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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO À SUA SANTIDADE MAR GEWARGIS III, CATHOLICOS-PATRIARCA DA IGREJA ASSÍRIA DO ORIENTE

[…] 3. Na nossa peregrinação rumo à unidade visível, experimentamos um sofrimento comum que nasce da dramática situação dos nossos irmãos e irmãs cristãos no Médio Oriente, sobretudo no Iraque e na Síria. A importância da presença e da missão cristã no Médio Oriente foi evidenciada mais uma vez de maneira clara durante o Dia de oração e reflexão que teve lugar em Bari, a 7 de julho de 2018, quando os chefes das Igrejas e das comunidades cristãs do Médio Oriente se reuniram para rezar e para falar uns com os outros. A Boa Nova de Jesus, crucificado e ressuscitado por amor, chegou do Médio Oriente e com o decorrer dos séculos conquistou corações humanos, não com a força terrena, mas com a força desarmada da Cruz. Contudo, há alguns decénios o Médio Oriente é um epicentro de violência, onde todos os dias populações inteiras suportam provações dolorosas. Centenas de milhares de homens, mulheres e crianças inocentes sofrem imensamente por causa de conflitos violentos sem justificação. As guerras e as perseguições aumentaram o êxodo de cristãos das terras nas quais viveram lado a lado com outras comunidades religiosas desde os tempos dos apóstolos. Sem distinção de rito nem de confissão, sofrem por professarem o nome de Cristo. Neles vemos o Corpo de Cristo que, ainda hoje, é atormentado, espancado e ultrajado. Estamos profundamente unidos na nossa prece de intercessão e no nosso compromisso caritativo em prol destes membros sofredores do Corpo de Cristo. […]

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MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NA CONFERÊNCIA “A GESTÃO DE UM BEM COMUM: O ACESSO À ÁGUA POTÁVEL PARA TODOS”

[…] Já propus algumas considerações sobre este tema na Encíclica Laudato si’ e na recente Mensagem por ocasião do Dia de oração pela salvaguarda da criação. Espero que quantos se pronunciarem e participarem nesta Conferência possam partilhar nos seus âmbitos profissionais e políticos a urgência, a vontade e a determinação necessárias. A Santa Sé e a Igreja estão comprometidas em prol do acesso à água potável para todos. Este compromisso manifesta-se em múltiplas iniciativas como a realização de infraestruturas, a formação, a advocacy, a assistência às populações em perigo onde o fornecimento da água está ameaçado, entre as quais os migrantes, e a recordação daquele conjunto de referências éticas e princípios que nascem do Evangelho e de uma sadia antropologia. […]

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MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NO “FÓRUM SOCIAL DAS MIGRAÇÕES 2018”

Ao Fórum Social Mundial sobre as Migrações Cidade do México 2 de novembro de 2018 Estimados irmãos e irmãs! Agradeço o convite que me foi dirigido pelos organizadores do Fórum Social Mundial sobre as Migrações, a transmitir-vos algumas palavras de encorajamento no início das sessões de trabalho. O programa de ação da oitava edição do Fórum Social Mundial sobre as Migrações recorda o mandato do profeta Jeremias, enviado por Deus «para arrancar e demolir, para arruinar e destruir, para edificar e plantar» (Jr 1, 10). Assim como na época do profeta, também hoje existem maldades para arrancar, injustiças para demolir, discriminações para destruir, privilégios para abater, dignidades para edificar e valores para plantar. A transformação positiva das nossas sociedades começa pela rejeição de todas as injustiças, que hoje procuram a sua justificação na “cultura do descarte”, uma doença “pandémica” do mundo contemporâneo. Esta oposição apresenta-se como uma primeira atuação de justiça, sobretudo quando consegue dar voz aos “sem-voz”. E entre estes últimos estão os migrantes, os refugiados e os deslocados, que são ignorados, explorados, violados e abusados no silêncio culpado de muitos. No entanto, a ação transformadora não se limita a denunciar as injustiças. É necessário encontrar modelos de solução concretos e viáveis, definindo funções e responsabilidades de todos os atores. No âmbito migratório (migrar), a transformação (transformar) alimenta-se da resiliência (resistir) dos migrantes, refugiados e deslocados, e lança mão das suas capacidades e aspirações para a construção (construir) de «sociedades inclusivas, justas e solidárias, capazes de restituir dignidade a quantos vivem com muitas incertezas e não conseguem sonhar um mundo melhor» (Mensagem ao Presidente Executivo do Fórum Económico Mundial, 23-26 de janeiro de 2018). Este fórum propõe-se enfrentar sete eixos temáticos diretamente ligados às migrações contemporâneas: direitos humanos, fronteiras, incidência política, capitalismo, género, mudança climática e dinâmicas transnacionais. Trata-se de temas muito importantes, que merecem uma reflexão atenta e compartilhada entre todos os protagonistas, uma reflexão que procura a integração das várias perspetivas, reconhecendo a complexidade do fenómeno migratório. E foi exatamente devido a esta complexidade que, há cerca de dois anos, a comunidade internacional se comprometeu no desenvolvimento de dois processos de consultas e negociações, que têm como objetivo a adoção de dois Pactos mundiais, o primeiro para uma migração segura, ordenada e regular, e o outro sobre os refugiados. Como contribuição para estes processos, a Secção para os Migrantes e Refugiados, sob a minha direção, preparou um documento, intitulado 20 Pontos de ação para os Pactos globais, que promove uma série de medidas eficazes e acreditadas que, no seu conjunto, constituem uma resposta coerente aos desafios que atualmente se apresentam. Os 20 Pontos articulam-se em volta de quatro verbos — acolher, proteger, promover e integrar — que resumem a resposta aos «desafios apresentados à comunidade política, à sociedade civil e à Igreja» (Discurso aos participantes no Fórum internacional sobre «Migrações e Paz», 21 de fevereiro de 2017), pelo fenómeno migratório hoje. Muitos dos princípios declarados e das medidas sugeridas nos 20 Pontos de ação coincidem com as declarações que organizações da sociedade civil subscreveram, com a intenção de contribuir para o processo encetado pela Organização das Nações Unidas, em vista dos Pactos globais. Além disso, são notáveis as coincidências de princípio e de medidas entre os 20 Pontos e os textos finais dos mesmos Pactos. Para além dos seus limites, que a Santa Sé não deixou de indicar, e da sua natureza não vinculante, os Pactos globais constituem «um quadro de referência para propostas políticas e medidas práticas» (Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2018, 13 de novembro de 2017). Assim como para qualquer ação de alcance mundial, a atuação das recomendações e das sugestões contidas nos Pactos globais exige a coordenação dos «esforços de todos os protagonistas entre os quais, podeis estar certos disto, a Igreja estará sempre presente» (Discurso aos participantes no Fórum internacional sobre «Migrações e Paz», 21 de fevereiro de 2017). Para esta finalidade, espero poder contar com a colaboração de todos vós e das organizações que representais neste fórum. A mesma colaboração é necessária para melhorar os acordos bilaterais e multilaterais no âmbito migratório, e que eles sirvam sempre para o maior benefício de todos: migrantes, refugiados, descolados, as suas famílias, as respetivas comunidades de origem e as sociedades que os recebem. Isto só se pode alcançar mediante um diálogo transparente, sincero e construtivo entre todos os atores, no respeito pelas funções e responsabilidades de cada um. Gostaria de aproveitar esta ocasião para encorajar as organizações da sociedade civil e os movimentos populares a colaborar para a difusão maciça destes Pontos dos Pactos globais, que visam a promoção humana integral dos migrantes e dos refugiados — assim como das comunidades que os acolhem — evidenciando as boas iniciativas propostas. As próprias organizações e movimentos são convidados a comprometer-se a fim de promover uma distribuição de responsabilidades mais equitativa na assistência aos requerentes de asilo e aos refugiados. Além disso, a sua ação é determinante para reconhecer prontamente as vítimas do tráfico, envidando todos os esforços necessários para as libertar e reabilitar. Finalmente, peço a intercessão da Virgem Maria, com o título de Nossa Senhora de Guadalupe, para que vos proteja e vos ampare com a sua ajuda maternal nas vossas atividades a favor dos migrantes, refugiados e deslocados. Deus abençoe o vosso trabalho nos próximos dias.

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NO CAPÍTULO GERAL DA CONGREGAÇÃO DOS MISSIONÁRIOS DE SÃO CARLOS (SCALABRINIANOS)

DISCURSO DO PAPA FRANCISCO (IMPROVISADO) Preparei algumas palavras para vos dizer, mas entrego-as ao Padre-Geral e prefiro falar um pouco com o coração e, se houver tempo, dar a oportunidade de fazer alguma pergunta. Antes de tudo, gostaria de vos agradecer pelo que fazeis. Eu tive a ventura de vos conhecer antes de ser arcebispo de Buenos Aires, porque os vossos estudantes frequentavam a nossa faculdade. Foram ótimos! Depois, como Arcebispo tive a vossa ajuda naquela cidade, na qual havia tantos problemas de imigração. Muito obrigado! E agora obrigado por nos terdes dado um dos dois Subsecretários para os migrantes. Ambos trabalham muito bem. “Era estrangeiro”. Esta palavra causou em mim “barulho” quando você a pronunciou… É mais fácil acolher um estrangeiro do que ser acolhido, e vós tendes que fazer as duas coisas. Tendes que ensinar, ajudar a acolher o estrangeiro, e proporcionar todas as possibilidades às nações que têm tudo ou o suficiente para usar estas quatro palavras que você disse. Como acolher um estrangeiro. Surpreende-me muito a palavra de Deus: já o Antigo Testamento frisa o seguinte: acolher o estrangeiro, “pois recorda-te que também tu foste estrangeiro”. É verdade que hoje há uma vaga de fechamento em relação ao estrangeiro, e há também muitas situações de tráfico das pessoas estrangeiras: explora-se o estrangeiro. Eu sou filho de migrantes, e recordo-me do pós-guerra — eu era um menino de 10/12 anos — quando, onde o meu pai trabalhava, chegaram os polacos para trabalhar, todos migrantes; e como eram bem acolhidos. A Argentina tem esta experiência de acolhimento, pois havia trabalho e havia até necessidade. A Argentina — segundo a minha experiência, é um cocktail de vagas migratórias, vós sabei-lo melhor do que eu. Porque os migrantes constroem um país; como construíram a Europa. Pois a Europa nasceu assim, a Europa foi construída por muitas vagas migratórias ao longo dos séculos. Uma vez você usou uma palavra má: o “bem-estar”. Mas o bem-estar é suicida, pois leva-te a duas coisas. A fechar as portas, para que não te incomodem: só podem entrar as pessoas que servem para o meu bem-estar. E por outro lado, devido ao bem-estar, não ser fecundos. E hoje nós temos este drama: um inverno demográfico e um fechamento das portas. Isto deve ajudar-nos a compreender um pouco este problema de receber o estrangeiro: sim, é um estrangeiro, não é dos nossos, é um que vem de fora. Mas como se acolhe alguém que é estrangeiro? É este o trabalho que desempenhais e ajudais a desempenhar: formar as consciências para o fazer bem. E por isto vos agradeço. Mas há a outra dimensão. Não somos os donos que dizemos: “Ah, vós, se sois estrangeiros, vinde”. Não. Também nós somos estrangeiros. E se procuramos ser acolhidos pelas pessoas, pelas que são migrantes e pelas que não o são, falta outra parte da nossa consciência: tornar-nos-emos os “donos”, os donos da imigração, aqueles que sabem mais acerca das migrações. Não. É necessário fazer, na vossa experiência religiosa esta experiência: sois também vós migrantes, pelo menos migrantes culturais. Por isso sempre gostei, no vosso itinerário de formação, do facto de deslocar os estudantes: estudar teologia aqui, filosofia acolá…, para que possam conhecer diversas culturas. Ser estrangeiro. E isto é muito importante. Da própria experiência de ter sido estrangeiro, devido aos estudos ou à destinação, cresce o conhecimento de como se acolhe o estrangeiro. Estes dois aspetos, estas duas direções são muito importantes, e vós tendes que as fazer bem. Eis o que queria dizer em primeiro lugar. Você usou também outra palavra: rezar. O migrante reza. Reza porque precisa de muitas coisas. E reza à sua maneira, mas reza. Um perigo para todos nós, homens e mulheres de Igreja, mas mais para vós, para a vossa vocação, seria não precisar de orações. “Sim, sim, eu penso, estudo, faço, mas não sei mendigar, não sei pedir para ser acolhido pelo Senhor sendo eu também migrante a caminho do Senhor”. Por isso gostei de quando falou de oração: prece que muitas vezes é tediosa, ou te causa angústia. Mas estar diante do Senhor e bater à porta, como faz o migrante, que bate à porta. Como fez aquela “migrante” em Israel — a mulher sírio-fenícia — que até conseguiu discutir com o Senhor (cf. Mt 15, 21-28). Bater à porta da oração. Ser migrantes na experiência da migração, como fazeis nas destinações, e ser migrantes na oração, bater à porta para ser recebido pelo Senhor: esta é uma ajuda muito importante. E outro fenómeno dos migrantes — pensemos na caravana que vai de Honduras até aos Estados Unidos — é o amontoar-se. Normalmente o migrante procura deslocarse em grupo. Por vezes tem que ir sozinho, mas é normal juntar-se, porque nos sentimos mais fortes na migração. E isso forma comunidade. No futebol há a possibilidade de um “livre” que se possa mover de acordo com as oportunidades, mas entre vós não há possibilidade, os “livres”, entre voz, falham. Sempre a comunidade. Sempre em comunidade, pois a vossa vocação é precisamente para os migrantes que se amontoam. Senti-vos migrantes. Senti-vos, sim, migrantes diante das necessidades, migrantes diante do Senhor, migrantes entre vós. E por isso a necessidade de juntar-se. Vieram-me à mente estes três aspectos enquanto você falava. Estas ideias que talvez vos possam ajudar. Agradeço-vos por tudo o que fazeis. Vós sois um exemplo. E também sois corajosos, pois muitas vezes ides além dos limites, arriscais. E arriscar é também uma característica do migrante. Arrisca. Por vezes arrisca até a vida. E este é um aspeto que ajuda: corajosos, sabem arriscar. A prudência em vós tem outra tonalidade em relação à prudência de um monge de clausura: são prudências diversas. Ambas virtudes, mas com diversas tonalidades. Arriscar. Há ainda algum tempo. Não sei se alguém deseja fazer alguma pergunta para enriquecer o encontro. Coragem! [Pergunta em italiano feita por um scalabriniano] Antes de tudo, gostaria de lhe agradecer por este encontro, mesmo se o superior-geral já o fez. Agradecer em nome de tantos migrantes que me pediram para lhe dizer hoje que gostam muito de Vossa Santidade. Desejamos agradecer-lhe por todos os ensinamentos, agradecer-lhe sobretudo pelo que faz — o superior recordou-o hoje — e pedir-lhe também que nunca se canse de solicitar à Igreja e a nós scalabrinianos, hoje principalmente, que sejamos “evangelizadores com Espírito”, como Vossa Santidade escreveu muito claramente na «Evangelii gaudium» e na «Gaudete et exsultate». Obrigado e peçanos sempre isto! Obrigado a ti! Há outro corajoso? Santidade, da sua perspectiva, que é universal, onde deveríamos ir? Não sois tão numerosos para ir onde há necessidade: hoje há necessidade por toda a parte. A escolha dos lugares faz-se com o discernimento, o discernimento diante do Senhor e das necessidades que há no mundo. E não é fácil, não é fácil fazer a escolha. Há duas palavras que talvez me ajudem a responder-te. Uma é sempre o magis: sempre mais, sempre mais, porque Deus te atrai assim. Ir mais. Ir sem se cansar de ir além, além, rumo a novas fronteiras. Esta é uma dimensão de uma boa escolha. E a outra é uma frase que na primeira parte da Summa Theologica São Tomás diz, um “mote”, em latim: “Non coerceri a maximo, contineri tamen a minimo divinum est”. «Não estar sujeito às coisas grandes, mas contudo ter em consideração as mais pequenas, isto é divino”. E não é fácil, escolher esta tensão: “Non coerceri a maximo”, não, ter o horizonte, sem se assustar, mas “contineri tamen a minimo”: “isto é divino”. E Deus faz assim, pois Deus é Deus do universo, da história da salvação, é o maximus. É o Deus do sacrifício da cruz: o máximo de amor. E é também o Deus que cuida de todas as pessoas, do “mínimo”: é capaz de abrir a porta do Paraíso a um ladrão. Com estes dois critérios: o magis, e também com esta tensão, penso que podereis fazer boas escolhas. E uma boa escolha é a capacidade de se despedir. Isto acontece não só a vós, a todos. Quando chega o momento que Deus pede por obediência a Ele, ou por obediência através dos superiores, de se despedir, fazei-o. Não é fácil despedir-se. Há adeuses bons: você está feliz por se despedir da função de superior-geral, hoje! Está feliz! Mas despedir-se é difícil, pois habituamo-nos ao trabalho, à comunidade, ao povo, habituamo-nos… E para dizer não e voltar atrás, é preciso coragem, e é necessária santidade para o fazer bem. Capacidade de se despedir quando for vontade de Deus, quer por obediência, quer por outros motivos, quer pela inspiração, que te diz: “chega”. Isto ajuda a fazer boas escolhas. Não sei se respondi, mas aqueles dois princípios ajudarão bastante. [Em espanhol] Eu sou daqui, cresci nos Estados Unidos desde quando tinha 16 anos e agora trabalho com os migrantes latinos, sobretudo com os mexicanos. O maior sofrimento deles é quando não podem regressar para sepultar os seus pais, depois de 20 anos nos Estados Unidos. Gostaria que lhes enviasse uma mensagem. [Em espanhol] Provavelmente é a obra de misericórdia que se compreende menos. E a que, permito-me dizer a palavra, subestimamos mais: sepultar os mortos. Subestimamo-la porque geralmente falecem os idosos e dizemos: bem, finalmente deixou de sofrer e de ser uma preocupação para mim. E aqui juntam-se todos os egoísmos. Desculpai, estou a falar em espanhol… Mas quando nos deparamos com estas pessoas que sofrem por não puderem ir sepultar os pais, estamos diante da grandeza do nosso povo fiel, porque por detrás disto não está apenas a obra de misericórdia, está o quarto mandamento, e o povo fiel de Deus ama o quarto mandamento. Tem o faro para saber que ali há também uma bênção. Os católicos que não são muito fiéis, aqueles que gostam de olhar em frente, podem sentir a tentação de se esquecerem dos pais, e não os levar. Certa vez, explicando os mandamentos — eu era criança — a minha avó contou-me uma história: havia uma família muito católica, muito boa… O avô viúvo vivia com eles, mas no final o avô envelheceu muito e à mesa sujava a roupa, caía o caldo ou até a comida. E a um certo ponto o pai decidiu, e explicou aos filhos que, para poder convidar os amigos, o avô teria comido na cozinha, sozinho. E comprou uma mesa para o avô: bem feita, de boa qualidade, mas sozinho. Assim a família podia comer sem esta coisa que não era agradável. Alguns dias mais tarde, regressando do trabalho, o pai encontrou o filho mais pequenino com um martelo, pregos e pedaços de madeira, e estava a trabalhar. “O que fazes?” — “Estou a construir uma mesa” — “Mas porquê uma mesa?” — “Para ti, para a usares quando fores velho”. Nunca me esqueci desta história. Uma história que se relaciona com o que tu disseste: o amor pelos pais. E o povo fiel de Deus ama os pais, ama os idosos. A sociedade de hoje, em geral, esta cultura, corre o perigo de considerar os idosos material de descarte. Ou então deixa-os a caminhar rumo a tantas formas de eutanásia mascarada, como as de não administrar os remédios certos, ou administrar menos porque custam caro, e assim morrem mais depressa. Todos nós temos avós também espirituais, pais espirituais, até na congregação. A tua pergunta sugere-me: os vossos pais espirituais, na congregação, são bem cuidados? Fazeis de tudo para que eles vivam na comunidade enquanto for possível, ou estais demasiado preocupados por os mandar para a casa de repouso o quanto antes? Desculpai, mas foste tu que tocaste o assunto! [Em espanhol] Da América central apenas algumas palavras. Estou em missão na Guatemala. Neste momento a América central chora, a América central grita. E encontramos sinais de acolhimento e sinais de fechamento, muitos dos quais por parte dos próprios leigos comprometidos. A Igreja, com os seus bispos, começa a abrir mais as suas portas, graças às palavras de Vossa Santidade e ao impulso que está a dar. A nossa maior tentação é não nos sentirmos ouvidos por Deus face a tanto sofrimento e a tanto clamor, e trazemos este clamor aqui, a Vossa Santidade, que sei que o conhece, que o sente. E um agradecimento da América central pelas suas palavras de encorajamento, de força. Obrigado, Santidade. Obrigado a ti. Compreendo essa tentação, compreendo. É uma tentação, mas é preciso bater à porta, insistir sem se cansar. Mas em comunidade, todos, todos juntos. Fazê-lo juntos. Cada um, mas sabendo que toda a comunidade reza por este povo que sofre tanto. [Em espanhol] Obrigado, Santidade. Sou um colombiano perdido no serviço de guia na Austrália e na Ásia, onde o Senhor nos está a abençoar com o número de vocações. Uma grande bênção para a nossa congregação. Uma mensagem para os nossos seminaristas, não só asiáticos mas de toda a congregação, e a este povo do Oriente. [Em espanhol] Bem, vou dizer algo resumindo o que já disse: que somos migrantes para poder trabalhar com os migrantes. Migrantes de Deus, migrantes com a comunidade, migrantes de um povo, que se sintam a caminho, a caminho. E que sejam migrantes de Deus que rezam na oração coisas concretas: a oração é para lutar, para lutar com Deus! E se alguém lutar, obtém as coisas. Dizei-lhes isto: que tenham coragem. Agora rezemos a Nossa Senhora: “Ave Maria…”. DISCURSO PREPARADO Prezados irmãos! Estou feliz por me encontrar convosco, por ocasião do vosso Capítulo Geral, e por dirigir a minha cordial saudação a cada um de vós, a começar pelo novo SuperiorGeral, ao qual agradeço as palavras e formulo votos de todo o bem para o seu ministério. No centro da vossa reflexão destes dias colocastes o tema Encontro e caminho. «Jesus caminhava com eles» (cf. Lc 24, 15). A referência é à narração dos discípulos de Emaús, que encontram Jesus Ressuscitado ao longo da estrada. Ele aproxima-se para caminhar com eles e para lhes explicar as Escrituras. O Capítulo representa um momento privilegiado de graça para a vossa Família religiosa, chamada a assumir esta dúplice atitude do Mestre divino, em relação a quantos são objeto dos vossos cuidados pastorais: anunciar-lhes a Palavra e caminhar com eles. Trata-se de encontrar caminhos sempre novos de evangelização e de proximidade, a fim de concretizar com fidelidade dinâmica o vosso carisma, que vos põe ao serviço dos migrantes. Diante do hodierno fenómeno migratório, muito vasto e complexo, a vossa Congregação haure os recursos espirituais necessários do testemunho profético do Fundador, atual como nunca, e da experiência de muitos irmãos de hábito que trabalharam com grande generosidade desde as origens, há 131 anos, até agora. Tanto hoje como ontem, a vossa missão realiza-se em contextos difíceis, às vezes caraterizados por atitudes de suspeita e de preconceito, ou a ti de rejeição da pessoa estrangeira. Isto impele-vos ainda mais a um corajoso e perseverante entusiasmo apostólico, para levar o amor de Cristo a quantos, longe da pátria e da família, correm o risco de se sentir distantes também de Deus. O ícone bíblico dos discípulos de Emaús mostra que Jesus explica as Escrituras enquanto caminha com eles. A evangelização faz-se caminhando com o povo. Antes de tudo, é necessário ouvir as pessoas, escutar a história das comunidades; sobretudo as esperanças desiludidas, as expetativas dos corações, as provações da fé… Principalmente, ouvir; e fazê-lo em atitude de com-paixão, de proximidade sincera. Quantas histórias existem nos corações dos migrantes! Histórias positivas e negativas! O perigo é que elas sejam removidas: obviamente as negativas; mas também as positivas, porque recordá-las faz sofrer. E deste modo o risco é que o migrante se torne uma pessoa erradicada, sem rosto, sem identidade. Mas trata-se de uma perda gravíssima, que se pode evitar com a escuta, caminhando ao lado das pessoas e das comunidades migrantes. Poder fazê-lo constitui uma graça, e é inclusive um recurso para a Igreja e para o mundo. Depois de ter ouvido, como Jesus, é preciso oferecer a Palavra e o sinal do Pão partido. É fascinante dar a conhecer Jesus através das Escrituras, a pessoas de diferentes culturas; narrar-lhes o seu mistério de Amor: encarnação, paixão, morte e ressurreição. Partilhar com os migrantes o enlevo de uma salvação que é histórica, é situada, e no entanto é universal, para todos! Desfrutar juntos da alegria de ler a Bíblia, de acolher nela a Palavra de Deus para nós, hoje; descobrir que através das Escrituras Deus quer oferecer a estes homens e estas mulheres concretos a sua Palavra de salvação, de esperança, de libertação e de paz. E além disso, convidar para a Mesa da Eucaristia, onde não há palavras e permanece o Sinal do Pão partido: Sacramento em que tudo se resume, no qual o Filho de Deus oferece o seu Corpo e o seu Sangue pela vida daqueles viandantes, daqueles homens e mulheres que correm o risco de perder a esperança e, para não sofrer, preferem cancelar o próprio passado. Cristo Ressuscitado envia também vós, hoje, na Igreja, a caminhar juntamente com numerosos irmãos e irmãs que, como migrantes, percorrem o seu itinerário de Jerusalém para Emaús. Missão antiga e sempre nova; cansativa e por vezes dolorosa, mas também capaz de fazer chorar de alegria. Encorajo-vos a levá-la em frente com o estilo que vos é próprio, amadurecido no encontro fecundo entre o carisma do Beato Scalabrini e as circunstâncias históricas. Deste estilo faz parte a atenção que vós prestais à dignidade da pessoa humana, de maneira particular lá onde ela é mais ferida e ameaçada. Dele fazem parte inclusive o compromisso educacional com as novas gerações, a catequese e a pastoral familiar. Estimados irmãos, não devemos esquecer que a condição de cada missão na Igreja é que permaneçamos unidos a Cristo Ressuscitado, como os ramos à videira (cf. Jo 15, 1-9). Caso contrário, fazemos ativismo social. Por isso, repito também a vós a exortação a permanecer n’Ele. Nós somos os primeiros que temos necessidade de nos deixarmos renovar na fé e na esperança por Jesus vivo na Palavra e na Eucaristia, mas também no Perdão sacramental. Temos necessidade de estar com Ele na adoração silenciosa, na lectio divina, no Rosário da Virgem Maria. E precisamos de uma vida comunitária saudável, simples mas não banal, não medíocre. Apreciei quando o Superior-Geral afirmou que o Espírito vos chama a viver entre vós a comunhão na diversidade. Sim, como testemunho mas antes de tudo como alegria para vós, como riqueza humana e cristã, esclesial. Encorajo-vos também a prosseguir o caminho de partilha com os leigos, enfrentando juntos os desafios do presente; assim como a cuidar dos itinerários de formação permanente. Irmãos, estou-vos grato por este encontro. Rezo pelo vosso Capítulo, a fim de que dê muitos bons frutos! Peçamos isto por intercessão de Maria, nossa Mãe, de São Carlos Borromeu e do Beato João Batista Scalabrini. Abençoo-vos de oração, assim como a todos os Missionários scalabrinianos. E também vós, por favor, não vos esqueçais de rezar por mim! .

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PAPA FRANCISCO ANGELUS

[…] Esta Palavra de Deus exprime bem a experiência que vivemos nas semanas do Sínodo: foi um tempo de consolação e de esperança. Foi-o sobretudo como momento de escuta: com efeito, ouvir exige tempo, atenção, abertura da mente e do coração. Mas este compromisso transformava-se cada dia em consolação, sobretudo porque tínhamos no meio de nós a presença vivaz e estimulante dos jovens, com as suas histórias e as suas contribuições. Através dos testemunhos dos Padres sinodais, a realidade multiforme das novas gerações entrou no Sínodo, por assim dizer, de todas as partes: de todos os continentes e de muitas e diversificadas situações humanas e sociais. Com esta atitude fundamental de escuta, procuramos ler a realidade, compreender os sinais destes nossos tempos. Umdiscernimento comunitário, feito à luz da Palavra de Deus e do Espírito Santo. Este é um dos dons mais bonitos que o Senhor oferece à Igreja católica, ou seja, o de recolher vozes e rostos das realidades mais variadas e assim poder tentar uma interpretação que tenha em consideração a riqueza e a complexidade dos fenómenos, sempre à luz do Evangelho. Assim, nestes dias, confrontamo-nos sobre o modo de caminhar juntos, enfrentando numerosos desafios, como o mundo digital, o fenómeno das migrações, o sentido do corpo e da sexualidade, o drama das guerras e da violência. […]

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SHARING THE WISDOM OF TIME / A SABEDORIA DO TEMPO DIÁLOGO DO PAPA FRANCISCO COM OS JOVENS E IDOSOS

[…] Obrigado! Gostei daquele “não falo de política, mas de humanidade”. É sábio! Os jovens não têm a experiência das duas guerras. Aprendi isto do meu avô, que combateu na primeira, nas margens do Piave; aprendi muitas coisas da sua narração. Até as canções um pouco irónicas contra o rei e a rainha, aprendi tudo isto. As dores, as dores da guerra… O que deixa uma guerra? Milhões de mortos, no grande massacre. Depois veio a segunda, e eu conheci-a em Buenos Aires, com muitos migrantes que chegaram: numerosíssimos, depois da segunda guerra mundial. Italianos, polacos, alemães, muitíssimos. E ouvindo-os, compreendi que todos nós entendíamos o que é uma guerra, que ali não se conhecia. Acho que é importante que os jovens conheçam os efeitos das duas guerras do século passado: é um tesouro negativo, mas um tesouro para transmitir, para criar consciências. Um tesouro que também fez crescer a arte italiana: o cinema do pós-guerra é uma escola de humanismo. É importante que eles conheçam isto, para não cair no mesmo erro. Que eles conheçam como cresce um populismo: por exemplo, pensemos nos anos de 1932-33 de Hitler, aquele jovem que tinha prometido o desenvolvimento da Alemanha depois de um governo que falhara. Que saibam como começam os populismos. A senhora disse uma palavra deveras feia, mas muito verdadeira: “semear ódio”. E não se pode viver semeando ódio. Nós, na experiência religiosa da história da religião, pensamos na Reforma: semeamos muito ódio, muito, de ambas as partes, protestantes e católicos. Eu disse isto explicitamente em Lund [na Suécia, no encontro ecuménico], e agora, há cinquenta anos, lentamente, compreendemos que aquele não era o caminho, e procuramos semear gestos de amizade e não de divisão. Semear ódio é fácil, e não apenas no cenário internacional, mas até no bairro. Uma pessoa vai, fala mal de uma vizinha, de um vizinho, semeia ódio, e quando se semeia ódio há divisão, há maldade na vida quotidiana. Semear ódio com comentários, com bisbilhotices… Da grande guerra desço aos mexericos, mas são da mesma espécie. Semear ódio também com intrigas na família, no bairro, significa matar: matar a fama do outro, matar a paz e a concórdia em família, no bairro, no lugar de trabalho, fazer aumentar as invejas, as competições das quais falava a primeira jovem. O que faço eu — era a sua pergunta — quando vejo que o Mediterrâneo é um cemitério? Digo-lhe a verdade, eu sofro, rezo, falo. Não devemos aceitar este sofrimento. Não digamos “mas sofre-se em toda a parte, vamos em frente…”. Não, isto não é bom. Hoje há a terceira guerra mundial em pedaços: um pedacinho aqui, outro ali, lá e lá… Olhai para os lugares de conflito. Falta de humanidade, agressão, ódio entre culturas, entre tribos, também uma deformação da religião para poder odiar melhor. O caminho não é este: esta é a vereda do suicídio da humanidade. Semear ódio, preparar a terceira guerra mundial, que se está a travar em pedaços. E acho que não exagero nisto. Vem-me à mente — e é preciso dizer isto aos jovens — a profecia de Einstein: «A quarta guerra mundial será travada com paus e pedras”, porque a terceira terá destruído tudo. Semear ódio e fazer crescer o ódio, criar violência e divisão é um caminho de destruição, de suicídio, de outras destruições. Isto pode ser encoberto [justificado] com a liberdade, pode ser camuflado com muitos motivos! Aquele jovem do século passado, nos anos 30, disfarçava-o com a pureza da raça; e aqui, os migrantes. Acolher o migrante é um mandato bíblico, porque “tu mesmo foste migrante no Egito” (cf. Lv 19, 34). Depois, pensemos: a Europa foi feita pelos migrantes, muitas correntes migratórias ao longo dos séculos construíram a Europa de hoje, as culturas misturaram-se. E a Europa sabe bem que nos momentos difíceis outros países, da América, por exemplo, tanto do Norte como do Sul, acolheram os migrantes europeus; ela sabe o que isto significa. Antes de expressar um juízo sobre o problema das migrações, nós devemos reconsiderar a nossa história europeia. Eu sou filho de um migrante que partiu para a Argentina, e na América muitas pessoas têm um sobrenome italiano, são migrantes. Foram recebidos de coração, de portas abertas. Mas o fechamento é o início do suicídio! É verdade que os migrantes devem ser acolhidos, acompanhados, mas sobretudo integrados. Se nós acolhermos “assim” [como calha, sem um plano], não prestaremos um bom serviço: há o trabalho da integração. Nisto, a Suécia foi um exemplo há mais de quarenta anos. Eu vivi-o de perto: na época das nossas ditaduras militares, quantos argentinos e uruguaios foram refugiados na Suécia! E foram imediatamente integrados. Escola, trabalho… Integrados na sociedade! E quando estive em Lund, no ano passado, fui recebido no aeroporto pelo Primeiro-Ministro e depois, dado que ele não podia vir para se despedir, enviou uma ministra, acho que da cultura… Na Suécia, onde todos são loiros, ela era um pouco morena: una ministra da cultura assim… Mais tarde eu soube que ela é filha de uma sueca e de um migrante da África. Tão integrada que chegou a ser ministra do país. É assim que funciona a integração! Ao contrário, a tragédia de Zaventem [na Bélgica], que todos nós recordamos, não foi provocada por estrangeiros: foram jovens belgas que a cometeram. Mas jovens belgas que tinham sido guetizados num bairro. Sim, foram recebidos, mas não integrados. O caminho não é este! Um governo deve ter — os critérios são estes — o coração aberto para receber, boas estruturas para construir a senda da integração e também a prudência de dizer: posso até este ponto, mas não além. E por isso é importante que a Europa inteira chegue a um acordo sobre este problema. Pelo contrário, o fardo mais pesado é carregado pela Itália, Grécia, Espanha e, em medida menor, por Chipre, estes três-quatro países… É importante! Mas, por favor, não semear ódio! E hoje, pediria a todos que por favor olhassem para o novo cemitério europeu: chama-se Mediterrâneo, chama-se Egeu. É isto que lhe quero dizer. E obrigado por ter feito esta pergunta, não por política, mas por humanidade. Obrigado. […]

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DISCURSO DO PAPA PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NO CAPÍTULO GERAL DA CONGREGAÇÃO DA PAIXÃO DE JESUS CRISTO (PASSIONISTAS)

[…] Hoje a Igreja sente o forte apelo a sair de si mesma e a ir às periferias, quer geográficas quer existenciais. O vosso compromisso a abraçar as novas fronteiras da missão requer não só que vades em novos territórios para aí levardes o Evangelho, mas também que enfrenteis os novos desafios do nosso tempo, como as migrações, o secularismo e o mundo digital. Isto significa estar presentes naquelas situações nas quais as pessoas sentem a ausência de Deus, e procurar estar próximos de quantos, de qualquer maneira ou forma, estão a sofrer.[…]

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PAPA FRANCISCO ANGELUS

Depois do Angelus […] irijo um pensamento especial ao grupo da Caritas Internationalis, guiado pelo Presidente Cardeal Luís Antonio Tagle, com alguns Bispos e pessoas provenientes dos vários países do mundo. Realizais uma breve peregrinação a Roma, para manifestar o desejo de caminhar juntos aprendendo assim a conhecer-vos melhor. Encorajo esta iniciativa de “partilhar o caminho», promovida em muitas cidades e que pode transformar a nossa relação com os migrantes. Muito obrigado à Caritas! […]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PEREGRINOS DE EL SALVADOR VINDOS PARA A CANONIZAÇÃO DE DOM ROMERO

[…] Transmito daqui a minha saudação a todo o Santo Povo de Deus que peregrina em El Salvador e hoje vibra de alegria por ver um dos filhos elevado às honras dos altares. A sua gente tem uma fé viva que exprime mediante várias formas de religiosidade popular e que plasma a sua vida social e familiar: a fé do Santo Povo fiel de Deus. A vós, sacerdotes e Bispos, peço: «Cuidai do Santo Povo fiel de Deus, não o escandalizeis, cuidai dele!». E não faltaram dificuldades, a chaga da divisão, o flagelo da guerra; a violência sentiu-se com força na sua história recente, mas este povo resiste e vai em frente. Não foram poucos os salvadorenhos que tiveram de abandonar a própria pátria em busca de um futuro melhor. A recordação de São Óscar Romero constitui uma extraordinária oportunidade para lançar uma mensagem de paz e de reconciliação a todos os povos da América Latina. O povo amava D. Romero, o Povo de Deus gostava dele. E sabeis porquê? Porque o Povo de Deus sabe intuir bem onde há santidade. E aqui no meio de vós, eu deveria agradecer a muitas pessoas, a todo o povo que o acompanhou, que o seguiu, que permaneceu ao seu lado. Contudo, como posso agradecer a todos? Por isso, escolhi uma pessoa, uma pessoa que esteve muito próxima dele, que o acompanhou e o seguiu; uma pessoa muito humilde do povo: Angelita Morales. Nela vejo a representação do Povo de Deus. Pediria a Angelita que venha aqui [aplausos e cânticos, enquanto a senhora Morales se aproxima]. […]

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ENCONTRO DO SANTO PADRE FRANCISCO COM OS SEMINARISTAS DA LOMBARDIA

[…] Você disse “a cruz da dúvida”, e eu estou respondendo a você sobre a dúvida interior, a dúvida que você tem em sua orientação espiritual. Talvez você também esteja falando de dúvida cultural. Mas hoje não há muita dúvida cultural; talvez haja mais afirmações culturais em contrário, cada uma tem sua própria e acredito que a humanidade não tem a capacidade de duvidar bem. As grandes questões …: pensar sobre a dúvida sobre a guerra, sobre migrações … Essas são dúvidas a serem levadas a sério, porque de outra forma, nessas áreas, o problema é resolvido não com uma busca interna, mas de acordo com os interesses de todas as nações, de todas as sociedades. de todas as pessoas. Então a falta dessas dúvidas é feia, porque te faz sempre seguro, sem perguntar o problema … É uma cruz, dúvida, mas é uma cruz que te aproxima de Jesus e te coloca em crise. E como você disse – aqui está escrito -: “que ações concretas podemos colocar em prática todos os dias para que nossa vida diária nutra essa jornada de entrega?”. A ação concreta é o diálogo com a pessoa que acompanha você, o diálogo com o superior, o diálogo com os companheiros. Mas diálogo aberto, diálogo sincero, coisas concretas. E acima de tudo o diálogo com o Senhor: “Senhor, o que você quer me dizer com o que você me faz sentir, com essa desolação, com essa dúvida? …”. Tome a dúvida como um convite para buscar a verdade, para buscar um encontro com Jesus Cristo: esta é a verdadeira dúvida. Tudo bem? […]