados Unidos Mexicanos e a Santa Sé. É, por conseguinte, uma oportunidade propícia para fortalecer e renovar os nossos laços de colaboração e de entendimento a fim de continuar a trabalhar juntos em prol dos necessitados e dos descartados da sociedade. No momento atual, em que a Comunidade internacional está engajada em dois processos que levarão a adotar dois pactos globais, um sobre os refugiados e outro sobre a migração segura, ordenada e regular, gostaria de vos encorajar na vossa tarefa e esforço a fim de que a responsabilidade da gestão global e partilhada da migração internacional encontre o seu ponto de força nos valores da justiça, da solidariedade e da compaixão. Para esta finalidade, é necessária uma mudança de mentalidade: passar da consideração do outro como uma ameaça contra o nosso conforto para o seu apreço como alguém que com a própria experiência de vida e os seus valores pode introduzir melhorias e contribuir para a riqueza da nossa sociedade. Por conseguinte, a atitude fundamental consiste em «ir ao encontro do outro, para o acolher, conhecer e reconhecer» (Homilia durante a Missa para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, 14 de janeiro de 2018). Para fazer face e dar resposta ao fenómeno da migração atual, é necessária a ajuda de toda a Comunidade internacional, dado que ele tem uma dimensão transnacional, que supera as possibilidades e os meios de muitos Estados. Esta cooperação internacional é importante em todas as etapas da migração, desde o país de origem até ao destino, assim como em facilitar o regresso e o trânsito. Em cada uma destas passagens, o migrante é vulnerável, sente-se sozinho e isolado. Tomar consciência disto é extremamente importante se quisermos dar uma resposta concreta e digna a este desafio humanitário. Por fim, gostaria de assinalar que, relativamente à questão da migração, não estão em jogo apenas números, mas pessoas, com a própria história, cultura, sentimentos e aspirações. Estas pessoas, que são nossos irmãos e irmãs, precisam de uma proteção constante, independentemente do seu status migratório. Os seus direitos fundamentais e a sua dignidade devem ser protegidos e defendidos. Uma atenção especial há de ser reservada aos migrantes menores, às suas famílias, a quantos são vítimas das redes do tráfico de seres humanos e às pessoas deslocadas por causa de conflitos, desastres naturais e perseguições. Todos eles esperam que tenhamos a coragem de abater o muro daquela cumplicidade cómoda e muda que agrava a sua situação de abandono e que centremos sobre eles a nossa atenção, a nossa compaixão e a nossa dedicação. Dou graças a Deus pelo trabalho e o serviço que prestais e exorto-vos a continuar os vossos esforços para ir ao encontro deste grito dos nossos irmãos, que nos pedem para os reconhecer como tais e para lhes dar a oportunidade de viver com dignidade e em paz, favorecendo assim o desenvolvimento dos povos. E concedo a todos vós a Bênção Apostólica.

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NO ENCONTRO DE DIRIGENTES DE EMPRESAS LIGADAS AO SETOR DE ENERGIA

[…] Além disso, existem também algumas profundas motivações éticas para caminharmos rumo a uma transição energética global com um sentido de urgência. Como sabemos, somos atingidos pelas crises climáticas. No entanto, os efeitos das mudanças climáticas não são distribuídos de modo uniforme. São os pobres que sofrem em maior medida por causa das devastações do aquecimento global, com as crescentes perturbações no campo agrícola, a insegurança da disponibilidade de água e a exposição a graves eventos meteorológicos. Muitos daqueles que mal podem permitir-se, já são obrigados a abandonar as próprias habitações e a migrar para outros lugares, sem saber como serão recebidos. E muitos mais deverão fazê-lo no futuro. A transição para a energia acessível e limpa é uma responsabilidade que temos por milhões de nossos irmãos e irmãs no mundo, pelos países pobres e pelas gerações vindouras. […]

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VISITA DO PAPA FRANCISCO A BARI ENCONTRO DE ORAÇÃO E REFLEXÃO SOBRE O MÉDIO ORIENTE MONIÇÃO INTRODUTÓRIA DO SANTO PADRE À ORAÇÃO ECUMÉNICA PELA PAZ

[…] Mas sobre esta região esplêndida adensou-se, especialmente nos últimos anos, uma espessa cortina de trevas: guerra, violência e destruição, ocupações e formas de fundamentalismo, migrações forçadas e abandono… Tudo no silêncio de tantos e com a cumplicidade de muitos. O Médio Oriente tornou-se terra de gente que deixa a própria terra. E há o risco de ser cancelada a presença de nossos irmãos e irmãs na fé, deturpando a própria fisionomia da região, porque um Médio Oriente sem cristãos não seria Médio Oriente. […]

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EUCARISTIA PELOS MIGRANTES HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

«Ouvi isto, vós que esmagais o pobre e fazeis perecer os desfavorecidos da terra (…). Eis que vêm dias em que lançarei fome sobre o país, (…) fome de ouvir as palavras do Senhor» (Am 8, 4.11). A advertência do profeta Amós revela-se ainda hoje de veemente atualidade. Quantos pobres são hoje esmagados! Quantos desfavorecidos são feitos perecer! Todos eles são vítimas daquela cultura do descarte que repetidamente foi denunciada. E, entre eles, não posso deixar de incluir os migrantes e os refugiados, que continuam a bater às portas das nações que gozam de maior bem-estar. Recordando as vítimas dos naufrágios há cinco anos, durante a minha visita a Lampedusa, fiz-me eco deste perene apelo à responsabilidade humana: «“Onde está o teu irmão? A voz do seu sangue clama até Mim”, diz o Senhor Deus. Esta não é uma pergunta posta a outrem; é uma pergunta posta a mim, a ti, a cada um de nós» [Insegnamenti I(2013)-vol. 2, 23]. Infelizmente, apesar de generosas, as respostas a este apelo não foram suficientes e hoje choramos milhares de mortos. A aclamação de hoje ao Evangelho contém este convite de Jesus: «Vinde a Mim, todos os que estais cansados e oprimidos, que Eu hei de aliviar-vos» (Mt 11, 28). O Senhor promete descanso e libertação a todos os oprimidos do mundo, mas precisa de nós para tornar eficaz a sua promessa. Precisa dos nossos olhos para ver as necessidades dos irmãos e irmãs. Precisa das nossas mãos para socorrê-los. Precisa da nossa voz para denunciar as injustiças cometidas no silêncio – por vezes cúmplice – de muitos. Na realidade, deveria falar de muitos silêncios: o silêncio do sentido comum, o silêncio do «fez-se sempre sempre assim», o silêncio do «nós» sempre contraposto ao «vós». Sobretudo o Senhor precisa do nosso coração para manifestar o amor misericordioso de Deus pelos últimos, os rejeitados, os abandonados, os marginalizados. No Evangelho de hoje, Mateus narra o dia mais importante da sua vida: aquele em que foi chamado pelo Senhor. O Evangelista recorda claramente a censura de Jesus aos fariseus, com tendência fácil a murmurar: «Ide aprender o que significa: Prefiro a misericórdia ao sacrifício» (9, 13). É uma acusação direta à hipocrisia estéril de quem não quer «sujar as mãos», como o sacerdote e o levita na parábola do Bom Samaritano. Trata-se duma tentação muito presente também nos nossos dias, que se traduz num fechamento a quantos têm direito, como nós, à segurança e a uma condição de vida digna, e que constrói muros, reais ou imaginários, em vez de pontes. Perante os desafios migratórios da atualidade, a única resposta sensata é a solidariedade e a misericórdia; uma resposta que não faz demasiados cálculos, mas exige uma divisão equitativa das responsabilidades, uma avaliação honesta e sincera das alternativas e uma gestão prudente. Política justa é aquela que se coloca ao serviço da pessoa, de todas as pessoas interessadas; que prevê soluções idóneas a garantir a segurança, o respeito pelos direitos e a dignidade de todos; que sabe olhar para o bem do seu país tendo em conta o dos outros países, num mundo cada vez mais interligado. É para um mundo assim, que olham os jovens. O Salmista indicou-nos a atitude justa que, em consciência, se deve assumir diante de Deus: «Escolhi o caminho da fidelidade e decidi-me pelos vossos juízos» (Sal 118/119, 30). Um compromisso de fidelidade e de juízo reto que esperamos realizar juntamente com os governantes da terra e as pessoas de boa vontade. Por isso, acompanhamos atentamente o trabalho da comunidade internacional para dar resposta aos desafios colocados pelas migrações atuais, harmonizando sabiamente solidariedade e subsidiariedade e identificando recursos e responsabilidades. Desejo concluir com algumas palavras dirigidas particularmente aos fiéis que vieram da Espanha. Quis celebrar o quinto aniversário da minha visita a Lampedusa convosco, que representais os socorristas e os resgatados no Mar Mediterrâneo. Aos primeiros, quero expressar a minha gratidão por encarnarem hoje a parábola do Bom Samaritano, que parou para salvar a vida daquele pobre homem espancado pelos ladrões, sem lhe perguntar pela sua proveniência, pelos motivos da sua viagem ou pelos seus documentos: simplesmente decidiu cuidar dele e salvar a sua vida. Aos resgatados, quero reiterar a minha solidariedade e encorajamento, pois conheço bem as tragédias de que estais a fugir. Peço-vos que continueis a ser testemunhas da esperança num mundo cada vez mais preocupado com o próprio presente, com reduzida visão de futuro e relutante a partilhar, e que elaboreis conjuntamente, no respeito pela cultura e as leis do país de acolhimento, o caminho da integração. Peço ao Espírito Santo que ilumine a nossa mente e inflame o nosso coração para superarmos todos os medos e inquietações e nos transformarmos em instrumentos dóceis do amor misericordioso do Pai, prontos a dar a nossa vida pelos irmãos e irmãs, tal como fez o Senhor Jesus Cristo por cada um de nós.

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MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO A SUA SANTIDADE BARTOLOMEW I POR OCASIÃO DO SIMPÓSIO INTERNACIONAL “PARA UM ATTICA MAIS VERDE: PRESERVANDO O PLANETA E PROTEGENDO AS SUAS PESSOAS”

[…] Lembro-me vividamente da minha visita a Lesvos, juntamente com Vossa Santidade e Sua Beatitude Hieronymos II, para expressar nossa preocupação comum pela situação dos migrantes e refugiados que lá se encontram. Encantado com a paisagem do céu azul e do mar, fiquei impressionado com a idéia de que um mar tão belo se tornara uma tumba para homens, mulheres e crianças que, na maioria das vezes, buscavam apenas escapar de condições desumanas em sua própria terra natal. Lá pude testemunhar por mim mesmo a generosidade do povo grego, tão ricamente imbuído de valores humanos e cristãos, e seus esforços, apesar dos efeitos de sua própria crise econômica, para consolar aqueles que, despossuídos de todos os bens materiais, fizeram seu caminho para suas costas. As dramáticas contradições que experimentei durante minha visita nos ajudam a entender a importância do tema do simpósio atual. Não são apenas as casas de pessoas vulneráveis em todo o mundo que estão desmoronando, como pode ser visto no crescente êxodo mundial de migrantes climáticos e refugiados ambientais. Como tentei assinalar em minha Encíclica Laudato Si ‘, podemos estar condenando as futuras gerações a um lar comum deixado em ruínas. Hoje devemos honestamente nos fazer uma pergunta básica: “Que tipo de mundo queremos deixar para aqueles que vêm depois de nós, para as crianças que estão crescendo agora?” (Ibid., 160). Na sequência da crise ecológica, devemos proceder a um exame de consciência sério sobre a protecção do planeta que nos é confiado (cf. Gn 2, 15). […]