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ENDEREÇO DO SANTO PADRE FRANCISCO AOS JOVENS DO “PROJETO POLICORO” DA CONFERÊNCIA EPISCOPAL ITALIANA

(…) O segundo verbo é viver. Pedimos que nos mostrem que é possível habitar o
mundo sem pisar nele – isso é importante -: seria uma grande conquista para
todos! Viver a terra não significa antes de mais nada possuí-la, não, mas saber
viver plenamente as relações: as relações com Deus, as relações com os irmãos,
as relações com a criação e conosco mesmos (Encíclica Laudato si ‘, 210).
Exorto-o a amar os territórios em que Deus o colocou, evitando a tentação de
fugir para outro lugar. Na verdade, as próprias periferias podem se tornar
laboratórios de fraternidade. As experiências de inclusão surgem muitas vezes
das periferias: «de facto, algo se aprende com todos, ninguém é inútil, ninguém
é supérfluo» (Carta Encíclica Fratelli tutti, 215). Que você ajude a comunidade
cristã a viver a crise pandêmica com coragem e esperança. Deus nunca nos
abandona e podemos tornar-nos sinal da sua misericórdia se soubermos nos
dobrar à pobreza do nosso tempo: os jovens que não encontram trabalho, os
chamados Neet, os que sofrem de depressão, os desmotivados , aqueles que
estão cansados da vida, aqueles que deixaram de sonhar com um mundo novo.
E há jovens que pararam de sonhar. É triste, porque a vocação do jovem é
sonhar. O Servo de Deus Giorgio La Pira argumentou que o desemprego é “um
desperdício de forças produtivas”. (…)

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SOLENIDADE DE PENTECOSTES PAPA FRANCISCO REGINA CAELI

Depois do Regina caeli:
Confio às orações de todos vós a situação na Colômbia, que continua a ser
preocupante. Nesta solenidade de Pentecostes, rezo para que o amado povo
colombiano saiba acolher os dons do Espírito Santo a fim de que, através de um
diálogo sério, possam ser encontradas soluções justas para os numerosos
problemas de que sofrem em particular as pessoas mais pobres, por causa da
pandemia. Exorto todos a evitar, por razões humanitárias, comportamentos
prejudiciais para a população no exercício do direito ao protesto pacífico.
Oremos também pelas populações da cidade de Goma, na República
Democrática do Congo, obrigadas a fugir devido à erupção do grande vulcão
Nyiragongo.
Amanhã, os fiéis católicos na China celebrarão a festa da Bem-Aventurada
Virgem Maria, Auxílio dos cristãos e Padroeira celestial do seu grande país. A
Mãe do Senhor e da Igreja é venerada com particular devoção no Santuário de
Sheshan, em Shanghai, e é invocada assiduamente pelas famílias cristãs nas
provações e esperanças da vida quotidiana. Como é bom e necessário que os
membros de uma família e comunidade cristã permaneçam cada vez mais
unidos no amor e na fé! Deste modo, os pais e os filhos, os avós e as crianças,
os pastores e os fiéis podem seguir o exemplo dos primeiros discípulos que, na
solenidade de Pentecostes, estavam em oração unânime com Maria, à espera do
Espírito Santo. Portanto, convido-vos a acompanhar com fervorosa oração os
fiéis cristãos na China, nossos amados irmãos e irmãs, que tenho no íntimo do
meu coração. O Espírito Santo, protagonista da missão da Igreja no mundo, os
guie e ajude a ser portadores da boa nova, testemunhas de bondade e de
caridade, e construtores de justiça e de paz na sua pátria.
E falando da festividade de amanhã, Maria Auxílio dos cristãos, dirijo um
pensamento aos salesianos e às salesianas, que trabalham muito, muito na
Igreja pelos mais distantes, pelos mais marginalizados, pela juventude. Que o
Senhor os abençoe e os faça ir em frente com muitas vocações santas!

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CARTA DO PAPA FRANCISCO AO CARDEAL TURKSON POR OCASIÃO DA CONFERÊNCIA “CONSTRUIR A FRATERNIDADE, DEFENDER A JUSTIÇA. DESAFIOS E OPORTUNIDADES PARA OS POVOS INSULARES”

Ao Cardeal Peter Turkson
Prefeito do Dicastério
para o Serviço do Desenvolvimento Humano Integral
Por ocasião da Conferência online sobre «Construir a fraternidade, defender a
justiça. Desafios e oportunidades para os povos insulares», que tem lugar no dia
21 de maio de 2021, promovida pelo Dicastério para o Serviço do
Desenvolvimento Humano Integral e o Centro anglicano em Roma, peço-lhe que
transmita as minhas saudações e os meus melhores votos orantes aos
organizadores e a todos os que participarem. Dirijo uma saudação especial a
Sua Excelência Wavel Ramkalawan, Presidente da República das Seychelles, e a
Sua Graça Justin Welby, Arcebispo de Canterbury, grato pela sua participação.
Esta importante iniciativa ecuménica, que implica um diálogo recíproco nascido
da sabedoria e experiência de diferentes tradições cristãs, proporciona aos
crentes, aos chefes de governo e aos membros da sociedade civil em geral,
especialmente aos jovens, uma oportunidade para enfrentar os desafios
particulares que se apresentam aos povos insulares. Entre eles, gostaria de
mencionar a violência, o terrorismo, a pobreza, a fome, e as múltiplas formas de
injustiça e de desigualdade social e económica que hoje em dia prejudicam
todos, especialmente as mulheres e as crianças. Também é preocupante que
muitos povos insulares estejam expostos a mudanças ambientais e climáticas
extremas, algumas das quais são o resultado de uma exploração descontrolada
dos recursos naturais e humanos. Por conseguinte, experimentam não só uma
deterioração ambiental, mas também humana e social, que coloca cada vez mais
em perigo a vida dos habitantes destas ilhas e territórios marítimos. Espero que
a Conferência possa contribuir para o desenvolvimento de políticas internacionais
e regionais concretas, para enfrentar estes desafios de modo mais eficaz e
reforçar a consciência da responsabilidade de cada um no cuidado da nossa casa
comum.
Nestes meses de pandemia, tornamo-nos cada vez mais conscientes da nossa
fragilidade e, consequentemente, da necessidade de uma ecologia integral que
possa sustentar não apenas os ecossistemas físicos mas também os humanos.
Dado que «tudo está interligado […] o cuidado autêntico da nossa própria vida e
das nossas relações com a natureza é inseparável da fraternidade, da justiça e
da fidelidade aos outros» (Laudato si’, 70). Por isso, é ainda mais necessária
uma atitude de solidariedade e respeito por cada pessoa, criada à imagem e
semelhança de Deus (cf. Gn 1, 26-27), para unir o amor sincero pelos nossos
irmãos e irmãs a um compromisso firme na solução dos problemas ambientais e
sociais que afligem quantos vivem em áreas insulares e marítimas. Estou grato
pelos esforços constantes envidados para construir a fraternidade e defender a
justiça nas sociedades de tais regiões (cf. Fratelli tutti, 271), e estou certo de
que o trabalho levado a cabo durante este encontro será um sinal do importante
papel que os povos insulares podem desempenhar na promoção do crescimento
de um mundo mais humano e inclusivo.
Com estes sentimentos, invoco de coração sobre os participantes na Conferência
as bênçãos divinas de sabedoria, força e paz.

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ENDEREÇO DO SANTO PADRE FRANCISCO AOS MEMBROS DA ASSOCIAÇÃO “LAZARE”

[…] Exorto todos vocês a se manterem fiéis aos seus objetivos. Hoje, mais do
que nunca, precisamos construir um mundo, uma sociedade de relações
fraternas e cheias de vida. Porque “as ações derivam de uma união que se
inclina cada vez mais para o outro, considerando-o precioso, digno, agradável e
belo, além das aparências físicas ou morais. O amor ao outro pelo que ele é nos
empurra a buscar o melhor para sua vida. Somente cultivando esta forma de
relacionamento, possibilitaremos a amizade social que não exclui ninguém e a
fraternidade aberta a todos ”(Enc. Fratelli tutti, 94). Portanto, eu os convido a
serem testemunhas, testemunhas da misericórdia e da bondade de Deus.
Confio cada um de vós e as vossas famílias, bem como os membros da
Associação à intercessão da Virgem Maria e de São Lázaro, e concedo-vos de
coração a minha Bênção Apostólica. Por favor, não se esqueça de orar por mim.
[…]

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APRESENTAÇÃO DAS CARTAS CREDENCIAIS DOS EMBAIXADORES DE SINGAPURA, ZIMBABUE, BANGLADESH, ARGÉLIA, SRI LANKA, BARBADOS, SUÉCIA, FINLÂNDIA, NEPAL DISCURSO DO PAPA FRANCISCO

Excelências,
Senhoras e Senhores!
Estou feliz por vos dar as boas-vindas para a apresentação das Cartas com que
sois acreditados como Embaixadores Extraordinários e Plenipotenciários dos
vossos países junto da Santa Sé: de Singapura, Zimbabwe, Bangladesh, Argélia,
Sri Lanka, Barbados, Suécia, Finlândia e Nepal. Dado que os efeitos do
coronavírus continuam a fazer-se sentir, ainda é difícil viajar, e por isso agradeço
profundamente a cada um de vós a vossa presença aqui hoje. Peço-vos
gentilmente que transmitais aos Chefes de Estado que representais os meus
sentimentos de estima e de gratidão por eles e pela nobre missão que cumprem
ao serviço do seu povo.
Por causa da pandemia, a crise social e económica tornou-se ainda mais grave
no mundo inteiro. A nível pessoal, muitos perderam entes queridos e meios de
subsistência. Em particular, as famílias enfrentam graves dificuldades
económicas e muitas vezes carecem de uma proteção social adequada. A
pandemia tornou-nos mais conscientes da nossa interdependência como
membros da única família humana, bem como da necessidade de estar atentos
aos pobres e indefesos que vivem entre nós. Enquanto procuramos sair da crise
atual, as nossas sociedades enfrentam o desafio de dar passos concretos,
verdadeiramente corajosos, para desenvolver uma «cultura do cuidado» global
(cf. Mensagem para o Dia Mundial da Paz de 2021), que possa inspirar o
nascimento de novas relações e estruturas de cooperação ao serviço da
solidariedade, do respeito pela dignidade humana, da assistência recíproca e da
justiça social.
Infelizmente, a pandemia tornou-nos também conscientes de que a comunidade
internacional vive «uma dificuldade crescente, se não a incapacidade, de
procurar soluções comuns e partilhadas para os problemas do nosso mundo»
(Discurso ao Corpo diplomático acreditado junto da Santa Sé, 8 de fevereiro de
2021). A tal propósito, penso na necessidade de enfrentar questões globais
urgentes, como as das migrações e das mudanças climáticas, assim como as
crises humanitárias que muitas vezes delas derivam. Penso também na dívida
económica que pesa sobre muitos países que lutam para sobreviver, e na “dívida
ecológica” que temos com a própria natureza e com os povos e países atingidos
pela degradação ambiental, causada pelo homem e pela perda da
biodiversidade. Estes problemas não são simplesmente políticos ou económicos;
são questões de justiça, uma justiça que já não pode ser ignorada nem adiada.
Na verdade, trata-se de um dever moral intergeracional, pois a seriedade com
que respondemos a tais questões determina o mundo que deixamos aos nossos
filhos.
No desenvolvimento de um consenso global, capaz de responder a estes desafios
éticos que a nossa família humana deve enfrentar, a vossa obra de diplomatas é
de importância fundamental. A Santa Sé, por sua vez, através das suas
representações diplomáticas e da sua atividade no seio da comunidade
internacional, apoia todos os esforços para construir um mundo em que a pessoa
humana esteja no centro, as finanças se ponham ao serviço de um
desenvolvimento integral e a Terra, nossa casa comum, seja protegida e
cuidada. Mediante as suas obras de educação, caridade e assistência à saúde no
mundo inteiro, a Igreja trabalha pelo bem comum, promovendo o
desenvolvimento das pessoas e dos povos, e deste modo procura contribuir para
a causa da paz.
A este propósito, dirijo o meu pensamento ao que acontece nestes dias na Terra
Santa. Dou graças a Deus pela decisão de pôr fim aos conflitos armados e
desejo que se percorram os caminhos do diálogo e da paz. Amanhã à noite, os
Ordinários católicos da Terra Santa celebrarão com os seus fiéis a Vigília de
Pentecostes na igreja de Santo Estêvão em Jerusalém, implorando o dom da
paz. Aproveito a ocasião para pedir a todos os pastores e fiéis da Igreja católica
que se unam a eles em oração. Que em todas as comunidades se eleve a súplica
ao Espírito Santo, «a fim de que israelenses e palestinianos possam encontrar o
caminho do diálogo e do perdão, para ser pacientes construtores de paz e
justiça, abrindo-se passo a passo a uma esperança comum, à convivência entre
irmãos» (Regina caeli, 16 de maio de 2021).
Senhores Embaixadores, enquanto vos ofereço estas reflexões, formulo-vos os
meus bons votos pelas responsabilidades que agora assumis e asseguro-vos a
colaboração e a ajuda dos Departamentos da Santa Sé no cumprimento dos
vossos deveres. Sobre vós e as vossas famílias, sobre os vossos colegas e
colaboradores, e sobre todos os vossos compatriotas, invoco cordialmente de
Deus os dons de sabedoria, fortaleza e paz.

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PAPA FRANCISCO REGINA CAELI

Depois do Regina caeli:
[…] Hoje começa a “Semana Laudato si’”, para nos educar cada vez mais a
escutar o grito da Terra e o brado dos pobres. Agradeço ao Dicastério para o
Serviço do Desenvolvimento Humano Integral, ao Movimento Católico Mundial
pelo Clima, à Caritas Internationalis e às numerosas organizações que aderem, e
convido todos a participar. […]

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DISCURSO DO PAPA FRANCISCO AOS MEMBROS DA ASSOCIAÇÃO “METER”

Prezados irmãos e irmãs!
Sinto-me feliz por me encontrar convosco representantes da Associação Meter,
que desde 1989 — quando poucas pessoas falavam deste flagelo — está
comprometida na luta contra a pedofilia em Itália e noutros países. Saúdo e
agradeço ao Bispo Antonio Staglianò e ao padre Fortunato Di Noto, que
fundaram esta importante realidade. E saúdo e agradeço ao Cardeal Paolo
Lojudice, e a todos aqueles que de várias formas apoiam a Associação, pela
proteção e defesa das crianças abusadas e maltratadas.
Ao longo dos anos, com o vosso trabalho generoso, contribuístes para tornar
visível o amor da Igreja pelos mais pequeninos e indefesos. Quantas vezes,
como o Bom Samaritano do Evangelho, vos fizestes próximos com respeito e
compaixão, para acolher, consolar e proteger! Proximidade, compaixão e
ternura: este é o estilo de Deus. Quantas feridas espirituais enfaixastes! Por
tudo isto, a comunidade eclesial está-vos grata.
Podemos comparar a vossa Associação com uma casa . Quando dizemos “casa”
pensamos num lugar de acolhimento, de abrigo, de cuidados. A palavra “casa”
tem um sabor tipicamente familiar, evocando o calor, o afeto e a ternura que
podem ser experimentados numa família, especialmente em tempos de angústia
e dor. Fostes e sois “casa” para tantas crianças cuja inocência foi violada ou
escravizada pelo egoísmo dos adultos. Fostes e sois casa de esperança,
encorajando em muitas vítimas um caminho de libertação e redenção. Por
conseguinte, encorajo-vos a continuar esta louvável atividade social e humana,
continuando a oferecer a vossa valiosa contribuição ao serviço da proteção da
infância.
O vosso trabalho é necessário como nunca pois, infelizmente, continuam os
abusos perpetrados contra crianças. Refiro-me em particular ao aliciamento que
tem lugar através da internet e dos vários meios de comunicação social, com
páginas e portais dedicados à pornografia infantil. Este é um flagelo que, por um
lado, precisa de ser enfrentado com determinação renovada pelas instituições e
autoridades públicas, e por outro, requer uma consciência ainda maior por parte
das famílias e das várias agências educativas. Ainda hoje vemos com que
frequência nas famílias, a primeira reação é encobrir tudo; uma primeira reação
que está sempre presente noutras instituições e também na Igreja. Temos de
lutar contra este velho hábito de encobrir. Sei que estais sempre vigilantes na
proteção das crianças, inclusive no contexto dos meios de comunicação mais
modernos.
O abuso de menores é uma espécie de “homicídio psicológico” e em muitos
casos um cancelamento da infância. Por conseguinte, a proteção das crianças
contra a exploração sexual é um dever de todos os Estados, que devem
identificar tanto os traficantes como os abusadores. Ao mesmo tempo, é
necessário como nunca denunciar e prevenir esta exploração nas várias esferas
da sociedade: escolas, desporto, atividades recreativas e culturais, comunidades
religiosas e indivíduos. Além disso, no campo da tutela dos menores e na luta
contra a pedofilia, devem ser tomadas medidas específicas para prestar uma
ajuda eficaz às vítimas.
Em todas estas frentes, a Associação Meter colabora ativamente com órgãos
institucionais e com vários sectores da sociedade civil, também através de
protocolos de entendimento apropriados. Continuai o vosso trabalho sem
hesitação, prestando particular atenção ao aspeto educativo, para formar nas
pessoas uma consciência forte e erradicar a cultura do abuso e da exploração.
O logótipo da vossa Associação é formado por uma grande letra “M” que recorda
a ideia de ventre, acolhimento, proteção e o abraço aos mais pequeninos.
Dentro do “m” encontram-se doze estrelas, símbolo da coroa da Virgem Maria,
Mãe de Jesus e mãe de todas as crianças. Ela, mãe atenciosa, toda dedicada a
amar o seu Filho Jesus, é um modelo e guia para qualquer Associação,
encorajando a amar com caridade evangélica as crianças que são vítimas da
escravatura e da violência. A caridade para com o próximo é inseparável da
caridade que Deus tem para connosco e que nós temos para com ele. Por esta
razão, exorto-vos sempre a enraizar a vossa atividade diária na vossa relação
diária com Deus: na oração pessoal e comunitária, na escuta da sua Palavra e
sobretudo na Eucaristia, sacramento da unidade e vínculo da caridade.
Amados irmãos e irmãs, renovo aos responsáveis, membros, voluntários e a
todos os que colaboram com a vossa Associação o meu apreço e gratidão. Não
tenhais medo face às incompreensões e às dificuldades; há muitas, mas não
tenhais medo. Ide em frente com coragem e perseverança. Acompanho-vos com
a minha oração e também com a minha bênção. E não vos esqueçais, por favor,
de rezar por mim. Obrigado!

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MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA O 107º DIA MUNDIAL DO MIGRANTE E DO REFUGIADO

Queridos irmãos e irmãs!

Na carta encíclica Fratelli tutti, deixei expressa uma preocupação e um desejo, que continuo a considerar importantes: «Passada a crise sanitária, a pior reação seria cair ainda mais num consumismo febril e em novas formas de autoproteção egoísta. No fim, oxalá já não existam “os outros”, mas apenas um “nós”» (n. 35).

Por isso pensei dedicar a mensagem para o 107º Dia Mundial do Migrante e do Refugiado ao tema «Rumo a um nós cada vez maior», pretendendo assim indicar claramente um horizonte para o nosso caminho comum neste mundo.

A história do «nós»

Este horizonte encontra-se no próprio projeto criador de Deus: «Deus criou o ser humano à sua imagem, criou-o à imagem de Deus; Ele os criou homem e mulher. Abençoando-os, Deus disse-lhes: “Crescei, multiplicai-vos”» (Gn 1, 27-28). Deus criou-nos homem e mulher, seres diferentes e complementares para formarem, juntos, um nós destinado a tornar-se cada vez maior com a multiplicação das gerações. Deus criou-nos à sua imagem, à imagem do seu Ser Uno e Trino, comunhão na diversidade.

E quando o ser humano, por causa da sua desobediência, se afastou d’Ele, Deus, na sua misericórdia, quis oferecer um caminho de reconciliação, não a indivíduos isoladamente, mas a um povo, um nós destinado a incluir toda a família humana, todos os povos: «Esta é a morada de Deus entre os homens. Ele habitará com eles; eles serão o seu povo e o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus» (Ap 21, 3).

Assim, a história da salvação vê um nós no princípio e um nós no fim e, no centro, o mistério de Cristo, morto e ressuscitado «para que todos sejam um só» (Jo 17, 21). Mas o tempo presente mostra-nos que o nós querido por Deus está dilacerado e dividido, ferido e desfigurado. E isto verifica-se sobretudo nos momentos de maior crise, como agora com a pandemia. Os nacionalismos fechados e agressivos (cf. Fratelli tutti, 11) e o individualismo radical (cf. ibid., 105) desagregam ou dividem o nós, tanto no mundo como dentro da Igreja. E o preço mais alto é pago por aqueles que mais facilmente se podem tornar os outros: os estrangeiros, os migrantes, os marginalizados, que habitam as periferias existenciais.

Na realidade, estamos todos no mesmo barco e somos chamados a empenhar-nos para que não existam mais muros que nos separam, nem existam mais os outros, mas só um nós, do tamanho da humanidade inteira. Por isso aproveito a ocasião deste Dia Mundial para lançar um duplo apelo a caminharmos juntos rumo a um nós cada vez maior, dirigindo-me em primeiro lugar aos fiéis católicos e depois a todos os homens e mulheres da terra.

Uma Igreja cada vez mais católica

Para os membros da Igreja Católica, este apelo traduz-se num esforço por se configurarem cada vez mais fielmente ao seu ser de católicos, tornando realidade aquilo que São Paulo recomendava à comunidade de Éfeso: «Um só corpo e um só espírito, assim como a vossa vocação vos chama a uma só esperança; um só Senhor, uma só fé, um só batismo» (Ef 4, 4-5).

De facto, a catolicidade da Igreja, a sua universalidade é uma realidade que requer ser acolhida e vivida em cada época, conforme a vontade e a graça do Senhor que prometeu estar sempre connosco até ao fim dos tempos (cf. Mt 28, 20). O seu Espírito torna-nos capazes de abraçar a todos para se fazer comunhão na diversidade, harmonizando as diferenças sem nunca impor uma uniformidade que despersonaliza. No encontro com a diversidade dos estrangeiros, dos migrantes, dos refugiados e no diálogo intercultural que daí pode brotar, é-nos dada a oportunidade de crescer como Igreja, enriquecer-nos mutuamente. Com efeito, todo o batizado, onde quer que se encontre, é membro de pleno direito da comunidade eclesial local e membro da única Igreja, habitante na única casa, componente da única família.

Os fiéis católicos são chamados, cada qual a partir da comunidade onde vive, a comprometer-se para que a Igreja se torne cada vez mais inclusiva, dando continuidade à missão que Jesus Cristo confiou aos Apóstolos: «Pelo caminho, proclamai que o Reino do Céu está perto. Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, purificai os leprosos, expulsai os demónios. Recebestes de graça, dai de graça» (Mt 10, 7-8).

Hoje, a Igreja é chamada a sair pelas estradas das periferias existenciais para cuidar de quem está ferido e procurar quem anda extraviado, sem preconceitos nem medo, sem proselitismo, mas pronta a ampliar a sua tenda para acolher a todos. Entre os habitantes das periferias existenciais, encontraremos muitos migrantes e refugiados, deslocados e vítimas de tráfico humano, aos quais o Senhor deseja que seja manifestado o seu amor e anunciada a sua salvação. «Os fluxos migratórios contemporâneos constituem uma nova “fronteira” missionária, uma ocasião privilegiada para anunciar Jesus Cristo e o seu Evangelho sem se mover do próprio ambiente, para testemunhar concretamente a fé cristã na caridade e no respeito profundo pelas outras expressões religiosas. O encontro com migrantes e refugiados de outras confissões e religiões é um terreno fecundo para o desenvolvimento de um diálogo ecuménico e inter-religioso sincero e enriquecedor» (Papa Francisco, Discurso aos Diretores Nacionais da Pastoral dos Migrantes, 22/IX/2017).

Um mundo cada vez mais inclusivo

A todos os homens e mulheres da terra, apelo a caminharem juntos rumo a um nós cada vez maior, a recomporem a família humana, a fim de construirmos em conjunto o nosso futuro de justiça e paz, tendo o cuidado de ninguém ficar excluído.

O futuro das nossas sociedades é um futuro «a cores», enriquecido pela diversidade e as relações interculturais. Por isso, hoje, devemos aprender a viver, juntos, em harmonia e paz. Encanta-me duma forma particular aquele quadro que descreve, no dia do «batismo» da Igreja no Pentecostes, as pessoas de Jerusalém que escutam o anúncio da salvação logo após a descida do Espírito Santo: «Partos, medos, elamitas, habitantes da Mesopotâmia, da Judeia e da Capadócia, do Ponto e da Ásia, da Frígia e da Panfília, do Egito e das regiões da Líbia cirenaica, colonos de Roma, judeus e prosélitos, cretenses e árabes ouvimo-los anunciar, nas nossas línguas, as maravilhas de Deus» (At 2, 9-11).

É o ideal da nova Jerusalém (cf. Is 60; Ap 21, 3), onde todos os povos se encontram unidos, em paz e concórdia, celebrando a bondade de Deus e as maravilhas da criação. Mas, para alcançar este ideal, devemos todos empenhar-nos por derrubar os muros que nos separam e construir pontes que favoreçam a cultura do encontro, cientes da profunda interconexão que existe entre nós. Nesta perspetiva, as migrações contemporâneas oferecem-nos a oportunidade de superar os nossos medos para nos deixarmos enriquecer pela diversidade do dom de cada um. Então, se quisermos, poderemos transformar as fronteiras em lugares privilegiados de encontro, onde possa florescer o milagre de um nós cada vez maior.

A todos os homens e mulheres da terra, peço que empreguem bem os dons que o Senhor nos confiou para conservar e tornar ainda mais bela a sua criação. «Um homem nobre partiu para uma região longínqua, a fim de tomar posse de um reino e em seguida voltar. Chamando dez dos seus servos, entregou-lhes dez minas e disse-lhes: “Fazei render a mina até que eu volte”» (Lc 19, 12-13). O Senhor pedir-nos-á contas das nossas obras! Mas, para assegurar o justo cuidado à nossa Casa comum, devemos constituir-nos num nós cada vez maior, cada vez mais corresponsável, na forte convicção de que todo o bem feito ao mundo é feito às gerações presentes e futuras. Trata-se dum compromisso pessoal e coletivo, que se ocupa de todos os irmãos e irmãs que continuarão a sofrer enquanto procuramos realizar um desenvolvimento mais sustentável, equilibrado e inclusivo. Um compromisso que não faz distinção entre autóctones e estrangeiros, entre residentes e hóspedes, porque se trata dum tesouro comum, de cujo cuidado e de cujos benefícios ninguém deve ficar excluído.

O sonho tem início

O profeta Joel preanunciava o futuro messiânico como um tempo de sonhos e visões inspirados pelo Espírito: «Derramarei o meu espírito sobre toda a humanidade. Os vossos filhos e as vossas filhas profetizarão, os vossos anciãos terão sonhos e os vossos jovens terão visões» (3, 1). Somos chamados a sonhar juntos. Não devemos ter medo de sonhar e de o fazermos juntos como uma única humanidade, como companheiros da mesma viagem, como filhos e filhas desta mesma terra que é a nossa Casa comum, todos irmãs e irmãos (cf. Fratelli tutti, 8).

Oração

Pai santo e amado,
o vosso Filho Jesus ensinou-nos
que nos Céus se esparge uma grande alegria
quando alguém que estava perdido
é reencontrado,
quando alguém que estava excluído, rejeitado ou descartado
é reinserido no nosso nós,
que assim se torna cada vez maior.

Pedimo-Vos que concedais a todos os discípulos de Jesus
e a todas as pessoas de boa vontade
a graça de cumprirem a vossa vontade no mundo.
Abençoai todo o gesto de acolhimento e assistência
que repõe a pessoa que estiver em exílio
no nós da comunidade e da Igreja,
para que a nossa terra possa tornar-se,
tal como Vós a criastes,
a Casa comum de todos os irmãos e irmãs. Amen.

Roma, em São João de Latrão, na Festa dos Apóstolos São Filipe e São Tiago, 3 de maio de 2021.

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PAPA FRANCISCO: REGINA CAELI

Depois do Regina caeli

[…] Hoje o meu pensamento dirige-se também à Associação Meter , e encorajo a continuar o seu compromisso a favor das crianças vítimas de violência e de exploração. […]

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PAPA FRANCISCO: REGINA CAELI

Depois do Regina caeli

Prezados irmãos e irmãs!

[…] Confesso que estou muito entristecido com a tragédia que ocorreu mais uma vez nos últimos dias no Mediterrâneo. Cento e trinta migrantes morreram no mar. São pessoas, são vidas humanas, que durante dois dias inteiros imploraram em vão por ajuda, ajuda que não chegou. Irmãos e irmãs, interroguemo-nos todos sobre mais esta tragédia. É o momento da vergonha. Rezemos por estes irmãos e irmãs, e por tantos que continuam a morrer nestas viagens dramáticas. Rezemos também por aqueles que podem ajudar, mas que preferem olhar para o outro lado. Rezemos em silêncio por eles. […]