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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO NO ENCONTRO COM OS REFUGIADOS VINDOS DA ILHA DE LESBOS

Este é o segundo colete salva-vidas que recebi de presente. O primeiro foi-me dado há alguns anos por um grupo de socorristas. Pertencia a uma menina que afogou no Mediterrâneo. Em seguida, doei-o aos dois Subsecretários do Departamento para os Migrantes e os Refugiados do Dicastério para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral. Eu disse-lhes: “Eis a vossa missão!” Com isto eu quis explicar o compromisso essencial da Igreja para salvar a vida dos migrantes, para depois os poder acolher, proteger, promover e integrar. Este segundo colete salva-vidas, oferecido por outro grupo de socorristas há alguns dias, pertencia a um migrante que desapareceu no mar em julho passado. Ninguém sabe quem ele era nem de onde vinha. Só se sabe que o seu colete salva-vidas foi recuperado à deriva no Mediterrâneo Central, a 3 de julho de 2019, em determinadas coordenadas geográficas. Estamos diante de outra morte causada pela injustiça. Sim, porque é a injustiça que obriga muitos migrantes a deixar as suas terras. É a injustiça que os força a atravessar desertos e a padecer abusos e torturas nos campos de detenção. É a injustiça que os rejeita, levando-os a morrer no mar. O colete salva-vidas “veste” uma cruz de resina colorida, que tem a finalidade de manifestar a experiência espiritual que pude ouvir das palavras dos socorristas. Em Jesus Cristo, a cruz é a fonte da salvação, «loucura para quantos se perdem» — diz São Paulo — «mas para aqueles que se salvam, para nós, é poder de Deus» (1 Cor 1, 18). Na tradição cristã a cruz é um símbolo de sofrimento e sacrifício e, ao mesmo tempo, de redenção e salvação. Esta cruz é transparente: ela apresenta-se como desafio a olhar com mais atenção e a procurar sempre a verdade. A cruz é luminescente: quer animar a nossa fé na Ressurreição, o triunfo de Cristo sobre a morte. Até o imigrante desconhecido, que morreu com a esperança de uma nova vida, participa nesta vitória. Os socorristas contaram-me como aprendem a humanidade com as pessoas que conseguem salvar. Revelaram-me que em cada missão redescobrem a beleza de ser uma grande família humana, unida na fraternidade universal. Decidi expor aqui este colete salva-vidas, “crucificado” nesta cruz, para nos lembrar que devemos ter os olhos abertos, manter o coração aberto, para lembrar a todos o compromisso imperativo de salvar cada vida humana, um dever moral que une crentes e não-crentes. Como não ouvir o grito desesperado de tantos irmãos e irmãs que preferem enfrentar um mar tempestuoso do que morrer lentamente em campos de detenção líbios, lugares de tortura e de escravatura ignóbil? Como podemos permanecer indiferentes aos abusos e violências de que são vítimas inocentes, deixando-os à mercê de traficantes sem escrúpulos? Como podemos “passar além”, como o sacerdote e o levita na parábola do Bom Samaritano (cf. Lc 10, 31-32), tornando-nos assim responsáveis pela sua morte? A nossa apatia é um pecado! Dou graças ao Senhor por todos aqueles que decidiram não ficar indiferentes e que se prodigalizam para ajudar uma vítima, sem fazer muitas perguntas sobre como ou por que o pobre homem meio-morto acabou no seu caminho. Não é bloqueando os seus barcos que se resolverá o problema. É preciso comprometer-se seriamente a esvaziar os campos de detenção na Líbia, avaliando e implementando todas as soluções possíveis. É necessário denunciar e processar os traficantes que exploram e maltratam os migrantes, sem medo de revelar conivências e cumplicidades com as instituições. É preciso pôr de lado os interesses económicos, a fim de que no centro esteja a pessoa, cada pessoa, cuja vida e dignidade são preciosas aos olhos de Deus. É necessário ajudar e salvar, porque todos somos responsáveis pela vida do nosso próximo, e o Senhor pedir-nos-á contas disto no momento do juízo. Obrigado! Agora, olhando para este colete salva-vidas e fitando a cruz, cada um reze em silêncio. Que o Senhor abençoe todos vós!

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SANTA MISSA PARA A COMUNIDADE FILIPINA DE ROMA HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

(…) Nas Filipinas existe desde há séculos uma novena em preparação para o Santo Natal, chamada Simbang-Gabi (Missa do Galo). Durante nove dias os fiéis filipinos reúnem-se de madrugada nas suas paróquias para uma especial celebração eucarística. Durante as últimas décadas, graças aos migrantes filipinos, esta devoção ultrapassou as fronteiras nacionais e chegou a muitos outros países. Há anos que a Simbang-Gabi é celebrada também na diocese de Roma, e hoje celebramo-la comunitariamente aqui, na Basílica de São Pedro. Através desta celebração, desejamos preparar-nos para o Natal no espírito da Palavra de Deus que ouvimos, permanecendo constantes até à vinda definitiva do Senhor, como nos recomenda o apóstolo Tiago (cf. 5, 7). Queremos comprometer-nos a fim de manifestar o amor e a ternura de Deus para com todos, de maneira especial para com os últimos. Somos chamados a ser fermento numa sociedade que muitas vezes já não consegue saborear a beleza de Deus, nem experimentar a graça da sua presença. E vós, queridos irmãos e irmãs, que deixastes a vossa terra em busca de um futuro melhor, tendes uma missão especial. Que a vossa fé seja “fermento” nas comunidades paroquiais às quais hoje pertenceis. Encorajo-vos a multiplicar as oportunidades de encontro para compartilhar a vossa riqueza cultural e espiritual, deixando-vos ao mesmo tempo enriquecer pelas experiências dos outros. Todos nós somos convidados a construir juntos aquela comunhão na diversidade, que constitui um traço distintivo do Reino de Deus, inaugurado por Jesus Cristo, Filho de Deus que se fez homem. Todos nós somos chamados a praticar juntos a caridade a favor dos habitantes das periferias existenciais, disponibilizando os nossos diversos dons, de maneira a renovar assim os sinais da presença do Reino. Todos nós somos chamados a anunciar juntos o Evangelho, a Boa Nova da salvação, em todas as línguas, a fim de alcançarmos o maior número possível de pessoas. (…)

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SANTA MISSA PARA A COMUNIDADE CATÓLICA CONGOLESA EM ROMA E ITÁLIA HOMILIA DO SANTO PADRE FRANCISCO

Papa Francisco: Boboto [paz] Assembléia: Bondeko [faternidade] Papa Francisco: Bondeko Assembléia: Eu venho [alegria] Nas leituras de hoje, um verbo freqüentemente aparece, vem, apresenta três vezes na primeira leitura, enquanto o evangelho termina dizendo que “o Filho do homem vem” (Mt 24,44). Jesus vem: o advento nos lembra essa certeza já do nome, porque a palavra advento significa vir. O Senhor vem: aqui está a raiz da nossa esperança, a certeza de que a consolação de Deus nos atinge entre as tribulações do mundo, uma consolação que não é feita de palavras, mas de presença, de sua presença que vem entre nós. O Senhor vem; hoje, o primeiro dia do ano litúrgico, este anúncio marca nosso ponto de partida: sabemos que, além de qualquer evento favorável ou contrário, o Senhor não nos deixa em paz. Chegou há dois mil anos e ainda chegará ao fim dos tempos, mas também acontece hoje em minha vida, em sua vida. Sim, esta nossa vida, com todos os seus problemas, ansiedades e incertezas, é visitada pelo Senhor. Aqui está a fonte de nossa alegria: o Senhor nunca se cansou e nunca se cansará de nós, ele quer vir, nos visitar. Hoje, o verbo vir não se reúne apenas para Deus, mas também para nós. De fato, na primeira leitura, Isaías profetiza: “Muitos povos virão e dirão:” Venha, subamos ao monte do Senhor “” (2,3). Enquanto o mal na terra vem do fato de que cada um segue seu próprio caminho sem os outros, o profeta oferece uma visão maravilhosa: todos se reúnem no monte do Senhor. Na montanha, havia o templo, a casa de Deus. Isaías, portanto, nos envia um convite de Deus para sua casa. Nós somos os convidados de Deus, e aqueles que são convidados são esperados, desejados. “Venha – diz Deus – porque em minha casa há espaço para todos. Venha, porque no meu coração não há um povo, mas cada povo “. Queridos irmãos e irmãs, vocês vieram de longe. Você deixou suas casas, deixou afetos e coisas queridas. Ao chegar aqui, você foi bem-vindo, juntamente com dificuldades e eventos inesperados. Mas por Deus você é sempre bem-vindo convidado. Para ele, nunca somos estranhos, mas esperados filhos. E a Igreja é a casa de Deus: portanto, sempre se sinta em casa aqui. Aqui chegamos a caminhar juntos em direção ao Senhor e compreender as palavras com as quais a profecia de Isaías termina: “Vinde, andemos na luz do Senhor” (v. 5). Mas, à luz do Senhor, as trevas do mundo podem ser preferidas. Para o Senhor que vem e a seu convite para ir a ele, pode-se responder “não, eu não vou”. Frequentemente, este não é um “não” direto, ousado, mas sutil. É o não do qual Jesus nos adverte no Evangelho, exortando-nos a não fazer como nos “dias de Noé” (Mt 24,37). O que aconteceu nos dias de Noé? Aconteceu que, enquanto algo novo e perturbador estava prestes a chegar, ninguém prestou atenção, porque todos pensavam apenas em comer e beber (cf. v. 38). Em outras palavras, todos reduziram a vida às suas necessidades, contentaram-se com uma vida horizontal e plana, sem impulso. Não havia expectativa de ninguém, apenas a pretensão de ter algo para consumir. Esperando pelo Senhor que vem e não finge ter algo para nos consumir. Isso é consumismo. O consumismo é um vírus que afeta a fé na raiz, porque faz você acreditar que a vida depende apenas do que você tem, e assim você esquece de Deus que vem ao seu encontro e quem está ao seu lado. O Senhor vem, mas segue os apetites que chegam até você; o irmão bate à sua porta, mas a incomoda porque atrapalha seus planos – e essa é a atitude egoísta do consumismo. No Evangelho, quando Jesus relata os perigos da fé, ele não se importa com inimigos poderosos, hostilidades e perseguições. Tudo isso aconteceu, existe e estará lá, mas não enfraquece a fé. O perigo real, por outro lado, é o que anestesia o coração: é depender do consumo, é deixar-se pesar e se dissipar das necessidades (cf. Lc 21, 34). Então vivemos das coisas e não sabemos mais para quê; você tem muitos bens, mas não faz mais o bem; casas estão cheias de coisas, mas vazias de crianças. Este é o drama de hoje: casas cheias de coisas, mas vazias de crianças, o inverno demográfico do qual estamos sofrendo. O tempo é jogado fora nos passatempos, mas não há tempo para Deus e para os outros. E quando você vive para as coisas, as coisas nunca são suficientes, a ganância cresce e os outros se tornam obstáculos na corrida, e você acaba se sentindo ameaçado e, sempre insatisfeito e irritado, o nível de ódio aumenta. “Quero mais, quero mais, quero mais …”. Vemos hoje onde o consumismo reina: quanta violência, mesmo que seja verbal, quanta raiva e desejo de procurar um inimigo a todo custo! Portanto, enquanto o mundo está cheio de armas que causam a morte, não percebemos que continuamos a armar o coração com raiva. Por tudo isso, Jesus quer nos acordar. Ele faz isso com um verbo: “Vigia” (Mt 24,42). “Cuidado, observe.” Observar era o trabalho da sentinela, que ficava vigilante enquanto ficava acordada enquanto todos dormiam. Assistir não é ceder ao sono que envolve todos. Para assistir, você precisa ter uma certa esperança: que a noite nem sempre dure, que o amanhecer chegue em breve. É o mesmo para nós: Deus vem e sua luz também iluminará as trevas mais densas. Mas hoje temos que observar, observar: superar a tentação que o sentido da vida deve acumular – isso é uma tentação, o significado da vida não deve acumular -, temos que desmascarar a decepção de que somos felizes se tivermos muitas coisas , resista às deslumbrantes luzes do consumo, que brilharão em todos os lugares este mês, e acredita que a oração e a caridade não são tempo perdido, mas os maiores tesouros. Quando abrimos nossos corações ao Senhor e a nossos irmãos e irmãs, chega o bem precioso que as coisas nunca podem nos dar e que Isaías anuncia na primeira Leitura: Paz: «Eles quebram as espadas e os fazem arar, as lanças e as foices; uma nação não mais levantará a espada contra outra nação, eles não aprenderão mais a arte da guerra “(Is 2,4). São palavras que também nos fazem pensar em sua terra natal. Hoje rezamos pela paz, seriamente ameaçada no leste do país, especialmente nos territórios de Beni e Minembwe, onde surgem conflitos, alimentados também de fora, no silêncio cúmplice de muitos. Conflitos alimentados por quem se enriquece vendendo armas. Hoje lembre-se de uma bela figura, a Beata Maria Clémentine Anuarite Nengapeta, que foi violentamente assassinada antes de dizer ao seu carrasco, como Jesus: «Eu te perdoo, porque você não sabe o que está fazendo!». Pedimos a sua intercessão que, em nome de Deus-Amor e com a ajuda de populações vizinhas, desistimos de armas, por um futuro que não é mais um contra o outro, mas um com o outro, e nos convertemos de uma economia que usa a guerra para uma economia que serve a paz. Papa Francisco: Quem tem ouvidos para ouvir Montagem: pretende! Papa Francisco: Quem tem coração para consentir Montagem: concordo!

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS PARTICIPANTES NO CONGRESSO MUNDIAL DA ASSOCIAÇÃO INTERNACIONAL DE DIREITO PENAL

O capital financeiro global está na origem de crimes graves não só contra a propriedade, mas também contra as pessoas e o ambiente. Trata-se da criminalidade organizada, que é responsável, entre outras coisas, pelo sobre-endividamento dos Estados e pela pilhagem dos recursos naturais do nosso planeta. O direito penal não pode ficar alheio a comportamentos em que, aproveitando-se de situações assimétricas, abusa de uma posição dominante em detrimento do bem-estar coletivo. Isto acontece, por exemplo, quando os preços dos títulos da dívida pública são artificialmente reduzidos através da especulação, sem preocupação de que isso afete ou agrave a situação económica de nações inteiras (cf. Oeconomicae et pecuniariae quaestiones. Considerações para um discernimento ético sobre alguns aspetos do atual sistema económico-financeiro, 17). Trata-se de delitos que têm a gravidade de crimes contra a humanidade, quando levam à fome, à miséria, à migração forçada e à morte por doenças evitáveis, ao desastre ambiental e ao etnocídio dos povos indígenas. Tutela jurídica e penal do ambiente É verdade que a resposta penal é dada quando o crime foi cometido, que não repara o dano nem impede a repetição e que raramente tem efeitos dissuasivos. É também verdade que, devido à sua seletividade estrutural, a função sancionatória recai normalmente sobre os setores mais vulneráveis. Sei também que existe uma corrente punitivista que pretende resolver os mais variados problemas sociais através do sistema penal.

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DISCURSO DO SANTO PADRE FRANCIS AOS PARTICIPANTES DO CONGRESSO “DIGNIDADE INFANTIL NO MUNDO DIGITAL”

(…) A disseminação da pornografia no mundo digital está crescendo dramaticamente. Isso, por si só, já é um fato muito sério, resultado de uma perda geral do senso de dignidade humana e não raro associado também ao tráfico de pessoas. O fenômeno é ainda mais dramático devido ao fato de que esse material também é amplamente acessível a menores pela Internet e principalmente por dispositivos móveis. A maioria dos estudos científicos concorda em destacar as pesadas consequências que derivam dele para a psique e o comportamento das crianças. São conseqüências que perduram por toda a vida, com fenômenos de séria dependência, propensão a comportamentos violentos, relacionamentos emocionais e sexuais profundamente perturbados. (…) (…) O potencial das ferramentas digitais é enorme, mas as possíveis consequências negativas de seus abusos no campo do tráfico de pessoas, na organização do terrorismo, na disseminação do ódio e do extremismo, na manipulação da informação e – devemos insistem – mesmo no contexto de abuso infantil, eles podem ser igualmente significativos. (…)

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CUMPRIMENTO DO SANTO PADRE FRANCIS À DELEGAÇÃO DO EXÉRCITO DA SALVAÇÃO

Sr. General, queridos irmãos e irmãs! Fico feliz em ter essa oportunidade de renovar para você e para todos os membros e voluntários do Exército da Salvação meu agradecimento pelo testemunho que você dá à primazia do discipulado e do serviço aos pobres. Isso faz de você um sinal reconhecível e credível do amor do evangelho, em obediência ao mandamento do Senhor: “Ame um ao outro. Como eu te amei, também se amem. Com isso, todos saberão que vocês são meus discípulos “(Jo 13:34). Como às vezes me lembrei – mesmo agora, na entrevista -, foi ao encontrar membros do Exército da Salvação que recebi minha primeira lição de ecumenismo da minha avó, há muitos anos … Eu tinha quatro! Seu exemplo de serviço humilde ao mínimo entre nossos irmãos e irmãs fala mais eloquentemente do que qualquer palavra. Lembro-me da sábia expressão do seu antecessor, Sr. General, quando nos conhecemos há cinco anos: “A santidade transcende as fronteiras confessionais”. A santidade que se manifesta em ações concretas de bondade, solidariedade e cura fala ao coração e atesta a autenticidade de nosso discipulado. Com base nisso, católicos e membros do Exército de Salvação podem ajudar-se mutuamente e colaborar cada vez mais com respeito mútuo, mesmo na vida de santidade. Esse testemunho comum é como o fermento que, na parábola de Jesus, uma mulher pegou e misturou com a farinha até que toda a massa fosse levedada (ver Lc 13:21). O amor livre que inspira os gestos de serviço aos necessitados não é apenas o fermento, mas também a fragrância do pão fresco. Atrai e convence. Os jovens, em particular, precisam sentir essa fragrância, porque, em muitos casos, está ausente de sua experiência diária. Em um mundo onde abundam o egoísmo e a divisão, é precisamente o gosto nobre do amor incondicional que serve como antídoto e abre o caminho para o significado transcendente de nossa existência. Como bispo de Roma, desta diocese, desejo agradecer também ao Exército da Salvação pelo que está fazendo nesta cidade em favor dos sem-teto e dos marginalizados; existem muitos em Roma, muitos. E também sei do seu amplo envolvimento na luta contra o tráfico de seres humanos e outras formas atuais de escravidão. Deus abençoe seu compromisso! Mais uma vez obrigado pela sua visita. Lembremo-nos um do outro em oração e continuamos a trabalhar na difusão do amor de Deus através de obras de serviço e solidariedade.

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DISCURSO DO SANTO PADRE FRANCISCO A PARTICIPANTES NA REUNIÃO DA SECRETARIA DE JUSTIÇA SOCIAL E ECOLOGIA DA COMPANHIA DE JESUS

Alguns de vocês, e muitos outros jesuítas que o precederam, iniciaram obras de serviço aos mais pobres, obras de educação, atenção aos refugiados, defesa dos direitos humanos e serviços sociais em muitos campos. Continue com esse compromisso criativo, sempre precisando de renovação em uma sociedade com mudanças aceleradas. Ajude a Igreja no discernimento que hoje também devemos realizar em nossos apostolados. Não pare de colaborar na rede entre você e outras organizações eclesiais e civis para ter uma palavra em defesa dos mais necessitados neste mundo cada vez mais globalizado. Com essa globalização esférica, que cancela identidades culturais, religiosas, identidades pessoais, tudo é igual. A verdadeira globalização deve ser multifacetada. Junte-se a nós, mas cada um mantendo sua própria peculiaridade. Na dor de nossos irmãos e de nosso lar comum ameaçado, é necessário contemplar o mistério do crucifixo para poder dar vida ao fim, como fizeram muitos companheiros jesuítas de 1975. Este ano comemoramos o trigésimo aniversário do martírio do Jesuítas da Universidade Centro-Americana de El Salvador, que causaram muita dor ao padre Kolvenbach e o levaram a procurar a ajuda dos jesuítas em toda a Sociedade. Muitos responderam generosamente. A vida e a morte dos mártires são um incentivo ao nosso serviço, no mínimo.

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PAPA FRANCISCO ANGELUS

(…) E o meu pensamento dirige-se mais uma vez ao Médio Oriente. Em particular, à amada e atormentada Síria, de onde provêm novamente notícias dramáticas sobre o destino das populações do nordeste do país, obrigadas a abandonar as suas casas devido a ações militares: entre estas populações há também muitas famílias cristãs. A todos os atores envolvidos e também à comunidade internacional, por favor, reitero o meu apelo para que se empenhem com sinceridade, honestidade e transparência na via do diálogo para procurar soluções eficazes. Juntamente com todos os membros do Sínodo dos Bispos para a Região pan-amazónica, especialmente os do Equador, acompanho com preocupação o que tem acontecido naquele país nas últimas semanas. Confio-o à oração comum e à intercessão dos novos Santos, e uno-me à dor pelos mortos, feridos e desaparecidos. Encorajo a busca da paz social, com particular atenção às populações mais vulneráveis, aos pobres e aos direitos humanos. (…)

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MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA O DIA MUNDIAL DO MIGRANTE E DO REFUGIADO

Queridos irmãos e irmãs! A fé assegura-nos que o Reino de Deus já está, misteriosamente, presente sobre a terra (cf. Conc. Ecum. Vat. II, Const. past. Gaudium et spes, 39); contudo, mesmo em nossos dias, com pesar temos de constatar que se lhe deparam obstáculos e forças contrárias. Conflitos violentos, verdadeiras e próprias guerras não cessam de dilacerar a humanidade; sucedem-se injustiças e discriminações; tribula-se para superar os desequilíbrios económicos e sociais, de ordem local ou global. E quem sofre as consequências de tudo isto são sobretudo os mais pobres e desfavorecidos. As sociedades economicamente mais avançadas tendem, no seu seio, para um acentuado individualismo que, associado à mentalidade utilitarista e multiplicado pela rede mediática, gera a «globalização da indiferença». Neste cenário, os migrantes, os refugiados, os desalojados e as vítimas do tráfico de seres humanos aparecem como os sujeitos emblemáticos da exclusão, porque, além dos incómodos inerentes à sua condição, acabam muitas vezes alvo de juízos negativos que os consideram como causa dos males sociais. A atitude para com eles constitui a campainha de alarme que avisa do declínio moral em que se incorre, se se continua a dar espaço à cultura do descarte. Com efeito, por este caminho, cada indivíduo que não quadre com os cânones do bem-estar físico, psíquico e social fica em risco de marginalização e exclusão. Por isso, a presença dos migrantes e refugiados – como a das pessoas vulneráveis em geral – constitui, hoje, um convite a recuperar algumas dimensões essenciais da nossa existência cristã e da nossa humanidade, que correm o risco de entorpecimento num teor de vida rico de comodidades. Aqui está a razão por que «não se trata apenas de migrantes», ou seja, quando nos interessamos por eles, interessamo-nos também por nós, por todos; cuidando deles, todos crescemos; escutando-os, damos voz também àquela parte de nós mesmos que talvez mantenhamos escondida por não ser bem vista hoje. «Tranquilizai-vos! Sou Eu! Não temais!» (Mt 14, 27). Não se trata apenas de migrantes: trata-se também dos nossos medos. As maldades e torpezas do nosso tempo fazem aumentar «o nosso receio em relação aos “outros”, aos desconhecidos, aos marginalizados, aos forasteiros (…). E isto nota-se particularmente hoje, perante a chegada de migrantes e refugiados que batem à nossa porta em busca de proteção, segurança e um futuro melhor. É verdade que o receio é legítimo, inclusive porque falta a preparação para este encontro» (Homilia, Sacrofano, 15 de fevereiro de 2019). O problema não está no facto de ter dúvidas e receios. O problema surge quando estes condicionam de tal forma o nosso modo de pensar e agir, que nos tornam intolerantes, fechados, talvez até – sem disso nos apercebermos – racistas. E assim o medo priva-nos do desejo e da capacidade de encontrar o outro, a pessoa diferente de mim; priva-me duma ocasião de encontro com o Senhor (cf. Homilia na Missa do Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, 14 de janeiro de 2018). «Se amais os que vos amam, que recompensa haveis de ter? Não fazem já isso os publicanos?» (Mt 5, 46). Não se trata apenas de migrantes: trata-se da caridade. Através das obras de caridade, demonstramos a nossa fé (cf. Tg 2, 18). E a caridade mais excelsa é a que se realiza em benefício de quem não é capaz de retribuir, nem talvez de agradecer. «Em jogo está a fisionomia que queremos assumir como sociedade e o valor de cada vida. (…) O progresso dos nossos povos (…) depende sobretudo da capacidade de se deixar mover e comover por quem bate à porta e, com o seu olhar, desabona e exautora todos os falsos ídolos que hipotecam e escravizam a vida; ídolos que prometem uma felicidade ilusória e efémera, construída à margem da realidade e do sofrimento dos outros» (Discurso na Cáritas diocesana de Rabat, Marrocos, 30 de março de 2019). «Mas um samaritano, que ia de viagem, chegou ao pé dele e, vendo-o, encheu-se de compaixão» (Lc 10, 33). Não se trata apenas de migrantes: trata-se da nossa humanidade. O que impele aquele samaritano – um estrangeiro, segundo os judeus – a deter-se é a compaixão, um sentimento que não se pode explicar só a nível racional. A compaixão toca as cordas mais sensíveis da nossa humanidade, provocando um impulso imperioso a «fazer-nos próximo» de quem vemos em dificuldade. Como nos ensina o próprio Jesus (cf. Mt 9, 35-36; 14, 13-14; 15, 32- 37), ter compaixão significa reconhecer o sofrimento do outro e passar, imediatamente, à ação para aliviar, cuidar e salvar. Ter compaixão significa dar espaço à ternura, ao contrário do que tantas vezes nos pede a sociedade atual, ou seja, que a reprimamos. «Abrir-se aos outros não empobrece, mas enriquece, porque nos ajuda a ser mais humanos: a reconhecer-se parte ativa dum todo maior e a interpretar a vida como um dom para os outros; a ter como alvo não os próprios interesses, mas o bem da humanidade» (Discurso na Mesquita «Heydar Aliyev» de Baku, Azerbeijão, 2 de outubro de 2016). «Livrai-vos de desprezar um só destes pequeninos, pois digo-vos que os seus anjos, no Céu, veem constantemente a face de meu Pai que está no Céu» (Mt 18, 10). Não se trata apenas de migrantes: trata-se de não excluir ninguém. O mundo atual vaise tornando, dia após dia, mais elitista e cruel para com os excluídos. Os países em vias de desenvolvimento continuam a ser depauperados dos seus melhores recursos naturais e humanos em benefício de poucos mercados privilegiados. As guerras abatem-se apenas sobre algumas regiões do mundo, enquanto as armas para as fazer são produzidas e vendidas noutras regiões, que depois não querem ocupar-se dos refugiados causados por tais conflitos. Quem sofre as consequências são sempre os pequenos, os pobres, os mais vulneráveis, a quem se impede de sentar-se à mesa deixando-lhe as «migalhas» do banquete (cf. Lc 16, 19-21). «A Igreja “em saída” (…) sabe tomar a iniciativa sem medo, ir ao encontro, procurar os afastados e chegar às encruzilhadas dos caminhos para convidar os excluídos» (Exort. ap. Evangelii gaudium, 24). O desenvolvimento exclusivista torna os ricos mais ricos e os pobres mais pobres. Verdadeiro desenvolvimento é aquele que procura incluir todos os homens e mulheres do mundo, promovendo o seu crescimento integral, e se preocupa também com as gerações futuras. «Quem quiser ser grande entre vós, faça-se vosso servo; e quem quiser ser o primeiro entre vós, faça-se o servo de todos» (Mc 10, 43-44). Não se trata apenas de migrantes: trata-se de colocar os últimos em primeiro lugar. Jesus Cristo pedenos para não cedermos à lógica do mundo, que justifica a prevaricação sobre os outros para meu proveito pessoal ou do meu grupo: primeiro eu, e depois os outros! Ao contrário, o verdadeiro lema do cristão é «primeiro os últimos». «Um espírito individualista é terreno fértil para medrar aquele sentido de indiferença para com o próximo, que leva a tratá-lo como mero objeto de comércio, que impele a ignorar a humanidade dos outros e acaba por tornar as pessoas medrosas e cínicas. Porventura não são estes os sentimentos que muitas vezes nos assaltam à vista dos pobres, dos marginalizados, dos últimos da sociedade? E são tantos os últimos na nossa sociedade! Dentre eles, penso sobretudo nos migrantes, com o peso de dificuldades e tribulações que enfrentam diariamente à procura – por vezes, desesperada – dum lugar onde viver em paz e com dignidade» (Discurso ao Corpo Diplomático, 11 de janeiro de 2016). Na lógica do Evangelho, os últimos vêm em primeiro lugar, e nós devemos colocar-nos ao seu serviço. «Eu vim para que tenham vida e a tenham em abundância» (Jo 10, 10). Não se trata apenas de migrantes: trata-se da pessoa toda e de todas as pessoas. Nesta afirmação de Jesus, encontramos o cerne da sua missão: procurar que todos recebam o dom da vida em plenitude, segundo a vontade do Pai. Em cada atividade política, em cada programa, em cada ação pastoral, no centro devemos colocar sempre a pessoa com as suas múltiplas dimensões, incluindo a espiritual. E isto vale para todas as pessoas, entre as quais se deve reconhecer a igualdade fundamental. Por conseguinte, «o desenvolvimento não se reduz a um simples crescimento económico. Para ser autêntico, deve ser integral, quer dizer, promover todos os homens e o homem todo» (São Paulo VI, Enc. Populorum progressio, 14). «Portanto, já não sois estrangeiros nem imigrantes, mas sois concidadãos dos santos e membros da casa de Deus» (Ef 2, 19). Não se trata apenas de migrantes: trata-se de construir a cidade de Deus e do homem. Na nossa época, designada também a era das migrações, muitas são as pessoas inocentes que caem vítimas da «grande ilusão» dum desenvolvimento tecnológico e consumista sem limites (cf. Enc. Laudato si’, 34). E, assim, partem em viagem para um «paraíso» que, inexoravelmente, atraiçoa as suas expetativas. A sua presença, por vezes incómoda, contribui para desmentir os mitos dum progresso reservado a poucos, mas construído sobre a exploração de muitos. «Trata-se então de vermos, nós em primeiro lugar, e de ajudarmos os outros a verem no migrante e no refugiado não só um problema a enfrentar, mas um irmão e uma irmã a serem acolhidos, respeitados e amados; tratase duma oportunidade que a Providência nos oferece de contribuir para a construção duma sociedade mais justa, duma democracia mais completa, dum país mais inclusivo, dum mundo mais fraterno e duma comunidade cristã mais aberta, de acordo com o Evangelho» (Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado de 2014). Queridos irmãos e irmãs, a resposta ao desafio colocado pelas migrações contemporâneas pode-se resumir em quatro verbos: acolher, proteger, promover e integrar. Mas estes verbos não valem apenas para os migrantes e os refugiados; exprimem a missão da Igreja a favor de todos os habitantes das periferias existenciais, que devem ser acolhidos, protegidos, promovidos e integrados. Se pusermos em prática estes verbos, contribuímos para construir a cidade de Deus e do homem, promovemos o desenvolvimento humano integral de todas as pessoas e ajudamos também a comunidade mundial a ficar mais próxima de alcançar os objetivos de desenvolvimento sustentável que se propôs e que, caso contrário, dificilmente serão atingíveis. Por conseguinte, não está em jogo apenas a causa dos migrantes; não é só deles que se trata, mas de todos nós, do presente e do futuro da família humana. Os migrantes, especialmente os mais vulneráveis, ajudam-nos a ler os «sinais dos tempos». Através deles, o Senhor chama-nos a uma conversão, a libertar-nos dos exclusivismos, da indiferença e da cultura do descarte. Através deles, o Senhor convida-nos a reapropriarmo-nos da nossa vida cristã na sua totalidade e contribuir, cada qual segundo a própria vocação, para a construção dum mundo cada vez mais condizente com o projeto de Deus. Estes são os meus votos que acompanho com a oração, invocando, por intercessão da Virgem Maria, Nossa Senhora da Estrada, abundantes bênçãos sobre todos os migrantes e refugiados do mundo e sobre aqueles que se fazem seus companheiros de viagem.

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SANTA MISSA PARA OS MIGRANTES NO VI ANIVERSÁRIO DA VISITA A LAMPEDUSA HOMILIA DO PAPA FRANCISCO

Hoje, a Palavra de Deus fala-nos de salvação e libertação. Salvação. Durante a sua viagem de Bersabé para Harã, Jacob decide parar e descansar num lugar solitário. Em sonho, vê uma escada cujo pé assenta na terra e o topo toca o céu (cf. Gn 28, 10-22a). A escada, pela qual sobem e descem os anjos de Deus, representa a ligação entre o divino e o humano, que se realiza historicamente na encarnação de Cristo (cf. Jo 1, 51), amorosa oferta de revelação e salvação por parte do Pai. A escada é alegoria da iniciativa divina que antecede todo e qualquer movimento humano. É a antítese da torre de Babel, construída pelos homens que queriam, com as suas forças, chegar ao céu para se tornarem deuses. Neste caso, ao contrário, é Deus que «desce», é o Senhor que Se revela, é Deus que salva. E o Emanuel, o Deus-connosco, realiza a promessa de pertença mútua entre o Senhor e a humanidade, no sinal dum amor encarnado e misericordioso que dá a vida em abundância. À vista desta revelação, Jacob realiza um ato de entrega ao Senhor, que se traduz num compromisso de reconhecimento e adoração que marca um momento essencial na história da salvação. Pede ao Senhor que o proteja ao longo do caminho difícil que está a fazer e diz: «O Senhor será o meu Deus» (Gn 28, 21). Dando eco às palavras do Patriarca, repetimos no Salmo: «Meu Deus, em Vós confio». Ele é o nosso refúgio e nossa fortaleza, escudo e couraça, âncora nos momentos de prova. O Senhor é abrigo para os fiéis que O invocam na tribulação. Aliás, é precisamente nestes momentos que a nossa oração se torna mais pura, isto é, quando nos damos conta de que as certezas oferecidas pelo mundo pouco valem, e nada mais nos resta senão Deus: só Deus abre de par em par o Céu a quem vive na terra; só Deus salva. E esta entrega total e extrema é precisamente o elemento comum entre o chefe da sinagoga e a mulher hemorroíssa, no Evangelho (cf. Mt 9, 18-26). São episódios de libertação. Ambos se aproximam de Jesus para obter d’Ele o que mais ninguém lhes pode dar: libertação da doença e da morte. Dum lado, temos a filha duma das autoridades da cidade; do outro, uma mulher atribulada por uma doença que faz dela uma excluída, uma marginalizada, uma pessoa impura. Mas Jesus não faz distinções: a libertação é concedida generosamente em ambos os casos. A necessidade coloca a ambas – a mulher e a menina – entre os «últimos» que devemos amar e levantar. Jesus revela aos seus discípulos a necessidade duma opção preferencial pelos últimos, que hão de ocupar o primeiro lugar no exercício da caridade. São tantas as pobrezas de hoje! Como escreveu São João Paulo II, «“pobres”, nas várias aceções da pobreza, são os oprimidos, os marginalizados, os idosos, os doentes, as crianças, todos aqueles que são considerados e tratados como “últimos” na sociedade» (Exort. ap. Vita consecrata, 82). Neste sexto aniversário da visita a Lampedusa, penso nos «últimos» que diariamente clamam ao Senhor, pedindo para ser libertados dos males que os afligem. São os últimos enganados e abandonados a morrer no deserto; são os últimos torturados, abusados e violentados nos campos de detenção; são os últimos que desafiam as ondas dum mar impiedoso; são os últimos deixados em acampamentos de acolhimento (demasiado longo, para ser chamado de temporário). Estes são apenas alguns dos últimos que Jesus nos pede para amar e levantar. Infelizmente, as periferias existenciais das nossas cidades estão densamente povoadas de pessoas que foram descartadas, marginalizadas, oprimidas, discriminadas, abusadas, exploradas, abandonadas, de pessoas pobres e sofredoras. No espírito das Bemaventuranças, somos chamados a acudir misericordiosamente às suas aflições; saciar a sua fome e sede de justiça; fazer-lhes sentir a solícita paternidade de Deus; mostrar-lhes o caminho para o Reino dos Céus. São pessoas; não se trata apenas de questões sociais ou migratórias! «Não se trata apenas de migrantes!», no duplo sentido de que os migrantes são, antes de mais nada, pessoas humanas e que, hoje, são o símbolo de todos os descartados da sociedade globalizada. Retorna espontaneamente à mente a imagem da escada de Jacob. Em Jesus Cristo, está assegurada e é acessível a todos a ligação entre a terra e o Céu. Mas subir os degraus desta escada requer empenho, esforço e graça. Os mais frágeis e vulneráveis devem ser ajudados. Apraz-me pensar que poderíamos ser, nós, aqueles anjos que sobem e descem, pegando ao colo os pequenos, os coxos, os doentes, os excluídos: os últimos, que caso contrário ficariam para trás e veriam apenas as misérias da terra, sem vislumbrar já desde agora algum clarão do Céu. Trata-se, irmãos e irmãs, duma grande responsabilidade, da qual ninguém se pode eximir, se quiser levar a cabo a missão de salvação e libertação na qual fomos chamados a colaborar pelo próprio Senhor. Sei que muitos de vós, chegados apenas há alguns meses, já estais a ajudar irmãos e irmãs que chegaram depois. Quero agradecer-vos por este estupendo sinal de humanidade, gratidão e solidariedade.