25 Fevereiro 2014 | Mensagem

MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO AOS FIÉIS BRASILEIROS POR OCASIÃO DA CAMPANHA DA FRATERNIDADE DE 2014

Queridos brasileiros
Sempre lembrado do coração grande e da acolhida calorosa com que me
estenderam os braços na visita de fins de julho passado, peço agora licença para
ser companheiro em seu caminho quaresmal, que se inicia no dia 5 de março,
falando-lhes da Campanha da Fraternidade que lhes recorda a vitória da Páscoa: «É
para a liberdade que Cristo nos libertou» (Gal 5,1). Com a sua Paixão, Morte e
Ressurreição, Jesus Cristo libertou a humanidade das amarras da morte e do
pecado. Durante os próximos quarenta dias, procuraremos conscientizar-nos mais e
mais da misericórdia infinita que Deus usou para conosco e logo nos pediu para
fazê-la transbordar para os outros, sobretudo aqueles que mais sofrem: «Estás
livre! Vai e ajuda os teus irmãos a serem livres!». Neste sentido, visando mobilizar
os cristãos e pessoas de boa vontade da sociedade brasileira para uma chaga social
qual é o tráfico de seres humanos, os nossos irmãos bispos do Brasil lhes propõem

este ano o tema “Fraternidade e Tráfico Humano”.

Não é possível ficar impassível, sabendo que existem seres humanos tratados como
mercadoria! Pense-se em adoções de criança para remoção de órgãos, em
mulheres enganadas e obrigadas a prostituir-se, em trabalhadores explorados, sem
direitos nem voz, etc. Isso é tráfico humano! «A este nível, há necessidade de um
profundo exame de consciência: de fato, quantas vezes toleramos que um ser
humano seja considerado como um objeto, exposto para vender um produto ou
para satisfazer desejos imorais? A pessoa humana não se deveria vender e comprar
como uma mercadoria. Quem a usa e explora, mesmo indiretamente, torna-se
cúmplice desta prepotência» (Discurso aos novos Embaixadores, 12 de dezembro
de 2013). Se, depois, descemos ao nível familiar e entramos em casa, quantas
vezes aí reina a prepotência! Pais que escravizam os filhos, filhos que escravizam
os pais; esposos que, esquecidos de seu chamado para o dom, se exploram como
se fossem um produto descartável, que se usa e se joga fora; idosos sem lugar,
crianças e adolescentes sem voz. Quantos ataques aos valores basilares do tecido
familiar e da própria convivência social! Sim, há necessidade de um profundo
exame de consciência. Como se pode anunciar a alegria da Páscoa, sem se
solidarizar com aqueles cuja liberdade aqui na terra é negada?
Queridos brasileiros, tenhamos a certeza: Eu só ofendo a dignidade humana do
outro, porque antes vendi a minha. A troco de quê? De poder, de fama, de bens
materiais… E isso – pasmem! – a troco da minha dignidade de filho e filha de Deus,
resgatada a preço do sangue de Cristo na Cruz e garantida pelo Espírito Santo que
clama dentro de nós: «Abbá, Pai!» (cf. Gal 4,6). A dignidade humana é igual em
todo o ser humano: quando piso-a no outro, estou pisando a minha. Foi para a
liberdade que Cristo nos libertou! No ano passado, quando estive junto de vocês
afirmei que o povo brasileiro dava uma grande lição de solidariedade; certo disso,
faço votos de que os cristãos e as pessoas de boa vontade possam comprometer-se
para que mais nenhum homem ou mulher, jovem ou criança, seja vítima do tráfico

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humano! E a base mais eficaz para restabelecer a dignidade humana é anunciar o
Evangelho de Cristo nos campos e nas cidades, pois Jesus quer derramar por todo o

lado vida em abundância (cf. Evangelii gaudium, 75). […]