Estimados irmãos e irmãs, bom dia!
Sinto-me feliz por me encontrar convosco no contexto do vosso Congresso
internacional. Obrigado, Senhora Presidente, pelas suas palavras amáveis — e
claras — como sempre faz — claras. Nestes dias abordais temas importantes e
essenciais: a solidariedade, a cooperação e a responsabilidade como antídotos
contra a injustiça, a desigualdade e a exclusão.
São reflexões importantes, num tempo em que as incertezas e a precariedade
que marcam a existência de tantas pessoas e comunidades foram agravadas por
um sistema económico que continua a descartar vidas em nome do deus
dinheiro, instilando atitudes vorazes em relação aos recursos da Terra e
alimentando tantas formas de iniquidade. Não podemos ficar indiferentes a isto.
Mas a resposta à injustiça e à exploração não é apenas a denúncia; é acima de
tudo a promoção ativa do bem: denunciar o mal, mas promover o bem. E por
isso expresso-vos o meu apreço: pelas atividades que desenvolveis,
especialmente no campo da educação e da formação, em particular pelo
compromisso em financiar estudos e pesquisas para os jovens sobre os novos
modelos de desenvolvimento económico e social inspirados na doutrina social da
Igreja. É importante, temos necessidade disto: no terreno poluído pelo
predomínio das finanças, precisamos de muitas pequenas sementes que façam
brotar uma economia justa e benéfica, à escala humana e digna do homem.
Precisamos de possibilidades que se tornem realidades, de realidades que deem
esperança. Isto significa traduzir na prática a doutrina social da Igreja.
Retomo a expressão “predomínio das finanças”. Há quatro anos, recebi a visita
de uma grande economista, que também tinha um cargo num governo. E ela
disse-me que procurou criar um diálogo entre economia, humanismo, fé e
religião, e que correu bem, um diálogo que correu bem e continua a correr bem,
num grupo de reflexão. Procurei fazer o mesmo — disse-me ela — com as
finanças, humanismo e religião, e não pudemos nem sequer começar.
Interessante. Isto faz-me pensar. Aquela mulher fez-me sentir que as finanças
eram algo de impraticável, algo “líquido”, “gasoso” que acaba como a corrente
de Santo António… Conto-vos esta experiência, talvez possa servir.
Precisamente as três palavras que escolhestes — solidariedade, cooperação e
responsabilidade — representam os três pilares da doutrina social da Igreja, que
vê a pessoa humana, naturalmente aberta à relação, como o vértice da criação e
o centro da ordem social, económica e política. Com esta perspetiva, atenta ao
ser humano e sensível ao realismo das dinâmicas históricas, a doutrina social
contribui para uma visão do mundo que se opõe à individualista, na medida em
que se baseia na interligação entre as pessoas e tem como objetivo o bem
comum. Ao mesmo tempo, opõe-se à visão coletivista, que hoje volta a emergir
numa nova versão, escondida nos projetos de homologação tecnocrática. Mas,
não se trata de uma “vicissitude política”: a doutrina social está ancorada na
Palavra de Deus, a fim de orientar processos de promoção humana a partir da fé
em Deus que se fez homem. Por isso, deve ser seguida, amada e desenvolvida:
apaixonemo-nos novamente pela doutrina social, tornemo-la conhecida: é um
tesouro da tradição eclesial! Foi precisamente estudando-a que também vós vos
sentistes chamados a comprometer-vos contra as desigualdades, que prejudicam
em particular os mais frágeis, e a trabalhar por uma fraternidade real e efetiva.
Solidariedade, cooperação, responsabilidade: três palavras que nestes dias
colocais no centro das vossas reflexões e que recordam o mesmo mistério de
Deus, que é a Trindade. Deus é uma comunhão de Pessoas e orienta-nos para
nos realizarmos através da generosa abertura aos outros (solidariedade),
através da colaboração com os outros (cooperação), mediante o compromisso
pelos outros (responsabilidade). E fazê-lo em todas as expressões da vida social,
através das relações, do trabalho, do compromisso civil, da relação com a
criação, da política: em cada âmbito, hoje mais do que nunca, devemos
testemunhar a atenção pelos outros, a sair de nós mesmos, a comprometer-nos
com gratuidade pelo desenvolvimento de uma sociedade mais justa e equitativa,
na qual não prevaleçam o egoísmo e os interesses de parte. Ao mesmo tempo,
somos chamados a vigiar sobre o respeito pela pessoa humana, a sua liberdade
e a proteção da sua dignidade inviolável. Eis a missão a implementar pela
doutrina social da Igreja.
Prezados amigos, ao levarmos em frente estes valores e este estilo de vida —
como sabemos — muitas vezes vamos contra a corrente, mas — recordemos
sempre — não estamos sozinhos. Deus fez-se próximo de nós. Não com
palavras, mas com a sua presença: em Jesus, Deus encarnou-se. E com Jesus,
que se tornou nosso irmão, reconheçamos em cada homem um irmão, em cada
mulher uma irmã. Animados por esta comunhão universal, como comunidade
crente possamos colaborar sem receio com cada um para o bem de todos: sem
fechamentos, sem visões que excluem, sem preconceitos. Como cristãos somos
chamados a um amor sem fronteiras nem limites, sinal e testemunho de que
podemos superar os muros do egoísmo e dos interesses pessoais e nacionais; o
poder do dinheiro que muitas vezes decide as causas dos povos; as cercas das
ideologias, que dividem e amplificam o ódio; todas as barreiras históricas e
culturais e, sobretudo, a indiferença, aquela cultura da indiferença que,
infelizmente, é diária. Todos podemos ser irmãos, e por isso podemos e devemos
pensar e agir como irmãos de todos. Isto pode parecer uma utopia inatingível.
Ao contrário, preferimos acreditar que se trata de um sonho possível, porque é o
mesmo sonho do Deus uno e trino. Com a sua ajuda, é um sonho que pode
começar a realizar-se até neste mundo.
Portanto, é uma grande tarefa construir um mundo mais solidário, justo e
equitativo. Para o crente, não é algo prático desvinculado da doutrina, mas é dar
substância à fé, ao louvor de Deus, que ama o homem e a vida. Sim, amados
irmãos e irmãs, o bem que se faz por cada pessoa na terra alegra o coração de
Deus no céu. Prossegui com coragem o vosso caminho. Acompanho-vos com a
oração, abençoo a vós e os vossos esforços. E por favor não vos esqueçais de
rezar por mim. Obrigado!